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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

Jornalismo e cautelas da informação em tempo de guerra

23.10.23 | Manuel_AR

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Apesar de terem surgido muitas imagens e relatos reais do que se passou, foram misturados com outros conteúdos com afirmações falsas, usando e manipulando vídeos de outros acontecimentos.

Artigo que vale a pena ler com distanciamento que alerta para a veracidade dos factos e as cautelas a ter quando se propaga informação, por vezes falsa, que dizem ser notícia.

Hamas vs Israel vs Verdade

Chamar terrorista a um grupo que usa os métodos e os meios do terrorismo não é perder a objetividade. Ser independente na análise não significa ser neutro.

Não é humanamente possível, nem aceitável, não tomar um lado do conflito, pois devemos estar incondicionalmente a favor do povo palestiniano e do povo israelita, e incondicionalmente contra o Hamas ou qualquer outro grupo terrorista. Assim como, devemos exigir que Israel cumpra as regras do Direito Internacional Humanitário de distinção, proporcionalidade, necessidade militar e humanidade. Esta é a única posição internacional que fará com que este conflito diminua o número de vítimas e que permite manter a nossa humanidade. Não ter esta posição é aceitar sermos controlados pela narrativa do lado errado. De nada serve estar a favor dos palestinianos e não estar contra o Hamas, porque o Hamas não está a proteger os palestinianos. Nunca o fez. Os terroristas precisam de vítimas para continuarem a ser quem são. E os palestinianos são as suas vítimas de eleição.

Esta confirmação está patente nos quartéis em zonas urbanas civis, em armamento guardado em escolas, nas barricadas colocadas na estrada para impedir a fuga dos palestinianos depois dos avisos de Israel, no elogio público ao Egito por não abrir as fronteiras, no incitamento à permanência em Gaza, mesmo com a possibilidade de bombardeamentos e no lançamento de rockets de Gaza que caem em Gaza, culpando Israel.

O Hamas entrincheirou-se em Gaza com mais de dois milhões de reféns palestinianos que são o seu maior escudo. Se os civis saírem, a causa do Hamas fica enfraquecida e é uma enorme desvantagem neste confronto assimétrico. E tendo em conta que é um grupo terrorista, o seu grande objetivo é rentabilizar o máximo possível o número de vítimas e de mortos. Quanto mais mortos houver, mais responsabilidade pode colocar em Israel. O Hamas sabe que tem tanto mais hipóteses de ganhar força quanto mais elevado for o número de mortos palestinos, porque mais comoção causa na opinião pública e mais pressão a comunidade internacional fará sobre Israel.

Chamar terrorista a um grupo que usa os métodos e os meios do terrorismo não é perder a objetividade. Ser independente na análise não significa ser neutro. Porque ser neutro neste caso é ser a favor das atrocidades praticadas. Não é possível aceitar um grupo que tem uma filosofia de extermínio e de aniquilação de um povo, seja ele qual for.

Quem atacou primeiro é, nos dias de hoje, uma sequência irrelevante, porque quem atacou já foi atacado, e quem atacou porque foi atacado também já tinha sido atacado antes. Mas os que estão a atacar e a ser atacados não são os mesmos que estão a ser atacados no sofrimento e no desespero. E é para as vítimas civis dos dois lados que deve ir a nossa indignação e compaixão.

Sabendo que o Hamas e Israel são protagonistas de um dos conflitos mais difíceis do mundo, a imprensa internacional tem a obrigação deontológica de validar as fontes de informação e guiar-se pelo princípio da precaução quando não tem certezas. Porque não é aceitável que o jornalismo sensacionalista noticie as narrativas do Hamas como sendo a verdade dos acontecimentos. Como o que aconteceu com o ataque ao hospital em Gaza.

Quando Israel noticiou o ataque a civis e os raptos feitos pelo Hamas a 7 de outubro, toda a gente pediu provas, mas quando o Hamas noticiou o ataque ao hospital em Gaza a 17 de outubro e responsabilizou Israel, isso foi assumido como uma verdade. E o Hamas foi a única fonte de informação. No decurso da divulgação dessa notícia, as contestações contra Israel estenderam-se perigosamente a vários países e a possibilidade de líderes políticos negociarem uma solução foi mais uma vez adiada. É exatamente a reação de que os terroristas estão à espera.

Neste sentido, a imprensa internacional está a trabalhar pro bono para disseminar a propaganda que o grupo Hamas pretende. Até agora a narrativa do Hamas já venceu, e isto pode ser um enorme problema para todos nós.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

 

A verdade absoluta está contra o rebanho do ocidente

23.10.23 | Manuel_AR

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Sobre a guerra Israel-Hamas tema da atualidade da veio-me à memória o tema filosófico da “guerra justa”, noção que se baseia na ideia de que o recurso à força se justifica sob certas condições e que o uso dessa força deve ser limitado a certa formas.

A teoria da guerra justa é um conceito proveniente da filosofia ocidental que é discutida desde a idade média por filósofos como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. Este tipo de guerra distingue-se do conceito islâmico de jihad que significa luta ou guerra santa que parte de uma base teocrática que se gere e submete a uma religião específica que, para os muçulmanos (alguns), é o único tipo de guerra justa.

É extremamente importante distinguir entre o conceito de uma guerra justa e a ideia de uma “guerra santa”. A teoria da guerra justa não apoia o conceito de travar guerras santas, cujo conceito é mais comumente expresso como uma guerra justificada com base em diferenças religiosas. De qualquer modo a teoria da guerra justa presume que há usos legítimos da guerra, mas também estabelece limites morais na condução da mesma.

Não é aceitável não tomarmos um lado do conflito e não estarmos a favor do povo palestiniano e também do povo israelita, mas, ao mesmo tempo, estarmos incondicionalmente contra o Hamas ou qualquer outro grupo terrorista. Da mesma forma deve exigir-se a Israel que cumpra as regras do Direito Internacional Humanitário de distinção, proporcionalidade, necessidade militar e humanidade, para considerarmos que seja uma guerra justa.

Como acontece com a maioria das questões do mundo atual, se um determinado conflito atende ou não a critérios de guerra é sempre objeto de debate. Assim, pode e deve discutir-se se devemos condenar ações graves no ato de defesa, ou se, pelo contrário, devemos ficar impávidos e serenos e inativos face a uma invasão por parte das forças invasoras a um país soberano ou a um ataque terrorista. O que é eticamente incorreto é ficar sem agir e desculpabilizar o invasor ou o terrorismo utilizando argumentos de desculpabilização para validar a invasão e o terror criticando o direito de à defesa como se fosse este o crime.

Claro que podemos criticar quem foi agredido, como o foi Israel, por um ataque de cobardia por parte de alguns opositores radicais e violentos como o Hamas que se entrincheirou em Gaza com mais de dois milhões de reféns palestinianos que são o seu maior escudo.

Se recorrermos a factos históricos Israel conduziu e cometeu erros vários tendo em vista a expansão do seu território e o estabelecimento de colonatos em espaços captados a outro povo. Podemos e devemos criticá-lo, mas não é por isso que deixam de ter direito a defenderem-se e à retaliação se atacados.

O distanciamento em situações como estas é difícil devido ao clima político radicalizado e à informação e contra informação, muita desta provenientes das redes sociais. Uns são o lado mau, outros o são lado bom, mas há uns que são piores do que outros. Ser independente na análise não significa ser neutro e não perdemos a objetividade   quando chamamos terrorista a um grupo que usa os métodos e os meios do terrorismo.

Ontem, 20 de outubro, publiquei aqui um texto sobre a inversão da realidades feita por partes em conflito com o título As esquerdas radicais e as narrativas de inversão do contexto. É um texto de opinião sobre como partes em conflito tentam inverter os factos em circunstâncias de guerra, trazendo cada um dos lados versões contrárias e a até antagónicas com a realidade.

Em 20 de outubro José Gil, filósofo e pensador português que, em Janeiro de 2005 a conceituada revista francesa Le Nouvel Observateur integrou José Gil no grupo dos 25 grandes pensadores do mundo, escreveu um artigo de opinião no jornal Público “O conflito Israel-Hamas: tomar partido” onde escreve: «Sobre o Hamas, o juízo que dele podemos formar parece mais simples: a sua crueldade hedionda e o seu poder político autocrático sobre a Faixa de Gaza não precisam do direito internacional para serem condenados. Basta a mais básica ética democrática. No entanto, há aqueles que fazem da comparação entre os crimes do Hamas e os crimes de Israel o critério para desculpar os primeiros – o que constitui uma aberração lógica e jurídica e testemunha um relativismo propriamente masoquista.»

É claro que o virar do avesso e a inversão dos factos é uma estratégia como então escrevi. “Assim, em política desenvolvida sobretudo em ocasião de guerra, criam-se narrativas de inversão em que os papéis dos “atores” são invertidos. O antagonista (o mau) pode tornar-se o protagonista (o bom) e o protagonista (o bom) pode tornar-se no antagonista (o mau). Isso pode levar a uma mudança na perceção do público orientando-o a reconsiderar as suas noções preconcebidas e a ter empatia pelos personagens que inicialmente consideravam vilões.”

O artigo de José Gil genialmente elaborado e escrito como eu não conseguiria escrever vem, subtil e objetivamente, corroborar, embora por outro ângulo de visão, o meu pensamento. Embora a minha posição seja crítica sobre os radicalismos de esquerda ela também cai sobre os radicalismos de direita, estejam eles de que lado do conflito estiverem.

Acedi a um blog que me pareceu ser um dos que criticam o comportamento do rebanho do ocidente, mas onde se nota haver o mesmo tipo de comportamento seguidista, mas do lado inverso.

Este tipo de rebanho ou manada de esquerda radicalizada que pretende ser original ao pôr-se sempre do lado oposto da possível razão, aproveita-se de momentos críticos para atacar tudo quanto sejam os princípios de respeito pela democracia liberal que venham do ocidente, seja da UE, seja dos EUA. Esse rebanho defende sempre quem ataca as democracias seja os que atacam a Ucrânia, sejam os terroristas que atacam pessoas indefesas como aconteceu recentemente com o Hamas a aterrorizar Israel e outros idênticos por todo o mundo. Colocam-se ao lado do Hamas escudando-se, obviamente, por detrás dos argumentos de apoio justamente devidos ao povo palestiniano. Pasme-se ainda que no referido blogue a invasão da Ucrânia é desmentida afirmando que ela foi um dos “pretensos ataques da Rússia na Ucrânia”. Veja-se até onde chega o desplante desta manada!

É um tipo de esquerda radical ( ou qualquer outra) que estão a vicejar que vivem e reclamam por democracia da qual se servem, mas com a qual, contraditoriamente, querem um dia acabar.  

Muitos afirmam que quando nos colocamos de um lado que a maioria defende por razões objetivas, há alguns que logo se apressam a escrever que todos aqueles pertencem à manada, ao rebanho ou lá o que eles chamam aos que dizem serem influenciados pela intoxicação e propaganda da informação do ocidente.

Esta é também uma forma de designar os que para eles estão errados porque não seguem os “infratores”, que ocupam e invadem, que com atos terroristas atacam gentes indefesas. Os procedem a bombardeamentos onde apenas vivem civis e invertem os factos dizendo que eram alvos militares que estavam ocultos esses é que estão certos. Isto é, os invasores, os atacantes é que estão certos, o “rebanho” do ocidente é que está errado. O que assim argumentam demonstram seguidismo ideológico e sectário onde se revela um ódio ao ocidente e, sobretudo, aos regimes livres onde se vive. O que aqueles pretendem é que os sigam as suas ideias com fé, que os venerem por serem os possuidores da verdade absoluta. Este pensamento conduzir-nos-ia ao totalitarismo, chamem-se eles fascismos, nazismos, estalinismos, sejam eles militares, civis ou teocráticos como no Irão.  

Termino com mais uma frase e uma pergunta de José Gil: «É verdade que, por detrás da impossibilidade de dar razão a uma das partes, permanece a consciência de que num lado funciona, apesar de tudo, uma democracia formal. Teria havido um tão largo apoio das democracias ocidentais a Israel se aí vigorasse um regime político totalitário e sanguinário?».

As esquerdas radicais e as narrativas de inversão do contexto

20.10.23 | Manuel_AR

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"Manifestações pró-Hamas em toda a Europa são horripilantes". "As manifestações pró-Hamas em massa nos Estados Unidos e na Europa são horríveis porque significam que há apoio positivo ao Hamas mesmo nas sociedades ocidentais". Irina Tsukerman

"Israel não está a tentar punir os civis de Gaza, está a tentar derrotar o Hamas e um exército que luta contra outra força pode privá-los de comida". Professor Eugene K..

A dialética do avesso é a dialética dos radicais de esquerda, (auto negação do negativo e negar que o ataque do Hamas não foi terrorista foi ato de libertação), ativando a intencionalidade de propagação do negativo para que se torne positivo. É a culpabilização da vítima e com apologia do agressor.

É a inversão de papéis. É o ato de virar do avesso algo que estava na posição certa. Isto é, “colocar do avesso” os factos é deixar que o que antes estava certo seja colocado de forma contrária. É criar um sentido que é contrário aos dos factos É virar do avesso as posições de cada um dos atores em presença na tentativa de modificar a aparência e a essência enquanto ideia principal da realidade.

Relatar histórias e divulgar factos que se desviam das convenções e expectativas típicas de um determinado acontecimento, sobretudo em situações de guerras ou agressões terroristas são uma forma de narrativa política verificada em contextos de confronto político e ideológico. São narrativas de inversão que visam, frequentemente, desafiar normas estabelecidas, provocar reflexão por mudança de sentido e oferecer perspetivas contrárias ao tema ou facto que se desenrolam.

Uma das formas mais comum de manifestação duma narrativa de inversão por parte da informação por organizações, movimentos ou partidos políticos é a da inversão de papéis. Esta inversão verifica-se sempre que duas fações, uma nação ou povo estão em confronto, sobretudo em situação de guerra, e também quando há uma beligerância que depende dum grupo de rebeldes dotados duma organização que controla parte de um território assim como a sua população e colocam em causa a legitimidade dum governo ou dum povo.

De acordo com os elementos duma narrativa tradicional, escrita ou verbalizada, o protagonista é normalmente o personagem com quem o público simpatiza e apoia, enquanto o antagonista se opõe aos objetivos do protagonista. Estes “atores” em cena, conforme os ângulos e perspetivas político-ideológicas, podem trocar de posições segundo os vários pontos de vista. Considerando o atual contexto de guerra de Israel contra a organização terrorista Hamas esta situação está a verificar-se.

Assim, em política desenvolvida sobretudo em ocasião de guerra, criam-se narrativas de inversão em que os papéis dos “atores” são invertidos. O antagonista (o mau) pode tornar-se o protagonista (o bom) e o protagonista (o bom) pode tornar-se no antagonista (o mau). Isso pode levar a uma mudança na perceção do público orientando-o a reconsiderar as suas noções preconcebidas e a ter empatia pelos personagens que inicialmente consideravam vilões.

É com tentativas de inversão que as esquerdas radicais em todo o Mundo, em Portugal representados pelo PCP, pelo BE e outros esquerdistas, pretendem instigar o público a colocar-se em situação crítica para com os israelitas  

Veja-se o caso da guerra da Ucrânia em que a Rússia pela voz do seu presidente Vladimir Putin e dos seus porta-vozes quando atribuem a causa da invasão daquele país ao Ocidente (EU, EUA e NATO) associada à pretensão destes pretenderem invadir e bloquear a Rússia.

As narrativas de inversão desafiam os papéis tradicionais, as normas e as dinâmicas de poder num determinado contexto e ainda subverter as expectativas sociais. Ao fazê-lo, promovem o pensamento crítico e a reflexão sobre estas normas no sentido de incentivarem o público a questionar e, potencialmente, a mudar as suas próprias perspetivas.

As narrativas de inversão podem empregar outras técnicas, como reviravoltas na enredo de opiniões e no desenvolvimentos inesperados de atitudes para desafiar as expectativas e criar surpresa ou tensão.

Os dispositivos para a inversão e adulteração de factos ocorre sob a forma de comentários, opiniões, documentários, peças jornalísticas e manifestações com narrativas que ajudam a envolver o público e a mantê-lo na dúvida sobre a ocorrência. Podem provocar reflexão, encorajar a empatia e promover uma compreensão oposta sobre questões complexas.

No geral, as narrativas de inversão em caso de guerras de agressão pretendem fornecer a visão contrária à veracidade do facto comprovado (inversão) atribuindo aos agredidos a responsabilidade de atos por eles não praticados transformando as vítimas em culpados, subvertendo as expectativas em favor de um dos lados, desafiando as abordagens convencionais. São as guerras paralelas de informação e contra informação no sentido de confundir o público.

Caso típico da inversão da narrativa é o caso do PCP que, sem condenar explicitamente o Hamas pelo ataque terrorista, tenta responsabilizar o ocidente pelo acontecido e reforçando a narrativa dos «crimes de guerra em curso na ação de massacre de Israel à Faixa de Gaza».

Nas redes sociais radicais de esquerda, sectários, antissemitas, falsos apoiantes e defensores dos palestinianos debitam frases hediondas, convocam manifestações anti Israel e clamam morte aos judeus, quais nazis do tempo de Hitler. Nas televisões são emitidos vídeos amadores captados por telemóveis em que se fazem proclamações de vingança e ódio contra Israel e o seu povo, acusando-o de barbárie ao mesmo tempo que esquecem a barbárie terrorista perpetrada pelo Hamas e o ataque ao Hospital Al-Ahli Arabi, na cidade de Gaza, que, supõe-se, terá sido efetuado pela Jihad Islâmica da Palestina, apesar de não haver a certeza de como este último facto aconteceu. A política de inversão de causas é diariamente arquitetada pelas forças hostis a Israel e emitida pelos mais diversos canais.

No dia 16 de outubro o jornal Público noticiou que Paulo Raimundo do PCP «acusa a UE de ‘hipocrisia e cinismo’ no conflito entre Israel e Hamas quando apresentou as conclusões da reunião do comité central. Paulo Raimundo criticou a ‘clamorosa hipocrisia e cinismo’ em torno do conflito entre Israel e o Hamas, considerando que aqueles que ‘estiveram calados anos sucessivos’ sobre a ocupação da Palestina por Israel ‘também se calaram’ agora perante os ‘crimes de guerra em curso na ação de massacre de Israel à Faixa de Gaza’». A pergunta que podemos fazer ao PCP é a de saber e resolver o problema que avançam e tendo a Palestina sido ocupada por Israel e ao mesmo tempo se quer devolver o território às populações originais, o que fazer ao povo de Israel?

Não venham as esquerdas radicais criticar opiniões e comentários que se fazem sobre o conflito israelo-palestiniano e que condenam o atentado terrorista do Hamas apenas porque são feitos por orientações de direita e capitalistas e que apoiam os EUA e o ocidente.  

Maria João Marques, com quem nem sempre estou de acordo escreveu no Público que «A hipocrisia da extrema-esquerda (por cá representada pelos setores ligados ao PCP e ao BE) ficou totalmente exposta. Não é possível passar a vida a gritar com estrépito supostamente em prol dos direitos humanos de minorias cada vez mais exíguas e, logo a seguir, aplaudir e defender todos os regimes onde são terraplanados os mais básicos direitos das mulheres, dos gays e lésbicas e das minorias étnicas ou religiosas. Podem dar as voltas retóricas que entenderem, que a hipocrisia fica com rabo de fora.»

Maria João continua escrevendo que a «Extrema-esquerda, manancial de ódio (e de perigo). É este o padrão da esquerda dita progressista olhando para o resto do mundo fora da Europa e Estados Unidos. Já estamos habituados. Porém, nas reações ao absolutamente desumano e absurdamente cruel ataque terrorista do Hamas a Israel, este viés hiperbolizou-se na esquerda radical para o mais acirrado ódio ao Ocidente, ao nosso modo de vida e aos nossos valores. Incluindo a democracia.»

E acrescenta que «Também percebemos: o que move esta esquerda radical não é a defesa de algo positivo (concorde-se ou não). É o ódio ao Ocidente por aquilo que é: capitalista, iluminista e rico por ser capitalista. E livre. Já dizia Orwell, no mesmo prólogo (traduzo): “A russomania corrente é só um sintoma do enfraquecimento da tradição liberal ocidental.” Não se é liberal nem democrata quando se defende regimes totalitários ou iliberais.», e que: «Em Stanford, um professor chamou aos alunos judeus “colonizadores”​ e menosprezou o Holocausto. Quanto antissemitismo. Associações de alunos de Harvard, em comunicado, culparam Israel pelos assassinatos, violações e raptos do Hamas. Manifestações antissemitas, celebrando até a “criatividade”​ do Hamas, foram avistadas em vários campus».

E termina afirmando «Que somos fracos, claro, e tão imbecis que cantamos louvores a qualquer violência não-branca. Que celebramos e nos aliamos a terroristas. Aplaudimos violência sobre quem tem modo de vida igual ao nosso — quem vai para um festival dançar, ouvir música, divertir-se, namorar, procurar parceiro para umas noites e criar boas memórias. No fundo, que merecemos a mesma violência».

Lendo os comentários ao artigo que criticam a autora ficamos a perceber da parte de onde vêm e que são absolutamente sectários. Esclareço, contudo, que não estou absolutamente do lado da política colonialista e expansionista de Israel, mas tenho em conta que atos de violência terrorista apenas agudizam os problemas. Até podemos considerar que este ato hediondo do Hamas tenha tido outras causas próximas que não tenham somente a ver com a questão israelo-palestiniana, mas que terceiros terão utlizado para gerar outros conflitos regionais para conseguirem os seus objetivos noutras áreas. Esta última parte é apenas uma hipótese, ou, se quiserem, uma espécie de teoria da conspiração que tem o valor que tem.

 

Os discursos de ódio e apelo à violência propagam-se

17.10.23 | Manuel_AR

Discurso de ódio2.png

O discurso de ódio parece estar a estender-se sem controle. Em 12 de outubro deste ano a GPAHE - Global Project Against Hate and Extremism publicou uma investigação em que verificou que o ódio antissemita e antimuçulmano aumentou online após ataques do Hamas a Israel.

Sobre este assunto podem ler o artigo publicado pelo GPAHE.

 

Violento ódio antissemita e antimuçulmano aumenta online após ataques

do Hamas a Israel

Em 48 horas, o uso de insultos e discursos violentos contra comunidades judaicas e muçulmanas no 4chan cresceu cerca de 500%.

Sempre que há conflitos, atos de violência particularmente horríveis, as comunidades atingidas em todo o mundo têm experimentado um aumento do discurso de ódio, incidentes de ódio e a possibilidade de terrorismo impulsionado pelo ódio, muitas vezes por atores individuais. Após os acontecimentos em Israel e Gaza na última semana, extremistas e propagadores de ódio usaram espaços online para atacar judeus e muçulmanos. Ambas as comunidades são alvos frequentes de atos de violência e propaganda de ódio em todo o mundo, e o aumento de incidentes infelizmente não é surpreendente, mas a escala de crescimento na última semana é alarmante.

De acordo com dados recolhidos pelo Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo (GPAHE) da plataforma não regulamentada 4chan, conhecida por seus fóruns preconceituosos, o uso de insultos antissemitas e antimuçulmanos explícitos, juntamente com pedidos para matar ambos os grupos, aumentou de 511 para 2.959 casos entre 6 e 8 de outubro, um aumento impressionante de 479%. Nos dias 9 e 10 de outubro, o ódio não deu sinais de desaceleração, com o uso de insultos e linguagens violentas que surgiam entre 2.537 e 2.550 ocorrências, respetivamente.

O GPAHE escolheu destacar o 4chan devido à sua ligação de longa data com tiroteios em massa com motivação racista e antissemita, como os assassinatos racistas de Buffalo em 2022. Embora esta seja uma pesquisa pouco extensa que não captou todos os insultos imagináveis, os dados demonstram a rapidez com que o ódio prolifera contra as comunidades alvo durante os momentos de conflito.

Os insultos antissemitas e os apelos à violência passaram de 484 ocorrências em 6 de outubro para 2.626 em 8 de outubro, aumentando quase cinco vezes. Os insultos antimuçulmanos e os apelos à violência passaram de 27 casos para 333 no mesmo período, aumentando 11 vezes. E os utilizadores continuaram a sua série de discursos de ódio e de violência nos dias seguintes. Nos dias 9 e 10 de outubro, as mensagens de ódio antissemita e violentas ficaram estáveis em 2.238 e 2.283 ocorrências, respetivamente. O ódio antimuçulmano também se manteve consistente, com 299 e 267 casos no mesmo período. A diferença nesses números pode refletir o nível geralmente alto de ódio antissemita do número considerável de neonazistas encontrados no 4chan.

Está claro nas mensagens no 4chan que os comentadores têm um forte ódio por ambos os grupos, expressando o seu contentamento com o conflito, e com mais muçulmanos e judeus a morrer, "todos os outros no planeta ganham" e que é um "ganha-ganha para os brancos".

Frases com popularidade recente espelham o slogan violentamente racista "TND" ("Total N***** Death") frequentemente usado por pessoas no 4chan, como "TKD" ("Total Kik* Death") e "Total Muzzie (Muslim) Death". Da mesma forma, os utilizadores estão a pedir mais violência por meio de comentários como "Morte aos kik*s. Morte a tel-aviv. Morte a Israel" e "morra por mim infiel" quando se fala em muçulmanos. Previsivelmente, os crimes de ódio contra judeus e muçulmanos estão a aumentar, com a CNN a relatar que houve pelo menos 100 incidentes antissemitas em França desde o fim de semana e relatos de incidentes contra muçulmanos em vários países.

A quantidade de ódio online que se espalhou após a perda indescritível de famílias, amigos e lares é deplorável, mas reflete a crescente onda de extremismo que o mundo enfrenta atualmente. E não é só em plataformas não regulamentadas como o 4chan. Em 11 de outubro, a UE alertou a Meta e o X/Twitter para remover conteúdo terrorista e desinformação relacionados aos eventos no Oriente Médio em 24 horas. As empresas de tecnologia devem seguir as suas próprias políticas e agir imediatamente para retirar conteúdo que inspirem violência para proteger as comunidades marginalizadas.

 

Nota do editor:

Esta matéria foi atualizada em 13 de outubro para incluir um aumento de 479% em insultos e apelos à violência, e não um aumento de 579%.

Terrorismo e Palestina: O que outros dizem

11.10.23 | Manuel_AR

Manifestação ProPalestina após terrorismo.png

Imagem Esquerda.net site do Bloco de Esquerda

Não é pró-Palestina. É anti-Israel, antissemita e pró-terrorismo

É conveniente chamar a estas reações vindas da parte da esquerda mais à esquerda aquilo que são: desumanidade e antissemitismo.

Um artigo de 

Maria João Marques-JPúblico.png

in Jornal Público

Dos mais vis ataques que me lembro de ver. O Hamas fez uma incursão em território israelita onde deliberadamente alvejou civis. Filmou tudo: queria que o mundo não ficasse com dúvidas sobre a sua barbárie (e não ficámos). Decapitou bebés. Raptou crianças pequenas e pôs em jaulas. Caçou mulheres num festival de música e exibiu-as depois do cativeiro, umas mortas e despidas com soldados sentados em cima do corpo, outras ensanguentadas no meio das calças. Provavelmente violadas – sabemos bem, desde o ISIS, o que fazem às raparigas que sequestram. Senhoras de idade raptadas. Famílias exterminadas em casa. Jovens do festival de música massacrados.

Com este nível de crueldade e desumanidade contra civis não pode haver contemplações, certo? Errado. A esquerda do PCP e do BE entrou em mais um poço moral, tal o ódio a Israel.

Estes dias notabilizaram-se pela sua mais imoral ausência de condenação do Hamas. Pelo contrário, julgaram oportuno culpar a ocupação israelita (atualmente existe nos colonatos na Cisjordânia, que nada tem que ver com o Hamas, mas não na Faixa de Gaza). Foi o caso de Marisa Matias ou Pedro Filipe Soares. No PCP, Alma Rivera chamou “vassalos” ao Governo português por condenar o Hamas e comentou que é “preciso ser muito asqueroso” num retuíte que fez de Ursula von der Leyen.

Para evitarem dizer o óbvio – os terroristas do Hamas estão no cimo do pódio ignóbil – li, do lado esquerdo, as mais originais desculpas para o atentado. Li que o Hamas – uma criação do Irão, que, de resto, lhe deu ajuda e armamento para o ataque de sábado; eleito em eleições livres de toda a população para governar Gaza, à altura explicado nas televisões e jornais portugueses que devido à magnífica obra social (não é ironia) dos terroristas – afinal foi uma criação de Israel.

Li que havia apartheid em Israel – porventura não sabem o que significou a palavra. E limpeza étnica e genocídio aos palestinianos – quando são 20% da população de Israel, vivem dentro do país quase sem episódios de violência e têm aumentado o número.

Em Lisboa houve uma manifestação, apoiada pelo BE, chamando ao ataque terrorista “ação de resistência” e dando como legítimos “qualquer meio à disposição” dos palestinianos de alvejarem Israel e israelitas. Uma sorte o Hamas não ter umas ogivas nucleares, ou estes bondosos cidadãos aplaudiriam o seu uso. Em Sydney, uma manifestação pró-Palestina gritou o slogan Gas the jews. Calhando não sabem que já foi feito e se chamou Holocausto.

É conveniente chamar a estas reações vindas da parte da esquerda mais à esquerda aquilo que são: desumanidade e antissemitismo. Agora mascarado de luta anticolonial (como se a questão Israel-Palestina tivesse que ver com colonialismo; mas temos de lhes perdoar, é o que aprendem lendo boletins de extrema-esquerda) e assanhado, porque muitos judeus foram para os Estados Unidos e este país (origem de todo o mal) é aliado de Israel.

Não se trata aqui, da minha parte, de endeusar ou branquear Israel. Netanyahu é um político capaz de tudo, inclusive vender-se aos judeus ultraortodoxos (tão indesejáveis quanto os islâmicos conservadores) e dar cabo da democracia israelita. Tão absorvido está por manter o seu poder que permitiu a invasão de Israel, Estado ultrassecuritário, pelo Hamas. Os longos excessos militares de Israel estão documentados (os do continuado terrorismo palestiniano também).

Os israelitas árabes, formalmente com os mesmos direitos, são desconsiderados pela população judaica. São mais pobres do que os conterrâneos judeus, menos escolarizados, com menos oportunidades efetivas. (Comparam-se, no entanto, melhor com os dos países vizinhos.) A criação de colonatos na Cisjordânia (nem parada pelos bem-intencionados Yitzak Rabin, Shimon Peres ou Ariel Sharon) é um atentado à possibilidade de paz.

Mas não é o tratamento aos palestinianos que indigna a esquerda pró-Palestina. Tanto que não se incomodam com o Egito, muito alegremente impedindo a circulação dos palestinianos de Gaza no seu território. Queixam-se do bloqueio a Gaza só como retórica anti-Israel; afinal o bloqueio é tão eficaz que lá entra armamento em barda; e Gaza tem uma fronteira com o Egito, país soberano e não às ordens de Israel. (Um polícia egípcio matou turistas israelitas já depois do ataque do Hamas, para demonstrar a simpatia do país pela causa palestiniana – desde que essa fique do lado de lá da fronteira.)

A liderança corrupta e incompetente da Fatah não os move. O terrorismo do Hamas e as ligações ao Irão também não. Os líderes do Hamas vivendo luxuosamente no Qatar (agora a tentar resolver a crise dos reféns israelitas, não vá a comunidade internacional cair-lhe em cima), longe da população pobre que governam – está tudo bem para a esquerda, oh tão preocupada com os palestinianos. O uso de escudos humanos da sua própria população pelo Hamas, presumo que julguem ideia genial. (Israel nunca o faria à sua população e os tribunais proibiram o uso de escudos humanos palestinianos.)

A total ausência de solidariedade dos países islâmicos com os palestinianos de Gaza – em perigo com a resposta de Israel – também lhes é pacífica. Não houve nenhum movimento para organizarem a saída de refugiados civis de Gaza pela fronteira com o Egito e acolhimento pelos países do Médio Oriente. Mas isso não faz mal. Só o possível corte da ajuda humanitária da União Europeia (muita dela desviada) é que os agita.

A necessidade de defesa de Israel para sobreviver – invadido várias vezes por todos os vizinhos, inclusive a seguir à independência; alvo de terrorismo continuado durante décadas; sem existência reconhecida por vizinhos e Hamas – é irrelevante. Os minimalistas Acordos de Oslo não terem produzido efeito, o Roadmap de Bush (o primeiro plano americano com a solução de dois Estados) ter sido recusado pelos palestinianos e os esforços de Obama para uma paz negociada se terem esfumado em menos de nada, mostrando uma continuada inflexibilidade palestiniana para um acordo de paz, bem, quem quer saber dessas picuinhices?

A indignação da esquerda pró-Palestina é muito seletiva. Pior: convive muito bem com o terrorismo mais cruel e degradante, quando é dirigido aos alvos de estimação. Uma esquerda que não cumpre critérios de decência para configurar em qualquer solução governativa. O PS que atente.

A autora é colunista do PÚBLICO e escreve segundo o novo acordo ortográfico

 

Os jovens estão na moda e os radicais de esquerda não perdem tempo

04.10.23 | Manuel_AR

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Foto do jornal Público - NA DIAS CORDEIRO, MARIANA GODET

Um texto de opinião geralmente reflete visões, crenças e perspetivas pessoais de um autor sobre um determinado assunto. Deste modo, as generalizações podem ser usadas para reforçar ou ilustrar um ponto de vista do autor, no entanto podem ser entendidas como uma extensão arbitrária de fenómenos. Assim, neste contexto, considerar generalizações significa tirar uma conclusão ampla com base num conjunto limitado de evidências ou observações.

Ao fazermos generalizações derivadas de casos pontualmente observados é possível falhar nas conclusões que se possam retirar. Explicando-me melhor: fazer generalizações sobre uma observação não equivale, necessariamente, a falhar nas potenciais conclusões, mas há que ter algumas cautelas e considerar diversos fatores.

Neste artigo não se pretende fazer uma generalização a partir de pontos de vistas, no entanto, há fatores que se observam na maior parte da população mais jovem quer no comportamento, quer nas atitudes.  

O conceito de jovem torna-se ambíguo se não for caracterizado, porque depende do contexto cultural, sociológico e até mesmo legal. Para a ONU Organização das Nações Unidas para fins estatísticos, define a “juventude” como o grupo etário composto por pessoas entre os 15 e os 24 anos. Mas, para além disso, a juventude é muitas vezes um período de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e social, em que os jovens constroem as suas identidades e definem os seus interesses e objetivos.

Feitos estes esclarecimentos declaro que nada tenho contra os jovens, eles são o nosso futuro enquanto sociedade e serão as futuras elites de governantes, e, por isso, devemos exigir-lhes qualificações, responsabilidade e qualidade nas atitudes e comportamentos.

Para os jovens parece que tudo se resolve com manifestações e protestos conducentes à imediatez, própria da juventude e que têm para soluções de problemas complexos. Mas não têm! Mostram-no quando são abordados a justificarem porque protestam e quando lhes pedem soluções para os problemas, nada dizem de concreto, divagam. Repetem o que ouvem e lhes dizem.

A política, com a ajuda da comunicação social, colocou os jovens no centro das atenções e os partidos, sobretudo os da oposição da esquerda radical, aproveitam o filão. Os jovens passaram a ser as vítimas da sociedade, reclamam e sentem a falta de tudo. É uma onda de manifestações com os apoios partidários daquela esquerda que resolve os problemas com a queda do capitalismo. O radicalismo é inerente à própria juventude. Pretendem fazer-nos acreditar na espontaneidade dos movimentos mobilizados através das redes sociais ou fora delas, quer seja pelo direito à habitação, quer seja pela justiça climática, ou qualquer outra que esteja na agenda política de alguns partidos.

Os jovens estão contra tudo e são facilmente mobilizáveis e motivos não lhes faltam. São as alterações climáticas, é a poluição, para a qual as petrolíferas contribuem, é a falta de habitação (em Lisboa, claro!), é a falta de emprego, digno dizem (não de trabalho!). Estão contra os preços dos alimentos e ao mesmo tempo compram gangas e ténis de marcas mais caras. Reivindicam a abolição das propinas e reclamam por mais bolsas de estudo à discrição, mas pagam dezenas ou centenas de euros para ir a concertos. São os transportes que pretendem gratuitos, os aviões poluidores que devem ser abolidos, mas utilizam-nos para viajar para onde bem lhes aprouver. Queixam-se da falta de emprego, mas são contra o capitalismo e contra a exploração pelas empresas privadas, apesar de serem elas que criam emprego e sustentam o país.

Será que esses jovens alguma vez pensaram como viveriam se se viesse a concretizar e a pôr em prática de imediato todas as suas reivindicações? Acaba-se com as petrolíferas e depois? Acaba-se com o capitalismo, e depois? Congelam-se as rendas e depois? Querem viver na cidade? Como? Desalojando os que lá estão ou ocupando casas habitadas para substituírem os inquilinos, ou viverem com eles em comunidade como era na ex-União Soviética? Construir habitações sociais no centro de Lisboa para eles viverem? Onde está o espaço para tal?

São alguns destes, os mesmos jovens, que vemos à noite nos restaurantes, nos bares, nas discotecas, nos concertos, quando os há, nas ruas com garrafas ou copos de cervejas na mão fazendo barulho perturbando o descaço de quem vive nesses bairros e se levanta de manhã para o trabalho.

As “dificuldades” dos jovens são várias como hoje constatei ao fazerem fila para entrarem numa marisqueira das mais caras na Rua da Palma em Lisboa. São os jovens que convencem os pais a pagarem-lhes a carta de condução, e que depois não se dispensam de adquirir um carro como os que vemos estacionados nos parques em volta das universidades onde pretendem que as propinas sejam gratuitas.  

Os movimentos reivindicativos e de protesto, embora muitos deles sejam legítimos e justificados, têm sempre um intento político, e sobretudo partidário, com a pretensão de fazerem passar a mensagem de instabilidade social, das dificuldades de vida e de que tudo está mal para o que contam com o beneplácito dos noticiários e comentários cuja voz se solta a dizer que nada está bem e que tudo está mal!

Se estabelecermos ligações de causa e efeito há uma conjugação de esforços quer de forças à esquerda, quer à direita a quem custou, e custa, estar a “engolir” um regime e uma governação saídos duma maioria absoluta. Assim, tudo serve para criar entropias através de vários tipos de contestação social por vezes fictícios. É a contestação pela contestação, bastou ouvirmos na última manifestação os cânticos e as palavras de ordem da tarde de sábado passado (30 de outubro) onde observavam cartazes com mensagens incluindo frases como “Morte aos ricos”, “Senhorio não é profissão” ou “Turistas, chegou a vossa hora, emigrantes ficam e vocês vão embora!”.

As televisões têm dado visibilidade a um sujeito que montou uma barraca de madeira no Rossio com um placar onde pode ler-se apartamento T0 1800 euros para parodiar o problema da habitação. Pois é, o excesso de procura aumenta os preços da habitação e para esta situação temos o contributo do turismo e da imigração. Veja o caso de haver seis imigrantes ou seis jovens que se juntem à procura cada um de um quarto que se aluga a mais de quinhentos euros se seis alugarem um apartamento com uma renda de 1800 euros eles passam a pagar apenas 300 euros cada e o senhorio fica também a ganhar porque o apartamento pode até valer mais do que mil euros. Portanto, o autor daquela iniciativa de protesto apenas pretende visibilidade televisiva que lhe é concedida e é uma oportunidade para fazer oposição ao governo. 

O populismo só prolifera na mesma medida em que a ignorância e a falta de conhecimento para avaliar as situações também prolifera. Em algumas circunstâncias populismos de diferentes tendências acomodam-se uns aos outros numa espécie de simbiose em que a cooperação pode vir a beneficiar oportunisticamente um dos lados. Foi o caso dos deputados do Chega que estiveram mo meio da manifestação. No meio dos protestos, em Lisboa, deputados do Chega que se misturaram na manifestação onde se encontravam entre outros o Bloco de Esquerda, o PCP e a CGTP tiveram de ser escoltados por polícias e foram forçados a abandonar a manifestação depois de serem chamados de “fascistas”. Segundo a revista Visão «a líder bloquista Mariana Mortágua considerou “natural” a reação dos manifestantes presentes» afirmando que «Parece-me só natural que um partido de extrema-direita que defende a especulação imobiliária e o negócio imobiliário não seja bem recebido numa manifestação pelo direito à habitação». O Observador escreve que «A líder do Bloco de Esquerda, que está presente na manifestação em Lisboa, diz que é “natural que um partido de extrema-direita que defende a especulação imobiliária não seja bem recebido numa manifestação pelo direito à habitação”. Mariana Mortágua diz mesmo que “é muito razoável” e “expectável” a reação dos manifestantes ao Chega, que lembra que é um “partido de extrema-direita que defende interesses imobiliários e os vistos gold».

Na mesma manifestação, manifestantes com a cara tapada atacaram uma imobiliária com tinta vermelha e chegaram a partir vidros com martelos. É esta a juventude que temos e que todos agora defendem. É também por aqui que alguns partidos podem encontrar a mina de ouro que lhe enriqueça os votos.

Recorde-se também o caso da intervenção de uma ativista(?) pelo clima lançou tinta verde sobre o mistro do ambiente. Sobre este caso ouvimos um comentário de Susana Peralta, pessoa que não sei onde se posiciona, tal as análises que ora são para um lado, ora são para outro, numa espécie de cata-vento, o que não significa necessariamente isenção. No passado domingo, no noticiário das 8 na RTP1 Susana Peralta num comentário político que faz com Pedro Norton, afirmou então que não concordou com a atitude da manifestante lançar tinta verde contra o ministro do ambiente e que, em vez disso, poderia antes lançado tinta contra a secretária ou para o chão, foram mais ou menos estas as palavras. Pois claro, procedeu à validação deste tipo de comportamentos. Afirmou ainda que vivemos numa “gerontocracia”, isto porque falava das justas reivindicações dos jovens.

A vida é tão complexa que nos tem mostrado que nem o poder nem a estupidez têm idade. A questão se coloca é a de saber se a gestão do Estado justificaria uma mudança geracional, sangue novo, como dizem por aí alguns, para canalizar o país para reformas que dizem ser imprescindíveis. Para os que acham que a juventocracia poderá ser uma opção melhor do que a gerontocracia, o melhor é pensarem porque, uma vez instalada no poder, os membros dessa nova elite política e intelectual e esses líderes ditos revolucionários tornam-se a geração tampão que acaba por bloquear o resto do caminho aos que vieram e aos que virão detrás.

Um rápido relance pelos órgãos de comunicação social ao longo dos tempos mostra-nos que na nossa civilização que é o que, afinal, constitui o aspeto técnico e material da nossa cultura gera novos valores centrados no ideal do eu, do egocentrismo: é preciso ser jovem, bonito, rico, feliz; não se fala mais de velhice, isso não merece uma particular atenção. Existem ainda muito poucos jornais, moda, programas de rádio ou canais de televisão dedicados aos idosos. Veja-se a publicidade dirigidas aos jovens sugerindo-lhes comportamentos consumistas que, afinal, causam problemas ambientais sem precedentes, que os jovens relegam para segundo plano.

A sociedade parece aspirar por jovens empreendedores, jovens médicos, jovens professores, jovens ministros, jovens pesquisadores, etc. A essa juventocracia acrescenta-se o “tratar por tu” generalizado pela publicidade dos anúncios televisivos e dos sites da internet que, para algumas pessoas, tornou-se um pesadelo. O importante para a eficácia profissional não é quantos anos um sujeito tem, mas o que ele sabe. Parece que o maior mérito é o certificado pelo (CC) Cartão de Cidadão.

Um artigo de opinião João Miguel Tavares: Como envenenar ideologicamente uma luta que é de todos

03.10.23 | Manuel_AR

Como envenenar ideologicamente uma luta que é de todos

A esquerda radical anda há anos a parasitar a causa do clima e da habitação com base na mais velha das falácias: todos os males do mundo derivam do modelo de desenvolvimento capitalista.

João Miguel Tavares

João Miguel Tavares

In jornal Público

3 de Outubro de 2023

Expliquem-me muito devagarinho: qual é a relação entre o problema da habitação em Portugal e a crise climática? Foi o aumento da temperatura na superfície da Terra que fez disparar o preço das casas no centro de Lisboa? Foi o recuo das calotes polares e o degelo do permafrost a causa de os jovens universitários só arranjarem quartos manhosos a preços obscenos? Ou talvez seja melhor pôr a pergunta ao contrário: se não há ligação perceptível entre a calote polar e o calote imobiliário, a que se deve a organização de um protesto simultaneamente pelo direito à habitação e pela justiça climática, como aquele que ocorreu este fim-de-semana em todo o país?

Desconfio que a resposta esteja na própria manifestação: querem convencer-nos de que lutar a favor da habitação e do clima implica combater fervorosamente o capitalismo. Esse é o ponto comum. São lutas de que a esquerda exige ser a única senhoria. Não há bom ambientalista que não seja anticapitalista, nem inquilino entalado que não seja explorado. Bastou ouvir os cânticos e as palavras de ordem da tarde de sábado: “Senhorio não é profissão” ou (o meu favorito) “Turistas, chegou a vossa hora, emigrantes ficam e vocês vão embora!”

Mas houve mais. A montra de uma imobiliária partida à martelada. Um cartaz que dizia “Morte aos ricos”. Vaias e assobios quando a manifestação passou em frente ao Banco de Portugal. E dois deputados do Chega que, ao tentarem juntar-se ao cortejo, conseguiram aparecer no telejornal no papel de perseguidos: foram insultados, empurrados e aconselhados a sair dali por razões de segurança. “Fascistas, fascistas não passarão”, ouviu-se. Mas será que um fascista não pode ter problemas em pagar a renda?

Pelos vistos, não pode. Mariana Mortágua explicou porquê: a habitação (e também o clima, já agora) são causas de que a esquerda reclama direitos de propriedade exclusivos. Por isso, lá estava ela, e Paulo Raimundo, e Rui Tavares. A reacção dos manifestantes à presença dos deputados do Chega foi, nas palavras de Mariana Mortágua, “muito razoável”, já que o Chega é um “partido de extrema-direita que defende interesses imobiliários e os 'vistos gold'”. Tendo em conta que o fim dos "vistos gold" foi anunciado este ano, isso significa que Mariana Mortágua passou os quatro anos da "geringonça" a apoiar um partido que defendeu os interesses imobiliários e os "vistos gold", sem que por isso tinha gritado com António Costa.

Sim, os deputados do Chega apareceram para parasitar a manifestação “Casa Para Viver, Planeta Para Habitar”. Mas a esquerda radical anda há anos a parasitar a causa do clima e da habitação com base na mais velha das falácias: todos os males do mundo derivam do modelo de desenvolvimento capitalista, e não há luta social ou ambiental que não exija o desmantelamento da economia de mercado como a conhecemos – apesar de ter sido ela a grande responsável pela época de maior prosperidade da História da humanidade.

O objectivo dessa falácia anticapitalista, que nos é diariamente enfiada pela goela abaixo, é óbvio: usar os problemas do clima ou da habitação como cavalos de Tróia da enésima tentativa de revolucionar as bases das democracias liberais. Infelizmente, envenenar com ideologia barata aquilo que são lutas transversais à sociedade tem uma péssima consequência: diminui os níveis de consenso em torno dessas causas e atrasa a resolução de problemas que afligem todos, incluindo comunistas e fascistas.

O autor é colunista do PÚBLICO