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O PCP está enfeudado ao PCFR (Partido Comunista da Federação Russa) que segue a cartilha de Putin. As justificações do PCP são a mesmas de que Putin se serve. Mentiras, omissões , invenções e deturpações históricas. Afinal qual é o objetivo do PCP? Tal como Putin já afirmou o PCP nunca viveu bem com a desmatelamento da União Soviética e da sua ditadura.
PCP volta a furar consenso do Parlamento sobre Ucrânia, desta vez sobre eleições
Assembleia da República aprova voto de condenação pela realização de eleições promovidas pela Rússia nos territórios ocupados da Ucrânia.
Foto: Paula Santos, líder parlamentar do PCP LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
O Parlamento aprovou nesta sexta-feira um voto de condenação pela realização de eleições regionais e locais promovidas pela Federação Russa nos territórios da Ucrâniaque ocupou desde o ano passado, mas o PCP voltou a ficar à margem do consenso, abstendo-se. Estas eleições "representam mais uma flagrante violação do direito internacional e uma provocação inaceitável à legítima soberania e unidade da Ucrânia", lê-se no texto que recebeu o apoio de todos os outros sete partidos com assento parlamentar.
O voto, proposto pela Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, considera que as eleições nos territórios ocupados da Crimeia, Sebastopol, Lugansk, Donetsk, Zaporijia e Kherson, entre os dias 8 e 10 deste mês, foram "ilegais, coercivas e atentatórias de todas as práticas democráticas".
Considera a comissão que foi um escrutínio que "se destinou puramente a procurar legitimar politicamente a anexação ilegal destes territórios" em que participaram cinco partidos com representação no Parlamento russo, e de que saiu largo vencedor o partido Rússia Unida de Putin.
"De acordo com a União Europeia e outros organismos internacionais, as 'eleições' ilegais na Ucrânia ocorreram num contexto marcado pela concessão forçada e ilegal de passaportes por parte da Rússia, inclusive a crianças, por transferências e deportações forçadas, por violações e atropelos generalizados e sistemáticos dos direitos humanos, bem como pela intimidação e crescente repressão de cidadãos ucranianos por parte da Rússia e das autoridades ilegalmente nomeadas nos territórios ucranianos temporariamente ocupados", descreve o texto da comissão parlamentar.
Que acrescenta que estas “'eleições' ilegítimas merecem firme repúdio e condenação”, por serem apenas uma "nova tentativa da Rússia em legitimar ou normalizar o seu controlo militar ilegal e a tentativa de anexação de partes do território ucraniano". "Trata-se de mais uma violação manifesta do Direito Internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas, assim como da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia".
PCP diz que territórios querem desligar-se da Ucrânia há muitos anos
Na declaração de voto que entregou sobre o assunto na Mesa do Parlamento, o PCP considera que o voto da comissão de Negócios Estrangeiros, “mais do que procurar contribuir para a solução política de uma guerra que dura há quase dez anos, com os seus múltiplos desenvolvimentos e consequências, inscreve-se numa visão que, omitindo e distorcendo elementos de natureza histórica e deturpando as raízes e causas do conflito, procura animar a guerra e quem com ela lucra”.
Os comunistas alegam que a actual situação “resulta do carácter e das consequências do golpe de Estado de 22 de Fevereiro de 2014 para unidade e integridade territorial da Ucrânia”, e que quem iniciou a guerra foi a “junta militar golpista de Kiev (…) com o recurso a grupos e formações paramilitares que reivindicam o seu passado de colaboracionismo com o nazifascismo”.
“Ao mesmo tempo, a complexa realidade destes territórios – nos planos político-territorial, económico, social, linguístico-cultural – colhe raízes no processo de desmantelamento da URSS e seus efeitos ao longo dos últimos 30 anos”, acrescenta o PCP, realçando que, em Janeiro de 1991, quando o território ucraniano ainda estava integrado na Rússia, um referendo na Crimeia teve como resultado, por 93% dos eleitores, a defesa da retirada da região da jurisdição da Ucrânia, a recuperação da República Autónoma Socialista Soviética da Crimeia (RASSC) e integração no seio da URSS.
Essa vontade popular, escrevem os deputados comunistas, foi contrariada pelo Soviete Supremo da então República Soviética da Ucrânia. As restantes regiões de população maioritariamente russófona também se rebelaram contra Kiev: no Donbass, houve a proclamação das Repúblicas Populares de Donetsk e, depois, de Lugansk. Em Sebastopol, realizou-se um referendo de reintegração na Federação Russa com taxa de aprovação superior a 90%.
No Donbass, distritos de Donetsk e Lugansk, é já depois do início pela junta de Kiev da integração das formações nazis de «batalhões voluntários», incluindo do batalhão Azov, na recém-formada Guarda Nacional da Ucrânia, que têm lugar os levantamentos populares, com a proclamação das Repúblicas Populares de Donetsk e, depois, de Lugansk.
“Não pode ser encontrada uma solução política para o conflito que os EUA e a NATO travam na Ucrânia com a Rússia, omitindo e distorcendo elementos de natureza histórica e deturpando as raízes e causas do conflito”, critica o PCP que insiste na “abertura de vias de negociação que visem alcançar uma solução política do conflito”.
Notícia actualizada às 19h30 com conteúdo da declaração de voto do PCP.
A rua, o trânsito, pode parecer pouco relevante como sinal de agressividade, mas não é.
Já não é a primeira vez que falo disso, e se calhar não será a última, mas o grau de agressividade pessoal nas cidades, em particular em Lisboa, está cada vez maior. O incremento é significativo, tanto mais que está em aparente relação inversa com a agressividade colectiva, aquela que se manifesta algumas vezes nos movimentos sociais. As greves e as manifestações são pacíficas, e, mesmo quando os discípulos da Extinction Rebellion se prendem a uma grade ou bloqueiam uma rua, é mais um acto simbólico do que qualquer “resistência séria”.
É uma comparação imperfeita, mas mesmo assim possível. Na verdade, se a primeira forma de agressividade pode ser testemunhada por todos, a segunda existe latente, escondida, difusa, embora como uma mancha cada vez mais vasta. A primeira forma de agressividade está em alta, em pico, a segunda espalha-se mais em mancha, manifesta-se através de comportamentos menos evidentes, mas que estão lá. Talvez o melhor exemplo seja o racismo, cuja mancha se espalha para lá dos alvos tradicionais, para os imigrantes asiáticos e latino-americanos.
Explico-me quanto à agressividade individual em alta. Ela está por todo o lado e não tenho dúvida de que a violência doméstica é o seu melhor exemplo. Mas não é o mais público. A rua, o trânsito, pode parecer pouco relevante como sinal de agressividade, mas não é. O espaço público urbano torna-se muito pouco habitável, resultado de um conjunto de factos que implica ideias erradas, opções urbanas erradas, medo de actuar, muita impotência, e interesses muito poderosos em nome da “mobilidade”. O monstro cresceu à nossa porta e agora parece indomável.
O caos em que se tornaram as ruas da cidade, sem lei, nem ordem, com milhares de pessoas que não cumprem qualquer regra, trotinetas, bicicletas que circulam em sentido contrário, que passam sinais vermelhos,tuk-tuksque entopem o trânsito, motos que aparecem por todo o lado e passam entre os carros, TVDE que param em qualquer sítio com desprezo pelas filas que provocam, os milhares de transportes de comida, os passeios ocupados com carros, motos, bicicletas e trotinetas (deve ser cada vez mais difícil ser cego e andar na rua), os veículos comerciais que não cumprem horários, etc., etc. Os automobilistas parecem ser a principal vítima, embora o “carro individual” tenha má imprensa, mas o mesmo se passa com transportes públicos, peões e as vítimas inocentes apanhadas em acidentes.
O número de pessoas que em bicicletas e trotinetas se deslocam sem qualquer protecção, duas em cada trotineta, com crianças dependuradas, à frente e atrás, ao meio, numa completa irresponsabilidade dos pais, que fazemslaloma considerável velocidade, aumenta o risco de acidentes e o número de acidentes em que aparecem sempre como vítimas, porque são mais fracos do que os carros. Basta atravessar a cidade para ver como cada vez mais se buzina ao mais pequeno atraso num semáforo e como cenas de insultos e ameaças são cada vez mais comuns. É igualmente verdade que se conduz a ver o telemóvel ou a mandar mensagens. Tudo junto, alimenta o caos.
É suposto as leis e os regulamentos mitigarem a desordem e imporem regras, mas não me venham com histórias da carochinha. É muito maior a probabilidade de alguém ser multado por mau estacionamento do que uma trotineta a voar pelos passeios e a atravessar vermelhos, ou um TVDE ser posto na ordem por parar em qualquer lado, coisa que pelos vistos podem fazer. Já para não falar nessa multidão explorada por uma miséria com uma caixa de comida às costas que tem de entregar depressa para ir buscar mais e que precisa de violar as regras todas para ganhar… nada.
A verdade é que, de uma ponta à outra da nebulosa do trânsito, que é o modo como centenas de milhares de pessoas vivem o seu dia-a-dia, nem que seja de casa para o emprego, para deixar os filhos na escola, para irem ao supermercado, para trabalharem, não há lei nem ordem. Colocados perante a realidade de defrontarem a todos os momentos a lei do mais forte, do mais esperto, do mais hábil, do mais jovem, do mais violento, a resposta é agressiva, ou para fora ou engolindo para dentro. Numa altura em que muito pouca gente tem razões para estar feliz, com tudo mais caro, com pouco dinheiro, com a casa precária, com os filhos a fazerem asneiras, com os pais a fazerem asneiras, sem terem o que querem e gostam, dependentes da “raspadinha”, demasiado presos à “alegria” dos pobres, a telenovela, o futebol e oBig Brother, o que é que se espera? Civismo, boa educação, tretas!
O nome próprio “Ressabiado” não existe, é ficcionado. Tal nome próprio nunca terá sido posto a ninguém, a não ser como alcunha. Já viram como soaria se nos dirigíssemos a alguém com tal nome? «Bom dia, senhor Ressabiado!» ou «Como está senhor Ressabiado? Tem passado bem? Há muito tempo que não o via!».
Ressabiado não é um nome próprio para designar determinada pessoa, isto é, aquela e não outra. É um adjetivo cujo significado é o de alguém que está melindrado, agastado sendo também sinónimo de zangado, por isso mantenho a designação para a personagem. O nome Silva é um apelido, e há muitos!
A estória começa quando, certo dia, Ressabiado Silva, corroendo-se interiormente e clamando por vingança - para explicação deste último sentimento seria a necessário um psicanalista - com o coração pleno de raiva e ódio que tinha contra tudo e contra todos os que com ele não concordam, nem concordaram resolveu destilar publicamente tudo o que sentia contra o seu alvo predileto que, no passado, o confrontou e quase lhe impôs aceitar condições que o contrariavam.
Por vezes vêm-lhe à memória os bons tempos da leitura do conto de Lewis Carroll “Alice no País das Maravilhas”. Recorda-se, sobretudo, da personagem do Coelho (no conto é a Lebre de Março) que, para ele, é uma personagem que possuía a verdadeira sabedoria da governação, mesmo diante dos maiores obstáculos.
Podemos imaginar Alice como sendo o povo que acaba por fazer parte do "chá de desaniversário" sem entender nada que está a acontecer. O Coelho era o fiel companheiro da hora do chá que insiste em provocar e incomodar a convidada. O Ressabiado é uma espécie de personagem como o Chapeleiro Louco que se juntam ao Coelho (Lebre de Março) e convidam Alice, o povo, para beber chá, mas sem açúcar. O Coelho é um personagem de sonho que ainda alguns continuam a procurar que regresse ao país das maravilhas.
Ressabiado Silva não convivendo bem com a imagem que ficou dele enquanto desempenhou cargos políticos, sobretudo no meio dos seus, esforça-se por colorir essa imagem. Mas a História não se reescreve e o que fez mal por erro ou omissão, obscurece a sua postura de infalível e continua a pensar que "ainda está para nascer quem seja mais honesto que ele", mas a sua atitude de ressentimento, ficarão assim inalteráveis por muitos livros que escreva e muitos discursos que faça.
Mesmo assim, Ressabiado Silva insistiu em escrever e publicar um livro, mais um, este último sobre a arte de como fazer política e nela conviver. Ressabiado, revê-se num hábil ético-moralista da política, isto é, avalia severamente os outros de acordo com os seus próprios padrões morais, desdenhando outros que sejam discordantes ou que não sigam os seus princípios político-partidários. Egocentrista convenceu-se e interiorizou o que disse no passado quando salientava que para serem mais honestos do que eles tinham de nascer duas vezes.
Para o esquadrão dos seus seguidores não é um livro qualquer. Para eles estão lá contidos altos pensamentos filosóficos no âmbito da ética política. Talvez seja uma “Bíblia”, talvez seja até um catecismo, poderá até ser um manual de instruções de como fazer e não fazer política.
Há um livro muito conhecido cujo título é “A Arte da Guerra”, obra literária do pensador chinês Sun Tzu, escrito por volta do ano 500 a.C. A obra apresenta-se como um manual estratégico para conflitos armados, mas que pode ser extrapolado para várias aplicações noutras áreas da vida e do confronto político. Terá, por acaso, Ressabiado Silva perguntado a si mesmo: Se aquele tal Tzu escreveu sobre a guerra porque não escrevo eu sobre a política? Mas o livro que escreveu é ainda mais completo, é um livro que ficará na memória do “mundo português”, uma espécie de Bíblia, com um Velho e Novo Testamento aplicados à política, mas tendo como alvo o ataque a vários dos seus inimigos figadais e a uma ideologia em especial.
O livro de Ressabiado Silva tem como base a sua sabedoria infinita. São textos que, para ele, são princípios sagrados e contêm histórias, doutrinas, códigos e tradições que devem guiar os verdadeiros políticos.
Ressabiado Silva, assim como para os seus correligionários, sempre se considerou um símbolo do país onde vive e o maior panteão do partido a que aderiu, talvez por engano, ou talvez porque não teve coragem de aderir na altura da queda do antigo regime a outro com que mais se identificasse.
Teve sempre uma visão austera, (ainda há quem aprecie), com um perfil que aponta para um autoritarismo que mal consegue disfarçar. Poderia ter sido líder de um partido de extrema-direita, embora sem os chavões populistas inerentes. Poderia até ser líder de um partido com amostras de salazarismo, sem Salazar, em convivência com uma democracia controlada a seu modo. Foi o forno onde ele se cozinhou. A sua postura comunicacional, quer a sua retórica, quer o que defende, fazem parte de um passado que pode não estar longe de poder regressar, não na sua forma primitiva, mas revista e atualizada.
Ressabiado Silva tem uma necessidade egocêntrica e narcisista de se mostrar o melhor, o sábio, o infalível. Faz oposição a um governo cujas políticas não sejam as que ele defende e que pretenderia impor ao país onde vive. Nestas circunstâncias, tem o impulso de sair da concha onde habita, para fazer campanhas de oposição a qualquer governo que não seja o por ele idealizado, sem, no entanto, propor soluções. Dizem os seus correligionários que ele é o símbolo de um período de crescimento no país, mas e as pessoas terão de facto também crescido? Ressabiado Silva é um saudosista do poder, mas dum poder absoluto. Ressabiado Silva parece ter-se esquecido que pensar e decidir quando se está no poder, frente a problemas atuais, concretos e complexos não é o mesmo que escrever para dar lições quando se está por fora do poder e como se o tempo tivesse parado.
Quem se dedicar a ler e a ouvir com atenção as oposições ao Governo PS, especialmente as de direita, ficará estupefacto. Pela voz dos líderes da oposição, e também dos comentadores partidários designados, as contradições são permanentes. Todas as decisões do Governo são más, ainda que tenham mérito e demonstrado a sua eficácia. Seja no âmbito da saúde, da habitação, da educação, das finanças (cobrança de impostos), da justiça, da economia, da agricultura, da cultura, etc..
Quem os ouve falar para as câmaras das televisões, nos “comícios” e encontros vários, nos passeios de propaganda pelas ruas e nos estúdios das televisões, em direto ou em diferido, o discurso propagandístico, demagógico e popularucho observaria que são declarações e elocuções feitas por partidos de direita que volveram à esquerda, sobretudo do lado do PSD.
Senão vejamos:
O IL-Iniciativa Liberal diz ser um partido liberal criado para promover e defender o Liberalismo em Portugal e que a iniciativa privada deve ser dominante e o Estado deverá ficar num segundo ou terceiro plano. Assim, para este partido, mesmo sem grande rigor, a maioria dos setores da economia deve ser desregulamentada e na sua maioria privatizada porque mercados não regulamentados, dizem, produzem prosperidade, abundância e eficiência económica.
Para os seguidores dos princípios liberais as regulamentações que regem os setores bancário, de seguros e financeiro e empresarial devem ser diluídas ou eliminadas. Só que não explicam é que a falta de supervisão foi um fator importante na crise financeira mundial que começou em 2007-08 e ameaçou transformar-se numa depressão global.
O mercado desregulado foi desacreditado aos olhos de muitos. É o mito da admiração e o incentivo para os que procuram um amanhã melhor. Parece fazer recordar a velha citação direta de uma famosa expressão do PCP de Álvaro Cunhal quando qualificou a União Soviética “Sol da Terra” uma década antes dela desaparecer, mas aqui aplicado não ao comunismo, mas ao capitalismo desenfreado.
O programa da IL, ao nível de conceitos, pretende baralhar os incautos quando associa os conceitos de Liberal e de Liberdade que leva a confundir devido à etimologia da palavra. Este partido faz uma abordagem através da promoção da defesa intransigente da Liberdade, contra os estatismos de todos os partidos. As propostas deste partido são desconexas e surgem consoante a agenda política que estiver no momento a ser avançada.
Um partido que se diz liberal e pretende menos estado e melhor estado, o que implica a concentração de serviços na iniciativa privada, aponta críticas às soluções para resolver o problema da habitação, mas ficamos sem saber como, e com que brevidade. Deverá ter uma varinha mágica que coloque a iniciativa privada a resolver este grave problema no curto prazo. São liberais, mas nas suas intervenções parece querer mostrar ser um partido de centro direita, mas sem soluções práticas para esconder a sua real opção ideológica.
Quanto à saúde também já sabemos que este mesmo partido disponibilizaria fundos dos cofres do Estado para os privados, mantendo o SNS em decadência. Uma saúde para ricos e outra para pobres. Na educação o mesmo princípio, os mesmos a financiar as escolas privadas mantendo as escola públicas, uma para ricos e outra para pobres.
Quanto à subida das taxas de juros, da responsabilidade do BCE que aumenta os encargos para quem comprou ou compra habitação nada sabemos. Para eles tudo é incompetência do Governo, problemas que o liberalismo, o deles, decerto resolveria, não dizem é como. Com a IL não vale a pena perder mais tempo, vamos ao principal partido da oposição o PSD que diz já ter entregado o seu programa de emergência social no parlamento.
Se fizermos uma análise com algum detalhe ao relato que o líder do PSD, Luís Montenegro, fez numa iniciativa na Póvoa de Varzim, onde considerou que o Governo «anda a reboque» do PSD, quer na apresentação de medidas de emergência, quer no apoio à descida do IVA da energia, quer na recusa de um novo imposto sobre os chamados lucros extraordinários, tiraremos algumas conclusões. Aqui está o PSD, por um lado, a pretender competir com o BE e com o PCP, e a mostrar-se contra os lucros das empresas privadas, e por outro a querer mostrar um partido que apoia um Estado social.
Se nos dermos ao trabalho de apreciar o discurso do Bloco de Esquerda-BE verificamos que andam muito próximos. O PSD anda sobre uma placa giratória que umas vezes vira para a direita, outras vezes vira para a esquerda, para mostrar que tem uma política social. Ou será socialista?
Luís Montenegro já tinha anunciado este verão, na Festa do Pontal, o seu anúncio de apoio às famílias e às empresas a que acrescentou agora a proposta de redução do IVA da energia para a taxa mínima (6%). Se bem me lembro terei ouvido isto ao BE.
O partido que mais prejudicou as famílias e que no passado, quando era poder, tal não o preocupou fala agora num programa de emergência social num valor global que rondará os 1,5 mil milhões de euros, uma subida em relação ao valor inicial indicado por Montenegro (mil milhões). Esta diferença é justificada pelo líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, com o «agravar da situação das famílias e das empresas» aproveitando a potencial «receita adicional muito significativa» que diz existir.
O PSD na voz dos seus principais líderes, propõem ainda que o Governo atribua um vale alimentar no valor de 40 euros por mês a todos os pensionistas e reformados que tenham uma pensão/reforma até 1.108 euros e a todos os cidadãos em vida ativa e que aufiram rendimentos até ao terceiro escalão de IRS, durante o mesmo período. O que é isto senão pura demagogia e populismo e tendo em vista próximas eleições e que o PS classificou de «caridadezinha e paternalismo».
O que o PSD demonstra é que o PS deveria deixar de ser poupadinho e passar a ser despesista o que está implícito nas propostas que o PSD recomenda para a criação de linhas de apoio financeiros para as pequenas e médias empresas (PME) e IPSS no valor de 250 milhões de euros, apoios na eletricidade “verde” e descontos no gasóleo para as empresas de produção agroalimentar, bem como a criação imediata de um Programa Extraordinário de Incentivo à Poupança Energética por consumidores domésticos e industriais. Tudo coisas fantásticas que o PSD faria.
O PSD quer um Governo de mãos largas em tempo que ele acha ser de vacas gordas. Parece querer vir a ser um Governo tipo novo rico gastador. Sim o PSD, implicitamente está a dizer que está tudo mal a nível social, empresarial, saúde, educação, justiça, etc., e que se deve gastar mais, muito mais…. Então estamos em tempo de vacas gordas, ou não?
Se tudo o que o PSD e as restantes oposições propagam fosse realizado por um passe de mágica instantâneo veríamos posteriormente os efeitos do aumento da despesa do Estado (o déficit) e da dívida pública. Viria então o efeito déjà-vu da direita a clamar que o Governo socialista despesista aumenta a dívida pública e o déficit e nos está a lançar no caminho de nova banca rota
Analisemos alguns dos problemas que existem em vários setores sociais e dos serviços públicos. A estes problemas que de facto existem associemos-lhe as exigências que as oposições, organizações sindicais, organizações de empresários e de proprietários e outras entidades em nome individual ou coletivo reivindicam e exigem para a resolução de cada um dos problemas e no final tiremos algumas conclusões breves.
Alerto para que a lista será grande. Noto ainda que muitos destes problemas há muito que existem e vêm de governos anteriores, mas que, durante este Governo, passaram repetidos diária e são insistentemente trazidos para a opinião pública pela comunicação social.
Saúde e SNS.
Falta de médicos de família.
Falta de médicos e de enfermeiros.
Dificuldade na marcação de consultas.
Atraso nas cirurgias.
Problemas nas maternidades.
Intervenientes nas críticas e ou ataques ao Governo.
Exigências de mais salário e menos horas de trabalho e outras regalias.
Ordem dos médicos críticas ao sistema.
Professores do ensino público.
Exigem mais salário.
Alteração nas colocações em função da distância.
Admissão de mais professores.
Diminuição do número de alunos por turmas.
Descongelamentos das carreiras.
Pagamento de todo o tempo de serviço de todos os anos de congelamento.
Falta de creches.
Intervenientes nas críticas, exigências e ou ataques ao Governo.
Associações de pais.
Associação dos Diretores de Agrupamentos.
Aumentos salariais.
Mais funcionários.
Horas de trabalho.
Habitação.
Juros altos causa das subidas pelo BCE.
Apoios sociais.
Falta de oferta de casas.
Falta de construção.
Rendas altas.
Habitação para jovens.
Inflação derivada a causas exógenas ao país.
Baixa ou eliminação do IVA.
Exigências pelo controle da inflação.
Congelamento de rendas.
Apoio do Estado às rendas e à habitação.
Baixa de impostos.
Baixa do IRS para alguns escalões e do IRC.
Redução ou eliminação da TSU.
Redução dos impostos sobre os combustíveis.
Casos isolados.
Pedidos de apoio para tudo, desde a agricultura, panificação, olivicultura, viticultura, etc... Prejuízos devido à escassez de água e excesso devido às chuvas como consequências do clima.
Resolução com apoios do Estado sempre há escassez de água quando não chove; apoios do Estado quando há excesso devido às chuvas em excesso.
Finalidade reivindicativa.
Sempre a mesma: Exigências de mais salário, menos horas de trabalho, mais pessoal, mais regalias.
Causas e conclusão.
Pelo que se depreende tendo em conta as oposições e o que se vê e lê na comunicação social todas estes problemas enumerados parecem ser da responsabilidade do Governo.
Conclusão. Algumas serão, mas uma parte significativa não o é, nem seria resolvido por qualquer partido que estivesse no Governo.
Não é necessário fazer contas muito complicadas para percebermos que, se todas as exigências e pedidos que são reivindicados e noticiados pelos media fossem satisfeitos, o país não teria recursos financeiros suficientes para suportar tal despesa. O país, nós todos, ficaríamos mais endividados e o déficit subiria para níveis incomportáveis.
Fica a curiosidade de saber como as oposições à direita e à esquerda do atual Governo procederiam para dar resposta a todos aqueles pontos num período curto desejável.
Veja-se o desespero do líder do PSD ao avançar com propostas eleitoralistas, afirma que a descida do IRS não seria apenas para o ano de 2023, mas seria para este ano e também para o seguinte. Se isto é sentido de estado e responsabilidade não sei o que será.
Tudo isto serve de conteúdo para os media fazerem o seu papel, servir informação e aproveitar para fazer “shows” a partir da procura insistente de realidades várias que possa mostrar nos ecrãs, umas efémeras, outras duradouras e persistentes. Vão-se repetindo na sucessiva renovação dos ciclos noticiosos, com algum sensacionalismo, embora a maior parte das vezes com mais seriedade do que nas redes sociais, deixando aos consumidores de conteúdos de informação a difícil tarefa de conseguir distinguir uma fonte da outra. Os consumidores de televisão e de redes sociais já não distinguem a semelhança com uma espécie de qualquer “reality show”.
Por isto mesmo o espectador, consumidor de conteúdos televisivos, deixa-se enredar e fica estupefacto por aquela enorme quantidade de problemas que lhe dizem estar o Governo a acumular, dia para dia, mês após mês, ano após ano, e que não consegue resolver.
As oposições criticam medidas do executivo com o fito único nos potenciais votos que o descrédito do Governo lhes possa vir a trazer em futuras eleições ou, até, se tal fosse eleitoralmente oportuno a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente da República com a sua consequente queda.
Uma coisa podemos colocar como hipótese que um governo de direita, com maioria ou em coligação, não conseguiria resolve todos os problemas atrás enunciados. Mas os media encarregar-se-iam de passar a imagem de um país sem conflitos e com os problemas sociais milagrosamente resolvidos por obra desse tal novo Governo de direita, porque seriam enviados para uma espécie de latência.
Ontem foi o encerramento da 47ª Festa do Avante organizada pelo Partido Comunista Português continuando ensombrada pela invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin e que o Partido Comunista da Federação Russa aplaudiu e aplaude.
O novo secretário-geral do PCP Paulo Raimundo, muito contido no que se refere à invasão da Ucrânia, nada avançou de novo sobre a questão da invasão do território ucraniano pela Rússia. Sobre o tema centrou-se e refugiou-se apenas na palavra ‘paz’ que na voz do PCP e no contexto em quem é abordada é muito vaga e generalista.
Se analisarmos as suas declarações no comício de encerramento nada de novo é dito. «O povo quer a paz, não quer a guerra», lança o dirigente do PCP o que não é mais do que a afirmação do óbvio. Avança, no entanto, que «para ter a paz tem de forçar que os órgãos de soberania invistam na paz e não na guerra». Aparentemente, por aqui nada poderemos apontar à sua retórica que é apenas para povo adepto escutar, mas que adiante desenvolvo.
Sobre a ida do Presidente da República à Ucrânia o secretário-geral assumiu que não lhe viu utilidade a não ser se fosse usada para procurar a paz, e lamentou que «O Presidente fez uma opção de reafirmar todos os caminhos que têm instigado a guerra» e que não deixou à Ucrânia «nem uma palavra da paz».
Mais uma vez uma avaliação sobre a atitude do PCP em relação aquele conflito confirma o seu ponto de vista demagógico com o intuito de se afastar da questão de fundo sobre a causa da invasão e da defesa da Ucrânia face ao agressor.
A questão de fundo é a de sabermos são os caminhos possíveis que o PCP considera para um potencial o estabelecimento de uma paz duradoura. Até ao momento nenhuns, são apenas palavras vãs não sustentadas por qualquer opção concreta.
Todos queremos a paz, não é apenas o PCP. A dúvida que nos persegue é a de saber como é que PCP acha que deva ser conseguida. Aparentemente a resposta é dada quando afirma que (o povo) «para ter a paz tem de forçar que os órgãos de soberania invistam na paz e não na guerra.» Não sabemos que órgãos de soberania se devem forçar a investir na paz. Os de Portugal? Os da Federação Russa? Os da União Europeia? Os dos EUA? Todos? São apenas afirmações para comicieiros ouvirem.
Perguntas a que o PCP claramente não responde e que já foram formuladas noutros posts e que continuam a fica no ar:
a) Será que, para o PCP, os órgãos de soberania da Ucrânia deveriam abdicar do seu território, sem condições, a favor da Rússia de Putin?
b) Que condições para a Ucrânia e para a Federação Russa seriam aceitáveis para o estabelecimento da paz do ponto de vista do PCP?
c) Será que para o PCP Putin está aberto a negociações de paz e espera para tal, mas a Ucrânia e o ocidente não querem?
d) Acha o PCP que o ocidente está a investir no prolongamento da guerra em vez da paz porque está a enviar armamento para a Ucrânia se defender?
e) Acha o PCP que se a Ucrânia não tivesses ajuda do ocidente a Rússia do autocrata Putin parava a invasão a que chama “operação militar especial”?
f) Qual a posição do PCP face aos pontos de vista do Presidente Vladimir Putin para justificar a invasão da Ucrânia?
g) O PCP acha que um país invadido tem que se conformar com uma invasão que não provocou?
Não venham com a gasta questão de que não querem interferir nas questões internas de outros países, porque o PCP sempre o fez em relação a Portugal e no início da revolução de abril também se pronunciou bastas vezes. Quem professa uma ideologia pode e deve orientar linhas de pensamento e ao PCP ideologia não lhe falta.
Aquela são apenas algumas das questões a que o PCP e a sua direção deveriam responde sem se refugiar em palavras de ordem e de ocasião que todos querem ouvir, como a do alcançar a paz, palavra cujos valor é muito fortes.
A paz é um compromisso com as normas e instituições jurídicas internacionais, tais como a dos tribunais penais internacionais. Quem pretende abordar o objetivo da paz de forma realista deve encarar este problema com bastante sobriedade e de acordo a ordem internacional, mas não é isto o que o Presidente da Federação Russa fez e tem vindo a fazer e que parece o PCP está a acompanhar.
Aliás, parece ser manifesta a simpatia do PCP pelo PCFR – Partido Comunista da Federação Russa apoia na Duma o regime de Vladimir Putin.
Educação no atual regime da Federação Russa, reescrita da história e o controle dos meios de informação e comunicação
Ainda resta na Rússia oposição a Putin?
O que aqui escrevo não são invenções mais ou menos ao sabor da corrente das redes sociais nem das emoções que sempre acompanham a política. São opiniões é certo, mas também são pontos de vista baseados e fundamentados por factos cuja origem das fontes não omito, sejam elas do ocidente, sejam da própria Federação Russa.
Do meu ponto de vista a Rússia é um grande país e em vez de ter optado por mergulhar no passado como parece estará a fazer o seu líder, o Presidente Vladimir Putin, poderia ser um grande aleado da Europa após o desmantelamento do que restava da URSS o que poderia trazer-lhe vantagens económicas sem perder a sua importância geopolítica. Mas o seu objetivo é, à semelhança de Trump quando era Presidente do EUA, o de tentar dividir e desestabilizar a União Europeia e o Mundo sem até à data o conseguir.
Putin assim não pensou, prefere o antagonismo com o ocidente que de forma esquizofrénica vê como um inimigo que pretende invadir a Rússia. Pretende construir uma ideologia onde domina uma espécie de “neo-guerra fria”. Para poder controlar as potenciais consequências da invasão da Ucrânia utiliza mecanismos de controlo social que lhe sirvam para obter uma sociedade sem qualquer tipo de comportamento oposicionista que, para ele possa ser considerado desviante. Para tal, cria sanções para quem tenda a desobedecer a normas e regras por ele estabelecidas eliminando até adversários.
Passaram cinco dias desde que a agência de notícias estatal russa RIA Novosti informou que um avião particular onde viajava o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, explodira. Terão passado dois meses entre a tentativa de golpe de Prigozhin com a marcha a Moscovo e a explosão do avião onde seguia.
No mundo alucinado das redes sociais surgiram as mais diversas especulações e teorias da conspiração, como é habitual nas mais variadas circunstâncias. Acidentes com figuras que se opõem a Vladimir Putin, ou que já não lhe são gratos tem sido recorrente. O real esclarecimento deste caso ficará em aberto até um dia. Sabemos como os ditadores são prolíficos naquele tipo de ações. Tivemos também em Portugal, no tempo da ditadura de Salazar, casos de morte de adversários políticos que se opunham ao ditador.
Tem sido recorrente no mundo das redes sociais e noutros canais de comunicação alguns alucinados grosseiros e agressivos chamarem, “rebanho” ou “manada”, a quem segue padrões da mais normal convivência e que são ordeiramente discordantes, por não aceitarem as suas razões imbuídas de falsas racionalidades e não seguirem as suas aberrantes e deturpadas ideias. Esquecem-se esses de que, nesses contextos, são eles as “ovelhas ronhosas” do rebanho a que pertencem. Diz-se erradamente “ranhosa” por confusão com “ronhosa”, isto é, que tem ronha, uma doença, uma espécie de sarna que os ataca.
Estão naquele grupo incluídos os negacionistas anómalos e, também, os que por agora nos interessa, os apoiantes da invasão da Rússia governada pelo regime autoritário e ademocrático de Vladimir Putin e da sua entourage selvática que utiliza a propaganda, vigilância em massa e doutrinação para manter o controle político e ideológico.
São as ovelhas ronhosas que defendem, justificam e desculpam os objetivos de Vladimir Putin para a “operação especial” /guerra/invasão e destruição da Ucrânia que não é mais do que uma ação de terrorismo, embora ele acuse outros de serem eles a praticá-lo.
Passou-se do facto à fantasia e à mentira cometida pelos que escrevem, cometam e dizem estar a informar-nos e que acham estar na posse da verdade absoluta que não é mais do que mentira manifestada como verdade; e há os que os leem, ouvem, acreditam e absorvem como esponjas propagando depois as mentiras que julgam ser a verdade.
Alguns querem mostrar que são cientes do que dizem e gostam que lhes aprovem (com “likes”) as suas diatribes contra os que, dizem eles, são os responsáveis pelos acontecimentos e pelas circunstâncias, o ocidente, ainda que os factos revelem o contrário. Não fomos nós que fizemos, foram eles, não fomos nós que atacámos foram eles, os terroristas são eles não somos nós. Podemos exemplificar com o passado, por exemplo, a causa da guerra (II Guerra) não foram eles, os nazis, a causa foram os judeus.
Os panegíricos à dita “operação especial”, com narrativas justificativas e surripiadas a ditadores próprios de outras realidades servem os seus intentos. Esta gente é tão imprudente que pensa que nos impingem falsidades e argumentos rebuscados para nos conduzirem para o lado da sua manada, através de discursos retirados a outros que já os fizeram no passado. São os novos simpatizantes de autocracias totalitárias, da violência estalinista que se intitulam democratas, mas que apoiam invasões, genocídios e destruidores de um povo, quais “hitlers” do século XXI.
Recorrendo à agressão militar contra a Ucrânia, a Rússia violou normas e princípios fundamentais do direito internacional, bem como a Carta das Nações Unidas e a Ata Final de Helsínquia (1975). Também violou uma série de acordos bilaterais e multilaterais, incluindo o Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança relacionadas com a adesão da Ucrânia ao Tratado de Não Proliferação de armas nucleares (1994); Acordo de Amizade, Cooperação e Parceria entre a Ucrânia e a Federação Russa (1997); Acordo entre a Ucrânia e a Federação Russa sobre a fronteira entre a Ucrânia e a Rússia (2003) e muitos outros. A ocupação temporária russa da República Autónoma da Crimeia e da cidade de Sebastopol, bem como certos territórios das regiões de Donetsk e Luhansk, enquadram-se diretamente na definição de agressão de acordo com os parágrafos а), b), c), d), e) e g) Art.3 do Anexo da Resolução da Assembleia Geral da ONU "Definição de Agressão" (3314 (XXIX)).
Sobre os propósitos agressivos subjacentes à agressão russa basta rever as intervenções do antigo primeiro-ministro da Rússia Dmitry Medvedev e os selváticos apelos que faz, sem esquecer os do chefe da igreja ortodoxa russa Kirin e de Dugin um dos inspiradores filosóficos de Putin, assim como o de Vladislav Surkov, o ideólogo principal do Kremlin até fevereiro de 2020, vindo a ficar depois em prisão domiciliária. Pode ver desenvolvimento aqui ou aqui.
Enquanto se discutia a ajuda para a Ucrânia se defender dos ataques e bombardeamentos por ordem do Kremelin Medvedev afirmava que «Na base da NATO em Ramstein (Alemanha, abril de 2023) os grandes líderes discutem novas táticas e estratégicas, assim como o abastecimento à Ucrânia de novas armas e sistemas de ataque. Isto acontece depois do Fórum de Davos onde foliões “atrasados mentais” repetiram como um mantra: “para se conseguir a paz, a Rússia deve perder”».
Em janeiro de 2023 Dmitry Medvedev, ex-Presidente russo, alertava e mostrava-se contra o envio de mais armamento à Ucrânia e chamava “foliões”, “atrasados mentais” e “miseráveis” a líderes dos países ocidentais. Escreveu em publicações no Telegram que “a nenhum desses miseráveis lhes ocorre retirar uma conclusão elementar: a derrota de uma potência nuclear numa guerra convencional pode provocar uma guerra nuclear”.
Não se ficando por aqui, em março de 2023 na sua conta pessoal do Telegram, Medvedev ameaçou disparar o “míssil hipersónico” Oniks desde o Mar do Norte contra o edifício que funciona como sede do Tribunal Penal Internacional, na cidade holandesa de Haia e, a 30 de julho de 2023 não se intimidou ao dizer que usaria o arsenal nuclear da Rússia para ameaçar a Ucrânia e os seus apoiantes ocidentais. Mais recentemente, durante o golpe fracassado do chefe da Wagner, Yevgeny Prigozhin, Medvedev disse que a rebelião poderia levar a uma guerra nuclear.
Ao escrever-se e interpretar Putin e a invasão da Ucrânia a partir dos seus discursos e declarações públicas, temos de imaginar tanto o que ele vê (pensa) assim como o que julga ver e distinguirmos ainda o que ele pretende que os outros vejam, quer dentro, quer fora da Rússia. Mais difícil ainda é tentar ver o que está a conceber, a recordar, quais as suas representações, o que lhe poderá estará a ser contado, e, ainda, a parte que cabe à sua fantasia de autocrata. A partir destas premissas poderemos fazer uma análise procedente das suas palavras nos seus discursos e intervenções, alguns mais ou menos ficcionados, para “venda” ao povo russo e ao Mundo. Só assim poderemos chegar ao significado das expressões verbais que utiliza nas suas das narrativas.
Um primeiro passo para conseguir verificar/analisar, pela leitura, os discursos de Vladimir Putin. Lemos, por exemplo, uma parte e poderemos ser levados a ver o que ele diz como se desenrolasse perante os nossos olhos ou, pelo menos fragmentos ou pormenores do que se passa no seu pensamento individual que diz também ser o do coletivo, isto é, do povo, que dele emergem. Podemos então formar um conjunto de analogias e de contradições conceptuais que nos podem levar à intenção de dar um sentido e uma lógica (normalmente, para nós, sem sentido) ao desenvolvimento da narrativa discursiva de Putin.
A fantasia de nacionalismo extremado é criada nos povos por governantes hipócritas e mentirosos e é escolhida tendo em vista a finalidade de serem as mais favoráveis e agradáveis que o povo quer ouvir. Isto é, criam-se no povo “imagens” previamente fabricadas através da informação em massa disseminada e controlada pelo poder para sedução do povo e que mostrem, evocando, ser essa a “vontade do povo”.
Para compreender muitas das circunstâncias que podem levar a uma aceitação do poder que fala em nome do povo é necessário que se tenha uma compreensão mais profunda da psicologia do povo russo, o que não temos. Mas é sempre possível obtê-la através da sua história social. Para quem está de fora torna-se difícil compreender o povo russo, a não ser através das narrativas dos seus governantes, dos documentos escritos e dos poucos órgãos de informação independentes estes, mesmo assim, sob controle.
Da revolução bolchevique até à segunda década do século XXI os russos têm vivido sob ditaduras e autocracias sem nunca terem chegado a viver numa verdadeira democracia liberal à semelhança do ocidente. Manteve-se uma expectativa com a “Perestroika” que poderia resultar numa aproximação com a Europa, mas que se foi perdendo. A existência de eleições não significa em circunstâncias mais ou menos totalitárias que haja escolha livre e democrática, pois o poder pode arranjar estratégias para controlar um qualquer deslise que fazer perigar e possa vir a substituir o regime instalado.
Tanto quanto se sabe pela informação que nos chega através dos media ocidentais e pela consulta dos órgãos de comunicação social russos a maioria do povo vive numa espécie de universo paralelo (ou único) de informação e é-lhe ocultada a guerra na Ucrânia (a que chamam operação especial!?) da mesma forma tal como a observamos no Ocidente. Para os russos foi-lhes imposta a ideia de que a (operação especial) invasão da Ucrânia pela Rússia é:
uma operação militar fácil e limitada tendo em vista a libertação do “grato povo ucraniano dos nazis, e com poucas baixas entre os militares e o povo ucraniano”.
O grande causador de todos os males é o Ocidente, isto porque lhes é induzida a compreensão do mundo em que “existe um Ocidente hostil que está obcecado em humilhar e enfraquecer a Rússia".
Que o ocidente pretende invadir a Rússia.
Passou a ser difícil ao povo na Rússia “entender o que é verdade e o que é falso, ou quem está certo e quem está errado”.
Assim, para os objetivos de Putin havia que criar, tal como se criou na Alemanha nazi em relação aos judeus, a imagem de um inimigo. Esta atitude é instigada pelo poder tendo segundo estudos efetuados que consideram que pode
“ser considerada inerente à natureza humana, uma característica biologicamente determinada da psicologia social e um meio universal de mobilização de multidões, especialmente em situações de crise”.
Com a comunicação possibilitada pelas redes sociais e outros meios eletrónicos com alegações das alíneas anterior torna-se fácil a mobilização por via de notícias falsas. Passou a viver-se na era da viralidade mediática que contamina todos que a recebem um vírus por falta de ‘vacina’ que deveria passar pela análise critica e a confirmação da veracidade do que se lê, vê e ouve.
Segundo o Diário de Notícias que teve acesso à conferência "Pode a História da Rússia explicar o contexto para o entendimento da invasão da Ucrânia ou a guerra representa outro fenómeno?" organizada pelo Clube de Imprensa de Viena Concordia, o historiador russo Serguei Medvedev (nada tem a ver com Dmitry Medvedev, ex-primeiro ministro da Rússia), afirmou que «É preciso que o mundo, os países da NATO e da União Europeia percebam que estamos perante a Terceira Guerra Mundial e que a Ucrânia não é um conflito regional nas franjas da Europa porque o que está em jogo é o futuro da Europa e o futuro do Mundo. Considerou que a Ucrânia é ‘apenas um passo’ para Vladimir Putin desencadear a Terceira Guerra Mundial». «Está em jogo o futuro do Mundo. Temos de acabar o trabalho, porque 1945 é um trabalho incompleto. Na época havia duas ditaduras totalitárias (nazi e soviética) e só uma foi derrotada (Alemanha nazi) e a outra sobreviveu. Agora ressuscitou na forma tradicional. O "mundo" tem de derrotar a segunda ditadura, referindo-se à Rússia». «Só depois podemos ter confiança em relação ao futuro», sublinhou.
Na minha perspetiva esta é uma posição demasiado pessimista, belicista e que retira espaço a quaisquer negociações de paz
Todavia, é do conhecimento geral que Vladimir Putin, tomando como modelo outros ditadores do século passado (entre outros Estaline e Hitler) insiste levar a Rússia para o totalitarismo de um e o totalitarismo bélico de outro.
Para concretização de tais desígnios é necessário o controle da informação que são evidentes com o encerramento e a censura do que restava dos órgãos de comunicação independentes agravado com a criminalização de qualquer discurso diferente do oficial sobre a guerra. Para tal, em 4 de abril de 2022, o parlamento russo aprovou uma lei que torna a distribuição do que considerem ser "fake news" sobre a guerra. Neste caso para o Kremelin o que é verdade são "fake news". Isto é, quem publicar alguma coisa diferente da posição do Kremlin passa a ser punível até 15 anos de prisão como, por exemplo, dar nomes de guerra à guerra, sendo obrigados a usar o termo "operação militar especial" para se referir ao que acontece na Ucrânia.
As afirmações que se seguem foram feitas na Duma do Estado da Assembleia Federal da Federação Russa pelo presidente da Duma Vyacheslav Volodin que pode ver AQUI.
«Gostaria que todos entendessem – e a sociedade entende – que estamos a fazer isto para proteger os nossos soldados, oficiais, para proteger a verdade». Lembrou também que se a Rússia não tivesse lançado um exército especial numa operação de manutenção da paz, «uma guerra desencadeada pela OTAN começaria no território de Ucrânia em primeiro lugar, na linha de contato com a RPD - República Popular de Donetsk e LPR - República Popular de Lugansk o que, segundo Vyacheslav Volodin, implicaria milhões de vítimas e ajuda humanitária.»
Note-se que quer a RPD, quer a LPD apenas foram reconhecidas por três Estados membros da ONU até agora, Rússia, Síria e Coreia do Norte. Desaforo não lhes falta para mentalizarem e convencerem o povo russo das falsas verdades que eles criam.
Ainda de acordo com as alterações e segundo os proponentes da ação censória «a divulgação pública sob o pretexto de relatórios fiáveis informações conscientemente falsas e contendo dados sobre o uso das Forças Armadas da Federação Russa e a fim de proteger interesses da Federação Russa e dos seus cidadãos, mantendo a paz e a segurança internacionais, serão punidos com uma multa de 700 mil a 1,5 milhão de rublos». A prisão de até três anos também é possível.
Repare-se no argumento falacioso, entre outros, para justificação do diploma: “para proteger os cidadãos… mantendo a paz e a segurança internacionais”.
Veja-se ainda a menção de que
«Se a violação da lei foi praticada com o uso de posição oficial, por motivos de ódio político, ideológico, racial, nacional ou religioso ou por ódio ou inimizade contra qualquer grupo social, então a pena de prisão pode ser de até 10 anos. Os atos acima referidos, se tiverem acarretado graves consequências, será punível com pena de prisão de 10 a 15 anos».
Putin parece pretender construir uma espécie de “neoestalinismo” para voltar a fazer voltar a Rússia e o povo ao passado da ditadura que vigorou no tempo da URSS. Tal pode ser justificado porque, em 2017, as autoridades russas passaram a interferir e a insistir cada vez mais num discurso histórico, influenciado pela visão do Kremlin, segundo o qual, depois de ter sido abalada pela crise derivada do colapso da União Soviética, a Rússia deve ser novamente transformada num “grande Estado”.
Neste contexto parece estar em execução a lavagem dos crimes de Estaline. Num artigo da DW- Deutsche Welle, emissora internacional da Alemanha e um dos meios de comunicação internacionais mais conceituados, em 2017 afirmava: «o Kremlin defende que livros promovam a imagem de Estaline como patriota e modernizador».
As pesquisas efetuadas trouxeram-nos a confirmação de que as autoridades russas classificam de “prejudicial à saúde de crianças” um livro didático cujo autor, Andrei Suslov, professor de História na Universidade de Pedagogia e Ciências Humanas em Perm na Rússia, em2017 numa entrevista à DW disse que «escreveu o livro didático em 2015 junto com uma colega e que a obra teria sido editada pela organização russa sem fins lucrativos pelo Centro de Educação Política e Direitos Humanos», e que inclui temas sobre campanha violenta contra opositores nos tempos do líder soviético Estaline. As autoridades russas consideraram então que Aulas de História que tenham como tema críticas ao “Grande Expurgo”, a repressão violenta a opositores na era estalinista, são nocivas e classificam a obra de consulta como “prejudicial à saúde das crianças”.
O movimento ativista do “sut vremeni” (Essência do Tempo), movimento estalinista, provocou um alvoroço de protestos contra o livro didático, com o envio de cartas às autoridades. Pavel Guryanov, do comité local do movimento Sut Vremeni salientou que saúda a decisão da entidade reguladora russa dizendo que «O trabalho do Centro de Educação Política e Direitos Humanos em tais métodos de ensino é somente uma desculpa para as lavagens cerebrais políticas e ideológicas nas crianças em Perm, que ocorre em interesse dos patrocinadores estrangeiros dessa organização». Parece que, para aquele movimento estalinista, relatar factos históricos verídicos são lavagens cerebrais ao contrário da sua omissão-
O ensino da história sobre a era estalinista está na mira do governo russo tendo em vista a recuperação da imagem de Estaline. Parece claro que há fundamentação ideológica nesta pretensão quando o governo defende que livros didáticos promovam uma “educação patriótica” no sentido entendido pelo Kremlin.
Em 19 de julho de 2023 saiu na imprensa russa que a História que iria passar a constar nos manuais para o 11º ano seria reescrita e que no novo livro ensina-se que «A Ucrânia é um Estado neonazi» e que «A Rússia é um país de heróis». É por este manual que os alunos do ensino correspondente ao nosso secundário começarão a estudar a partir de setembro do corrente ano. É o livro único onde os autores destacam a era posterior a 1945 podendo ler-se na introdução que «O desenvolvimento progressivo da economia, combinado com as conquistas da ciência e da tecnologia nas décadas de 1950 e 1970, fez do nosso país uma das duas potências mais influentes do mundo.
A União Soviética atingiu patamares sem precedentes: abriu caminho para o espaço para a humanidade, alcançou conquistas impressionantes no desenvolvimento da ciência, da medicina e da educação». Isto é, nos novos livros didáticos sobre a história da Rússia, secções dos anos 1970, 1980, 1990 e 2000 foram completamente revistas e reescritas como afirmou Medinsky, assistente do presidente da Federação Russa e um dos autores dos livros didáticos.
A agência de notícias TASS que organizou em 7 de agosto do corrente uma conferência de imprensa dedicada ao lançamento do novo livro didático unificado sobre história geral e história da Rússia referiu que o ministro da educação enfatizou que «Hoje estamos a construir um sistema único de ensino soberano. Nesse sentido, o tema da história é fundamental.
Vladimir Putin, disse repetidamente que a memória histórica não deve ser distorcida porque «Devemos fazer tudo para que os filhos de hoje e em geral todos os nossos cidadãos se orgulhem de serem herdeiros, netos, bisnetos dos vencedores. Conhecemos os heróis do nosso país e da nossa família para que todos entendessem que isso faz parte da nossa vida.»
Os autores do novo livro didático afirmaram que o facto de o novo livro de história ser muito diferente daqueles que foram ensinados anteriormente na escola. Um dos autores, Vladimir Medinsky, ao apresentar o manual, anunciou que o livro "reescreveu radicalmente" a seção sobre a história da Rússia desde os anos 70.
O novo livro didático de história, é complementado não apenas com informações sobre a "Operação Militar Especial", mas também mostra a história da segunda metade do século XX de uma maneira diferente. Desde as primeiras páginas, transmite as opiniões que Vladimir Putin já havia declarado publicamente repetidamente: «Em primeiro lugar, deve-se reconhecer que o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século», escreve-se no início do livro didático.
Parece que o Kremelin está a querer voltar ao passado da ex-URSS e às características dos regimes totalitários, tempo em que eram feitas nas escolas ‘lavagens cerebrais’ às crianças e jovens, (por questões politico-ideológicas), através dos conteúdos, isto, de acordo com investigações efetuadas, e sem desrespeito para com a excelente serviço prestado pela educação pública na época.
A rescrita da história de acordo com os interesses dos regimes é deturpadora de factos e enaltece apenas o passado que lhes interessa. É o que parece estar a acontecer com a reabilitação do estalinismo, época que mostra ser da simpatia de Putin, apesar dele ter afirmado em 2017 que: «É claro que algo provavelmente permanece na mente, mas isso não significa que devemos esquecer todos os horrores do estalinismo associados aos campos de concentração e à destruição de milhões de nossos compatriotas». Segundo o mesmo órgão de comunicação russo e de acordo com uma pesquisa social realizada pelo Centro Levada em janeiro de 2017, a aprovação de Estaline entre os russos atingiu um recorde histórico em 16 anos. Se em março de 2016, 37% dos cidadãos russos o tratavam com "admiração", "respeito" e "simpatia", em 2017 era já de 46%.
No entanto há ainda alguns órgãos de comunicação que mostram pontos vista mais críticos sobre a forma como factos históricos são reescritos com uma visão unilateral da realidade omitindo e deturpando factos, tais como os Estados Unidos interferirem na Rússia e que o colapso da URSS foi um desastre. O que ficou provado é o contrário, a Rússia interferiu nas eleições de 2016 quando Trump concorreu para a Casa Branca.
As reformas nas narrativas históricas impostas pelo regime de Putin não são de agora já vêm de anos anteriores. Em 2017 Estaline é retratado na Rússia como patriota e modernizador. «O imenso número de vítimas trazido pela coletivização forçada da agricultura, pela industrialização imprudente e também pelo terror em massa nos anos 1930 é minimizado. A ditadura comunista é legitimada segundo o pretexto de que ela foi necessária no contexto da época. O ensino sobre a era Estaline «está na mira do governo russo», escrevia então a DW e tem contribuído para que Estaline tenha vindo a ser mostrado ao povo russo pelas autoridades russas como um patriota e modernizador.
Segundo a mesma rede de notícias, a Deutsche Welle, em 2017, Elina Ibragimova ca alertava num artigo que o livro didático foi alvo das autoridades russas pelo Roskomnadsor, Serviço Federal de Supervisão das Comunicações, que como anteriormente já referi, classificou a obra de consulta como sendo "prejudicial à saúde das crianças". Concluíram que as aulas de História sobre o “Grande Expurgo”, a repressão violenta a opositores na era estalinista, são nocivas. Foi uma forma de oculara a realidade história duma época.
Sob influência do Kremlin as autoridades russas têm interferido, cada vez com mais frequência, sobre os escritos históricos porque, ao ser abalada por uma crise devido ao colapso da União Soviética, acham que a Rússia deve ser transformada num "grande Estado". Para fundamentar esta pretensão ideológica o governo defende que livros didáticos promovam uma “educação patriótica”. Em 2007, o presidente Vladimir Putin mandou imprimir um livro de história em que Estaline, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética de 1922 a 1953, é descrito como “o mais bem-sucedido líder soviético de todos os tempos”.
A narrativa do Presidente manteve-se porque, numa entrevista que deu a Oliver Stone em junho de 2017, o conhecido realizador de cinema dos EUA, Vladimir Putin disse que a demonização de Estaline é uma das formas de pressionar a Rússia, é uma das formas de "atacar a União Soviética e a Rússia". Pode confirmar AQUI a afirmação. Em março de 2022 a revista norte-americana online Deadline Hollywood que divulga notícias da indústria do espetáculo escrevia que «Após a invasão da Ucrânia em fevereiro, Oliver Stone que tinha criticado os media por usarem o termo ‘invasão’ para caracterizar os planos da Rússia, reviu a sua posição» e, em 7 de março do mesmo ano, Oliver Stone passou a utilizar «agressão de Putin na Ucrânia» depois de dizer anteriormente que «não havia provas» de que a Rússia a pretendia invadir e concluía que «Embora os Estados Unidos tenham muitas guerras de agressão na sua consciência, isso não justifica a agressão de Putin na Ucrânia. Uma dúzia de erros não faz que um esteja certo. A Rússia errou ao invadir.»
O regime autoritário da Rússia aproxima-se mais dum regime totalitário que se caracteriza, entre outras, pela repressão política e violações dos direitos humanos onde, mais do que nos regimes autoritários, há uma absoluta falta de ideais democráticos e o culto generalizado da personalidade da pessoa que está no poder.
Com a iniciativa de um novo curso universitário através de formação online fica claro que a Rússia é um estado totalitário e que, no domínio da educação, se transformou num autêntico campo de reeducação dos jovens e das suas mentes. Este novo curso ideológico é constituído por palestras e esteve a ser preparado para ser imposto às faculdades e universidades russas e será ministrado sob a forma de vídeo aulas que pode consultar aqui.
Alguns desses vídeo-aula têm o título de uma frase muito usada por Vladimir Putin ao descrever a Rússia quando fala da sua história. Uma delas descreveu em 2012 «a Rússia como um tipo especial de Estado-civilização. Chamou a atenção para a simples verdade de que a Rússia não surgiu em 1917 ou 1991, e que tem uma história única e contínua de mil anos». Prossegue dizendo que «a Rússia é um "guardião do equilíbrio do mundo", cujo papel especial na história tem sido objeto de pensamento filosófico e académico há séculos. E veja-se onde chega a anomalia quando no contexto “de desejo da Rússia de expulsar o exército de Napoleão não apenas de seu próprio território, mas até mesmo da Europa” salienta que
Os europeus viam os soldados russos como invasores, pois não conseguiam entender que os russos eram motivados pelo autossacrifício em prol da própria liberdade dos europeus.
Para os autores do curso «o mundo multipolar imaginado pelos autores tem um total de sete polos: Ocidental, Cristão ortodoxo, Extremo Oriente, Hinduísta, Árabe, Iraniano e Chinês.» Acrescenta então que «o Ocidente "sempre foi hostil à Rússia". A cultura europeia, diz o vídeo, há muito "reproduz clichês de russofobia" que apresentavam a Rússia como um "país enorme e selvagem, onde ursos vagueiam pelas ruas" e os naturais "arrastam a sua sopa de repolho com sapatos como colheres"».
Por aqui vemos a subjacência na filosofia marginal e a ideologia oficial com Alexander Dugin a passar a ideólogo[1] que é a chave do Kremelin. Enfim, o centro das palestras para os estudantes universitários centra-se na frase «O mundo russo não pode ser contido por fronteiras estatais» e que «a Rússia é uma civilização em si mesmo».
Se lermos extratos de artigos sobre a história da Rússia no tempo da URSS no século XX, a política oficial sobre a memória da União Soviética ou da Rússia em relação aos crimes do Estalinismo, verificamos que passou por várias fases bastante diferentes: se houve períodos onde predominava a desestalinização houve outros de reestalinização de Khrushchev e Brejnev. A resolução de 8 de outubro de 1959, relativa às aulas de história nas escolas[2], dá algumas informações interessantes sobre a política de memória daqueles dias. Embora se peça aos professores que separem o regime de Estaline da tradição e da função histórica do partido comunista a ideia e o princípio fundamentais da historiografia permaneceram intactos. As aulas de história nas escolas e universidades deveriam manter o papel das massas como os verdadeiros criadores da história e do Partido Comunista como o poder de liderança, controlo e direção da sociedade soviética, tal como os princípios marxistas-leninistas.
Uma abordagem pró-comunista no início da “glasnost”[3] e da “perestroika”[4], com ênfase na demonização de Estaline em prol do movimento comunista, foi removida por uma abordagem anticomunista o que resultou no colapso da União Soviética.
No entanto, atualmente, uma abordagem crítica ao passado da Rússia foi substituída por um “consenso patriótico” como afirma Sperling, 2001,
«A busca da sociedade russa por uma identidade pós-soviética, que durou mais de uma década, parece ter chegado ao fim e culminou no 'consenso patriótico'» e ainda sobre «o retorno nostálgico à era imperial e a crescente apropriação do passado soviético" na publicidade e no marketing antes mesmo do início da ascensão de Putin».
«Nos Estados totalitários o objetivo da história é incorporar a comunidade atual numa tradição longa e gloriosa que deverá vincular os membros da comunidade a esta tradição. Os acontecimentos históricos que apoiam estes propósitos são conservados pele moldagem cultural e por políticas de memória. Os eventos ou acontecimentos históricos que perturbam a imagem do estado totalitário são removidos e destruídos por revisões da história.»
Desde o tempo da ex-URSS para o efeito de estabelecer o culto do herói na sociedade, há longas décadas que tem sido feita a instrumentalização política e ideológica da Segunda Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial, a Grande Guerra Patriótica, como é tem sido designada na Rússia, é uma forma de instrumentalização política que continua ainda a ser feita anualmente na Rússia com grande pompa de poderio militar. As mortes causadas são transformadas em estereótipos de pessoas heroicas confiando no futuro, tendo em vista o que era a ex-União Soviética e nos seus valores da supremacia cultural que continuam na Federação Russa. Os soldados tornaram-se no tema mais significativo do mito do herói soviético.
Breves pesquisas mostraram que esta ilustração dos soldados se enquadra na estrutura da memória cultural desenhada pela história da época estalinista. Acontecimentos e factos como o pacto Hitler/Estaline, o assassinato dos oficiais polacos em Katyn, o medo da morte dos soldados, a brutalização na guerra, o péssimo equipamento militar, a falta de comida e inúmeros suicídios nos esquadrões, não entram nesta escrita da história da Rússia. (Stalinism, Memory and Commemoration: Russia’s dealing with the past; Christian Volk, 2009).
[1] Neste arigo refere-se a influência ideológica de Dugin em Putin.
[2] Este documento tornou-se inválido no território da Federação russa em ligação com a publicação do Decreto do Governo da Federação Russa datado de 03/02/2020, nº 80
[3] Glasnost, (em russo: "abertura") política soviética de discussão aberta de questões políticas e sociais. Foi instituído por Mikhail Gorbachev no final da década de 1980 e iniciou a democratização da União Soviética.
[4] Perestroika, (russo: "reestruturação") programa instituído na União Soviética por Mikhail Gorbachev em meados da década de 1980 para reestruturar a política econômica e política soviética. Procurava equiparar a União Soviética economicamente a países capitalistas como Alemanha, Japão e Estados Unidos, Gorbachev descentralizou os controles económicos e encorajou as empresas a autofinanciarem-se.