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Assim, é difícil acreditar na democracia. Estamos todos à mercê das fraquezas e vulnerabilidades uns dos outros.
Carmo Afonso
Cristina Ferreira soma e segue enchendo salas com milhares de pessoas para assistirem àsCristina Talks. Depois de Gondomar e Lisboa, foi a vez de Guimarães, e a próxima sala, em Braga, também já esgotou os 7500 bilhetes, a 19 euros, em poucas horas. A este propósito, recomendo a leitura de um artigo neste jornal:Cristina e o seu séquito de levantados do chão.
São eventos onde Cristina Ferreira surge como guru que ensina a superar adversidades – como críticas, insultos ou até a própria pobreza – e onde se propõe fazer a assistência passar por um processo transformador, mediante o qual aquelas pessoas passarão a acreditar em si mesmas e no seu sucesso. A partir daí ficarão mais próximas de alcançar esse sucesso nas suas vidas, ou seja, alcançarão prosperidade material e reconhecimento público.
No seu espetáculo, a apresentadora fala dos que a criticam e chama-lhes "anticristina". Representam a intelectualidade e sobre eles diz: “Quanto mais me põem para baixo, mais eu ganho balanço para ir para cima.” Dá destaque às críticas nas redes sociais e ao desdém com que muitos a tratam, considerando-os mais um impulso para a sua ascensão. O segredo é ser autêntica e acreditar. Tudo o resto virá por acréscimo porque afinal “somos o que quisermos ser” e ela, Cristina Ferreira, está “entre as pessoas mais poderosas do país”.
Reparem que o relambório de publicações nas redes sociais a criticar a seriedade de Cristina Ferreira nesta sua nova atividade é perfeitamente inútil e até faz parte integrante da fórmula mágica que apresenta aos fãs.
Temos aqui um problema: existem dezenas, ou centenas, de milhares de pessoas que estão disponíveis para pagar um bilhete e participar num ritual, presidido por Cristina, que supostamente as transformará em pessoas de sucesso. É difícil perceber qual a escala disto, mas é certo que, onde quer que vá, esta mulher esgota as maiores salas de espetáculo. Temos de reconhecer que são mesmo muitos os portugueses que acreditam que ouvir a Cristina Ferreira vai melhorar as suas vidas.
Isto reveste-se de gravidade. É pura e simplesmente a negação da política. Quem acredita que aquele é o caminho para uma vida melhor está a abandonar a sua condição de sujeito político; o que pensa, reivindica melhores condições de vida e está disposto a lutar por elas individual e coletivamente. As palestras de Cristina Ferreira são uma verdadeira alternativa ao ato político. Porque precisarão os trabalhadores de fazer uma greve pela melhoria das condições de trabalho se basta acreditarem que são bons?
Observar o fenómeno Cristina Ferreira ajuda a perceber outros fenómenos como o das igrejas evangélicas e o da ascensão da extrema-direita. Aqui, justiça seja feita a Cristina Ferreira: não costuma convidar fascistas para os seus programas e para as suas entrevistas. Mas o assunto é outro e há mesmo semelhanças entre o processo que leva as pessoas a acreditar que mudarão de vida por causa de umatalke o que leva as pessoas a acreditar que o Chega vai resolver os seus problemas ou que o seu líder é que diz as verdades, não obstante ser apanhado a mentir quase diariamente. A sensação para quem está de fora é parecida: uma profunda incredulidade com o que se passa na cabeça daquelas pessoas. Assim, é difícil acreditar na democracia. Estamos todos à mercê das fraquezas e vulnerabilidades uns dos outros.
Quase todos os políticos portugueses já foram aos programas da Cristina Ferreira e Marcelo Rebelo de Sousa chegou a telefonar-lhe na estreia de um novo formato quando a apresentadora estava em direto. Este histórico funciona como uma legitimação das qualidades que a apresentadora anuncia ter e é também isto que vende. Não deve voltar a acontecer. A classe política tem obrigação de não contribuir para a credibilização de quem anuncia milagres e vende fantasias perigosas para quem as compra e para a própria democracia.
Cristina Ferreira sonha ser Presidente da República. Temos razões para não querer que ponha esse plano em ação. Não que seja previsível que ganhe, mas é certo quede cada vez que contamos quantos de nós puseram a cruz numa opção que demonstra que se perdeu o juízo e o bom senso chegamos a números astronómicos. Está aqui uma coisa boa que Cristina Ferreira pode fazer por Portugal: não nos obrigar a saber exatamente quantos portugueses desejam que seja presidente. Já mereceria um agradecimento.
A autora é colunista do PÚBLICO e escreve segundo o novo acordo ortográfico
O artigo de opinião de Eduardo Marçal Grilo no jornal Público que abaixo transcrevo toca no ponto essencial do que pensa grande parte dos portugueses pelo que recomendo a sua leitura.
Haverá, decerto, quem não aprecie o artigo o que é compreensível, porque em democracia é normal a discordância. Devemos, contudo, distinguir os facciosos, os adeptos clubistas partidários de esquerda ou de direita, os militantes doentios anti Governo, anti PS e anti António Costa, os anti tudo, os populistas, os que absorvem o que lhe dizem, veem e ouvem, qual esponja, destituídos de qualquer espírito crítico, os que não distinguem o trigo do joio, os que acreditam que todos os políticos da direita são de uma pureza indelével e incorruptível, porque destes, raramente é feita notícia e, quando ela existe, apressadamente, transformam-na em fogo-fátuo.
A campanha repetitiva dos órgãos de comunicação social que têm a obrigação de nos informar, e não condicionar, com imparcialidade e ética giram numa espécie de roda de argumentos ad nauseam (até provocar náusea) ou ad infinitum para tentar convencer as audiências através da repetição.
Estou farto e cansado
OPINIÃO
Eduardo Marçal Grilo
25 de maio de 2023
In Jornal Público
Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.
Sim, estou farto de quase tudo o que ouço e vejo à minha volta.
Mas também estou cansado de ouvir e ler sempre os mesmos a dizerem as mesmas coisas, como se conhecessem as soluções para todos os problemas, mas que nunca nos apresentaram uma única ideia ou proposta para a solução dos problemas com que o país se confronta.
Sim, estou farto de ver os políticos a criar conflitos inúteis, como estou farto de ver as televisões a massacrar os telespectadores com programas de futebol intermináveis e em que para entreter se criam conflitos sobre penalties, expulsões e foras-de-jogo.
Estou cansado de ler as notícias da corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos.
Estou cansado de ver os moderados sem voz e sem presença nos media.
Estou cansado e triste por ver pessoas “queimadas” na praça pública com notícias falsas ou com acusações infundadas.
Estou farto de ver títulos de jornais que não correspondem à notícia a que se referem.
Estou farto de conferências, colóquios e seminários em que os que falam e os que ouvem são sempre os mesmos.
Estou farto dos debates em que nós todos já sabemos o que cada um vai dizer.
Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.
Estou farto de ver gente em lugares de responsabilidade comportarem-se como membros de uma associação de estudantes do ensino secundário.
Estou cansado e triste por ver deitados para o lixo trabalhos que foram feitos por organizações credíveis que só querem contribuir para melhores soluções para os problemas do país.
Estou farto da arrogância de alguns que nos querem impor as agendas das minorias.
Como também estou cansado dos excessos em torno da cultura de género.
Estou cansado das notícias que justificam que os processos judiciais se tornem intermináveis.
Estou farto dos que lucram com todo este emaranhado jurídico dos processos lançados pelo Ministério Público.
Estou também indignado com os processos lançados contra pessoas que, quando julgadas, se provou nada terem feito de mal.
Estou farto de ver incompetentes a exercer cargos para os quais não têm qualquer qualificação.
Estou cansado e farto de ver nas televisões o rigor substituído pelo espetáculo.
Estou farto de ver muita gente mais interessada em estar do lado do problema do que do lado das soluções.
E também estou cansado de ver que em certos casos são eles mesmos o problema.
Como também estou cansado dos que gostam mais de destruir do que construir.
Estou cansado de ver tanta inveja e tanta vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja.
Confesso igualmente que estou cansado das notícias sensacionais que duram menos de 24 horas, porque foram forjadas com objetivos inconfessáveis.
Estou cansado de não ver enaltecido o que de muito bom se faz em Portugal, seja nas empresas, nas universidades, nas escolas ou nos hospitais.
Como estou farto de ver aqueles que, como portugueses, gostam de se autoflagelar.
Estou cansado de ver televisão e até de ler jornais.
Sim, estou cansado de viver num país que adoro, mas que me traz grandes frustrações quase todos os dias.
Tanta frustração deve talvez ser da idade e da falta de paciência que tenho para aturar tantos disparates.
Nota final: estou triste, cansado e farto de muitas coisas, mas não sou um desistente.
Estarei sempre disponível para lutar contra os populismos e contra os inimigos da democracia, procurando que não nos toquem na liberdade e que, sem complexos ideológicos, se encontrem, com moderação, equilíbrio e bom senso, as soluções para os problemas que enfrentamos.
O ex-Primeiro-Ministro e ex-Presidente da República Cavaco Silva veio amparar Luís Montenegro, como se este fosse um coitadinho que não está a saber conduzir a oposição ao Governo. Dá-lhe inclusivamente conselhos (conselheiro, nova função de Cavaco?)
Cavaco Silva, apresentou-se no seu discurso como sendo o curador de Luís Montenegro, isto é, como se fosse representante de uma pessoa declarada incapaz e que, por isso, lhe deixa recados.
Encontramos, contudo, um ponto positivo quando aconselha o líder do PSD a “deixar de andar distraído com temas secundários ou com agendas de outrem não é suficiente.”
De seguida o primeiro conselho de Cavaco Silva aponta para que “é no Governo socialista que o PSD deve centrar a sua atenção”. Para Cavaco a indicação é para apontar baterias ao estado da governação, aos salários baixos e às pensões de reforma indignas, ao empobrecimento da classe média, à má qualidade dos serviços públicos, à falta de rumo e de visão estratégica. Pra Cavaco a demagogia e o descaramento não têm limites. A pergunta que nos surge é, (sobre os pontos que sublinhei): o que fizerem ele e os seus sucessores, nomeadamente Passos Coelho, para implementar o que Cavaco Silva diz agora ser necessário. Estará a dizer ao atual líder do PSD para prometer o que, em princípio, não poderá fazer, nem fará?
E mantendo o seu ímpeto conselheiro afirmou Cavaco que “O PSD não deve cometer o erro de anunciar qualquer política de coligação.” Como se pode ver este é um tema recorrente que é colocado a Luís Montenegro quando é interpelado, tendo rejeitado formar governo com políticos racistas, xenófobos, oportunistas ou populistas. O que aconselha Cavaco Silva? Que os sociais-democratas não devem desfazer já as dúvidas sobre o que vão fazer nas próximas eleições, para não correrem o risco de ter de voltar atrás com a palavra. Ficamos a saber que após eleições Cavaco Silva deixou uma porta aberta para possíveis alianças ou coligações pós-eleitorais ou alianças com partidos da extrema-direita como o Chega. Já alertei para isto num outro texto.
Como remate final disse que "O PSD não deve ir a reboque de moções de censura apresentadas por outros partidos mais preocupados em ser notícia." Vamos lá ver se entendo. Quem tem insistido na apresentação de moções de censura é o partido Chega. Segundo Cavaco essas propostas só servem para desviar as atenções e, por isso, interessam ao Governo. Mas, ao mesmo tempo, Cavaco abre portas à possibilidade de coligações pós-eleitorais com outros partidos e o Chega não estará fora de causa, apesar deste ser um dos partidos que está sempre preocupado em ser notícia.
Se bem nos recordamos Luís Montenegro nunca abriu a porta a moções de censura, mas, se pensava fazê-lo nos tempos mais próximos, o conselheiro Cavaco já o disse para não fazer. Mas, se for necessário, poderá chamar o Chega para coligação.
Sobre Cavaco Silva o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fez uma apreciação sobre a frequência das intervenções públicas do ex-chefe de Estado Cavaco Silva dizendo que falou “menos” como Presidente e “mais” depois do cargo.
O ex-Presidente Cavaco Silva pode esforçar-se a dar conselhos a Luís Montenegro do PSD, mas as previsões, penso não me enganar, serão de que as perdas de votos sofridas pelo PSD, com vantagem para o Chega e para o Iniciativa Liberal, não serão recuperáveis a breve prazo. Recuperá-las apenas do PS serão uma insignificância.
Caso venha a ser Governo, e dada a falta de projeto claro do PSD, se for seguir o que o “conselheiro” Cavaco diz sobre os pontos em que é essencial “apontar baterias”, tal implicará incluir no programa de Governo o que ele indicou no seu discurso. A dúvida de tal ser possível fica no ar.
Quando falamos em força da natureza referimo-nos a forças que existem na natureza como resultado de ocorrências naturais, não devidas a quaisquer causas externas e que estão fora do controle humano.
Muitos ainda acham que Cavaco Silva é uma força da natureza do PSD. Não. Não é. Cavaco é movido pela força da vingança e do ódio. Perdeu a noção da ética em política. A sua linguagem aproximou-se da usada pelo líder do partido da extrema-direita Chega, ou não estivesse André Ventura de acordo com o essencial do discurso de Cavaco Silva quando «defendeu que as palavras de Cavaco Silva foram certeiras por dizer “o óbvio”, e considerou que «Este Governo chegou ao fim, António Costa deveria ter a coragem de se demitir e é um Governo assente em mentira e em propaganda». Mas também acrescentou que a mensagem do antigo primeiro-ministro do PSD e ex-chefe de Estado «é também incompleta e incerta».
Cavaco Silva não é uma força da política pertence a um PSD, não é do centro-direita, nem do centro-esquerda como Pinto Balsemão sugeriu. Cavaco Silva é uma força da direita radical dentro do PSD, é um político que regressou do passado e pretende que o PSD o acompanhe e, para tal, empurra Montenegro dando-lhe ânimo para que, depois, fique aprisionado. Isto é, eu dou-te um empurrão, mas depois, quando eu disser farás o que eu quero.
O discurso de Cavaco Silva no 3º Encontro dos Autarcas Sociais Democratas, em Lisboa, veio dizer que Luís Montenegro está mais bem preparado do que ele estava em 1985 para ser primeiro-ministro, ao dizer que “O doutor Luís Montenegro tem mais experiência política do que eu tinha quando eu subi a primeiro-ministro em 1985, e está tão ou mais bem preparado do que eu estava”.
Mas, então, porque terá sido necessário vir alguém das profundezas do passado, Cavaco, dizer que era pior (em experiência política) do que é hoje um outro, no presente, Luís Montenegro? Seria inevitável e necessário que alguém viesse dizer que foi menos experiente do que outro, para valorizar outro, caso o visado não fosse, de facto, inexperiente?
Será isto fazer política séria?
De um político deveria esperar-se tudo menos que aja ao tremor do ódio, da vingança e da desforra motivada por causas políticas passadas. Cavaco é um político autoritário, vingativo, desconfiado, invejoso que não perdoa. É uma espécie de Salazar que recebeu formação em democracia e lhe sobreviveu e que utiliza as ferramentas por ela disponibilizada para a sua sobrevivência.
A linguagem utilizada no último discurso não faz parte do léxico de um político de nível superior. A sua linguagem é a de um arruaceiro que se encontra muito próximo de partidos da extrema-direita como o Chega a qual nem a extrema-esquerda usa.
As afirmações para que se acredite nelas careceriam de provas. Onde estão elas? Ofende, mente, insulta sem justificação, com palavras vãs que nada dizem. E os resultados das contas públicas e da macroeconomia que têm sido apresentados, que lhe eram tão caros, e a que tantas vezes aludiu no passado, lá no tempo de Passos Coelho?
Cavaco, durante estes anos após 2015 tem guardado ressentimentos desde que António Costa o encostou à parede com a possibilidade da formação parlamentar que, na altura, deu lugar à “geringonça”. Tal é demonstrado nos discursos muito pouco éticos, por serem muitas vezes de índole vingativa, mentirosos que nos últimos meses tem andado a proferir.
Cavaco propôs um guião para Montenegro. O mais importante foi o de «não falar de coligações pré-eleitorais». Ao dizer isto, Cavaco Silva deixou uma porta aberta para possíveis alianças ou coligações pós-eleitorais com qualquer partido, mesmo os da área liberal radical e da extrema-direita como o Chega. Aqui reside a dúvida: quem nos garante que no caso de eleições se não tiver maioria não fará coligações pós-eleitorais? Fica a dúvida.
As suas verdades, meias-verdades e factos alternativos
17.05.23 | Manuel_AR
O espetro partidário da direita tem vindo modificar-se desde 2015. Em 2017 é fundado o Iniciativa Liberal (IL) e concorre às primeiras eleições legislativas e pela segunda vez em 2022 conseguindo oito deputados. O partido Chega concorreu às Eleições Legislativas Portuguesas de 2019 e em 2022 obteve doze deputados.
A suposição que se pode fazer é que a maioria dos eleitores destes partidos terá a sua origem em simpatizantes que votariam anteriormente no PSD e no CDS o que, em parte, pode explicar as enormes perdas destes dois partidos em número de votantes. É assim compreensível que os novos partidos com assento na Assembleia da República tentem conquistar ainda mais votos, e o PSD e o CDS conseguir que os “fugitivos” também os que terão votado no PS de arrependam voltem ao partido e origem.
O Chega pela voz do seu presidente faz uma oposição que se limita a descredibilizar políticos e a política, isto é, descredibiliza a própria democracia. Os que assim procedem uns consideram-se incorruptos e outros apolíticos. Ao atacarem a política e os políticos estão na substância a fazer política e a proceder como políticos. A pergunta que se coloca a estes e aos que pensam que todos os políticos deveriam ser banidos é: como é que eliminariam toda a classe política e por quem a substituiriam?
Montenegro não segue por esse caminho, mas, para chegar ao poder, não rejeita qualquer participação e oportunidade para denegrir os políticos a quem faz oposição em vez de criticar as suas políticas passa o tempo a dedicar-se a casos que em nada contribuem para as reformas necessárias. Contribui para denegrir a própria política para recuperar votos aproximando-se do percurso do Chega por caminhos mais subtis.
São os populistas que espalham a desconfiança em relação aos políticos, que ocultam inevitabilidade da política, como se esta pudesse ser despenhada por quem não é político.
Fará sentido que se alimentem críticas em relação aos parlamentares, representantes do povo, quando os que os criticam dizem estar a falar em nome da voz do povo descontente com os políticos?
Os populistas são uns elitistas políticos virados em sentido contrário, isto é, são senhores do pensamento que propagam defendendo que não acredita que o povo é igual aos seus governantes, mas sim que é melhor que os seus governantes. Basta analisar com cuidado as atitudes, comportamentos e até os discursos fátuos de partidos na Assembleia da República que se acham grandes representantes da vontade do povo contra os partidos, os políticos e a política desde que não sejam eles. É por isto que se torna imperioso que se combata a iliteracia política que tende a devastar toda ação política e governativa lançada na opinião pública e no seio das massas populares.
Há partidos e políticos cujo líderes têm por missão desqualificar os outros com ataques pessoais, fazendo-nos acreditar que eles próprios não agem como políticos ou que são políticos de uma elite à parte. Fazem-se desinteressados e suprapartidários e mostram ser contra o número de deputados, mas que como tal usufruem das mesmas regalias.
Houve tempo em que um líder dum partido de extrema-direita que defendia a proposta de reduzir o número de deputados. Se tal fosse aceite a Assembleia da República seria ainda menos capaz de controlar os executivos. Talvez isso interessar a quem tal propões na esperança de um dia serem Governo.
Partidos e líderes partidários que fazem oposição ao Governo colocam-se por vezes numa posição suprapartidária e de infalibilidade nas afirmações e críticas que proferem usando uma linguagem polissémica e dúbia a partir de retóricas supostamente baseadas em factos desfigurados a que depois chama por factos alternativos.
O populismo vive de inverdades, de meias-verdades, de mentiras e de factos alternativos, ou verdades alternativas como se queira. O Dicionário Inglês de Oxford (Oxford English Dictionary) dá o significado para facto "Aquilo que se sabe (ou em que se acredita firmemente) ser real ou verdadeiro; o que de facto aconteceu; verdade atestada por observação direta ou testemunho autêntico; realidade".
A denominada verdade alternativa[1] ou facto alternativo no seu nível mais básico é uma afirmação que é apresentada como verdadeira, mas que na verdade é falsa ou enganosa. É essencialmente uma forma de propaganda e de desinformação destinada a manipular a opinião pública ou a moldar a perceção pública de forma que seja favorável à pessoa ou grupo que apresenta os ditos factos alternativos que não são mais do que falaciosos.
Factos alternativos não são factos, são falsidades. Só os tendencialmente adeptos do totalitarismo manipulam a linguagem e defendem a ideia absurda dos factos alternativos para poderem afirmar o controle do público.
As “fake news” (notícias falsas) podem assumir muitas formas diferentes, mas o elemento essencial é sempre o de serem parcial ou totalmente falsas. Podem ser uma lenda urbana, um boato, um rumor, escrita mal fundamentada, desinformação deliberada ou com intenção de humor ou paródia. Como consumidores de informações, é da nossa sua responsabilidade avaliarmos as fontes de notícias quanto à sua credibilidade, autoridade e propósito, tanto para as nossas próprias necessidades de informação como para evitar que compartilhemos propositada ou acidentalmente notícias falsas com outras pessoas.
Vejamos um exemplo relevante em como a partir de um facto real que pode ser comprovado se pode gerar uma verdade alternativa. Em 6 de maio de 2023 Luís Montenegro afirmou que entre 2011 e 2015, durante o governo de Passos Coelho, «nós conseguimos não perder tanta qualidade de vida e tanto bem-estar como aquele que tem sido perdido nos últimos anos». Ora pode comprovar-se, recorrendo a informação da época, que as circunstâncias do Portugal democrático desde o 25 de Abril, devido aos episódios da assistência financeira externa, tal não é verdade. É uma verdade que tem uma perspetiva parcial e demagógica porque naquela época houve circunstâncias gravosas para grande parte, se não a maioria, da população.
O líder do PSD, Luís Montenegro, num jantar em Pombal no dia 14 de maio tenta ludibriar quem o ouvia com verdades parciais. Verdades parciais por terem sido feitas sem enquadramento, destacando apenas números desligados. Afirmou ele: “Pois, esta semana batemos mais uma vez, pela mão do Partido Socialista e do doutor António Costa, o recorde de portugueses sem médico de família. São mais de 1,7 milhões de portugueses que não têm hoje médico da família”, sublinhou, acrescentando que, no distrito de Leiria, “cerca de um terço dos utentes de cada concelho, em média, não tem médico de família”. E acrescentou: “É com este Governo e com este primeiro-ministro que temos em Portugal mais de 3,3 milhões de portugueses que tiveram de fazer um seguro de saúde, aos quais acresce mais cerca de um 1,2 milhões que tem ADSE, mais alguns subsistemas”.
Analisando estas afirmações destacam-se falhas graves na informação passada, a saber:
O número de pessoas sem médico de família terá aumentado devido ao número de imigrantes que teve acesso ao SNS nos últimos anos e que vieram acrescer o número de utentes e a sobrecarregar estes serviços.
Quanto ao número de seguros de saúde está a confundir dois tipos: os seguros de saúde propriamente ditos com os cartões de desconto em serviços médicos de empresas privadas (ex. Medicare, Multicare) que não é o mesmo que um seguro de saúde; A ADSE sempre existiu, desde o tempo do Estado Novo, desde 1963; os outros subsistemas já existem há décadas, e o PSD nos anos em que esteve no Governo em nada alterou, melhorou ou acabou com os subsistemas.
É óbvio que algumas intervenções oposicionistas do líder do PSD têm a sua razão, contudo, os que não estejam “acorrentados” aos pontos de vista daquele partido devem estar atentos, porque muitas das intervenções políticas do presidente do PSD revelam alguma ansiedade e falta de preparação institucional e recorre a manobras de diversão e algumas vezes vai andando a reboque dos populismos.
[1] Facto alternativo ou verdade alternativa surgiu sobretudo durante o mandato de Donald Trump nos EUA.
Na peça “Hamlet” de Shakespeare o personagem principal cita o seguinte verso:
Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e flechas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim?
A oposição de direita desempenha um papel cujo objetivo é apenas o de tentar desapear o Governo em funções para, através de eleições antecipadas ou no tempo limite, o substituir por um outro que julgam venha a ter melhor desempenho e capacidade governativa. Em democracia é assim, sem o que esta não faria sentido.
Numa democracia os governos são expostos a críticas pelos partidos que se encontram na oposição e pela avaliação da opinião pública, muitas vezes condicionada pelos media e as suas agendas mediáticas e políticas.
Na nossa democracia representativa é possibilitada a discussão entre vários pontos de vista ideológicos sobre o tipo de governo, o que, consequentemente, pressupõe argumentos e contra-argumentos das partes envolvidas no processo, partidos na oposição e governo.
A forma parlamentar de governo prevê o direito de cada indivíduo ou grupo ter uma opinião diferente. Assim, todos os pontos de vista deveriam ser expressos e discutidos pelos diversos representantes do povo escolhidos por eleições livres tendo como objetivo principal o interesse da vida dos portugueses. Isto é o que deveria ser. Mas nem sempre o é.
A oposição tem a responsabilidade de dar atenção e observar o desenvolvimento das políticas do Governo e discuti-las criticamente perante o parlamento e o povo propondo alternativas. Mas assim não procede.
O grande desafio para a oposição é a necessidade de poder ser vista como credível neste papel de crítico. Para obter essa credibilidade deveria ser responsável, respeitada e unida como partido político para propor políticas alternativas relevantes que se manifestassem para o dia-a-dia das pessoas. Mas nada disto faz a oposição.
Luís Montenegro, líder do PSD, é o principal rosto da oposição ao Governo liderado por António Costa. O líder do PSD tem criticado duramente as políticas do executivo socialista, acusando-o de falta de ambição, de irresponsabilidade orçamental e de submissão aos interesses dos partidos à sua esquerda. Esta último argumento perdeu a validade terminado o prazo da chamada “geringonça”.
As oposições de extrema-esquerda (a líder do Bloco prefere "esquerda radical") apenas podem ter como ambição a recuperação de alguns votos perdidos nas últimas eleições, o que penso ser insanável. A sua oposição baseia-se no ataque, em reivindicações sucessivas. Passado um mês da tomada de posse do Governo o BE já o acusava de ser “fraco” e de estar “em desagregação”. Comprometiam-se em combater a extrema-direita e a direita radical, mas prece que tal não está a acontecer. Reivindicam em sucessivos momentos grevistas com argumentos que mais parecem uma espécie de cassete dando margem à direita e à extrema-direita. Tal não é atípico porque no passado aconteceu que as extremas-esquerdas ajudaram a abrir as portas do poder à direita.
Como líder da oposição Luís Montenegro desvaloriza e omite das suas narrativas os pontos fortes dos resultados do Governo incidindo apenas nos pontos fracos ou falhas relacionadas com casos marginais do executivo em consonância com os media que os amplifica. O intuito é simples e propositado, mostrar que faz oposição. É oposição pela oposição. É dizer mal só para dizer mal como arma para desgaste do Governo PS.
Montenegro enfrenta agora outro desafio para além da sua oposição ao Governo PS que tem a ver com problemas internos no seu partido que começam a vir à superfície.
A perceção das pessoas é a dificuldade que a liderança do PSD mostra em não estar a conseguir afirmar-se como poder alternativo e credível ao atual Governo. Esta dificuldade surge num cenário político marcado pela polarização e pela crispação ajudados pelos partidos da extrema-esquerda, sobretudo o BE, e da extrema-direita, o Chega.
A evidência da alguma recuperação económica conseguida pelo Governo de António Costa está em contradição com as afirmações de Montenegro quando diz que o Governo PS está a conduzir o país para o declínio e que só uma mudança de rumo pode garantir um futuro melhor para os portugueses. Mas que rumo e que mudança?
Quando há números que mostram o bom desempenho do Governo em algumas áreas procuram-se argumentos e números retirados às estatísticas que são tratados para contradizer os bons resultados quando estes são evidentes. Isto faz-me recordar um livro de Nogueira Ramos “Torturem os Números que eles Confessam” onde denuncia o mau uso das estatísticas e da sua interpretação nociva. É uma forma perniciosa de servir objetivamente algum interesse ou uma visão facciosa da realidade social.
Na dita mudança de rumo que Montenegro propõe é que está a dúvida. Não basta dizer que é preciso uma mudança de rumo, complementarmente é necessário também definir qual será esse novo rumo, em que direção e em que sentido a oposição seguirá como alternativa. Quando a ponte de comando o comandante de um navio diz que vai proceder a uma mudança de rumo este deve especificar ao piloto as novas orientações, porque se tal não for indicado, aquele ficará desorientado por desconhecer o rumo e coloca em risco a embarcação.
Um eleitor que neste momento pretendesse votar no PSD em alternativa ao PS não sabe se o deverá fazer porque desconhece o que o seu substituto terá para lhe oferecer a não ser as críticas ocasionais que faz ao executivo em funções e ao seu líder.
A oposição voa continuamente na TAP porque não têm mais nada em concreto para fazer oposição. Mas a TAP, embora seja um assunto importante que se deve tratar e resolver, não põe pão na mesa dos portugueses como alguns dizem.
Luís Montenegro para ser coerente com as críticas que faz à atuação do Governo deveria ao mesmo tempo sugerir propostas que, segundo ele, responderia melhor aos mesmos problemas. Limita-se a retóricas críticas sobre o que faz o Governo PS e António Costa, debruçando-se sobre casos avulso, alguns com alguma importância, outros irrelevantes, para quem pretenda escolher nova governação num futuro mais ou menos próximo.
Faz-se oposição comentando-se factos marginais, pessoalizando-se políticas, relevando-se casos que não concorrem para a mudança das políticas que se criticam, porque não as há. O líder do PSD faz uma oposição pessoalizada e politicamente irrelevante sem propostas objetivas. Desta forma quem poderá confiar, acreditar, numa direita sem projeto alternativo credível?
Em dado momento era notória a ambiguidade que Luís Montenegro mostrou em relação ao não afastamento do partido Chega. Ultimamente talvez se tenha diluído um pouco devido à “nega” que lhe deu em relação ao projeto de resolução em que André Ventura, em modo oportunista e para ter visibilidade, recomendava a saída de João Galamba acusando-o de “imaturidade e de teatro político”. Claro que a rejeição de tal proposta por Luís Montenegro deu lugar a mais um “ataque” populista André Ventura ao responder que “o líder do PSD demonstra incapacidade de fazer oposição” e que “é por isso que nas sondagens 40% das pessoas dizem que é o Chega a liderar a oposição”.
O Chega de André Ventura, juntamente com a extrema-esquerda, têm sido fatores contributivos para a polarização crescente que é promovida por aqueles que se favorecem dela. Políticos, partidos e grupos mais extremistas alimentam-se do descontentamento e da intolerância para ganhar mais apoio para as suas ideias. Afinal, medidas extremas têm maior chance de aceitação quando se vê o outro grupo como um inimigo perigoso que é preciso eliminar, ao invés de um concorrente no debate.
Cada um segue o seu caminho, mas Luís Montenegro mostra que não está a conseguir capitalizar a oposição pela positiva. Contudo há quem queira o Chega e o PSD juntos, dizem para unir a direita, e outros que consideram esta ser uma união incompatível e improvável.
André Ventura não diz o que fará se ganhar eleições, embora o saibamos. Luís Montenegro também não diz o que fará, e como. O argumento para não dizer o que fará é uma espécie de tabu que se esconde ao dizer que não é ele, é o Governo que deve governar e não a oposição. Pela sua lógica o que o eleitor deve fazer é votar no escuro e acreditar no que Montenegro não diz.
A oposição feita por Luís Montenegro é um facto alternativo. É um facto que não existe, que não é convincente, é contraditório, resultante de manobras de diversão.
Se analisarmos as afirmações que Montenegro tem proferido elas são demonstrativas do balancé da sua oposição:
Quando se candidatou à liderança do PSD afiançava estar mais preocupado em "dar respostas às necessidades das pessoas" do que em debates "ideológicos ou crises existenciais". Atualmente dedica-se a comentar e a fazer oposições através de crises existenciais.
Ao mesmo tempo que diz estar pronto para governar, por outro não quer eleições antecipadas.
Diz que “não pedimos eleições, mas também não as recusaremos”.
Montenegro afirma que o PSD é a alternativa ao Governo e que está preparado para estar quatro anos na oposição, mas não diz o que fará se lá chegar. Se o disser só quando estiver no Governo, então ao pensarmos votar no PSD devemos ficar alerta.
Faz comentários sobre o que se passa na comissão de inquérito à TAP em vez de se preocupar em propostas para "dar respostas às necessidades das pessoas". A comissão de inquérito à TAP passou a ser um local de intrigas e de assuntos pessoalizados e ainda existe na opinião pública porque interessa ao media.
O PS garante que Luís Montenegro está a demonstrar “incapacidade em assumir-se como alternativa”. Pela oposição que tem feito até ao momento leva-nos a creditar que sim.
Luís Montenegro preocupa-se em limpar do seu discurso os bons resultados da governação as respostas que têm sido dadas a vários problemas.
O que a democracia, nem ninguém precisa é que o PSD se volte para o populismo que vive de inverdades, de meias-verdades, de mentiras e de factos alternativos, ou verdades alternativas, como se queira. Assim vai ser difícil “Acreditar” que é o slogan do PSD.
Qualquer cidade e Lisboa, tal como muitas outras, apresenta uma imagem pública que é dada pelo conjunto de imagens e perceções de um número muito significativo de cidadãos. São imagens de grupo que operam no meio ambiente citadino. Cada um dos indivíduos tem uma imagem própria e única que pode aproximar-se da imagem pública de uma cidade.
Estas imagens são procedentes das várias interpretações que temos da cidade que não se limitam aos elementos físicos percetíveis. Há outros fatores que influenciam a imagem duma cidade como o significado social de uma determinada área e pelas funções centrais que a ocupam. Função central urbana é o conjunto das atividades sociais, comerciais, tais como venda de bens e serviços, centro de entretenimento e de instalações desportivas, áreas comerciais, restaurante, áreas residenciais, religiosos, entre outros, que usam os vários espaços duma área urbana. Isto é, são pontos na cidade que se destacam pela intensidade de atividade, implicando a junção num mesmo local de um grande número de pessoas, veículos e serviços.
Nas cidades existem várias espécies de orientação e de reconhecimento de lugares que nos são dados por sensações visuais de cor, polarização da luz, formas, perceção pelo olfato de cheiros característicos de alguns locais e bairros, ouvido com a receção de sinais sonoros, etc.
A imagem que se tem de uma cidade ou de uma área urbana não são apenas as vias, as ruas e avenidas, os edifícios, os bairros, os cruzamentos e todos os outros pontos marcantes. São também os seus habitantes permanentes ou temporários. Cada indivíduo acrescenta também um juízo de valor sobre as condições de qualidade urbana social e ambiental que ela oferece de acordo com interesses, objetivos e expectativas de vida de cada um.
Em cada freguesia, divisões administrativas da cidade circunscritas por áreas citadinas relativamente grandes, há elementos que, frequentemente, também nos servem de pontos de referência quando as atravessamos. Cada uma destas partes da cidade é diferente de outra. Para além dos seus aspetos físicos marcantes as gentes que as atravessam e que as frequentam concorrem também para a sua caracterização e para a perceção de uma divisão étnica e de classe. As cidades são, desta forma, centros de mudanças demográficas, sociais, económicas e políticas e atração para migrantes vindos das mais diversas partes.
A caracterização e a imagem típica de alguns bairros ou áreas das cidades podem ser modificadas pela intensificação da imigração donde de levanta uma questão que é a de saber como é que ela afeta, ou não, o ambiente urbano.
Baseando-nos numa observação apenas visual e, como tal, falível, a leitura que se fez de alguns bairros e freguesias da cidade de Lisboa, no que respeita ao elemento humano, verificámos que se vem modificando substancialmente ao longo das últimas décadas. O que qualquer observador atento verifica é que a Lisboa que se conhecia está, a cada dia que passa, diferente, não apenas quanto ao seu ambiente físico, mas sobretudo ao nível das pessoas que nela circulam.
Três freguesias de Lisboa, São Jorge de Arroios, Anjos e Santa Maria Maior são aquelas a que dediquei disponibilidade para, por observação relatada tal como foi visualizada sem traçar ideias interpretativas, mas não deixando de formular alguma conjeturas que são, como já afirmei, apenas pessoais e, como tal, falíveis, já que uma investigação criteriosa deverá ter uma metodologia de análise e de recolha de informação muito diferente. Assim, deverá, quem ler este texto, destituir quaisquer pressupostos racistas ou xenófobos da minha parte, porque não é disso que se trata.
A freguesia de Arroios com apenas dois quilómetros quadrados é a que em Lisboa tem maior concentração de moradores por metro quadrado com tendência a aumentar devido à imigração. Segundo os dados da freguesia são 79 nacionalidades numa extensão de 2,3 quilómetros quadrados. A falta de alojamentos é um problema que tem vindo a ser agravado. Já não se alugam casas, nem quartos. Alugam-se camas a preço elevado em habitações sem condições.
Lisboa, no que se refere a algumas artérias e largos nas referidas freguesias, está a ser povoada, por gentes de outras raças, outras etnias, outras culturas, outras religiões que vagueiam pelas avenidas, ruas e praças. Sentados ou deitados pelos poucos jardins, são gente possivelmente à espera de alguma coisa ou que estarão de passagem numa fase de transição para outro país da Europa. Muitos trabalharão, outros, aparentemente, estarão desocupados ou procuram emprego. Andam «sem eira nem beira» com mochilas às costas arrastando-se pelos bancos dos jardins olhando e manipulando insistentemente os telemóveis. São na sua maioria famílias e grupos de jovens que chegam aos magotes que entram pelas portas que lhes são abertas sem controle adequado.
Em alguns locais das referidas freguesias a desproporção entre o número de passantes autóctones e migrantes é claramente visível. A maior parte vêm de regiões da Ásia, como China, India, Nepal, Bangladesh, Paquistão e outros daquelas regiões geográficas. Na sua maior parte são gente pacífica, amável, sociável movimentando-se incessantemente numa azáfama supostamente com algum destino ou objetivo.
Contrastam com os africanos, especialmente os de Angola e de Moçambique cuja postura e comportamentos denotam alguma agressividade e atitudes provocatórias, sobretudo nos mais jovens, talvez geradas por desconfiança em relação aos ex-colonos que está latente nos seus rostos. Talvez porque não encontram ocupação e um trabalho digno e rentável ou, porque quando o encontram a maior parte das vezes é precário. O seu espírito gregário, leva-os para bairros suburbanos onde, desintegrados, organizam-se em gangues agressivos que se dedicam ao tráfico de droga e à violência. Em Lisboa, e na sua Área Metropolitana, bairros degradados são predominantemente habitados por migrantes e pelos seus filhos e netos vindos das ex-colónias portuguesas na África. O Rossio e o Largo de São Domingos são os lugares do encontro preferidos pelos africanos mais velhos.
Segundo dados do SEF desde janeiro de 2013 que os nepaleses passaram a constar das 10 maiores comunidades estrangeiras em Portugal, com 23.441 cidadãos com residência legal no país, ultrapassando os chineses. Ainda de acordo com o SEF, dados de 2022, as principais comunidades estrangeiras residentes em Portugal são de cidadãos do Brasil, 233.138, do Reino Unido 36.639, de Cabo Verde 35.744, da Índia 34.232, de Itália 33.707, de Angola 30.417, de França 27.614, Ucrânia 26.898, Roménia 23.967 e Nepal 23.441.
A população negra, imigrante ou não, tem tido um inigualável contributo para o desenvolvimento de Portugal, mas o sistema perpetua uma imagem pejorativa, sendo o racismo uma das armas para legitimar a subalternidade. Grande parte dos imigrantes africanos negros e negras ou seus descendentes estão incluídos na sociedade portuguesa enquanto mão-de-obra precária, barata ou desempregada.
Juntemos a estes, outro tipo de imigrante, os brasileiros, chinelados que trouxeram a moda dos calções que os portugueses, mesmos os mais velhos, rapidamente adotaram sem ligarem ao facto de parecer ridículos.
Imigrantes brasileiros abrem negócios de cabeleireiro nos bairros que se localizam a alguns metros ou quarteirões uns dos outros. Muitos dos passantes questionam e comentam nos locais de encontro e nos cafés onde vão beber a bica, como é possível estes negócios sobrevirem e serem lucrativos tão próximos uns dos outros e com clientelas escassas. Muitos abrem e, passado pouco mais de um ano, encerram portas dando lugar a mudança de ramo.
Um outro grupo de “invasores” que fazem de Lisboa uma autêntica «babilónia» são os turistas. No Martim Moniz formam-se filas intermináveis de turistas perfilam-se, tal e qual carreiros e formigas, para apanhar lugar na conhecida carreira circular 28 do elétrico.
Os mais jovens (dizem que são do Erasmus) espalham-se pela zona da Freguesia de Arroios e também que contribuem para a insustentabilidade ambiental da cidade. Residem temporariamente em Alojamentos Locais, quartos e partes de casa que alugam, muitas vezes sem recibo possibilitando a fuga aos impostos a proprietários especuladores. À noite nos bares do sítio encharcam-se com álcool, os restaurantes enchem-se, não apenas com estrangeiros turistas, mas também com portugueses que avisam que a vida está má e que não ganham para as despesas.
Quem chega à zona do Mercado de Arroios e à Praça do Chile vindo do Areeiro e da Av. Guerra Junqueiro tem a perceção de que chegou a um país diferente, tal a proliferação de gentes que aqui aportaram vindas do Nepal, Bangladesh e regiões similares. Deslocam-se a pé, em bicicletas e em motoretas. São transportadores de empresas de entrega de comida ao domicílio (takeaway), “Uber Eats” e “Glovos”. Cruzam-se nas ciclovias, quando as há, circulam pelos passeios perturbando pacíficos peões incumprindo e desrespeitando as mais elementares regras de trânsito seguindo o exemplo dos ciclistas que começam a ser uma outra forma de poluição visual para os lisboetas. Os portugueses gostam de ciclismo, mas na Volta a Portugal ou à França e ficam-se por aí!
Se nos dirigirmos para sul descendo a Av. Almirante Reis, passada a zona do Anjos, chegamos à Rua da Palma e ao Largo do Intendente, voltamos a ter a mesma sensação, passarmos uma fronteira para um país da Ásia que se prolonga até ao Largo de Martim Moniz. Os vindos da zona do Médio Oriente abrem em pequenos cubículos restaurantes de Kebab e outras iguarias orientais a que se juntam outros vindos de outras zonas que vendem artigos de consumo alimentar e bebidas à mistura com bugigangas para turistas. Os chineses também dominam com armazéns de artigos de vestuário e calçado para revenda e minimercados de produtos alimentares para confeção das mais variadas gastronomias. Por cada 5 transeuntes 4 são de outras nacionalidades.
Neste percurso podemos observar a proliferação de lojinhas de venda e reparação de telemóveis, barbearias e minimercados que intervalam entre si a pouca distância uns dos outros, quase lado a lado, a que se juntam minúsculos estabelecimentos que expõem no exterior frutas e legumes de segunda escolha vendidos a preços mais baixos e no interior produtos diversificados de mercearia. Estas lojas de comércio local serão alugadas ou de propriedade de negociantes asiáticos onde trabalharão familiares ou conterrâneos a troco de alojamento e de baixo salário. A propósito passou a ser habitual lojas que fecharam e que não abriram para comércio e estão a ser alugadas a imigrantes para habitação.
Desembocando no largo de Martim Moniz deparamo-nos mais uma vez com várias nacionalidades, sobretudo pequenos grupos de africanos sentados nos muros que delimitam canteiros laterais. No que antes eram lagos, deparamos agora com água estagnada, espécie de pântanos onde são despejados lixo e embalagens de plástico que por lá flutuam.
O Governo parece defender insistentemente a política de portas abertas à imigração, muita dela ilegal e aparentemente descontrolada, possibilitando que partidos radicais, populistas da extrema-direita como o CHEGA aproveitem para fazer oposição com argumentos aberrantes xenófobos e racistas sem qualquer fundamento contra a imigração, cujo objetivo é assustar as populações com a insegurança e com prejuízos advindos da política de falta de controle na entrada de migrantes. A perceção do cidadão comum politicamente iletrado é a da concordância com tais argumentos.
A imigração tem vindo a ser utilizada como arma política conduzindo a tensões e agitação acrescidas. Esta situação é exacerbada pela cobertura mediática e pela retórica política da extrema-direita como a do partido CHEGA. Algumas pessoas podem encarar os imigrantes como uma competição por postos de trabalho, o que suscita preocupações quanto à segurança do emprego e aos salários. Esta situação pode gerar ressentimento em relação aos imigrantes e pode também agravar as desigualdades económicas existentes. A perda de empregos é uma falácia que a extrema-direita aproveita. O facto é que a maior parte dos imigrantes vai ocupar postos de trabalho rejeitados pelos locais que não aceitam alguns tipos de trabalho o que é aproveitado por empregadores pouco escrupulosos que exploram a situação dos trabalhadores imigrantes muitos deles que se encontram sem autorização.
É possível que o ténue crescimento do CHEGA mostrado nas sondagens seja devido ao incómodo e à rejeição que os lisboetas sentem em algumas freguesias e bairros potenciada pela “ocupação” em edifícios onde vivem imigrantes que pagam alugueres de casas sem condições mínimas de habitabilidade e de segurança que são perturbadores para os inquilinos que há muito lá vivem. Por outro lado, com a imigração a aumentar, e caso não haja políticas de emprego, sociais e habitacionais as áreas de construção clandestinas e precária nas cidades irá aumentar problemas como condições anti-higiénicas, criminalidade, ambientais, etc. Contudo, os argumentos são contrariados pela frequência com que setores e as mesmas pessoas que criticam essa política se vão utilizando da mão-de-obra dessas comunidades.
Segundo alguns relatórios a imigração é muitas vezes percebida de forma negativa por os habitantes locais temerem a perda de empregos para os imigrantes, o aumento do custo e da sobrecarga dos serviços como se verifica no SNS e as filas que se formam em alguns serviços da administração pública. Em alguns casos, o afluxo de imigrantes coloca pressão sobre os serviços públicos, como a saúde, a educação e a habitação, o que pode levar ao aumento dos tempos de espera nos serviços, superlotação e falta de recursos com prejuízo para os utentes naturais.
Uma política de imigração de portas abertas pressupõe a criação de condições para os receber considerando as vantagens que, segundo o Governo trazem para o país. Todas as decisões têm prós e contras há que pesar cada uma delas. Para aproveitar os impactos da imigração no desenvolvimento e enfrentar os seus desafios, os governos nacionais e locais precisam de colaborar e coordenar as suas atividades nessa área para benefício de todos. Porém, políticas destinadas a restringir a imigração poderão ter um forte impacto negativo nas cidades. São estas que atraem a maioria dos imigrantes por poder vir a ser uma proporção significativa de população economicamente ativa que é crucial como força de trabalho contribuindo para o seu desenvolvimento. Por outro lado, um argumento apresentado para a receção de imigrantes é defendido por questões que se prendem com a demografia e com o crescente envelhecimento da população.
A maior diversidade cultural no país de acolhimento justificada pelas imigrações não se sobrepõe àquela em que os migrantes são vítimas de formas de segregação, discriminação ou confrontos culturais. A assimilação ocorre ao longo do tempo, à medida que os migrantes se instalam no país de acolhimento tem o contraponto de ser agente de uma alteração fenotípica da sua identidade física incluem-se neste conjunto as características morfológicas e fisiológicas de um indivíduo, que é um dos argumentos para os nacionalistas xenófobos e racistas.
Os defensores da imigração referem que tem sido um fator significativo no desenvolvimento das cidades, mas também dos seus problemas como causa de tensões e conflitos sociais devido a diferenças de língua, religião e costumes quando não há previamente um sistema que prepare a sua integração e mitigar os problemas decorrentes que são exacerbados pela insuficiência das infraestruturas e de instalações habitacionais que, aliás nas últimas semanas se agravaram com a organização de manifestações inorgânicas pela falta de habitação para os jovens e consequente mediatismo das críticas feitas às decisões tomadas pelo Governo para mitigar o problema.
As causas profundas das migrações são a pobreza e os conflitos e falta de oportunidades de emprego nos países de origem que não podem ser resolvidos por uma política de portas abertas nos países que escolhem para acolhimento. A imigração de portas abertas, mesmo promovida com integração e com políticas inclusivas deve ser normalizada, caso contrário as mudanças positivas trazidas pela imigração só causam danos e descontentamento nas sociedades de acolhimento. Ao deslocarem-se para as grandes cidades muitos migrantes são forçados a viver em condições de superlotação, com acesso limitado a comodidades básicas, como saúde, educação e habitação.
Trazem consigo culturas, línguas e tradições que enriquecem a diversidade das sociedades e contribuem para o crescimento económico ao trazerem novas competências e ideias que, no entanto, são condicionadas pelo nível de educação e profissão de origem. No entanto, a imigração também pode conduzir a conflitos entre diferentes grupos, uma vez que competem por recursos e empregos escassos, resultando por vezes em confrontos culturais e discriminação contra grupos minoritários.