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Estamos longe de perceber se em causa estão medidas de alcance real ou propaganda. Sabe-se sim que há na sua génese um recuo do Governo após meses a fio de desgaste com as lutas laborais
O Governo anunciou esta quarta-feira uma revolução na função pública. Numa operação organizada que envolveu o ministro da Educação, a ministra da Presidência e o próprio primeiro-ministro, o Governo decidiu virar a página da prudência orçamental (para não lhe chamar austeridade controlada) paraactualizar saláriose “acelerar” as progressões na carreira de cerca de 60 mil professores e 350 mil funcionários públicos de carreiras sujeitas a avaliações do desempenho.
Antes de se julgar a decisão pelo seu mérito ou demérito e antes de se cair nos maniqueísmos ideológicos que têm enquadrado o debate público, constate-se uma realidade: a despesa pública fixa vai aumentar num quadro de grande incerteza financeira. O velho “monstro” dodesequilíbrio das contas públicasnão está ao virar da esquina, mas o António Costa somítico pode ter mudado esta semana.
Estamos ainda longe de perceber se em causa estão medidas de alcance real ou uma manobra de propaganda. Sabe-se sim que há na sua génese um absoluto recuo do Governo após meses a fio de desgaste com aslutas laborais, em particular as dos professores. António Costa jamais poderia aceitar uma recuperação do tempo de serviço congelado na era do resgate financeiro – chegou a ameaçar demitir-se na anterior legislatura se o Parlamento lhe impusesse a medida. Tratou por isso de caçar com gato o que não pôde caçar com cão.
Nominalmente, o primeiro-ministro vai poder dizer que não haverá reposição coisa nenhuma. O que está em causa, porém, é uma pura questão semântica. O Governo vai acelerar as progressões para compensar o congelamento das progressões entre 2011 e 2018, ponto final. O que não gasta de uma forma gastará de outra.
A notícia é boa para milhares de funcionários. Paraprofessores com 40 ou 45 anosque permanecem nos primeiros escalões da carreira, é boa e absolutamente justa. Mas no futuro vai exigir mais impostos ou menos investimento público. Não há progressões grátis.
É prudente saber se o Governo não está a despir a pele da responsabilidade financeira depressa de mais. A abundante receita fiscal gerada pela inflação permite ao Governo ter mãos largas sem, eventualmente, aumentar o peso da despesa em relação ao PIB e sem comprometer as metas do défice. O problema é o futuro. E a credibilidade do Governo.
Ou os receios de António Costa sobre os impactes ingeríveis da reposição do tempo de serviço eram exagerados, e a sua decisão agora é irresponsável; ou, pelo contrário, a folga orçamental verificada no final de 2022 permitiaa reposição do tempo perdidoe a sua teimosia foi insensata.
Uma receita com método para acabar com a contestação social e as greves.
Pressupostos:
As críticas abrangem setores que passam pela educação, saúde e SNS, sistema judiciário, entre outros e divulgadas diariamente nos media.
São evidentes as contestações que os media entusiasticamente divulgam e que estão a ser contextualizadas como reivindicações dos trabalhadores, que, afinal parecem estar a ser politicamente instrumentalizados, numa perspetiva mais política do que social.
As manifestações estão a ampliar a sua zonas de intervenção iniciada pelos professores e que se está a arrastar para outros setores da administração pública, enfermeiros, médicos, tribunais, e a outros que surgirão.
Face à sucessão da contestação social e greves políticas o Presidente da República deve olhar para o contexto do sistema político de governo semipresidencialista consagrado pela Constituição de 1976, e para a faculdade de poder aprovar um decreto de dissolução da Assembleia da República, ao abrigo da alínea e) do artigo 133.º da Constituição da República Portuguesa (CRP)., e sem acarretar necessariamente a demissão do Governo, mas a marcação de novas eleições parlamentares.
A dissolução da Assembleia da República é, assim, um ato da competência do Presidente da República, previsto no artigo 133º da Constituição da República Portuguesa, que decreta a extinção da Legislatura em curso, antes do termo da sua duração normal.
Assim, com novas eleições marcadas e com a probabilidade de uma maioria de direita sair vencedora, logo um consequente governo unipartidário ou em coligação tomará posse e a esquerda não terá possibilidades de, mesmo em conjunto, tentar derrubar esse governo.
Tendo em conta esta circunstância todas as contestações, greves e problemas agora divulgados para a opinião pública terminarão e tudo voltará ao tempo de antes da maioria absoluta do Partido Socialistas. As esquerdas radicais, (BE-Trotskista, PCP-Leninista/Estalinista e agora também o MAS com o André Pestana), voltarão aos seus protestos de rua costumeiros contra a direita que não terão qualquer efeito.
A comunicação social deixará de insistir nos problemas que existem porque eles acabarão por ficar milagrosamente resolvidos com um governo de direita.
E, mais uma vez, as extremas-esquerdas derrubam um governo de centro-esquerda abrindo portas para o regresso da direita e talvez, quem sabe, com a extrema-direita como já aconteceu no passado.
E, assim, este método resultará, e resolverá os problemas que dizem ser motivo para contestações e manifestações de gente “ululante” convocadas por sindicatos ligados às extremas-esquerdas que, atualmente e insistentemente, são noticiadas pelos media.
Hoje lembrei-me do filme “Oficial e Cavalheiro”, drama romântico de 1982 que teve grande sucesso que chamou a atenção sobre Richard Gere e que se não me engano foi vencedor do Óscar para melhor ator secundário Louis Gossett Jr.,Óscar para a melhor canção: "Up Where We Belong" e, ainda indicado nas categorias de melhor atriz (Debra Winger), melhor edição, melhor roteiro original e banda sonora (Jack Nitzche).
Lembrei-me deste filme quando escolhia um título adequado, talvez satírico, para o artigo do “post” que publico e que nada tem a ver com o filme.
O título escolhido, “Presidente e comentador”, parece querer antecipar sobre o quê e sobre quem escrevo. Exatamente, o nosso Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Votei a primeira vez nele para o primeiro mandato, voltei a votar nele para o segundo mandato e, provavelmente, voltaria a votar nele, à falta de melhor, se pudesse candidatar-se a um terceiro mandato. Exclamarão alguns neste exato momento, “poça”, já chega, estamos fartos! OK, cada um sabe de si. Mas eu também não lhes disse que que votaria, disse que talvez votasse, isto porque não saberemos o que virá por aí nessa altura.
Quando vemos notícias na televisão ou as lemos na imprensa oscilamos entre uma visão de conjunto que temos e o momento fugitivo de ideias gerais e acontecimentos específicos que passam nos ecrãs, sobre atores da política que nos são mostrados conforme a agenda mediática, os interesses e os alinhamentos feitos para os jornais televisivos.
Por vezes identificamo-nos com os pensamentos desses personagens e concentramos nelas a nossa atenção e tentamos ver a paisagem política circundante através dos seus comentários, de tal modo que já nem nos apercebemos do que estamos a ver e a ouvir. É como estarmos a conduzir um automóvel quando acionamos automaticamente e inconscientemente os comandos. São os espectadores e os leitores a que me atrevo a chamar ingénuos para descrever os tipos que não estão minimamente preocupados com os aspetos exatos do conteúdo e ligam mais à artificialidade, aos aspetos artificiais das mensagens. A estes ingénuos podemos opor os reflexivos os interessados no conteúdo exato e à descodificação da eventual polissemia das mensagens e para a descoberta da artificialidade, prestando atenção aos métodos utilizados pelo mensageiro da notícia, cortando, amplificando, distorcendo a mensagem do emissor.
Mas vamos recuar no tempo, não muito, para vermos o professor Marcelo Rebelo de Sousa que também tinha sido jornalista e que, sem largar a Comunicação Social, aparece como comentador político primeiro na rádio, na TSF, e depois na televisão, na TVI de 2000 a 2004, na RTP de 2005 a 2010 e de 2010 até 2015 novamente na TVI e, paralelamente, a estes percursos, Marcelo teve uma longa carreira no ensino universitário. O seu percurso enquanto comentador tornou-o numa presença habitual e afável de grande maioria dos lares portugueses e até em certas alturas parecia mais um oráculo noticioso.
O abandono do comentário político foi apenas formal porque o Presidente continua a comentar a vida política nacional de todos os ângulos. Passou de comentário semanal para comentador diário, quase horário e em qualquer lugar, sem limites. É uma presença que mostra obsessão pelos media e que chega ao limiar do exagero. Talvez por isso os jornalistas, ávidos das suas palavras, solicitam-no a comentar, sejam os temas mais importantes, sejam os mais triviais. O fulano disse, o partido fez, o que tem a dizer sobre isso – perguntam-lhe – e, solicito, o Presidente lá vai comentando, intrometendo-se dizendo o que acha sobre assuntos que deveria ser da competência do Governo. São intervenções por vezes perturbadoras da governação que os media aproveitam para fazer aberturas nos jornais televisivos.
São José Almeida escreveu hoje no jornal Público que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa reformulou “a forma como projeta para o país a sua atitude perante o Governo, não no sentido de ser propriamente mais crítico, mas, sim, no sentido de se tornar ainda mais presente, mais incisivo” e que isso o faria “reganhar espaço no centro do palco político institucional”.
O poder de influência reclamado por outros Presidentes da República, como Cavaco Silva fazia por utilizar, pode diminuir quando há maiorias absolutas dando segurança ao primeiro-ministro. Por isso vemos o Presidente Marcelo fazer por não perder o seu poder de influência que pretende mostrar via comunicação social. Ora provoca o Governo, ora diz que está a justificar opções. E agora passou também a ser uma espécie de inspetor da execução dos projetos PRR (Plano de Recuperação e Resiliência).
A existência de uma maioria absoluta, assim como dá segurança ao primeiro-ministro, diminui o poder de influência do Presidente da República sobre o Governo. Desde que deixou de ser comentador de televisão, devido à candidatura para Presidente e ter ganhos duas eleições presidenciais nunca mais deixou de estar no ar e faz por isso.
Num comentário em 12 de março passado o Presidente da República deu uma entrevista à RTP, onde teceu algumas das mais duras críticas ao Governo, desde que foi eleito. A comentadora da CNN Portugal Alexandra Leitão analisou as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que "não escondeu o seu gosto pelo comentário político".
O Presidente Marcelo parece estar num país que alterna entre sistemas de governo. Para um observador inexperiente umas vezes ele parece ser um presidencialista, outras, semipresidencialista, outras ainda, um parlamentarista. Talvez tenha razão quem em tempo disse que Marcelo Rebelo de Sousa é um cata-vento. Foi Passos Coelho, num Congresso do PSD (XXXV) em 2014, que traçou o perfil do Presidente da República como candidato onde afirmou que para o cargo não deveria ser um “protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas”. Passos Coelho terá idealizado um candidato como tinha sido Cavaco Silva, uma espécie de adepto do solipsismo que, como ironia, podemos considerar como uma pessoa que apenas reconhece a sua existência como sujeito pensante, sendo os outros apenas simples representações mentais sem existência própria.
Cavaco Silva foi um presidente que se refugiava no Palácio que é presidencial e onde, qual “monarca”, se distanciava da nação, autoanalisando o seu “eu” de político de Presidente. Raramente se expunha publicamente, exceto quando aparecia para fazer comunicações que ele achava serem relevantes. Tal e qual um monarca com tendências absolutistas, talvez até uns laivos salazaristas.
Apenas tenho presente a sua saída com mais impacto mediático, tirando os discursos de pouca isenção ideológica, foi a sua saída para ir ver as “cagarras”, pássaro dos Açores. Afirmou ele na altura, julho de 2013: “As cagarras resolveram ter muito respeito e consideração pelo Presidente da República de Portugal por ter sido o primeiro a dormir aqui. Contrariamente ao que me tinham avisado, não me incomodaram”, revelou ele, acrescentando que “foi uma noite tranquila, em que não chegou nenhuma notícia desagradável de Lisboa”.
O seu último discurso de 18 de março nos “30 Anos PER: génese e impacto nos territórios” autocentrava-se, e, como se esperava, colocou as políticas focadas nele mesmo, como sempre fez. Dos seus discursos não podemos esperar outra coisa. Como se verificou neste último aparecimento pareceu um ente imaginário que veio das catacumbas, mais uma vez, parar perorar contra o que ainda lhe está marcado na alma, o PS, (sobretudo António Costa), que o “obrigou” a “destronar” o seu partido minoritário saído, na altura, das eleições.
Antes Rebelo de Sousa!! Ao estar também, embora numa outra perspetiva, focado em si mesmo, preocupado com a sua popularidade mediática e com a produção de selfies. Numa sondagem em finais de fevereiro de 2023 do Cesop/Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, apesar de ter recebido nota positiva, igual ou superior a 10 dos 79% dos inquiridos. Mas a avaliação média estava já em queda acentuada desde o início do segundo mandato, e situava-se numa nota de 12,2, o que representa uma queda de 0,7 pontos desde julho do ano passado.
Mas, contudo, lá vai andando como Presidente e comentador. Estaremos atentos para ver o respeito que irá ter pela maioria absoluta sem se deixar influenciar pelos órgãos de comunicacional, pelas greves políticas e manifestações, convocadas pela da extrema-esquerda ansiosa por recuperar os votos perdidos, das quais se aproveita a extrema-direita.
Aproveitado o início da legislatura para pressionar o Governo socialista de maioria absoluta com o objetivo de atrair trabalhadores do Estado como potencial investimento para, no futuro, recuperara as perdas de votos que penalizaram as extremas-esquerdas (BE e PCP e agora, parece também para “elevar” o MAS).
Desde o dia 9 de dezembro que os meses têm sido essencialmente marcados por greves diárias dos professores, seguidas por outras setoriais, como transportes, enfermeiros e médicos. Mais recentemente, pelas mãos de Mário Nogueira docentes e investigadores do ensino superior vão manifestar-se em frente ao ministério e aderir à greve da Administração Pública marcada para esta próxima sexta-feira.
A convergência de contestações e greves em vários setores parece ser orquestrada por uma agenda sindical-partidária aproveitada para fazer oposição à maioria absoluta do Partido Socialista e cuja intenção é mais dinheiro que virá dos recursos financeiro públicos descontrolando o déficit e que não nascem por geração espontânea.
A greve é um recurso crucial para os sindicatos e um importante instrumento de pressão, mas que são também contaminadas por populismos e pelas formas que utilizam para atrair trabalhadores. Por princípio obedecem ao aceno da possibilidade de obtenção de mais dinheiro e regalias independentemente de se questionar a justeza das razões que decorram para tal.
As greves podem não ser apenas um recurso de luta dos trabalhadores para melhores condições de trabalho e de salário que denomino por greves na sua pureza inicial. Porém estas pode ter uma natureza estritamente política (e até partidária) simuladas através reivindicações de direitos e aumentos salariais ou outros idênticos. São greves como estas não possuem nenhuma base profissional, visam apenas o protesto contra atos do governo e de órgãos de poder público. Contudo, quando se trata de oposição clara a um governo elas transformam-se em greves políticas camufladas por motivos reivindicativos como já afirmei.
Por outro lado, as greves com finalidades profissionais definem-se como a que pretende protestar por melhores relações de trabalho no que diz respeito à relação trabalho-empregador. Visto que uma greve ao ser considerada apenas como política poderia vir a ser reconhecida pela sua ilicitude, logo, inaceitável, há que, portanto, dar-lhe formas que possam ser reconhecidas como legais. Isto porque uma greve política pode ser contestada pelos empresários e empresas que alegam não terem nada que suportar prejuízos decorrentes de conflitos que eles próprios não ocasionaram e não estar nas suas mãos soluções para sua a resolução.
Greves, movimentos e instabilidade social são por vezes artificialmente convocadas por sindicatos, alguns correias de transmissão de partidos com finalidades políticas, direi mais, partidárias, recorrem a pretextos que até poderão ser justificados, mas que servem para fazer oposição a governos e perturbar o percurso governativo. A inflação e a maioria absoluta do PS podem ser uma explicação das escaladas grevistas e de manifestações estrategicamente organizadas, passado apenas um ano e poucos meses da realização de eleições.
As oposições ao Governo originadas por partidos das extremas esquerdas apoiadas pelos seus dirigentes, (uns são coordenadores, outros são secretários-gerais), nomeadamente o PCP e o BE não se conformaram com as enormes perdas nas urnas nas eleições legislativas de janeiro de 2022. Desta forma os sindicatos a eles afetos e recentemente também o MAS (organização política trotskista) com o seu simpatizante e sindicalista André Pestana dirigente do STOP, na tentativa de angariar alguns votos dos professores, tomaram iniciativas oposicionistas. A estes junta-se o beneplácito das respetivas centrais sindicais, algumas delas por arrasto, como a UGT, que também apoiam e promovem greves e instigadores e animadores de contestações nas ruas.
Quem fica a ver de lado é a direita, sobretudo a extrema-direita, que, mais ou menos com afirmações ambíguas, aplaude a ajuda as extremas do lado “gauche”, dizendo hoje, desdizendo amanhã. Estas direitas apostam na instabilidade por falta de propostas objetivas e concreta do Governo dizendo ter, caso sejam governo, a solução para resolução dos problemas identificados.
Não é por acaso que greves manifestações como as dos professores e de outros profissionais da função pública são convocados sendo também uma caldeação com intuitos políticos. Estes trabalhadores que pertencem à Administração Pública gerida pelo Estado, seu patrão, contrariam o voto dado pelo povo ao pretenderem fazer cair um Governo. Será este o objetivo último dos sindicatos ao fomentarem greves que, por muito que clamem não são espontâneas. Os trabalhadores públicos têm pouco a perder com exceção da perda de salário, o que não é pouco, para além de que não serão prejudicados perdendo o posto de trabalho. A mesma situação no setor privado, embora tal situação seja ilegal, a possibilidade é considerada a prazo pelo empregador.
As extremas esquerdas, face a uma maioria absoluta do Partido Socialista, não se conformaram e marcaram uma agenda sindical reivindicativa, nomeadamente na classe dos professores que avançaram com agendas partidárias coordenadas e aproveitadas pela agenda mediática.
Outro ponto é o apoio indireto que fazem à oposição da extrema-direita, o que é demonstrado pelo crescimento dessas forças constatado pelas últimas sondagens, cuja tendência vai no sentido de haver uma maioria de direita caso houvesse eleições no momento. Diria que, se por um lado, algumas greves são feitas para a obtenção de regalias, por vezes imparáveis, consonante com interesses sindicais que têm como efeito prejudicar a entidade empregadora, por outro lado, não deveriam poder, no seu "livre exercício" constituir uma "violência" contra a coletividade. Estão neste caso as greves dos professores, médicos, enfermeiros e transportes coletivos nos moldes em que são geridas pelos sindicatos que, como já afirmei anteriormente, serão muitas vezes de categoria política aproveitada para reivindicações.
Questiono-me várias vezes porque será que andam nas redes sociais muitos “personagens” a divulgar propaganda do Kremelin/Putin difundindo notícias falsas anti Ucrânia em sintonia com as mesmas que Vladimir Putin e os seus seguidores russos fazem em sucessivas lavagens cerebrais ao povo. A estes que, aqui, em liberdade, defendem as ideias de Putin pergunto porque não vão viver para esse extraordinário país sob o seu domínio e deixam de viver cá onde recebem salários à custa dos impostos que todos pagamos? É a liberdade de expressão a funcionar dirão, mas será que nesse regime que tanto defendem não haverá a mesma liberdade para dizerem o que pensam?
Podemos conjeturar se a invasão da Ucrânia não será apenas o início de outros objetivos imperialistas e mais ambiciosos de Putin, se conseguisse ocupar parte ou a totalidade da Ucrânia. Por agora bastar-lhe-ia bloquear o acesso da Ucrânia ao Mar de Azov e ao Mar Negro, caso consiga dominar toda a área que vai da Kharkiv a Odessa passando por Zaporizhia, Kherson e Mikolaiv, o que, até à data, não foi conseguido.
O caso da Crimeia, república autónoma da Ucrânia, anexada pela Rússia em 2014, que gerou um conflito na região que dura até hoje. A crise na Crimeia foi motivada pela deposição do presidente ucraniano Viktor Ianukovitch, (que fugiu de seguida para a Rússia), alinhado com as políticas russas de Putin que foi seguida de um referendo fantoche que aprovou a sua união com a Rússia, não sendo, contudo, reconhecida por Kiev nem pela comunidade internacional.
Fonte: Institute for the Study of War
O ponto de vista da preparação a de uma possível invasão da Europa em larga escala, planeada a longo prazo, a começar pela Polónia através da Bielorrússia, estaria em linha com o discurso do presidente Vladimir Putin antes da invasão da Ucrânia.
Não se sabe se, atualmente, a Rússia terá ou não capacidade militar para lançar um ataque contra a Polónia ou qualquer outro país da NATO, mas Putin tem ambições imperialistas, de longo prazo, ele próprio não o nega, e está a procurar, numa primeira fase territórios vizinhos e próximos das suas fronteiras. É um processo contínuo a Rússia tentar invadir algumas das regiões que ela reivindica, pela voz de Putin, como sendo suas.
Dias antes da publicação deste “post” o presidente da República Russa da Chechénia, Ramzan Kadyrov, sugeriu, numa entrevista na televisão do estatal daquele país, que o exército russo invadisse a “Alemanha Oriental”, como era chamado o território da antiga RDA (República Democrática Alemã) antes da queda do império soviético. O motivo de tal ataque verbal teria a ver com a entrega de tanques à Ucrânia, anunciada pela Alemanha. Também aquele radical terá sugerido que a Rússia atacasse a Ucrânia com armas nucleares.
Mais descarada ainda, e até ridícula, foi a afirmação do ministro dos negócios estrangeiros da Rússia, Lavrov, numa conferência na India, (3 de março), quando lhe perguntaram como é que a guerra afetou a estratégia energética da Rússia e como isso poderia beneficiar a Rússia, Lavrov respondeu: “A guerra que estamos tentando impedir foi lançada contra nós” o que suscitou gargalhada na plateia que pode ver aqui ou aqui. Este mesmo sujeito já afirmou em fevereiro do corrente ano que a Rússia deveria procurar "desnazificar" a Polónia, usando a mesma linguagem e argumento que Putin usou para justificar a invasão da Ucrânia.
Tem-se escrito e falado muito sobre a equiparação dos propósitos de Putin com os que Hitler para começara a guerra: a expansão da Alemanha e a disseminação da política nazi; depois de, no tempo da União Soviética de Estaline este ter feito um pacto em 23 de agosto de 1939 com a Alemanha nazi de Hitler, Putin diz agora querer combater o nazismo na Ucrânia. O governo de Hitler tinha em mente a criação de um império vasto, um “espaço vital” como ele lhe chamava então conducente à expansão germânica no leste europeu. Vladimir Putin tem a mesma ambição, mas para ocidente para criação dum império, conforme as suas próprias palavras. A efetivação da dominação russa sobre a Europa, como têm dito os seus correligionários, requereria uma nova guerra. Como já várias vezes escrevi neste mesmo local Putin nunca aceitou a dissolução da União Soviética e descreveu o seu colapso como uma “grande tragédia do século XX".
Putin recorre a uma narrativa sobre eventos passados para dar, no presente, um significado especial que sirva para fortalecer a sua autoridade como detentor do poder e reavivar no povo antigos mitos políticos do culto de personalidade. É isto que Putin pretende criar um novo, mas retrogrado, um culto à sua personalidade, de inspiração estalinista que remeta para uma forma de propaganda que eleve a sua figura a político de dimensões quase religiosas cujos discursos procurem promover, de forma exagerada, os seus méritos e qualidades, fazendo ocultar críticas ou defeitos que possam vir a ameaçar o seu poder e a condição de grande líder e guia da pátria russa.
O presidente Vladimir Putin, que muitas vezes invocou e a história para alimentar sentimentos nacionalistas, comparou-se ao czar Pedro, o imperador que expandiu o território russo através de conflitos prolongados no século XVIII.
Logo após a invasão da Ucrânia de fevereiro, no dia 9 de junho de 2022, num discurso do 350º aniversário do nascimento de Pedro, Putin pareceu fazer uma ligação da sua sangrenta invasão da Ucrânia com o passado imperial da Rússia. Segundo um jornal russo “o presidente russo Vladimir Putin, durante uma reunião com jovens empresários, engenheiros e cientistas na VDNKh em Moscovo, comparou a situação atual na Ucrânia com a Guerra do Norte (1700-1721) com a Suécia, que foi liderada por Pedro I”.
O jornal MKRU escrevia na altura que “o presidente Vladimir Putin traçou analogias com Pedro I. Segundo o presidente, “o imperador "não tirou nada" dos suecos durante a Guerra do Norte, mas devolveu os territórios que historicamente pertenciam à Rússia. E também coube à nossa parte retornar e fortalecer". Confirmava assim que, no pano de fundo ideológico da “operação especial” na Ucrânia, subsistia a ideia de reunir ao que ele chama mundo russo e recriar a “Novorossiya”.
Putin elogiou a construção do império de Pedro I e sugeriu que as terras tomadas pelo czar pertenciam legitimamente à Rússia. "O que Pedro estava fazendo?" De acordo com a Associated Press Putin disse na altura que o que Pedro fez foi segundo ele "Retomar e reforçar. Foi o que ele fez. E parece que nos coube também retomar e reforçar." Os comentários foram amplamente vistos como uma referência ao ataque de Putin à Ucrânia, que há muito vê como parte da esfera de influência da Rússia.
Em 24 de fevereiro, Vladimir Putin chocou o mundo ao iniciar uma guerra com a invasão da Ucrânia. No período que antecedeu a invasão russa, Putin fez discursos de longo alcance e escreveu um artigo para legitimar as suas ações que estava repleto de intensa retórica sobre a história imperial e a história soviética. No entanto, isso não é algo novo. Putin tem consistentemente instrumentalizado a história para alcançar os seus objetivos políticos desde o dia em que se tornou presidente.
Ao longo dos anos, tem-se referido cada vez mais, e repetidamente, à história do Império Russo, como se pode verificar nos seus discursos. A história nas suas mãos tem-se transformado gradualmente numa arma. Putin pratica essa retórica dentro do país e para o exterior para justificar as suas ações, garantir a sua posição de poder e a legitimação da invasão que foi sua e apenas sua, culminar da sua estratégia. Por outro lado parece haver também, por parte de Putin, uma espécie de saudosismo que reside numa espécie de esperança profética assente na crença de que é possível um retorno ao antigo regime soviético numa versão século XXI.
Putin parece ter adaptado à atualidade a frase que Estaline escreveu em 1924 no seu livro “Foundations of Leninism” onde afirmava que o mundo estava dividido em dois campos hostis «a frente mundial do imperialismo» e «a frente comum do movimento revolucionário em todos os países»; afirmava ainda Estaline, de modo particular, que «na presente fase do capitalismo as guerras não se podem evitar». Na linha interpretativa de Putin o mundo continua dividido em dois campos, o ocidente e a NATO que fazem parte da maquinação do campo hostil e invasor da Rússia, e o dele, pacifista, defensivo. Mas é ele que mostra uma agressividade bélica, expansionista, no sentido de regressar ao anterior império czarista. É o pensamento dos totalitaristas.
A solução adotada pelos ditadores totalitários é dirigir a hostilidade latente do povo contra inimigos reais ou imaginários. É este último caso o de Putin contra a Ucrânia e o Ocidente. Hitler escolheu primeiro os judeus para alvo da agressividade alemã; uma vez arranjado um alvo não ficou satisfeitos e, mais tarde, outros povos e personalidades tomaram o lugar dos judeus. No caso de Putin parece ser o povo ucraniano e, segundo ele, um produtor de fake news, passa para o povo russo a ideia de que os invasores são o ocidente e a NATO que estão a cercar e a invadir a Rússia.
A Rússia é um país localizado na Europa e na Ásia com os montes Urais frequentemente vistos como a fronteira entre os dois continentes e é amplamente considerado política e culturalmente europeu. Segundo as estatísticas mais recentes, em janeiro de 2023, tem aproximadamente três quartos da população que vive a oeste dos montes Urais, na Europa portanto, geograficamente fronteira entre os dois continentes.
Se observarmos o mapa seguinte que nos mostra as atuais fronteiras da Rússia comparadas com as de 1914 podemos supor até onde poderá ir o sonho imperial de Putin, que tenta comparar-se ao czar Pedro, com uma ideologia irracionalista, pretensamente mítica que mostra uma colocação política irracional tendente a voltar a consolidar as suas posições em direção ao sul e leste do país.
Putin parece não se ter desligado, nem esquecido do mundo russo soviético em que viveu e em que participou que implodiu em dezembro de 1991. Entre 1922 e 1991 a ex-URSS era formada por 15 nações diferentes: Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Arménia, Geórgia, Moldávia, Azerbaijão, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão, Turquemenistão, Uzbequistão. Sob o domínio de Estaline e durante a Segunda Guerra a URSS combateu ao lado dos Países Aliados, e fez da Alemanha o seu principal alvo militar. Nesse contexto, o Exército da URSS invadiu a Alemanha e os territórios sob a sua zona de influência e formou estados-satélite como a República Popular da Polónia, República Popular da Hungria, República Popular da Roménia, República Popular da Bulgária, República Popular da Albânia, República Socialista da Checoslováquia (atualmente República Checa e Eslovénia) e, no fim do conflito, a parte leste da Alemanha que passou a ser denominada por República Democrática Alemã.
Questiono-me várias vezes porque será que andam nas redes sociais muitos “personagens” a divulgar propaganda do Kremelin/Putin difundindo notícias falsas anti Ucrânia em sintonia com as mesmas que Vladimir Putin e os seus seguidores russos fazem em sucessivas lavagens cerebrais ao povo. A estes que, aqui, em liberdade, defendem as ideias de Putin pergunto porque não vão viver para esse extraordinário país sob o seu domínio e deixam de viver cá onde recebem salários à custa dos impostos que todos pagamos? É a liberdade de expressão a funcionar dirão, mas será que nesse regime que tanto defendem não haverá a mesma liberdade para dizerem o que pensam?