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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

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É o poder da guerra superior ao poder da paz?

31.01.23 | Manuel_AR

Poder da guerra poder da paz.png

Voltemos à decisão unilateral de Vladimir Putin de invadir ilegalmente a Ucrânia. Putin passou a fazer parte do grupo dos senhores da guerra, aliás, parece que sempre fez, embora não reconhecido como tal. Faz parte dos que a praticam e não dos que se lhe opõem. Há quem confunda defesa com agressão, tal é o caso de Putin que, numa espécie de lenga-lenga, diz estar a ser ameaçado pelos inimigos do Ocidente.

Vladimir Putin tem a convicção adulterada de que o Ocidente está a impor os seus valores e estereótipos de consumo a tentar expandir os seus mercados. Pois bem, é muito provável que seja verdade. Então que ponha o seu país a fazer o mesmo de forma pacífica e honesta num mundo de cooperação. Putin que promova o seu país pela positiva e não pela beligerância e com invasões sem cabimento a não ser a ânsia de poder e de expansão e com tentativas para recuperar o que foi a antiga URSS em modo oligarquia.

Putin e seus aliados de elite que atualmente governam a Rússia ainda estão virados para o passado e para a guerra fria que terminou. Nunca aceitaram a perda de uma proporção significativa do território, população e dos países que saíram da influência da Rússia que a dissolução da União Soviética implicou.

A elite dominante do país anda exasperada  por ser tratada como um ator menor no sistema global e insistem que a Rússia continua a ser uma grande potência com interesses de segurança com uma área global de influência que deve ser respeitada, isto é, Putin e os atuais governantes da Rússia, nunca aceitaram a ordem internacional pós-Guerra Fria e o fim do Pacto de Varsóvia.

A invasão da Ucrânia levou-me a recordar os “senhores da guerra” cujo conceito é diversos consoante as regiões geográficas e políticas. Ao analisar-se a gama de opções disponíveis para os senhores da guerra obtemos como resultados uma compreensão complexa de variedade de motivações.

O que interessa salientar é saber se podemos considerar Putin como um dos senhores da guerra no contexto de invasão por ele iniciada. Jesse Driscoll escreveu um livro onde analisa o termo senhores da guerra centrando-se no período após a União Soviética a que deu o título Warlords and Coalition Politics in Post-Soviet States  que pode ver aqui.

O principal argumento que Driscoll apresenta é o de que os senhores da guerra conspiraram para estabelecer o estado pós-comunista, na esperança de garantir uma parcela da ajuda estrangeira.

Driscoll afirma que “não é de surpreender que as unidades militares russas tenham intervindo para resolver quase todas as batalhas militares decisivas travadas no antigo território da URSS. Foi apenas com a ajuda militar da Rússia que as milícias da Ossétia do Sul e Adjaran[1] detiveram os paramilitares georgianos. A ajuda tática de bases russas próximas acabou por tornar-se explícita quando os separatistas da Abkhaz[2] foram auxiliados pelo poder aéreo russo e combatentes paramilitares. … A artilharia da Frota Russa do Mar Negro desempenhou um papel crucial na derrota da insurgência zviadista[3] na Geórgia”.

Mas afirma ainda que “que a Rússia não nomeou ou controlou os senhores da guerra e as milícias que estavam envolvidos na luta, e que os acordos locais alcançados entre essas milícias foram realmente o que levou ao acordo da guerra civil”.

 Curioso é que forças paramilitares há época já eram utilizadas pela Rússia nas suas intervenções em várias guerras locais, como na Síria, para ajudar ditaduras opressoras tal como o Grupo Wagner, grupo de mercenários ligados à Rússia.   

Este grupo é uma empresa paramilitar privada, cujo dono é um aliado de Putin. O grupo fundado em 2014 teve uma das suas primeiras missões conhecidas na península ucraniana da Crimeia, e que, com uniformes sem identificação, ajudaram as forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região.

Em 2015, o Grupo Wagner começou a operar na Síria, lutando ao lado das forças pró-governo do ditador Bashar al-Assad. Na Líbia está desde 2016 a apoiar as forças leais ao general Khalifa Haftar, um dos mais poderosos "senhores da guerra" do país. Acredita-se que até mil mercenários do Wagner tenham participado da ofensiva de Haftar sobre o governo oficial em Trípoli em 2019. As suas tropas passaram a ser acusadas de perpetrar crimes de guerra, como massacre de prisioneiros e mortes arbitrárias.

Negando evidências dos factos e subtilmente aceitando os objetivos da invasão alguns comentadores que escrevem em redes sociais e em blogues os agressores, os que provocam a guerra, são defendidos com determinação com argumentos falaciosos apoiando-se na má política de outros países para justiçarem a invasão pela Rússia e a política beligerante de Putin. Quem se opõem à invasão, mas ajuda à defesa do país invadido são os malvados, os que não procuram a paz e incentivam a guerra. É a total inversão de valores em defesa sabe-se lá do quê.

O objetivo desses senhores que apoiam invasões ilegítimas, tal como a da Ucrânia, ao colocarem-se contra o Ocidente e procurando razões arcaicamente históricas é apenas um: alimentar o ódio contra os EUA, a U.E. e a OTAN e desacreditar os aliados históricos do Ocidente que lutaram contra o nazismo, e reatar o conflito político e ideológico do tempo da Guerra Fria, vivida durante o tempo da acabada União Soviética. Talvez haja da parte deles saudosismo que lhes alimenta a esperança de poderem voltar utilizando quaisquer meios ao dispor para atingir os fins, uma hipotética restauração, modelo século XXI, do renascimento do imperialismo soviético liderado por Putin.

Dado que estes “influenciadores” procuram sistematicamente indícios e arbitrariedades por parte daqueles que detestam para, utilizando a liberdade que o Ocidente lhes confere, poderem atacar os que a defendem.

Os senhores da guerra e os que os defendem padecerão duma patologia de pacientes paranoicos. Tal como na paranoia, conforme os manuais de foro psiquiátrico, têm a tendência para a interpretação errónea da realidade em consequência da suscetibilidade aguda, do orgulho excessivo e/ou da desconfiança extrema do indivíduo que pode até chegar ao delírio persecutório, não apenas a nível pessoal, mas ao nível de povos, grupos e governos. Exemplo será a obsessão de Putin, a nível político, por uma invasão vinda do Ocidente.

Como em política nada acontece por acaso, quando se pretende justificar determinadas ações e circunstâncias nada melhor do que fabricar um inimigo, um bode expiatório, para se justificarem manifestações de vontade que seriam considerados ilegais. É o caso que se passa com o caso sobre o qual se está a tratar, a invasão russa da Ucrânia decidida por Putin justificando que o malvado do Ocidente estará a querer cercar a Rússia que está a querer libertar e salvar o povo ucraniano dos nazis. Na Alemanha, Hitler, também quis defender e libertar o país dos judeus.

Por aqui, em Portugal, muitos dos apoiantes de Putin que escrevem nas redes sociais e noutros locais como blogues e páginas que proliferam na net difundem falsidades onde põem os seus escritos a defender exasperadamente os invasores da Ucrânia que justificam culpando o Ocidente com argumentos requintados de deslisura que Ucrânia é um país de nazis. Nazis serão os que, ultrapassando todas as leis da política e direito internacional, defendem quem começa guerras como esta apenas pelo ódio aos EUA, à OTAN e ao Ocidente onde vivem e onde podem exprimir livremente o seu pensamento.

Por princípio, e sem pretender generalizar, tenho a perceção de que entre o tipo de senhores que atrás refiro alguns estarão desagradados com a falta de visibilidade que não lhes é dada na comunicação social (sobretudo na TV) porque a sua sumidade não lhes é reconhecida. São identificados politicamente com a esquerda, mas da esquerda, da radical. Destilam veneno nas redes sociais contra o Ocidente, EUA, OTAN e UE. Contudo, há outros a quem é concedido o trono das cadeiras dos canais de televisão para perorarem subtilmente em prol dos invasores e inimigos da liberdade. Para eles os senhores da guerra são os outros o Ocidente.

Um dos últimos escritos que descobri foi de um tal senhor coronel português, reformado, que escreveu um artigo numa página de um site que é uma plataforma híbrida online para publicação de conteúdos e que se denomina jornalismo social. No jornalismo social qualquer um pode enviar e publicar histórias para uma plataforma. No entanto, alguns meios de comunicação têm filtros para garantir que um determinado padrão seja verificado. Há também plataformas (como Medium.com e Linkedin) que incorporam muito menos filtros de curadoria. Isso, por sua vez, deixa uma questão em torno da qualidade do conteúdo publicado podendo cair sob o disfarce de jornalismo.

Cito excertos do documento atrás referido onde parece claro e implícito, salvo outra interpretação, que, para o autor, os senhores da guerra são o Ocidente e os EUA que auxiliam a Ucrânia na defesa da invasão. Escreve o senhor coronel:

“Os senhores da guerra vão realizando análises de custos e benefícios ao longo das campanhas até chegar ao momento em que decidem terem mais a perder do que a ganhar com a manutenção das hostilidades, que chegou o tempo de negociar o saque. No caso da Ucrânia, estão em jogo os milhares de milhões de euros de “ajuda à reconstrução”! Os franceses deram sinal de vida e já estão em campo, de dente afiado, informa do Le Monde: “Guerre en Ukraine, en direct : 500 entreprises françaises réunies mardi à Paris pour reconstruire l’Ukraine.”

E mais adiante:

“Os Estados Unidos atingiram o seu objetivo principal: subordinar a União Europeia e bloqueá-la na sua órbita, separando-a da Rússia e destruindo a sua coesão e veleidades de autonomia.”

“Contudo os estados ocidentais irão para o saque do futuro da Ucrânia em ordem dispersa, cada um por si e contra os outros para abocanhar o que puderem dos fundos atribuídos à “reconstrução” da Ucrânia: os franceses estão a preparar-se, assim como os alemães. A Polónia deverá ser recompensada do seu apoio como base logística com uma parcela da Ucrânia, o Reino Unido servirá de sócio principal dos EUA, e a Turquia venderá caro os seus bons ofícios de intermediação e na manutenção de pontes entre as partes, que deverão ser pagos pelo Ocidente e pelos curdos. Os Estados Unidos através das suas empresas serão os grandes “reconstrutores”, como já foram no Iraque!”

Repare-se bem, “subordinar a União Europeia e bloqueá-la na sua órbita, separando-a da Rússia”! Separar a União Europeia da Rússia. Que frase ambígua! É difícil interpretar corretamente este pensamento.

A pergunta que se pode colocar é: mesmo que assim seja, quem começou a invasão, causa para que o prognóstico do autor se cumpra?

Parece não reconhecerem a hipocrisia e de que a mentira de Putin são por demais evidentes. Tenta imputar ao Ocidente tudo quanto lhe cabe a ele de responsabilidade. Putin parece sofrer de uma patologia que se pode designar por inversão psíquica a do poder pela destruição. É uma patologia psicossocial dos indivíduos com poder. São psicóticos que estão impedindo o desenvolvimento humano e pretendem destruir as sociedades e nações que não pensem ou sejam como a deles. O objetivo é dominar outros povos que lhe fugiram do encalço quando da queda da URSS. Sujeitos como este, se não forem parados, poderemos vir a assistir ao rápido desmoronamento da civilização colocando-a em perigo.

Em outubro de 2022 Teresa de Sousa escrevia que as ameaças de recurso a armas nucleares. As nomeações de novos chefes militares que ganharam fama de assassinos em outros teatros de guerra, como na Síria. A anexação ilegal de partes da Ucrânia. A deportação de populações das poucas regiões que ainda controla, incluindo crianças. O objetivo é óbvio: desmoralizar os ucranianos, intimidar os seus apoiantes ocidentais e, internamente influenciar o povo russo.

Para os mesmos objetivos recorrem a outras vias como a guerra da informação em que os dois polos do conflito estão envolvidos. Nestes dois encontram-se os que apoiam Putin que, não defendendo explicitamente a invasão da Ucrânia, atacam os países que se colocam do seu lado no auxílio da sua defesa.

Há indivíduos e grupos que divulgam a propaganda oficial do Kremlin negando a veracidade dos factos sobre a realidade da guerra e contra o Ocidente, enquanto os propagam nos seus países sendo coadjuvados por lacaios doutros países, incluído Portugal. Usam falsas razões e argumentos ao mesmo tempo que no seu país há um controle rigoroso sobre os órgãos de informação que mandam encerrar, fixam censura, perseguem e prendem quem não aceite ou desminta a “verdade” oficial.

A informação e contra informação pela quantidade inassimiláveis e confunde as opiniões públicas para o que comentadores e órgãos de comunicação por vezes também contribuem.

 

[1] Adjara, oficialmente uma República Autónoma de Adjara é uma república autónoma da Geórgia.

[2] Região no Cáucaso e uma república autônoma no norte da Geórgia que se declara independente, desde o fim da guerra civil de 1992-1993

[3] Consultar https://www.wikiwand.com/pt/Guerra_Civil_na_Ge%C3%B3rgia

 

Má governação, maioria absoluta ou os professores em greve

28.01.23 | Manuel_AR

Governação maioria e professores.png

A pergunta coloca-se com algum espanto: será que tudo acontece após a maioria absoluta do Partido Socialista é meramente coincidente ou advém da má governação?

A resposta não a tenho e duvido que alguém, fora dos corredores da política, por vezes obscuros, a tenha. Quem vê o que é fornecido pelos noticiários das televisões e os bebe voluptuosamente sem acesso a outra fonte de informação, perceciona a política do país como caótica, como estando restringida aos casos diários pessoalizados sobre elementos do governo, autarcas e suas ligações a empresas e por aqui fora, diariamente os mesmos numa constante repetição.

Os cães pisteiros chamadas fontes direcionam-se para tipos de busca muito específicos e bem definidos, num sentido único, rebuscando, à falta de melhor, processos há muito não falados, alguns deles, ainda em investigação que fazem regressar pela mão dos noticiários como se fosse novos factos. Também, por coincidência, as greves oportunistas mobilizadas por sindicatos dos professores que aproveitam a onda induzida pela direita unida à esquerda, única coisa que têm para fazer oposição e desviar as atenções do que realmente o Governo está a fazer e que mereça de facto oposição.

No portal do PSD, pode ler-se numa espécie de propaganda para captar votos, a posição de Luís Montenegro a considerar que “a política de educação do Governo merece a reprovação, o chumbo”, numa semana em que os professores prosseguem com a contestação e iniciaram uma greve nas escolas de todo o país.  Defendendo implicitamente uma greve que prejudica os alunos e as suas famílias, mas que, durante anos da sua governação, em nada contribuiu para o que agora defende.

A acrescentar trazem para controvérsia um novo agora emergente devido à Jornada Mundial da Juventude e os orçamentos exorbitantes para a construção dos altar e bancadas para o evento onde o Papa Francisco irá celebrar a missa final. Visto a tendência ser de ataques sistemáticos sobre casos vários para atingirem o PS e o Governo, este poderá vir a ser, se o conseguirem, mais uma acha para a fogueira, daí se dedicaram só agora o valor exorbitante.  

O esquema poderá ser furado porque se poderá virar o feitiço contra o feiticeiro. Recordemos onde assenta a base orçamental para a tal construção por ajuste direto e cuja notícia tem sido divulgada com uma narrativa confusa nas explicações e pouca clara eventualmente com o intuito de confundir o espectador que absorve tudo sem reserva o que a televisão diz. Até ao momento temos ouvido apenas as justificações do Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas. O Presidente da República Marcelo e o bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude, D. Américo Aguiar confessou sentir-se “magoado” com os cerca de 5 milhões de euros destinados ao altar-palco do Parque Tejo e o Presidente diz ser muito, ambos tentam colocar-se fora do enredo dos cinco milhões.

Vejamos alguns antecedentes. Quando foi votado na especialidade o Orçamento do Estado para 2022, no ponto que dizia respeito à formação de contratos no âmbito da já referida Jornada Mundial da Juventude, o PS e o PSD foram os únicos a aprovar. O PCP, BE e PAN abstiveram-se e o IL e o Chega votaram contra.

Na votação do mesmo Orçamento para 2023, o partido Iniciativa Liberal alterou a sua posição e votou favoravelmente o artigo que visava a formação dos tais contratos.

O BE responsabilizou na passada quinta feira responsabilizou o PSD, PS e IL pela "decisão política" de terem votado favoravelmente no orçamento o aumento dos limites dos ajustes diretos para a Jornada Mundial da Juventude, que tem agora como consequência um "altar vergonhoso". O BE, que se tinha abstido em 2022, Mortágua defendia que os ajustes diretos tivessem limites maiores. PCP e PAN mantiveram a abstenção, enquanto o BE votou contra, assim como o Chega. Por seu lado, os deputados do PS, PSD e IL votaram a favor.

O Chega votou contra, ao lado de um partido da extrema-esquerda. Será que a sua postura contra um evento que envolve altos custos, mas é importante para a Igreja Católica em Portugal o poderá favorecer face ao eleitorado profundamente católico? A Igreja Católica, o Patriarcado, o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude e o Presidente Marcelo estão implicitamente envolvidos e com os mesmos pontos de vista em relação à verba.

O Presidente distancia-se e coloca-se dum ponto de vista austero no que se refere às despesas orçamentadas e pede altar adequado aos tempos de crise e à “visão simples” do Papa e envia recado a autarquias, Estado e Igreja Católica, mas segundo o DN o “Patriarcado diz que Marcelo sabia dos custos do palco. PR nega ter sido informado.” O jornal Observador apresenta uma versão idêntica ao escrever que o “Presidente diz que soube "informalmente", através de jornalistas, dos custos do altar-palco e que não recebeu qualquer informação”.  Foi muito evidente na altura que o Presidente foi um dos que mais entusiasmo mostrou pela vinda deste evento.

Não há almoços grátis e a segurança e a dignidade da mais alta individualidade da instituição Igreja Católica no evento deviam saber teriam de ser asseguradas.

Pois bem. Agora temos declarações, atrás de declarações, pedidos de assinaturas contra os gastos, espera-se que seja só do lado das esquerdas cujo argumento é que estas despesas não devem ter o contributo num Estado que é laico.

Como na aprovação do Orçamento do Estado para 2023 a verba para o evento também teve aprovação da direita talvez o ataque ao PS não siga por aí, mas como o projeto foi entregue à Mota-Engil, vamos ver o que virá por aqui!

O Governo, os factos e as alternativas

23.01.23 | Manuel_AR

Instabilidade social.png

Esta conjugação de esforços entre a esquerda radical e a direita com o aconchego da comunicação social chegaram depois da maioria absoluta do Partido Socialista acordando as fontes e revelando o que já tinham de reserva.

Porra pá! Não acredito! E é tudo com o mesmo partido! Como é que isto é possível? Será que não poderá e deverá haver mais controlo quando se fazem convites para elementos dos governos, deputados, autarcas e outros cargos políticos? São perguntas a que os vários partidos nos dão só respostas tímidas, dúbias ou, simplesmente não dão. A solução apresentada por alguns pela direita é a de que isso tem de ser da responsabilidade do primeiro-ministro como se este tivesse a obrigação de ser investigador da vida privada de quem convida, uma espécie de vigilante de ministros. Esta situação mina a política e os políticos pelo que tem de haver outras soluções. Há que arranjar alternativas que não passem apenas por questionários.

Os casos que têm vindo a público aparentam ser uma combinação secreta de comprometimentos vários contribuindo para o descrédito dos políticos e do regime democrático e que, segundo as últimas sondagens, estão a ter efeito significativo na subida da extrema-direita (CHEGA) e pouco significativa nos partidos à esquerda do PS que recuperaram embora pouco. Estes partidos por conveniência partidária também têm contribuído para que a subida da extrema-direita populista que aproveita e escavar até à exaustão todos os casos que venham à rede. Excetua-se o LIVRE que conseguiu uma subida com algum significado. À esquerda do PS poderá ser o regresso a uma maioria de esquerda sem maioria absoluta daquele partido.

Nas últimas sondagens da Aximage de a cordo com o Público que cita o DN, JN e TSF a realidade política portuguesa está hoje muito fragmentada e não aponta para uma clara solução de Governo, caso houvesse eleições legislativas antecipadas. Quem obteve vantagem? Claro, a extrema-direita.

Sou pela transparência e contra todas as formas que contribuam para o descrédito dos políticos e consequentemente da democracia e, quando haja ilegalidades, corrupções várias e faltas de ética confirmadas que possam contribuir para perverter a política e os políticos que se divulgue, se faça a devida investigação judicial. O que acontece nos casos que se denunciam na comunicação social muitos casos servem também para se fazerem títulos estrondosos e exagerados que lançam suspeitas para a opinião pública, (quando ainda estão em curso investigações preliminares), cuja consequência é a de manchar a imagem e o bom nome de muitas pessoas.

As gerações após 25 de Abril desconheceram o regime de ditadura em que se vivia. Os simpatizantes de partidos de extrema-direita, como o CHEGA, que são das gerações mais novas desconhecem que naquele regime ditatorial   também havia compadrios e corrupção quer era desconhecida devido à ocultação pela censura por que os media estavam sob vigilância e controle permanente. 

Se estivermos atentos e observarmos as notícias que nos surgem nos media ao longo dos anos e meses e sob os vários governos, deputados e autarcas dos vários partidos, a procura de casos e as investigações ditas jornalísticas se centram sobretudo no Partido Socialista. Aconteceu agora um caso no PSD, que veio a público, porventura para dar a ideia de alguma independência, para, logo após se passar a falar com alguma timidez. Nova pergunta se coloca: será que os 230 deputados da Assembleia de República são todos sem macha e nada que se lhes aponte com exceção dos do Partido Socialista? Não me recordo de nos governos de direita tenha havido um escrutínio tão insistente e pretensamente rigoroso como o que se verifica durante o atual Governo.

Na altura o PSD e o CDS em aliança (2011-2015) estavam no Governo com uma maioria de deputados, nada se procurou, nada surgiu, nada se pesquizou, nada se divulgou, as fontes emudeceram e o que se divulgou deixou de fazer parte das “agendas setting” dos órgãos de comunicação.

Como já escrevi num outro post deste blogue parece haver uma premeditação na procura de casos e escândalos que possam afetar sobretudo o Partido Socialista que se possam vir a refletir e traduzir nas sondagens. Funciona do seguinte modo: lançam-se para a opinião pública casos polémicos, passado tempo fazem-se sondagens e obtêm-se resultados adequados ao esperado que se possam ajustar ou não ao pretendido. Desta estratégia todos os partidos na oposição poderão tirar vantagens no sentido na subida das intenções de voto.

As notícias que fazem passar a para a opinião pública sobre o envolvimento de elementos do Governo, autarcas ou ex-autarcas e deputados do PS que revelam situações de compadrios, possíveis corrupções, ligações familiares, ligações a empresas parece-me ser uma espécie de conspiração contra aquele partido cujo objetivo passa por atingir e fragilizar o Governo.

Caso curioso que é o de que só agora e após seis anos com Fernando Medina como Presidente da Câmara de Lisboa (2015 2021) surjam agora casos dúbios nesta autarquia. Pois, há o tempo da investigação, o tempo da justiça e o tempo da política. Por vezes coincidem!

Recentemente surgiu mais um caso que envolve Jamila Madeira, deputada do Partido Socialista que o jornal Público divulgou como estando registada como lobista ativa junto da União Europeia entre 2012 e 2013, note-se que era o período do Governo do PSD-CDS.  Segundo o mesmo jornal “a REN assume que até há três semanas a deputada “trabalhava no âmbito da Agenda Europeia da Energia, participando na ligação da REN com agências europeias do sector que se dedicam a temas relacionados com a transição elétrica e a sustentabilidade e assegurando contactos com a Comissão [Europeia], diversos comités do Parlamento Europeu e várias outras organizações”. Mais uma dúvida de coloca por que só agora veio para o domínio da opinião pública se naquela altura já era deputada pelo Partido Socialista? 

Carmo Afonso, colunista do jornal Público, pessoa que não é das minhas simpatias nem da área político-ideológica que defende, escreveu num artigo de opinião naquele diário um ponto de vista com que concordo e sobre o qual tenho refletido. A direita, quando está no Governo, segue a sua ação governativa assente em lógicas e princípios que há muito defende e pratica, mas que lhe foram retiradas desde que o PS está no poder e também durante o período ao qual se chamou “geringonça”.

O Governo do PS, agora em maioria absoluta tem privilegiado contas certas e de consolidação orçamental mesmo agora quando há perda de poder de compra para a generalidade dos portugueses. Assim, fazer oposição a estas políticas que a direita PSD ou outra que se estivesse no Governo também faria, e se acrescentarmos que o líder do PSD tem a desvantagem, de ter mostrado não estar preparado. Para a direita tradicional como é o PSD não é fácil ser alternativa.

Luís Montenegro nas suas intervenções tenta fazer um discurso de esquerda, prometendo timidamente oferecer se for Governo mais do aquilo que sabe não poder oferecer. Se recordarmos o tempo do último governo quando José Sócrates como primeiro-ministro e o seu ministro das finanças desbarataram os dinheiros públicos e endividaram o país para próximo da bancarrota causando a vinda da troica.

Fica-nos a pergunta sobre a qual se espera uma resposta do PSD:  que pontos e objetivos e sob que forma vai fazer oposição ao Governo? Que alternativa terá um futuro governo que quer mudança apenas pela mudança.

Os otimistas da oposição, quer de direita, quer de esquerda, afirmam que podem fazer melhor dizendo que são alternativas, mas não dizem objetivamente quais e apresentam soluções pouco credíveis das quais se desconhecem os possíveis resultados e o mais grave é que se sabe podem executar o que prometem. À direita faltam propostas concretas e alternativas para se apresentar como governo. A extrema-esquerda porque sabe que não o será vai fazendo propostas demagógicas inexequíveis a curto prazo.

A direita apenas tem para fazer oposição os casos apresentados pela comunicação social que têm sido graves devido à displicência e à falta de controle e coordenação que grassa no Partido Socialista e no seu Governo a que os media vão dando uma ajuda. Mas isto não pode servir apenas para fazer oposição. Faltam propostas para uma alternativa consistente.

Um escândalo que envolva políticos deve sempre ser denunciado e a comunicação social deve acompanhar o processo de investigação e informar dos respetivos desenvolvimentos. Mas não podemos é conformar-nos com a atual situação e não descararmos o que queremos como alternativa ao Governo e não nos contentarmos apenas com a denúncia de irregularidades por parte de políticos no exercício de funções que passou a ser o epicentro do debate político no país. Confunde-se o escrutínio político, que deveria visar a transparência nos processos políticos de decisão, com o mero escrutínio da transparência dos próprios políticos - que a comunicação social vê como potenciais e apetecíveis objetos de escândalo.

Como não há alternativas ao atual Governo nem as sondagens indicam que em novas eleições alguma coisa se altere esquerdas e direitas, unidas em prol do desgaste do Governo, fomentam instabilidade com greves, manifestações reivindicando as mais diversas exigências com efeito imediato, a maior parte irrealistas, o que, para os que têm impressões vividas e mais despertas parece ser uma forma de pressão para que o partido que está no Governo cometa os mesmos erros de outro tempo.  

Penso não existirem dúvidas sobre a conjugação de esforços por parte de diversas organizações tais como a Ordem dos Médicos, os sindicatos da mesma profissão juntamente com os dos enfermeiros, mostra diária de casos nos hospitais e maternidades, que sempre existiram, mas sobre os quais a comunicação social esteve muda, o acordar dos professores vociferantes com uma amálgama de reivindicações que ninguém chega a entender, sobretudo o dito STOP que junta os auxiliares no mesmo saco sem qualquer critério e que mais parece a verborreia debitada pelo partido CHEGA. Esta conjugação de esforços entre a esquerda radical e a direita com o aconchego da comunicação social chegaram depois da maioria absoluta do Partido Socialista acordando as fontes e revelando o que já tinham de reserva.

Há aqui um fator que não pode ser ignorado: a direita não consegue afirmar-se a fazer oposição ao Governo. É certo que o Governo lhe dificulta muito a vida como já referi anteriormente e não está aqui contido um elogio à governação.

Jornalismo e indução da opinião pública

15.01.23 | Manuel_AR

Jornaismo opinião pública.png

…num caso há a notícia que passa e, no outro, a notícia que fica e permanece até ao seu esgotamento numa espécie de ladainha diária, numa espécie de indução da opinião pública.

Uma das profissões que admiro é a de jornalista. Admirei na minha juventude e continuo a admirar. Tenho um pequeno sentimento de inveja da profissão, talvez porque gostaria de ser profissionalmente como eles, escrever como eles, falar como eles, investigar como eles, por vezes até ser “perseguido”, pressionado (algo que, para mim, seria difícil de suportar).

Há jornalistas que são pressionados pelas redações para fazerem “cachas” jornalísticas, seja a que custo for, mesmo omitindo partes da verdade dos factos, condicionamento dos mesmos e a publicação de artigos e notícias com objetivos pré-concebidos para denegrir, acusar, enxovalhar, denunciar sem provas, etc., aí já não dou para esse peditório.

Tem-se muita das vezes a ideia de que os jornalistas não têm vertente ideológica, que são politicamente, independentes, isentos e encontrarmos por parte deles alguma resistência em aceitar o contrário. Podem ser independentes face ao poder político, mas não o serão face ao poder patronal. Habitualmente afastam a possibilidade da não isenção. Ao dizerem-se isentos e independentes do poder propõem-se afastar qualquer simpatia ideológica embora se verifique pelos comentários que produzem que ela, de facto, está presente.

Neste contexto os meios de comunicação, diria que todos, não estão isentos de valor político-ideológico. Assim, ser jornalista significa ter de se submeter e contribuir através de seus trabalhos para a manutenção da ideologia dos meios de comunicação onde exerçam a sua profissão.

Se definirmos ideologia como uma aceitação rígida, até mesmo fanática, de um conjunto de ideias e valores, não importa quais, então é coerente que os jornalistas neguem tê-los ou evitem manifestá-los por questões de ética que regem a sua conduta pessoal e profissional.

Mas, se, pelo contrário, ideologia for entendida como o conjunto de atitudes sociais, crenças políticas e valores morais que moldam a interpretação do mundo, então todos ou quase todos trabalhamos com base numa estrutura ideológica, incluindo os jornalistas. Contudo, neste tipo de ideologia a que me refiro quando estamos no âmbito da política, então, tenho dúvidas se, no exercício do seu direito de cidadania, ao votarem num partido que nos venha a governar, se não terão também, com certeza, como a maior parte de nós, uma opção político-partidária.

Para mal do jornalismo muitas pessoas dizem que podem confiar mais nas redes sociais on-line como fontes de notícias e informações não se apercebendo que por elas são influenciados ao que acresce a sua participação em discussões on-line, a maior parte da vezes insensatas e irresponsáveis provenientes de vários quadrantes ideológicos e políticos, das mais democráticas às mais extremistas, por vezes até de índole criminosa.

A informação exclusiva pelas redes sociais pode ter como consequência serem elas a decidir aquilo que iremos saber e, por isso, correndo o risco de seremos manipulados, o que também não estará fora de causa para outros órgão de comunicação.

Numa democracia liberal o escrutínio do poder é essencial e a comunicação social deve também exercer esse importante papel de escrutínio do poder para o qual o jornalismo e os jornalistas são peças fundamentais. Mas os jornalistas, como quaisquer pessoas são humanos e, como tal, possuem defeitos, virtudes, gostos, ideais, anseios, opções ideológicas e dimensões políticas várias, com diferenças de identidade. Todavia é nos relatos, nos modos de relatar uma notícia ou fazer um comentário político que as opções e diferenças político-ideológicas se manifestam, ainda que sob a pretensão de uma capa de isenção.

A seleção de notícias pelas redações dos órgãos de comunicação social, especialmente as televisões, com a urgência de dar primeiramente uma notícia pode fazer com que, sem estar completamente confirmada ou verificada, pela pressão que vai no sentido de ser dada a notícia em primeiro lugar, por motivo da concorrência entre canais e de marcar uma agenda de informação política.

Ao longo dos anos que tenho visto e ouvido noticiários televisivos percecionei que há algo que não vai bem no mundo da comunicação social. A veracidade dos factos e o tratamento das notícias são focados segundo interesses quer das redações, por vezes com alguma parcialidade, quer pelas empresas que subvencionam os media, quer pelos canais de televisão, quer pela imprensa.

Vejamos de maneira muito geral o que se tem observado ao longo dos anos nas noticiosas televisivas cuja perceção para quem esteja atento é a de que há uma predominância de escrutínio aparentemente rigoroso para com alguns partidos que estejam no Governo comparativamente com outros que estejam ou estiveram em circunstâncias idênticas.

Sem querer entrar no domínio de suspeições e de teorias da conspiração analisamos  que, quando está no poder um partido de esquerda ou centro esquerda o escrutínio pelos órgãos de comunicação aprofunda a procura de casos e são mais exigentes, rigorosos e propensos para a insistência em investigações jornalísticas com a sua repetição exaustiva de modo a comprometer o partido que está no governo sobretudo quando o mesmo é o Partido Socialista propiciando o lançamento para a opinião pública de determinadas situações, factos ou notícias que lhe sejam desfavoráveis de modo a contruir uma narrativa oposicionista aproveitada pelos partidos que encontrem no momento na oposição.

Uma das missões da investigação jornalística televisiva sob a forma de reportagem ou procura de notícia, deve ser a de informar o público sobre irregularidades públicas ou privadas, políticas, económicas e sociais. Se prolongada e repetitiva, mas, se pouco desenvolvida em relação aos factos são redutoras podem intoxicar e minar a opinião pública sendo até, por vezes, redutoras.

Não se defende que casos de corrupção, compadrio, transgressão de normas ou princípios, questões de ética, interesses pessoais ou outros verificados como factos não sejam divulgados, noticiados, escrutinados e investigados. O que se critica é a diferença na procura, nos critérios seguidos e na exigência em função do partido que esteja no Governo, seja ele o PS ou o PSD ou qualquer outro. O que passa para a opinião pública e a sensação com que se fica é a de que os atos investigados são insistentemente mais salientados quando o primeiro está no poder e que a imagem que se pretende passar é a de que a corrupção e a incompetência se encontram apenas num partido.

Se vasculharmos notícias sobre os vários governos em que tenham surgido casos de corrupção que tenham sido utilizados como arma de ataque a ministros, secretários de estado e autarcas ou outros casos que os comprometam publicamente, como prevaricações ou negociatas, ligações familiares com empresas privadas que tenham tido ou com que tenham colaborado, ligações a escritórios de advogados raramente encontramos ligações e referências a militantes ou ex-militantes da direita ao longos do anos de governação do PSD e ou CDS. Serão estes impolutos, imaculados. Se os houve, ou há, passam na comunicação social sem aprofundamento, insistências, repetições como qualquer notícia outra que passa e logo após desaparece.

Ficamos com a impressão de que casos como os antes referidos, quando se trata da direita, há uma tendência para deixarem de ser de interesse público e de investigação ou pesquisa jornalísticas e que as fontes ficam no seus esconderijos, como se tivessem o dom da invisibilidade, parecendo  carecer de informação para denúncia e, se encontram  algo inconveniente passa a ser de tratamento jornalístico superficial e pouco aprofundado, sem repetições exaustivas nos noticiários e rápida e facilmente caem no poço do esquecimento.

Explicando-me melhor, num caso há a notícia que passa e, no outro, a notícia que fica e permanece até ao seu esgotamento numa espécie de ladainha diária, numa espécie de indução da opinião pública.

É como se houvesse uma espécie de lei do efeito de Edward Thorndike tratado na psicologia. De acordo com este princípio, as ações que são seguidas por resultados desejáveis são mais suscetíveis de serem repetidas, enquanto aquelas seguidas por resultados indesejáveis são menos suscetíveis de serem repetidas. Explicando: se aplicado aos media e às notícias e, de acordo com aquele princípio, as ações (notícias) que sejam seguidas por resultados desejáveis (p. ex. algo que venha contribuir para perda ou desfavor do envolvido(s) são mais suscetíveis de serem repetidas, enquanto aquelas seguidas por resultados que não sejam desejáveis para o envolvido(s) são menos suscetíveis de serem repetidas.

Coloca-se-me então uma dúvida na perspetiva do meu fator de análise: será que nos partidos de direita os seus elementos, sejam eles, parlamentares, tenham pertencido, ou não, em governos, autarcas são ou foram sempre imaculados, virtuosos, incorruptos? Para a opinião pública talvez sejam porque não há aprofundamento nem interesse em investigações jornalísticas e, quando o há sai rapidamente das parangonas da comunicação social impressa ou televisionada. Outra dúvida que se pode colocar é a de saber se as nomeações para cargos de Governo quando a direita PSD e na altura também o CDS estão no poder são tão escrutinados quanto os do Partido Socialista.

Lembremos o caso que envolveu a ministra das finanças Maria Luís Albuquerque que em março de 2016 que segundo o DN, e conforme noticiava o Expresso, «as empresas Gesphone e Whitestar Asset Solutions S.A, adquiridas pela Arrow Global em 2015, tiveram benefícios fiscais num total de 381,7 mil euros entre 2012 e 2014, segundo informação disponibilizada pela Autoridade Tributária». «O jornal avançava que a maioria do benefício foi para a Whitestar, num total de 362,5 mil euros, dos quais 198 mil foram para a criação de emprego e os restantes 163,7 para o crédito fiscal ao investimento. Para a Gesphone - Serviços de Tratamento e Aquisição de Dívidas SA o benefício foi de apenas 19,2 mil euros em 2013, a maioria resultante do crédito fiscal ao investimento».

Em abril de 2018 o semanário Jornal Económico lança uma notícia com o título «Montenegro faturou 400 mil euros em ajustes diretos de autarquias do PSD» e noticia que «Entre 2014 e 2018, a sociedade de advogados Sousa Pinheiro & Montenegro (detida em 50% pelo deputado do PSD) obteve 10 contratos por ajuste direto das câmaras municipais de Espinho e Vagos, ambas lideradas pelo PSD». Foram fogachos que os bombeiros de serviço apagaram passado pouco tempo.

Em 11 de janeiro do corrente o Porto Canal recorda: «Luís Montenegro fez contratos por ajuste direto com autarquias de Espinho e Vagos» e a RTP afirma que «Escritório de advogados de Montenegro fez dez contratos por ajuste direto com Espinho e Vagos». Já em maio de 2022 já a SIC Notícias titulava que «Banco de Fomento contratou a empresa de Luís Montenegro por ajuste direto».

Em maio de 2022 o Diário de Notícias escrevia que «Da parte da sociedade de Montenegro, Nuno Castro Marques diz que este é um assunto sem sentido e que só surge agora devido ao momento político do PSD».

Ora, na altura, a notícia terá passado despercebida e não foi exaustivamente repetida pelos media, agora, com a Operação Vórtex, que investiga diversos crimes económicos no seio da Câmara Municipal de Espinho, traz à tona este caso em que Luís Montenegro é mencionado. Poderemos interpretar isto como uma justificativa para mostrar que não há uma “perseguição” jornalística ao PS e que também são dadas notícias de outros partidos sem o que a isenção jornalística estaria cumprida? Possivelmente não, serão apenas coincidências. Isto não invalida a perceção negativa que provoca na opinião pública devido à repetidas e insistentes notícias dos casos que envolvem o PS e o Governo.

A forma insidiosa como alguns órgãos de comunicação tratam algumas notícias é por vezes demasiado evidente a mostra da benevolência ou o desinteresse face casos ou facto noticiosos. Para melhor se perceber ao que me refiro incluo abaixo uma imagem da capa do Correio da Manhã onde é evidente a importância dada por este jornal ao facto que foram os graves acontecimentos no Brasil.

A importância/relevância dada à subjetividade de notícias de detrimento dum facto que é minimizado em noticia não é evidente em relação a outros dois cuja subjetividade é evidente. Das três notícias desta capa em 9 de janeiro de 2023 qual foi, para o leitor, o acontecimento mais importante que marcou a imprensa internacional? Claro que depende de cada um, é o resultado da subjetividade, mas parece não terem sido os acontecimentos no Brasil os mais noticiados e com relevância neste órgão de comunicação.

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O posicionamento político e ideológico dos órgãos de comunicação é evidenciado pela “Agenda Setting” (fixação de agenda) e pela hierarquização da relevância dada às notícias. Isto é, “a hipótese segundo a qual a agenda temática dos meios de comunicação impõe os temas de discussão social. Por outras palavras: as pessoas, nas suas comunicações interpessoais, discutem prioritariamente sobre os temas abordados pelos meios de comunicação”. Assim, na imprensa e nos jornais noticiosos televisivos são selecionados para a primeira página ou para a abertura sobretudo notícias que impliquem o interesse para a opinião pública. Para o Correio da manhã parece que a invasão do Congresso no Brasil não terá relevância.

Outra situação também muito recente foi a notícia do Público Montenegro fez dez contratos por ajuste direto com as câmaras de Espinho e Vagos. Entre fevereiro de 2014 e Janeiro de 2022, a sociedade de advogados de que o presidente do PSD era sócio faturou 679 mil euros em contratos com entidades públicas.

Assim, cabe aos media dizer ao público que devem pensar e é através da seleção de determinadas notícias que os editores constroem a realidade política, social, entre outras o que na maior parte é apenas absorvido pelo referido público sem quaisquer críticas a não ser pelos comentadores da política. Ver exemplo na nota final.

Conforme já afirmei antes, ao comparar os casos noticiosos relevantes que afetem os dois principais partidos da política portuguesa que alternam no poder, é manifesta a forma como as notícias, sobretudo nos canais televisivos, são mantidas ou retiradas da sua agenda pública. Estas ações determinam e influenciam o modo como nós o público entendemos e nos relacionamos com a realidade informativa, assim como também a influencia o modo como essa realidade é por nós mais ou menos valorizada.

Face ao exposto devemos estar atentos ao que órgãos de comunicação nos pretendem “vender” e o porquê desse produto dito informativo, e, sobretudo, quando a informação está sobre a égide do jornalismo de investigação.

Na minha perspetiva pelas circunstâncias e pela forma como os media atuam e produzem a informação política para a opinião pública é impossível resistir anos à erosão de poder e à estabilidade durante vários seguidos, seja qual for o líder, ou o Governo.

Nota: Exemplo do funcionamento da Agenda Setting dos media. Imaginemos que num determinado dia dum determinado ano um político de um determinado partido que iria concorrer a para umas eleições foi apanhado alcoolizado numa rua e foi e visto por uma certa pessoa que o fotografou e enviou para reações de órgãos de comunicação social. O caso foi noticiado nas primeiras páginas de alguns jornais e nas aberturas dos jornais televisivos e tornou-se um assunto muito comentado nas redes sociais.

Dias depois, uma sondagem colocou a seguinte questão numa pesquisa “Acha que se fossem hoje a eleições votaria contra ou a favor desse político nas listas e se deveria ser expulso do partido?” No dia seguinte de forma alarmante nos noticiários era noticiado: 91% dos entrevistados disse que não mais votaria naquela político e que 89% queria que fosse expulso do seu partido.

No fio da navalha António Costa e o Governo

04.01.23 | Manuel_AR

António Costa e o Governo podem encontrar-se no fio da navalha o que é o mesmo que dizer que podem estar perante uma situação dificílima, sem controle, num fio onde o inesperado pode acontecer.

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A minha última publicação data de 13 de dezembro, entretanto muita chuva caiu, o Natal aproximou-se e, como acontece inexoravelmente, mais um Novo Ano desde então no domínio da política muito aconteceu no que ao PS e ao Governo diz respeito. No embalar de alguns casos e casinhos, alguns repetidos até à exaustão pela comunicação social para conseguirem audiências eis, senão quando, à falta de melhor, vem para a ribalta, mais um caso, e, desta vez, com mais substância e um peso pesado a envolver o Governo PS.

O Partido Socialista no seu todo e o seu líder e chefe do Governo António Costa parecem ter esquecido as fragilidades geradas pelo mau exemplo de José Sócrates, (embora não comparável), mas cuja lembrança deveria estar presente para se rodearem de precauções ao faze diligências para convites de elementos para o Governo. Como tal não terá sido acautelado foram confrontados na comunicação social com um caso oportunamente conveniente, sobretudo para a direita, que agarra tudo para denegrir o Governo, o PS e o seu alvo preferido e temido António Costa.

António Costa e os seus conselheiros parecem despreocupados com as escolhas e não acautelaram, não acautelam nem tentam certificar-se dos antecedentes e incompatibilidades dos escolhidos. Os casos surgidos são, como o povo costuma dizer, de “caixão à cova”.

Parecem esquecer que a comunicação social, os media em geral, têm fontes de direita ávidos de criar uma crise política e que se forem alinhados com corrupção tanto melhor, pois permite-lhes fazer associações com o passado.

A direita que alterna no poder, no caso o PSD, já que o CDS parece ter sido varrido dos ecrãs das televisões, vá-se lá saber porquê, não será a que poderá estar mais interessada em lançar uma crise política. Quem poderá estar mais interessado numa crise que venha potencialmente conduzir à dissolução do Parlamento serão os partidos mais à direita do PSD como a Iniciativa Liberal e a extrema-direita CHEGA e, à esquerda do PS o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, todos na expectativa de poderem com isso em caso de eleições antecipadas ganhar alguns votinhos que lhes faça aumentar o número de deputados no Parlamento, mesmo que diminuto.

A última bomba, a que levou à demissão de Pedro Nunes Santos foi um dos tais que bem poderia ter sido evitado. O Governo e os seus elementos parecem andar distraídos porque pensarão, mal, que uma maioria absoluta, serve para tudo. Não olham para os exemplos no exterior, no que aconteceu e está a acontecer no Reino Unido

O PS e o Governo já vão com aproximadamente um ano e meio de governação e as eleições para o Parlamento Europeu estão aí o que será um teste para mostrarem o que valem e poderem aguçar a perspicácia para evitarem que voltem a ocorrer casos que deitem tudo a perder, ainda que saibam que até ao momento a liderança do PSD poderá estar sem grande impacto oposicionista por andar ao sabor da corrente da comunicação social sem apresentar com convicção propostas alternativas.

Das novas escolhas para os ministério desfalcado com a saída de Pedro Nunes Santos António Costa foi rebuscar António Galamba com uma biografia profissional a quem, segundo alguns observadores, falta estatuto para o empreendimento do ministério deixado por Nunes Santos. Será que Galamba terá capacidade para resistir e gerir tal pasta que se prevê será escrutinado até à exaustão?

Por outro lado, é uma pessoa pouco cordata com a comunicação social da qual não goza muito da simpatia, não só pela sua arrogância, irascibilidade e falta de cuidado comunicacional. Galamba peca por que a sua forma de comunicação tenta mimetizar José Sócrates que o fez entrar para a política. Pior ainda é que estão na memória as polémicas em que se arrastou ou se deixou arrastar. Tem um estilo de caceteiro e arrogante no discurso político que frequentemente afasta mais do que seduz. Talvez por isto a comunicação social e alguns comentadores parecem não lhe estar a conceder o benefício da dúvida.

São bem conhecidas as polémicas em que se envolveu, sobretudo com utilizadores do Twitter onde foi evidente a falta de decoro comunicacional que qualquer elemento de um governo não deveria ter. Foi, por exemplo, o caso do antigo programa de jornalismo “Sexta às 9”, da RTP, quando na sequência de uma destas emissões João Galamba escreveu na sua página de Twitter que o programa era “estrume” e uma “coisa asquerosa”. Pessoalmente até posso discordar da tipologia daquele programa e da forma como a jornalista o geria e tratava os conteúdos e até poderia utilizar uma linguagem mais vernácula para criticar o programa, mas isso sou eu que não tenho qualquer pelouro no poder nem a responsabilidade de tal.

Não se trata de depreciar o valor de Galamba, mas antes a sua biografia profissional que parece não se ajustar e constatar pela comunicação social que lhe falta saber técnico e estatuto para a pasta das Infraestruturas que lhe foi entregue, tanto mais com o problema da TAP em mãos. A questão que se coloca é a de saber se Galamba terá o tento e a sensibilidade política suficiente para lidar com aquela pasta. Ser de esquerda e deter um poder não significam arrogância não podem ser sinónimos de arrogância, nem de má-educação nem seguir o modelo de peixeirada de André Ventura. Não é isso que se espera qualquer elemento dum Governo seja ou não socialista.

Com os casinhos, casos, ou outros aumentativos do mesmo tipo trazidos pela comunicação social parece-me que António Costa, estará, propositadamente, a dar tiros nos pés. Se assim for qual o objetivo?

Pedem-nos em esperança, mas a esperança que nos pedem só pode existir se vier dum Governo de maioria absoluta cujo executivo seja ainda mais estável do que aquele que em anos anteriores tiveram António Costa e o Partido Socialista quando governaram com a chamada “geringonça”.

Com uma maioria absoluta no Parlamento, com um Presidente da República que não está a ser uma força de bloqueio e que tem contribuído para a estabilidade política, apesar de alguns dos regateiros da política não apreciem o estilo não apreciarem, não se percebe o conservadorismo de António Costa  que entrou numa política de circulo vicioso, o mesmo que dizer que entrou numa fase ininterrupta de acontecimentos que se repetem e voltam sempre ao ponto de origem, colidindo sempre com os mesmos obstáculos. Maria João Marques escreveu no jornal Público que António Costa “Tem na sua mão como primeiro-ministro fundos abundantes vindos da União Europeia, na forma do PRR” e acrescenta, “E no entanto, incompreensivelmente, António Costa tudo tem feito para sabotar esta sorte grande que lhe calhou”.

António Costa deveria prever que após obter uma maioria absoluta viriam violentos ataques e mineração de casos e casinhos aplaudidos pela direita e contestações vindas da esquerda estrategicamente provocadas para fragilizar o Governo. Para contornar isto não basta afirmar “habituem-se” o que demonstra alguma arrogância e má comunicação em política o que pode ser fatal. O verbo utilizado não está adequando à frase que se lê no site do Partido Socialista “A ação deste Governo será marcada pela lealdade institucional e pela humildade democrática”.

Numa má comunicação política a mensagem que se pretende transmitir não tem qualquer relevância e não atinge a audiência desejada, e, por vezes, até tem um efeito negativo e mesmo que atinja a audiência pretendida a mensagem pode não ser adequada.

Isto é básico e António Costa e o Governo podem encontrar-se no fio da navalha o que é o mesmo que dizer que podem estar perante uma situação dificílima, sem controle, num fio onde o inesperado pode acontecer.