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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

A propósito do PCP e das suas abstratas declarações sobre paz

25.09.22 | Manuel_AR

Por mais que me esforce não consigo compreender a posição do PCP sobre a invasão da Ucrânia. Afirma ser pela paz, mas não esclarece, nem sugere vias. É contra a guerra, mas não se refere concretamente contra a qual. Contra todas, é claro. Mas contra ela somos todos. Quando lhe é dirigida a pergunta sobre esta em especial, nem piu. Sabemos que todas são más e que há vários outros implicados. O PCP fala em escalada belicosa de quem? Também sabemos que houve, e há, vários implicados em guerras com que estamos contra. Mas, quanto a esta guerra de invasão nada. Mas, afinal, quem está a provocar uma escala belicosa? Nós, alguns, que ainda poderemos ter alguma simpatia psicológica e percetiva pelo partido que lutou e sofreu na luta antifascista, estamos na dúvida. 

O artigo de opinião de Pacheco Pereira talvez seja reacionário para o PCP, mas,  o que ele diz são factos. Tudo isto começa a ser estranho, e o pior é que começa a entranahr-se. Esclarecimentos concretos precisam-se por parte do PCP

Quando é que o PCP convoca uma manifestação pela paz contra Putin?

Se não saírem para a rua claramente contra quem faz esta escalada, pondo o nome às coisas, e Putin e a Federação Russa são os nomes, na verdade não é a paz que desejam, mas uma vitória militar russa.

Foto Imagem do filme <iDR</i

O facto de esta ser uma pergunta retórica mostra a absoluta fragilidade da posição do PCP e das organizações a ele ligadas, como o Conselho Português para a Paz e Cooperação, sobre a guerra da Ucrânia em matéria de paz. O que aconteceu nesta semana com o discurso de Putin, a sua intenção de fazer referendos-fantoches e a clara ameaça de uma guerra nuclear colocam o mundo mais perto de um conflito catastrófico do que alguma vez esteve desde a crise dos mísseis em Cuba em 1962.

Se isto não é um ataque à paz, não sei o que possa ser. E neste caso não adianta vir com duplicidades e falsas equivalências: não foram a Ucrânia, nem a NATO, nem os EUA que fizeram esta escalada, mas apenas o Presidente da Federação Russa, que não se limitou a ameaçar com um conflito nuclear, insistindo que o que estava a dizer não era um bluff, era para tomar a sério. Aliás, quem, desde o primeiro dia deste conflito, resultado de uma agressão militar da Rússia à Ucrânia, fez ameaças nucleares foram Putin, Lavrov e aquele belicista sem paralelo no lado de “cá”, Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança russo. Sim, a guerra nuclear, aquela guerra que mata milhões, destrói as grandes cidades do mundo e não tem vencedores, a coisa mais próxima de nos mandar para a ficção científica catastrófica, e para a Idade da Pedra. Senhores que enchem a boca pela paz, há alguma coisa que se compare em dimensão com estas ameaças, do lado da NATO, dos EUA, da UE? Claro que não há, e não há hipócritas comparações nem duplicidades que possam ocultar este facto: se não saírem para a rua claramente contra quem faz esta escalada, pondo o nome às coisas, e Putin e a Federação Russa são os nomes, na verdade não é a paz que desejam, mas uma vitória militar russa.

A sequência perigosa está toda no discurso de Putin. Os referendos-fantoches — e uso a palavra fantoches porque é isso mesmo que são; mesmo que admita que uma parte dos habitantes do Donbass prefere ser russa a ucraniana, não é em guerra e numa ocupação militar que o seu voto tem qualquer valor — vão justificar a anexação de territórios ucranianos à Federação Russa.

Só um parêntesis: se o mesmo tipo de referendos fosse feito em certas zonas geográficas da Federação Russa, como o Cáucaso, também os habitantes votariam ou pela independência ou pela anexação, por exemplo, pela Turquia. A Tchetchénia foi mantida na Federação pela guerra, pela violência e pela repressão.

Os referendos têm apenas o papel de pseudolegitimar conquistas territoriais de um Estado sobre outro, o mais clássico motivo para uma guerra imperialista. E a reivindicação de uma espécie de “droit de regard” armado para “proteger os ‘russos’” é, neste contexto, exactamente o que Hitler fez nos Sudetas. Aliás, onde está Putin coloquem Hitler e as frases são idênticas no verbo e na substância. Logo a seguir à anexação, Putin passa a considerar esses territórios russos, que hoje vão muito para além do Donbass e se estendem a zonas onde se fala ucraniano e onde não há sentimentos pró-russos, mas que Putin quer anexar à Federação porque tem uma posição estratégica relativa à Crimeia e ao acesso da Ucrânia ao mar. E, depois, um ataque a Lugansk é um ataque à Rússia, logo a possibilidade de uma resposta nuclear é possível. “Não é um bluff.

Repito: quando é que o PCP sai para a rua para condenar Putin por colocar o mundo perto de um conflito nuclear? Silêncio. Nem pensar. Seria “fazer o jogo da NATO”. Eu percebo-os. Não tenho dúvidas de que a última coisa que desejavam era esta guerra, porque o PCP e os seus companheiros de estrada sabem que ela teve o efeito contrário ao pretendido, não vai acabar bem para Putin e a probabilidade de ter sido o balão de oxigénio de que a NATO precisava verifica-se todos os dias. Por outro lado, neste contexto, não querem que Putin perca de forma muito evidente e clamorosa. Duvido que apoiem a escalada belicista de Putin, mas também os incomoda muito a eficaz ofensiva ucraniana. É um mecanismo não só político, mas também psicológico, daquilo que tanto pode ser interpretado como comportamento dos indivíduos quando se metem numa argumentação sem saída e, em vez de a corrigirem, sobem de tom e caminham ainda mais para o abismo. O mesmo para aquilo a que antes se chamava “psicologia de massas”. Ou seja, estão metidos num imbróglio que não tem saída feliz, mas que tem um ponto forte: não querem que a Ucrânia ganhe. Não o podem dizer, mas é exactamente isso que desejam, de desejo forte, inominável, feio.

Foto Imagem do filme O Projecto Blair Witch DR

Por isso, estão bloqueados no plano político. Já os comparei aos enfeitiçados pela Bruxa de Blair, paralisados contra uma parede numa cave em ruínas.

Segurança Social sustentabilidade e a incompetência dos governos

22.09.22 | Manuel_AR

Reformados e pensionistas.png

Reformados e pensionistas estão-se borrifando para fórmulas de cálculo, para estratégias com base em sustentabilidades futuras e outras, quaisquer que sejam, para os enganar. Fórmulas e alternativas há muitas, são como os chapéus, mas escolhem sempre os chapéus que mais servem os decisores mesmo que obsoletos. Para situações novas há que arranjar alternativas inovadoras sem prejuízo dos que, sem responsabilidade nenhuma, são vitimizados por decisões desapropriadas.

Reformas e mais reformas da Segurança Social para a dita sustentabilidade do sistema têm sido frequentes, faz-se uma e pára-se, aguarda-se, depois alerta-se novamente, repete-se o processo e, perante fatores conjunturais fazem-se alterações mais ou menos pontuais e provisórias. Arrastam-se por décadas soluções de remendo.

Pensa-se em regimes voluntários de descontos para reforço da pensão no futuro que complementaria o desconto para a segurança social. Tenta resolver-se ou atenuar-se o problema da sustentabilidade um aumento percentual do desconto, mesmo que pouco, por parte dos trabalhadores e das empresas, coisa que nem uns, nem outros querem sequer, ouvir falar.

O PSD na altura do Governo em coligação com o CDS lançou-se nos cortes de reformas e pensões em pagamento e só não foi mais longe porque o Tribunal Constitucional o impediu várias vezes. PS abre agora novamente a porta àquilo a que na altura se opunha. Só lhe falta também dizer que é por causa da “peste grisalha” que tudo anda a ficar difícil de sustentar.

Alguns economistas dizem que o Governo vai poupar mais com pensões do que o valor do corte anunciado por Pedro Passos Coelho em 2015. Nesta altura o Governo também não apresentava em detalhe as medidas e definia uma obrigação de resultado que teria um impacto positivo na ordem de 600 milhões de euros no sistema de pensões numa combinação entre medidas de redução da despesa ou acréscimo de receita a definir. Dito de outra forma, admitiam-se "medidas do lado da receita, da despesa e até uma combinação de ambas".

De acordo com o jornal online Dinheiro Vivo na altura, num debate em setembro de 2015 António Costa acusava Passos de querer cortar 600 milhões de euros nas pensões em pagamento. Sobre este valor o governo da coligação PSD/CDS falava explicitamente, sem detalhes da medida a aplicar, em definir apenas uma obrigação de resultado de obter um impacto positivo na ordem de 600 milhões de euros para sustentabilidade do sistema de pensões, independentemente da combinação entre medidas de redução de despesa ou de acréscimo de receita que viesse a ser definida.

Comparando com a estratégia do atual Governo e segundo cálculos efetuados o pagamento adiantado (e único) já em outubro de 2022 de cerca de metade do aumento previsto (e determinado por lei) das pensões para 2023 corresponde a um valor global de 1.000 milhões de euros. Será esse o valor retirado do sistema, isto é, não estará integrado no valor base que servirá para o cálculo da atualização das pensões em 2024.

Portanto, o Governo de Passos Coelho de então propunha uma poupança, não um corte direto nas pensões, embora nunca tenha aberto o jogo relativamente à medida. Daí o PS ter margem de manobra para, na altura, o ter atacado nesta matéria. Agora aqui estamos nós com o Governo PS a seguir as pegadas de Passos Coelho, mas de modo mais sofisticado.

A dita falta de sustentabilidade a que chegou o sistema de pensões foi devida à incompetência deste e de anteriores governos, socialistas e do PSD, quando no governo ou na oposição deixavam e deixaram andar este problema ao sabor da corrente na miragem dos votos dos que vivem das reformas. Agora quando se fala na sustentabilidade do sistema de pensões parece que, à boleia da crise inflacionária e do pouco crescimento, estão a responsabilizar os que recebem pensões como se fosse um favor que lhes é concedido e, como tal, pretendem reduzi-lo.  

Parece-me não ser justo que sejam estes, os que agora recebem pensões e reformas, a pagar pelo que outros fizeram mal no passado, e que sejam estes, no final de vida, a pagar a sustentabilidade e a proteção das pensões dos que virão a ser futuros pensionistas. Isto é, os que irão a ser futuros pensionistas estão-se a proteger retirando aos atuais. Prejudicar a atualização das pensões, sempre que um problema surge confirma a incompetência e a dificuldade que têm de antecipar situações.

Havia uma coisa que o fascista Salazar nunca fez mesmo em crise e no meio de uma guerra colonial tendo o pleno poder nas mãos. Para ele os salários e as pensões de reforma, sendo baixos e de exploração, eram sagrados, intocáveis. Isto não significa estar a defender aquele regime, significa que os políticos atuais em vez se preocuparem com o que está mal preocupam-se a causar outros males ao modificarem não para melhorar, mas para piorar tudo o que deveria ser protegido e garantido.

Numa nota à margem e desligada do tema podemos ironizar dizendo que as soluções que apresentam, caso imanem do Ministério da Finanças, parece que o atual ministro da Finanças Fernando Medina quer retaliar os que lhe tiraram o poder da Câmara de Lisboa, que talvez tenham sido os idosos preocupados com a perigosidade da bicicletas e trotinetas que circulam desvairadamente e sem controle por esta Lisboa.

O desgoverno das oposições ao Governo

19.09.22 | Manuel_AR

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Os partidos na oposição têm propensão para criticarem e para se oporem sistematicamente a tudo quanto dele venha, mesmo que oportuno, acertado e a favor das populações, o que é demonstrativo do mau serviço que prestam à democracia portuguesa, com mais relevância dos que fazem parte da alternância de poder.  

A democracia, é um poder que, por direito, possibilita ao povo a escolha dos seus representantes políticos que tem o dever de garantir os direitos inerentes à cidadania, a liberdade de expressão e possibilitar uma maior participação popular no que refere à política.

É ainda o exercício da democracia criticar e controlar os governos.  Também sabemos que, qualquer tomada decisão política, por mais criteriosa, bem avaliada, analisada e discutida nunca é garantido ser excelente, infalível, porque se encontrarão na legislação promulgada pontos de escape voluntários ou involuntários, distorções e falhas. Qualquer que seja o partido escolhido para formar governo, nunca será infalível. Mas, quando na oposição tentam demonstrar, segundo o seu ponto de vista ideológico, que fariam mais e melhor ao criticarem, quase como uma obrigação, as propostas ou decisões do governo em exercício.  

Um exemplo recente têm sido as críticas às medidas que o atual Governo tomou para tentar mitigar os efeitos da inflação e da crise energética nas famílias e nas empresas, sobretudo por parte do que mais poderá vir a aproximar-se do poder.

Todos os partidos, cada um à sua medida, fazem oposição, uns com mais razão do que outros, às medidas anunciadas com fogachos que utilizam as mais variadas retóricas e narrativas populistas e demagógicas. Dizem uns serem poucas, dizem outros, quase todos, que são tardias, e, ainda outros, mostram a centram-se apenas na baixa de impostos. Defendem estes que em vez de ajudas diretas ou créditos se deveria antes baixar impostos.  Mostram eles insensatez por não olharem às possibilidades financeiras do país não pensando nas contas públicas que devem ter em conta a dívida e o déficit a que dão importância apenas quando estão no poder e defendem a austeridade. Tivemos experiência disso. Agora chamam às contas públicas certas austeridade. Parecem ter-se esquecido dos tempos em que acusavam o PS de ser perdulário e de quando Teixeira dos Santos, ministro das finanças de José Sócrates, deixou que o Governo da altura fizesse derrapar as contas públicas até ao descalabro.

A Iniciativa Liberal é a mais coerente cuja tónica se mantém na bandeira menos Estado, melhor Estado, com a defesa da baixa de impostos para resolver os problemas da inflação e da energia. Dizem eles que o que faria sentido era um conjunto de reformas estruturais e defendem que as boas empresas não precisam de subsídios do Estado. O que é necessário, segundo a IL, é que as empresas possam crescer e desenvolver-se para que possam estar capitalizadas durante os períodos bons para fazer face aos períodos maus e isso passa pela redução de impostos (ou será eliminação dos ditos?). Mas, como para eles tudo dever privado a despesa pública seria substancialmente reduzida com o desinvestimento nos serviços públicos nomeadamente na saúde e na assistência social e assim deixaria de haver necessidade de serviços públicos porque a iniciativa privada daria resposta e a que apenas os ricos poderiam ter acesso. Baixavam-se impostos e deixavam de pagar crises, seria o povo a suportá-las.

O outro partido de direita, o PSD, parece ter virado socialista e alguns até se aproxima dos pontos de vista defendidos pelas esquerdas mais radicais. Na Assembleia da República as intervenções dos deputados, da esquerda à direita, os argumentos, tirando alguns dos que são mais ou menos repetitivos como o PCP e o BE, não divergem muito. A extrema-direita do Chega, que sempre foi contra os impostos e se tem mostrado contra os subsídios critica agora o Governo por não dar mais dinheiros às famílias. São medidas “tardias” e “vazias” e que são “migalhas” face às necessidades dos portugueses de menos recursos, comparando com o aumento do custo de vida e propôs aumentos de sete milhões. Se é contra os impostos reivindicando a sua baixa, e contra para pagamento de subsídios, onde iria arranjar recursos para satisfazer as pretensões. Nesta altura a estratégia de todos os partidos é a de falarem em defesa dos portugueses desvalidos e desfavorecidos num posicionamento à esquerda.

O xadrez partidário transformou-se num jogo competitivo em que, quem vence é quem mais defender as classes desfavorecidas, os pensionistas e os reformados, as pequenas e as médias empresas.

O PSD, após eleição do seu líder Luis Montenegro de sorriso forçado, que mostra uma simpatia que se prevê efémera se chegar ao poder é o que mais se tem destacado nesta competição. Com o slogan de cartaz “Acreditar” não sabemos em quê ou em quem, o líder promete o sol primaveril da esperança e pretende mostrar um partido renovado que se transformou, qual camaleão da política, cujo comportamento e atitude mudou para tirar proveito das circunstâncias. Na tentativa de captar o eleitorado que lhe escapou nas últimas eleições expõe-se como um partido que virou à esquerda e é defensor das classes mais necessitadas.

Com o slogan “Acreditar” Montenegro parece ele próprio não acreditar que o eleitorado que lhe escapou pode não ser transitório e pode até prever-se que seja definitivo com algumas nuances.

Segundo num estudo de março de 2022 sobre a transferência de votos nas eleições legislativas comparando com 2019 o PSD ganha mais votos do que aqueles que perdeu para a abstenção, e foi buscar votos à categoria Outros/ Brancos e Nulos e ao CDS-PP. Contudo, o PSD perdeu votos em primeiro lugar para a Iniciativa Liberal, em segundo lugar para o PS, e em terceiro para o Chega. Isto é, com alguma margem de erro, o eleitorado que o PSD perdeu foi alimentar, juntamente como o CDS, os partidos à sua direita, o Iniciativa Liberal e o Chega e também, alguns, para o PS. São os mais idosos que terão votado PS que Montenegro tenta agora atrair na espectativa de um regresso.

Luís Montenegro passou a ser líder de um partido que defendia a sustentabilidade da Segurança Social como Passos Coelho fazia quando em 2015 dizia que a sustentabilidade da Segurança Social não é "um papão" e no mesmo ano a então ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque explicava, sem esclarecer como pretendia fazê-lo, que o Governo previa "poupar 600 milhões de euros em 2016 com uma reforma do sistema de pensões". Em maio de 2015, alterou o discurso e afirmou mesmo ser "honesto dizer aos portugueses que vai ser preciso fazer alguma coisa sobre as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social" e que poderia passar, "se for essa a opção, por alguma redução, mesmo nos atuais pensionistas". Parece que atualmente o PS com António Costa, com mais ou menos artifício, pretende fazer o mesmo

Recorde-se que Montenegro em abril deste ano disse, claramente, numa entrevista, que tinha orgulho do tempo da governação de Passos Coelho. “Tenho orgulho no Governo de Pedro Passos Coelho”, afirmou Luís Montenegro. Questionado se teme ser visto como um candidato ligado a Pedro Passos Coelho, disse ter orgulho e não vergonha do seu passado.

Quem tem orgulho num passado que chamou “peste grisalha” aos pensionistas e reformados, que cortou reformas e pensões e previa agravá-los, é porque aceita as políticas praticadas nesse passado.

Mais sério ainda é que nas próximas eleições pode não estar fora de questão por parte do PSD uma abertura de solução com o Chega se atentarmos  nas palavras de Rui Gomes da Silva: "Dizer que não há governabilidade com o Chega como dizia Rui Rio para afastar acordos com André Ventura é autoexcluir-se de qualquer solução governativa nos tempos mais próximos. Isso é permitir à esquerda sempre governar.”

Portanto, a surpresa surge-nos quando passou a defender políticas de aumentos de pensões e de reformas, a considerar que o Governo está a enganar os pensionistas, que acha as medidas insuficientes, ilusórias e tardias e até uma sugere abertura despesista. Mesmo que possamos dar-lhe razão estranha-se a alteração opcional de políticas demasiado enlevada.

Nós, eleitores, não podemos deixar-nos embarcar pelas boas intenções de partidos quando, ao mesmo tempo, dizem que pretendem e irão ganhar as próximas eleições e, então, entram num jogo do vale tudo.

No caso das extremas esquerdas, BE e PCP, as intervenções dos deputados destes partidos são previsíveis, são uma repetição por palavras diferentes de intervenções anteriores, são uma espécie de leituras panfletárias, são o déjà entendu da cassete centrada no aumento dos salários e pensões, no ataque aos grandes grupos económicos, na fixação e tabelamento de preços, nas reivindicações demagógicas e populistas da taxação dos lucros acumulados pelas empresas.

O tabelamento de preços por entre os efeitos, salienta-se o desincentivo à produção e este, por consequência, pode gerar desabastecimento no mercado.  Preços congelados não incentivam a produção pela retirada da liberdade do ponto de vista da produção, já que a margem de custos e de lucro fica limitada. Assim, muito possivelmente, num cenário de preços congelados, os produtores não estão dispostos a empenhar esforços segundo critérios fixados pela autoridade pública o que resulta numa crise de abastecimento do mercado. Estas medidas pelo contrário poderia favorecer a concentração de mercado pelas empresas que já praticavam preços máximos. E ainda, as multas impostas em caso de descumprimento do preço tabelado, poderiam ser passadas para o consumidor.

Em síntese, embora os partidos da oposição tenham alguma margem de razão nas críticas que fazem ao Governo, nomeadamente na questão das pensões e das reformas, também é evidente que as críticas que agora fazem, nomeadamente o PSD, se fossem governo não hesitariam como no passado a pôr em prática as soluções que, segundo eles, seriam as necessárias mesmo que em prejuízo daqueles que agora dizem defender.

Afinal de que lado estão eles?

05.09.22 | Manuel_AR

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Há uma diferença entre o comentário e a análise política dizem alguns e de certo modo estou de acordo com eles. Esclareçamos primeiramente os conceitos. Comentário político significa uma transmissão de natureza política que é projetado para promover uma discussão pública de questões políticas e pode incluir debates políticos entre pontos de vista diferentes, ou entre indivíduos com opiniões opostas, comentários de notícias, debates, etc.

A análise política é o estudo e investigação levado a cabo por cientistas políticos. A análise política pressupõe-se ser o trabalho de cientistas políticos que ‎‎estudam a origem dos sistemas políticos e como eles se desenvolvem e operam‎‎. Pesquisam e analisam governos, ideias políticas, políticas por eles desenvolvidas, tendências políticas e relações exteriores.‎

Há autores que considerem que a análise política tem três objetivos principais: conhecer o que há de importante na política, isto é, o que influencia ou determina os resultados dos acontecimentos; conhecer a diferença que os resultados políticos produzem nas nossas necessidades, tanto individual como coletivas; conhecer o que é real ou verdadeiro submetendo sistematicamente à verificação os nossos palpites, impressões, crenças populares, até mesmo rumores. Assim, uma análise política visa responder a perguntas sobre um determinado processo político, evento, assim como prever desenvolvimentos futuros.

Após a invasão da Ucrânia os canais de notícias das televisões chamaram oficiais de altas patentes das forças armadas para comentarem a invasão da Ucrânia levada a cabo por Putin. Logo aos primeiros comentários, reporto-me a março do anoa em curso, quem estivesse atento conotaria as intervenções daqueles comentadores como tomando posições pró-russas, diria antes, pro-Putin o que levou muitos a denominá-los “putinistas”.

Estes senhores generais cujos nomes não avanço aqui, mas que se sabe quem são, acham-se credenciados por terem estado destacados em missões especiais onde desempenharam funções, fosse lá onde fosse, que em nada abonam em prol das suas análises políticas porque cada contexto político e geoestratégico tem as suas especificidades. Não há situações comparáveis e esta da invasão da Ucrânia pela Rússia é, por si mesma, muito específica.

Estes senhores generais e coronéis que mais parecem ser agentes do Kremlin alinhados contra o ocidente numa atitude de apoio a Putin. Os pontos de vista deles são idênticos a outros da mesma estirpe que proliferam pelas redes sociais que dizem aos que estão contra a invasão de fazerem parte do “rebanho”.

Face às críticas que dispararam dos mais diversos setores respondem os referidos militares (na reserva?) dizendo que fazem comentários “neutrais” refugiando-se no que eles chamam doutrina militar e geoestratégica. Afirmam não querer diabolizar nenhuma das partes, mas, para quem os ouve, as suas intervenções não correspondem ao que afirmam. Banalizar um mal é um risco seja de que protagonista for, mas nos seus comentários não é mais do que banalizar o mal da guerra colocando Zelensky que, segundo eles, como o grande causador dos males da guerra.

Recuperando algumas das suas afirmações podemos avaliar de que lado eles se encontram e que, por vezes, mais parecem ser agentes infiltrados a mando de Putin mostrando compreensão das razões pelas quais Putin invadiu a Ucrânia.

Um deles afirmou num órgão de comunicação social que “o Presidente russo foi encurralado” pela NATO ao mesmo tempo que não aborda nem justifica fugindo à questão da anexação da Crimeia. Outro disse que a Rússia não ia “permitir a chacina da população ucraniana russa” em Luhansk e Donetsk, e qualificava a parte ucraniana como uma “ameaça”.

Outro ainda, usou (nos três canais de televisão) argumentos idênticos aos russos agressores, tais como “a preocupação dos russos em não causar baixas civis”, (tendo-se verificado o contrário), ao que acrescentava a desvalorização da coluna militar russa na altura paralisada perto de Kiev. Não se ficando por aqui, no dia seguinte à invasão, garantiu que os russos já estavam em Kiev e que Volodymyr Zelensky tinha fugido para Lviv, na zona ocidental. Numa entrevista e com grande desplanto um deles para se defender das críticas diz que “Não são posições pró-russas, são neutrais” e acrescenta que “Ninguém defende o Putin. É geoestratégia, é power politics”, explica com um argumento técnico. Este argumento técnico parece ser aproveitado por ele porque significa que a política de Putin é baseada principalmente no uso do poder como força militar e económica e força coercitiva e não em preceitos éticos.

Um dos militares refugia-se no argumento de que “Temos de nos meter nos sapatos deles e perceber como eles nos olham, e procurar uma solução inteligente”, para o fim do conflito, “onde ninguém perca a face”. Parece-me que para este senhor major-general temos de ficar do lado do invasor por ser uma solução inteligente.  Será assim a estratégia quando se trata de uma guerra de estratégia invasiva devermos apoiar o invasor para o percebermos? Eu, cá por mim, não percebo.

Não são comentadores, são analistas e não têm bolas de cristal, diz um deles, mas, por outro, um afirma que tem obrigação de “perceber estas operações e o patamar político”.  Conforme os conceitos de comentário e análise política que apresento no início do artigo torna-se evidente que não fazem análise política, mas uma aproximação a comentários opinativos com uma forte opção aparentemente ideológica no sentido de compreensão para com uma das partes do conflito, a de Putin.

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Estas análises(?) parecem ter estado a causar algum desagrado entre muitos que os ouvem que tem levado a publicações em redes sociais como o de um antigo inspetor dos serviços secretos de informações que escreveu em março no Facebook, umas semanas após a invasão da Ucrânia, como podem confirmar abaixo. Por ter julgado como insidiosos os ponto de vista de um dos comentadores militares ao considerar que a NATO tem “vindo a cercar a Rússia”, e, por isso, dirigiu o seu texto a “antiamericanos”, afirmando ainda que que “sob a capa de pensadores não são mais do que vozes recrutadas por esta Rússia, autocrática”. Por outras palavras também já exprimi este tipo de pensamento no blogue “apropositodetudo”.

Sobre estes comentadores militares, outro militar, antigo coronel dos comandos, também escreveu no Facebook sobre um “kamarada general potamófilo” que “vai à televisão, na pose de grande especialista”.

Um professor do ISCTE, citando uma entrevista do general, chegou a afirmar no Twitter que “tem estado tão consistentemente errado face à invasão russa da Ucrânia” o general que negou que alguma vez acontecesse o que, acabava por ser um bom indicador do que vai provavelmente acontecer – o contrário do que ele diz. Apresenta um exemplo que é uma afirmação e o título da entrevista ao DN: “As sanções prometidas à Rússia não amedrontam os seus dirigentes. E, citando o general: “Os russos pretendem apoderar-se da Ucrânia intacta. Com o menor dano possível”, horas depois o exército de Putin bombardeia a maior central nuclear da Europa.”, como escreveu o referido professor.

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Eu e muitas pessoas têm tentado explicações para as posições destes militares. Se no debruçarmos sobre as posições de alguma extrema-esquerda, nomeadamente as do PCP, podemos verificar a aproximação. Devem ser militares supostamente pertencentes à ala esquerda militar, como são, por exemplo, as do coronel Matos Costa conforme podemos verificar nos posts que escreve no Facebook.

Outras fontes explicam também a posição destes generais por alegadamente pertencerem à ala esquerda militar por alguns argumentos não serem muito diferentes dos do PCP, nomeadamente os que têm a ver com a expansão da NATO e dos ”nazis” nas repúblicas separatistas.

Nas redes sociais chegaram a ligar o major-general ao Valdai Club, um Clube de Discussão fundado em 2004 cujo potencial intelectual é altamente considerado na Rússia e no exterior. Muitos representantes da comunidade académica internacional de vários países participaram das suas atividades, que incluíam professores das principais universidades do mundo. Somente nos últimos anos, as conferências do Clube tiveram a participação de muitos líderes políticos, especialistas, figuras públicas e figuras culturais da Rússia e de outros países. Em 21 de junho de 2018 o secretário-geral da ONU António Guterres terá participado num evento do mesmo grupo, dedicado às tendências atuais das relações internacionais. Funciona como “clube intelectual da discussão que Putin leva em conta”, e que tem a participação de intelectuais estrangeiros “poucos ouvidos nos seus países”

Ana Gomes ex-deputada europeia acrescentava críticas mais radicais às posições daqueles militares ao escrever no Twitter.

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Um dos generais disse que vê o acontecimento de forma neutral e que ser neutral não é ser pró-russo usando os já gastos argumentos do passado sobre as ditas invasões feitas pelos EUA, como no Iraque, na Jugoslávia ou na Líbia, e acrescentava que nenhum destes países representava uma ameaça aos EUA, como a Ucrânia representa para a Rússia. Podemos perguntar no caso da Ucrânia que tipo de ameaça e quem ameaçava quem, e quem invadiu quem? Um dos militares, um coronel que escreve no Facebook, chegou a sugerir a rendição dos ucranianos.

Há os que consideram que estes militares não conseguem ultrapassar a visão extremamente pessoal de Putin, que acha que a Ucrânia não deve existir.

A 14 de fevereiro um dos generais disse numa rádio que o aparelho militar e de segurança da Ucrânia era dominado por forças de extrema-direita, nacionalistas radicais, que querem fazer um ajuste de contas com a população russa ucraniana. Narrativa muito próxima, senão uma reprodução de palavras tiradas dos discursos de Putin antes da invasão. A isto acrescentava as preocupações de segurança da Rússia, sem apresentar provas, que conduziria à guerra. Acrescentou ainda a “teimosia em não se considerarem as preocupações de segurança da Rússia”, resta sabermos onde estavam os antecedentes que conduziriam objetivamente à segurança da Rússia. Onde encontram antecedentes de que a NATO poderia invadir a Rússia mesmo que, como ele disse na altura, a NATO tenha pisado o que chamou a linha vermelha devido à possibilidade de adesão da Ucrânia. Então, segundo este raciocínio, Putin poderia ter começado outra guerra para invadir países da ex-URSS que, entretanto, entraram para a NATO.

O antiamericanismo e a rejeição dos valores democráticos liberais do ocidente revelam-se claramente em frases como: “Quando digo que os EUA têm um projeto de hegemonia global liberal, são os americanos que o dizem” e que “as pessoas acham que isto é ser pró-russo? Limito-me a regurgitar as teorias americanas”. Será que Putin quer substituir-se aos EUA e ter o seu próprio projeto global iliberal? Será o liberalismo algo a rejeitar e adotar o modelo global pró-totalitário e autocrático de Putin?

Um dos generais apresenta uma teoria da conspiração sobre a Ucrânia e, para isso, recua a 2004 e a 2014 para fazer valer os seus argumentos e, com uma visão distorcida, afirma que andaram a interferir na Ucrânia.

Sobre a Ucrânia, um major-general, para meu espanto, afirmou que em 2014 houve “um golpe de estado promovido pelos americanos, que instalaram um grupo de revanchistas, nazis, que iniciaram uma política xenófoba dos diferentes grupos étnicos” e que “os EUA andaram a interferir na Ucrânia de forma assertiva desde 2004 e que a revolução de 2014 foram eles que a fizeram.

Estes senhores militares que se dizem isentos, mas que se colocam do lado do invasor, para segundo eles o compreenderem parece que têm a memória avariada, e que, para além disso, intencionalmente, deturpem acontecimentos que contradizem as suas teses ou então andam a estudar pelos compêndios de história oficiais e obrigatórios propositadamente produzidos pelo sistema educativo da Rússia de Putin, o que é contraditório com a neutralidade que dizem ter. Claro que há informações e opiniões que desinformam e deturpam os acontecimentos divulgados por elementos que se encontram espalhados por todo o lado e que estão enfeudados ao Kremelin talvez por motivações ideológicas. Eles sabem bem que os meses de protesto na Ucrânia iniciaram-se com a oposição ao movimento do presidente Viktor Yanukovych que pretendia aumentar os laços de ligação com a Rússia.

Todavia o general não tem apontado críticas à invasão da Crimeia, nem aos nacionalistas russos do Donbas nem ao facto de os ucranianos terem preferido a esfera europeia em vez da influência russa em 2014.

O que se passou foi que Yanukovych não defendia a entrada do país para a U.E e pretendia que a Ucrânia viesse a ser um país debaixo do jugo da Rússia não tendo conseguido os seus intentos. Então, na altura, fugiu para a Rússia.  Deixou a capital e foi para Kharkiv dizendo que seu carro foi alvejado quando deixou Kiev, e, através da Crimeia dirigiu-se para o exílio no sul da Rússia. ‎Assim começou a "Revolução da Dignidade" da Ucrânia.

Em 2014 houve eleições livres após a revolução ucraniana de 2014. Poroshenko venceu as eleições com 54,7% dos votos, o suficiente para vencer na primeira volta. A concorrente mais próxima foi Yulia Tymoshenko que obteve 12,81% dos votos tendo a  participação eleitoral de mais de 60%, excluindo as regiões que não estavam sob controle do governo.

Em 2019 na segunda volta realizada entre o então presidente Petro Poroshenko  e Volodymyr Zelensky tendo este vencido as eleições com 73,22% dos votos, enquanto o presidente em exercício na altura, Petro Poroshenko, obteve apenas 24,45% dos votos.

Os senhores comentadores a que me refiro pretendem levar ao engano e omitir a quem os escuta que não é o ocidente que interfere. A interferência russa na eleição faz parte dos esforços do regime do presidente Vladimir Putin para impedir o direito soberano e a determinação da Ucrânia de permanecer independente e escolher o seu próprio futuro e da sua orientação de política externa. Com desinformação e a propaganda russas que tem como auxiliares estes senhores militares que se intitula de analistas procuraram desacreditar tudo sobre a Ucrânia seguindo o manual e a semântica de Putin que pretende enquadrar a Ucrânia como um Estado fracassado dirigido por fascistas e simpatizantes neonazis.

Este mesmo senhor major-general puxa dos galões da sua sabedoria devida a funções de diretor da cooperação regional da NATO, a reuniões com um general posteriormente chefe das Forças Armadas russas e ainda diretor da Divisão de Cooperação e Segurança Regional na qualidade de responsável pelo planeamento estratégico da cooperação militar da NATO com a Rússia, Ucrânia e Geórgia. Talvez, por isso, daí venha a sua posição pró-Putin.

Muito mais haveria para escrever sobre estes senhores que em entrevistas têm tentado “limpar-se dos ataques que sucessivamente lhes são dirigidos e confrontado com falsidade de factos como já aconteceu na intervenção de um deles na TVI ou na CNN Portugal.

Enfim, diz um deles “somos ‘putinistas’ só porque discordarmos do discurso oficial, de que era preciso diabolizar o Putin”. Mas afinal o discurso deles é mesmo o apoiar o pensamento de Putin nem que seja pela deturpação da verdade de factos. Pergunto: serão estes uma amostra do pensamento das nossas forças armadas?