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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

O perigo está à porta. Queres deixá-lo entrar?

29.01.22 | Manuel_AR

Democracia e Perigo.png

Li um artigo de Luís Monteiro Carvalho publicado na “Rosa Mecânica” que me pareceu, embora com algum exagero é bom para nos fazer refletir sobfre a preservação da democracia com distanciamento e sem emoções à flor da pele que este momento propicía a todos os que a querem manter e defender, por isso, aqui o incluo.

 

Quando observamos a maioria das últimas sondagens, relativas às eleições legislativas do próximo domingo, 30 de janeiro, ficamos com a sensação de que o perigo bate à porta. O PSD aparece posicionado em primeiro lugar nas intenções de voto e o CHEGA destaca-se como terceira força política mais votada.

O perigo não é só relativamente ao facto de o PSD poder vir a ganhar as eleições e reverter ou desvirtuar tudo aquilo que foi possível conquistar com uma governação à esquerda durante seis anos, nomeadamente na educação, na saúde, na economia, no combate às desigualdades, no aumento do salário mínimo e das pensões, no clima e no combate à pandemia, através do apoio às pessoas, às famílias e às empresas. O perigo é, também e principalmente, o CHEGA aparecer em algumas sondagens, como terceira força política mais votada.

Sejamos realistas, se o PSD sozinho não for o mais votado – que é um cenário muito provável – Rui Rio precisará do CDS, da IL e, naturalmente, do CHEGA. Solução que para Rui Rio é preferencial, estando os partidos disponíveis para negociar em conjunto. Significa isto que corremos o perigo de acordar no dia a seguir às eleições com um futuro governo formado pela direita e pela extrema-direita. Um governo que reverterá medidas tão importantes, como é o caso da devolução de rendimentos às famílias. Corremos um risco que acabem com o Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito. Corremos o risco de haver um aumento e acentuação no que diz respeito às desigualdades socioeconómicas. Corremos o risco de haver uma reversão de direitos, liberdades e garantias que tanto nos custaram a conquistar.

Num cenário de vitória do PSD, ter o CHEGA como terceira força política mais votada, dará a André Ventura um maior poder de negociação política junto de Rui Rio, exigindo por isso ser Vice-Primeiro Ministro de Portugal e uns quantos Ministérios, como o próprio já fez questão de referir.

Corremos o risco de acordar com um novo regime, como o líder do CHEGA tanto ambiciona. Um regime idêntico ao dos tempos do Estado Novo num país “que nos tempos do passado se chamava Portugal suicidado”. Aliás, o próprio CHEGA usou já por várias vezes e tem no seu programa eleitoral o lema “Deus, Pátria e Família”, a trilogia da educação durante esse período negro da nossa história, doutrina defendida por Salazar, base do ensino escolar nos tempos da ditadura.

Corremos o risco de acordar com um futuro Governo onde há necessidade de ter, na sua formação, um partido de extrema direita, como é o caso do CHEGA. Um partido que tem constantemente posições atentatórios ao nosso Estado de Direito Democrático. Um partido saudosista, xenófobo, racista e que defende e incentiva ao ódio, à repressão e à perseguição de minorias e etnias. Recorde-se até que Rui Rio, há uns tempos, negou a existência de racismo na sociedade portuguesa.

Não podemos, nem devemos tolerar, esta normalização e transposição de barreiras que são impensáveis em pleno século XXI, considerando tudo aquilo que a história já nos mostrou.

O perigo bate à porta. Será isto que queremos deixar entrar no nosso País, nas nossas comunidades, na nossa casa?

Não deixemos cerrar as portas que abril abriu! Não deixemos que a semente de esperança, que deu origem ao cravo que em tempos foi plantado, morra!

Para isso é preciso votar. É preciso votar bem. Votar em quem defende um país melhor, mais justo, mais fraterno, mais coeso e solidário.

É preciso votar em quem pretende relançar a economia, em quem quer aumentar os salários médios e em quem combate, de forma exemplar, a pandemia.

É absolutamente essencial votar em quem defende contas públicas certas.

É preciso votar em quem defende a construção ou modernização de mais 100 unidades de cuidados de saúde primários e a construção de novas unidades hospitalares.

É preciso votar em quem tem ideias concretas para reduzir o peso da dívida pública no PIB.

É preciso votar em quem defende creches gratuitas, de forma progressiva, até 2024.

É preciso votar num partido que pretende aprovar as alterações legislativas para a Agenda do Trabalho Digno na Assembleia da República até julho de 2022.

É preciso votar em quem defende os apoios à habitação jovem e residências para os estudantes deslocados.

É absolutamente essencial votar num partido que garante a estabilidade e o progresso social e económico das pessoas e do nosso País.

No próximo domingo, dia 30 de janeiro, vota. Vota com responsabilidade. Vota Partido Socialista, porque só assim, todas e todos juntos, seguimos e conseguimos!

Uma derivação sobre o poema de Rudyard Kipling

29.01.22 | Manuel_AR

Rui Rio e os ses do poema de Kipling.png

Após ter visto Rui Rio com tantos “ses” e a fazer de morto para não mostrar o jogo e para não se contradizer com a sua argumentação, recordei-me do poema “Se - IF”, escrito em 1895 pelo escritor Rudyard Kipling, Prémio Nobel de Literatura em 1907, publicado pela primeira vez em 1910 numa coletânea de contos, utilizei a ideia para a realidade política que agora vivemos mantendo a condicional “SE” e apenas algumas palavras, poucas.

 SE conseguires manter a calma e contiveres as emoções quando te dizem que emigras agora por falta de condições recorda-te do tempo quando te mandaram emigrar.

SE consegues ainda ter confiança naqueles que sucedem aos que te governaram no passado, ofenderam e ofendem a tua inteligência.

SE continuam a dizer-te que deves ter esperança e, ao mesmo tempo, te caluniam, odeiam e culpabilizam pela tua profissão pública e consegues esperar sem te cansares.

SE te incomodam e criticam pela tua velhice e pela tua pensão serem as causas da falta de sustentabilidade da segurança social e lançam contra ti este estigma.

SE ainda consegues ter esperança e confiança em quem te diz e te faz sonhar com reformas e mudanças que não vão acontecer.

SE ainda consegues suportar e escutar mentiras lançadas por comentadores como sendo verdades absolutas para te fazerem cair em armadilhas.

SE consegues encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida ficar destruído para reconstruíres tudo de novo.

SE consegues num único passo e num minuto um lançamento de cara ou coroa para arriscares tudo o que conquistaste, perderes e recomeçares de novo sem nunca suspirares palavras da tua perda.

SE consegues ainda aguentar quando já nada tens em ti e por tua opção e te irão depois dizer: "Tem esperança, temos que esperar pelo crescimento económico, aguenta-te!"

SE consegues ouvi-los falar para multidões e permaneceres com as tuas virtudes e ainda andas e ages naturalmente.

SE estás disposto a viver em instabilidade governativa e social.

SE já não te conseguem ofender.

SE alguns contam contigo para os defenderes dizendo que é para teu bem.

Português, com a liberdade de escolha que te assiste e se estás incluído neste “ses”, então tens disponível várias opções à direita e à esquerda do único que poderá vir a defender contigo o teu futuro!

A ratoeira virtual de Rui Rio ou aquilo que eu digo não é aquilo que ouves

28.01.22 | Manuel_AR

Falou, mas agora anda calado para não se comprometer nem contradizer, daí as balelas sem interesse que tem andado por aí lançar. O cheiro a poder e a "bazuca" mandam mais do que a franqueza e a propagada honestidade que tem andado a mostrar, tipo ratoeira virtual para caçar ratos. O seus ex-inimigos, agora ditos amigos (Montenegro, Rangel e outros) esconderam as facas que traziam para lhe espetar nas costas logo que possível tendo em vista possibilidade da ida ao pote. 

O seguinte artigo do blogue Estátua de Sal desmonta as mentiras daquele Rui Rio que diz que os outros é que são mentirosos. 

Aquilo que estás a ver não é aquilo que estás a pensar

(In Estátua de Sal, 28/01/2022)

Um saudoso amigo meu, psiquiatra já falecido, costumava contar a seguinte história, exemplificativa da capacidade de mistificação dos seres humanos. O marido, por exigência inesperada, regressa a casa a meio da tarde e dá com a esposa nua, na cama com um desconhecido. Ela, ultrapassada a atrapalhação inicial, dispara-lhe com sorridente bonomia:

– Querido, aquilo que tu estás a ver não é aquilo que tu estás a pensar.

Lembrei-me desta história a propósito das repetidas negações e reinterpretações que as declarações de Rui Rio têm vindo a suscitar. Ele diz, mas não era bem isso o que queria dizer. O malvado do Costa é que “mente” sobre aquilo que ele diz.

Ele votou contra o aumento do salário mínimo, mas é mentira quando dizem que é contra.

O PSD votou contra o SNS, quer mudar o artigo da Constituição que postula que a saúde deve ser “tendencialmente gratuita”, mas é mentira quando se diz que quer pôr os portugueses a pagá-la.

Ele, Rio, disse que “há várias modalidades de prisão perpétua” no debate com o Ventura. Mas é mentira quando dizem que ele se aproximou do Ventura nesse retrocesso civilizacional que o Chega defende.

Ele acha que os maiores rendimentos devem poder optar por descontar parte do seu rendimento para planos de reforma privados, enfraquecendo a Segurança Social. Mas é mentira quando se diz que a quer privatizar.

O PSD fez um acordo de governo nos Açores com o Chega e David Justino – em entrevista à CNN -, veio dizer que não há linhas vermelhas em relação ao Chega. Mas é mentira quando António Costa diz que Rio se propõe governar com o apoio de Ventura e da extrema-direita.

Perante estes exemplos, parece que os eleitores terão que contratar um tradutor especializado para fazer a tradução e a interpretação “autêntica” da verborreia do Dr. Rui Rio. Ele não fala o português que cada um de nós – tristes almas simplórias e incultas -, fala.

Não, ele fala um português quântico e erudito em que cada frase é uma espécie de “dois em um” e significa tudo e o seu contrário. E, tanto é assim, que entre os comentadores das televisões já se disputa o primeiro lugar no concurso de melhor tradutor e intérprete da sumidade. Neste momento, lidera o Gomes Ferreira seguido de muito perto pelo Bernardo Ferrão e pelo Bogalho.  

É por isso que me quer parecer que aquilo que os comentadores de direita atribuem a Rui Rio, como sendo autenticidade e espontaneidade, não passa de falta de jeito para mentir e para a mistificação. Ele bem tenta mas acaba sempre por lhe fugir a língua para a verdade. Ao menos Passos Coelho tinha mais jeito, como se viu em 2011: depois de passar semanas a prometer convicto a descida de impostos, mal chegou ao poder produziu o maior aumento de impostos da história da democracia.

A direita sempre recorreu à mentira e às falsas promessas para se alcandorar ao poder. Mas nunca teve o topete de nos propor um aldrabão desajeitado.

Não, Dr. Rui Rio. O senhor é mesmo um pequeno ditador com tendências de extrema-direita e de solidariedades íntimas com o Dr. Ventura, de quem se prepara para colher o apoio, sem vergonha ou engulhos maiores.

E não nos queira enganar como a adúltera da história. Aquilo que o ouvimos dizer é mesmo aquilo que diz e nos leva a não querer que venha a governar este país.

A falácia do crescimento dos países do Leste e o Polígrafo baralha e volta a dar

28.01.22 | Manuel_AR

Rui e crescimento económico.png

Argumentos das direitas sobre o crescimento da economia portuguesa baseia-se unicamente na comparação com os países do Leste europeu, que, dizem eram pobres e hoje são mais ricos que nós devido às políticas socialistas aqui adotadas. Para os liberais é preciso liberalizar, privatizar e desregulamentar para Portugal crescer.

Já escrevi neste blog que lançar para o ar estatísticas de crescimento descontextualizadas e sem outros indicadores imprescindíveis para comparação é mera demagogia para enganar pessoas que não estão dentro dos complexos processos económicos e absorvem sem crítica o que ouvem porque não lhes explicam.

Portugal não se encontra desfasado dos oito países da Europa de Leste que aderiram à UE em 2004. Apenas a teve uma taxa anual de crescimento superior à portuguesa nos 15 anos posteriores à integração europeia.

Crescimento Paes Mamede.png

Fonte: Retirado de Ricardo Paes Mamede, 25/01/2022, Estátua de Sal (ver abaixo)

Segundo Paes Mamede, “A direita defende que o rápido crescimento dos países do Leste europeu se deve a políticas liberais, em particular impostos baixos e um Estado de dimensões reduzida. Qualquer explicação para o crescimento económico que se baseia num único fator é de desconfiar – se assim fosse, os economistas não andavam há 250 anos a tentar compreender o fenómeno. Neste caso concreto, a explicação apresentada esquece alguns dos elementos essenciais.

A ideia de que os países de Leste tinham menos condições do que Portugal para crescer é simplesmente errada. Se há coisa que se sabe sobre o crescimento económico é que este tende a beneficiar muito das qualificações das pessoas – e os países de Leste têm desde há muitas décadas os níveis mais elevados de educação entre as nações europeias.”.

Para melhor compreensão incluo o texto do autor em que desmonta a teoria do crescimento dos países do leste europeu como sendo devido ao liberalismo.

 Os cinco erros da direita sobre o crescimento económico em Portugal

(Ricardo Paes Mamede, 25/01/2022, Estátua de Sal)

Os partidos de direita apresentam-se a estas eleições com um discurso simples sobre a economia portuguesa. Afirmam que Portugal tem tido um crescimento medíocre comparado com os países do Leste europeu, que eram pobres e hoje são mais ricos que nós. E que essa diferença se deve às políticas adoptadas: liberais naqueles países, “socialistas” aqui. Logo, segundo a direita, é preciso liberalizar, privatizar e desregulamentar para Portugal crescer.

Este discurso é simples e eficaz. É também errado, por cinco razões.

  1. O desempenho das economias de Leste é menos diferente do português do que parece

As economias não crescem sempre ao mesmo ritmo – há momentos em que aceleram, outros em que abrandam. Nas economias menos avançadas, as acelerações devem-se quase sempre a factores externos e nem sempre são virtuosas.

Na UE, todos os novos Estados membros passaram por um período de rápido crescimento económico nos anos que se seguiram à integração. Tal deve-se a três motivos principais: a abundância de fundos de coesão, a liberalização dos movimentos financeiros internacionais e os fluxos de investimento estrangeiro (que exploram as novas oportunidades de investimento e de produção a baixos custos).

Isto aconteceu também a Portugal na década e meia que se seguiu à entrada na então CEE, em 1986. A este nível, Portugal não compara nada mal com os oito países da Europa de Leste que aderiram à UE em 2004: destes, só a Polónia teve uma taxa anual de crescimento superior à portuguesa nos 15 anos posteriores à integração europeia (ver gráfico).

Crescimento Paes Mamede.png

O problema vem depois – e não é por acaso. À medida que os rendimentos médios aumentam, o montante de fundos europeus diminui e as vantagens competitivas associadas aos baixos custos também. Os fluxos de financiamento externo invertem-se, então: se no início o capital entra para emprestar a juros baixos e investir em diferentes actividades, na fase seguinte o capital sai sob a forma de lucros, juros e amortização dos empréstimos entretanto contraídos. Quem julga que os elevados ritmos de crescimento dos países de Leste se vão manter ad eaternum enquanto a economia portuguesa estagna não presta muita atenção à história do crescimento económico.

  1. Os países de Leste tinham condições para crescer que nada têm que ver com “medidas liberais”

A direita defende que o rápido crescimento dos países do Leste europeu se deve a políticas liberais, em particular impostos baixos e um Estado de dimensões reduzida. Qualquer explicação para o crescimento económico que se baseia num único factor é de desconfiar – se assim fosse, os economistas não andavam há 250 anos a tentar compreender o fenómeno. Neste caso concreto, a explicação apresentada esquece alguns dos elementos essenciais.

A ideia de que os países de Leste tinham menos condições do que Portugal para crescer é simplesmente errada. Se há coisa que se sabe sobre o crescimento económico é que este tende a beneficiar muito das qualificações das pessoas – e os países de Leste têm desde há muitas décadas os níveis mais elevados de educação entre as nações europeias.

Outro facto bem conhecido dos processos de crescimento diz respeito à importância do perfil de especialização dos países. E, ao contrário do que muitos sugerem, as economias que mais têm crescido no Leste europeu não eram pouco desenvolvidas: uma década antes de aderirem à UE (ou seja, quando ainda estavam na transição para o capitalismo), países como a Estónia, a Eslovénia, a República Checa, a Eslováquia e a Polónia tinham já um perfil de exportação mais sofisticado do que o de Portugal (ver gráfico construído a partir daqui).

Índice de complexidade económica das exportações de cada país

Às vantagens na educação e ao perfil de especialização, alguns países do Leste somam a proximidade histórica e geográfica a economias muito mais avançadas, de cuja força tendem a beneficiar. Os casos mais óbvios são a República Checa (que se tornou uma extensão da indústria transformadora alemã) e a Estónia (que se tornou um prolongamento da economia finlandesa).

Ignorar todos estes factores – o impacto da integração europeia, os níveis de educação e de sofisticação tecnológica de partida, ou a proximidade a economias mais avançadas – para insistir na tese da abordagem liberal como factor de sucesso económico, só pode ser resultado de ignorância ou má fé.

  1. A estagnação económica em Portugal nada tem a ver com a “falta de liberalismo”

Falar em falta de liberalismo em Portugal como estando na origem da estagnação económica é um contrassenso. A “agenda liberal” tem estado bem presente nas políticas seguidas por sucessivos governos ao longo das últimas décadas. Nos últimos 30 anos:

privatizou-se quase tudo o que havia para privatizar em Portugal: empresas industriais, bancos, seguradoras, empresas de transportes e de energia, até o tratamento de resíduos;

liberalizou-se o sistema financeiro e a circulação de capitais;

desregulamentaram-se por três vezes as leis do trabalho, facilitando os despedimentos, os horários flexíveis e os contratos atípicos;

abriram-se as portas aos privados na saúde e na educação;

abdicou-se de uma moeda própria, deixando o financiamento do Estado nas mãos de especuladores privados internacionais.

Neste contexto, dizer que o mau desempenho da economia portuguesa nas últimas décadas se deve a falta de “liberdade económica” e ao excesso de intervenção do Estado, faz mesmo muito pouco sentido.

Para além disso, ignora aspectos cruciais para perceber a estagnação da economia portuguesa, como sejam:

o processo de endividamento privado, decorrente da liberalização financeira e dos erros de supervisão bancária;

os choques competitivos associados à entrada da China na OMC e o ao alargamento a Leste;

a forte apreciação do euro face ao dólar até 2008; ou

a forma desastrosa como as lideranças europeias lidaram com a crise da zona euro entre 2010 e 2012.

Só por indigência ou desonestidade intelectual se podem ignorar todos estes factores quando se explica a evolução da economia portuguesa nas últimas décadas.

  1. Baixar os impostos e esperar que chova não nos vai salvar

Dificilmente um mau diagnóstico dá origem a uma boa prescrição. Quem tem uma má explicação para a estagnação da economia portuguesa não terá boas soluções para a resolver.

Os partidos da direita acreditam tanto que o fraco crescimento relativo de Portugal se deve à “falta de liberdade económica” que a sua receita para o crescimento é pouco mais o que baixar os impostos, reduzir os custos de contexto e esperar que chova.

O pressuposto é de que o crescimento depende do investimento privado e que o investimento privado depende dos custos de fazer negócios – custos fiscais, laborais, administrativos e outros.

É óbvio que nenhuma economia atrai investimento se as condições de fazer negócios forem miseráveis. Mas essa não é a situação de Portugal. Em nenhum dos domínios referidos Portugal apresenta indicadores muito distintos da média europeia. O conhecimento existente não nos permite afirmar que a redução dos impostos traria mais crescimento. Quanto à redução dos salários ainda menos: o seu impacto na procura interna seria imediato, enquanto o seu efeito na competitividade da maioria dos sectores exportadores seria residual.

É possível e necessário melhorar muitos aspectos que afectam a vida das empresas: os custos da energia, alguma burocracia excessiva, a lentidão da justiça, entre outros. Mas estes problemas estão identificados há muito tempo e têm vindo a melhorar. Exija-se que melhorem ainda mais, claro, mas não se espere que venha daqui um salto qualitativo da economia portuguesa.

Os principais entraves ao crescimento económico em Portugal são, em primeiro lugar, o perfil de especialização produtiva (baseado em actividades de baixo valor acrescentado e que enfrentam fortes pressões da concorrência externa) e, em segundo lugar, o elevado endividamento externo (que leva a que uma parte importante dos rendimentos gerados todos os anos seja canalizado para o exterior).

Em quaisquer circunstâncias, seria sempre difícil ultrapassar estes obstáculos. No contexto português actual, estas dificuldades são acrescidas pelo facto de o país não dispor de instrumentos de política económica que outros usaram no passado – como a política monetária e cambial ou a política de comércio externo – estando o uso de outros instrumentos muito limitado pelas regras da UE (como a política orçamental, as empresas públicas ou as compras públicas).

Mais uma vez, só por indigência ou desonestidade intelectual se pode afirmar que todas estas dificuldades se resolvem aumentando a “liberdade económica”.

  1. Se a história nos ensina alguma coisa é que é preciso mais – e não menos – intervenção pública

A direita defende a redução da presença do Estado na economia, vendo-a como um problema e não como parte da solução. Também este discurso é simplista. Na verdade, o Estado está sempre presente – como produtor, regulador, comprador ou prestador de serviços – e é sempre indispensável.

O que distingue a direita liberal é a noção de que o Estado deve manter uma distância higiénica das empresas privadas, limitando-se a regulá-las de forma a promover a concorrência (ou simulá-la, quando ela não pode existir). Mas a história do desenvolvimento económico mostra-nos que a mudança estrutural e o reforço das capacidades produtivas dos países exigiram sempre um Estado muito mais interventivo, contribuindo activamente para a acumulação de conhecimentos e competências, e apoiando de forma estratégica sectores que se revelavam em cada contexto mais promissores. Isto aconteceu em países com regimes políticos muito distintos, em circunstâncias históricas diversas. É esta a história da Inglaterra da dinastia Tudor, dos EUA desde a independência até hoje, da Alemanha, da Coreia do Sul, do Taiwan, da China e de tantos outros.

O problema de Portugal hoje não é Estado a mais nem Estado a menos. O problema é ninguém parecer saber muito bem o que fazer com o Estado e como – e aqui o problema não é só da direita. Mas isso fica para outra ocasião.

Ouço dizer todos os dias

27.01.22 | Manuel_AR

Maria do Céu Guerra.png

Contatei há muitos anos com Maria do Céu Guerra no espaço de um café na baixa lisboeta e por um breve tempo. Tinha-me sido apresentada por um amigo meu de longa data que com ela tinha trabalhado. Isto foi, já lá vão décadas, e a idade não perdoa.

Para quem não saiba quem é Maria João Guerra pode saber mais sobre ela AQUI.

Li este texto no Facebook e tomei a liberdade de o publicar com título da minha autoria a partir do texto sobre o qual não teço quaisquer comentários discordantes ou concordantes. Se alguém tiver dúvidas sobre o que ela escreve cada um que as tente esclarecer por si próprio!

Citação de um texto de MARIA DO CÉU GUERRA

"Ouço dizer todos os dias aos nossos clarividentes comentadores e jornalistas políticos que o António Costa está cansado. O governo está cansado!

Cansado? De que será?

- Não equilibrou a economia que o PSD (aluno exemplar da Troika já reconhecidamente errada e criminosa) estilhaçou?

- Não devolveu a dignidade ao nosso País na sua posição de membro respeitável e civilizado da Comunidade Europeia?

- Não organizou um SNS com antecedência para responder à Pandemia (estou daqui a pensar nas difamações de despesismo da direita se a Saúde pública estivesse antes do Covid-19 apetrechada pelo governo socialista para responder ao triplo das suas necessidades)?

- Não tentou acorrer ao desemprego com o Lay-off?

- Não investiu na organização de um país mais solidário?

- Não tentou (sem a mão estendida nem a cerviz dobrada dos anteriores poderes) recolher apoios em todas as plataformas europeias que com mais ou menos dificuldade se lhe abriram?

- Não tentou cicatrizar (com menos êxito embora do que desejaria) as feridas abertas com a sangria da emigração de jovens qualificados (que o convite criminoso do governo anterior abriu)?

- Não tentou sempre proteger a saúde física e mental e a vida dos seus compatriotas (a lutar com um inimigo desconhecido que todos os dias lhe fazia novas rasteiras e emboscadas)?

Que seria de Portugal se durante estes dois anos estivesse no poder um Passos Coelho ou um Durão Barroso a combinar às escondidas guerras criminosas contra a Humanidade, ou um Cavaco Silva a construir rotundas desnecessárias e a afundar a frota pesqueira e a agricultura que alimentava o nosso povo e lhe dava trabalho todos os dias, enquanto o País de letras gordas ia aprendendo com ele e os seus a embrenhar-se em «irregularidades» de colarinho branco.

António Costa: deves estar muito mais farto do que cansado.

Tu és rijo, numa semana recuperarás as forças que nenhum dos teus opositores tem para oferecer ao país.

Força Amigo! Obrigada pelo teu cansaço."

(Maria do Céu Guerra, atriz.)

O que Rui Rio esconde: o programa entre sorrisos e um gato

26.01.22 | Manuel_AR

Rui Rio gato e classe média.png

Rui Rio em dezembro de 2021 no encerramento do 39º Congresso do PSD fez um discurso em alguns pontos próximo do Chega e da Iniciativa Liberal, mas em modo light. Agora faz-se de morto nem fala de nada com interesse para os portugueses e arranja um gato como foco de distração. 

Durante esta campanha eleitoral os líderes da direita passaram todos a gostar de animais e a ter animais de estimação, mas alguns devem ter cobras bem escondidas.

Insiro este vídeo porque eu levaria mais tempo a escrever os tópicos do que ele diz sobre as pensões de reforma, o SNS e a a escola pública e privada e muito mais.

Esqueçam a legítima campanha eleitoral que está implícita neste discurso, e atentem no seu conteúdo social onde se estabelecem as diferenças entre a direita e o centro-esquerda. É aqui neste pontos programáticos que me concentro, para além de achar que Rui Rio é muito popularucho, ri muito e tem um gato,  tenho em mente que não vou eleger um primeiro-ministro, vou escolher deputados para a Assembleia da República, entre direita neoliberal que acena com bandeiras de prosperidade, que iremos todos pagar mais tarde ou mais cedo e entre uma maioria que nos mantenha no bom caminho da estabilidade social e política, tolerância, respeito por todos, ricos ou pobres, que não queira passar, os remediados, a que Rio chamou à classe média para pobres para criar uma nova classe de ricos a que ele passará a chamar de classe média.

Para Rui Rio: baixar impostos lá para 2024-2026, se, aumentar salários lá para 2024, se, baixar IRC, já, TSU, incógnita, pensões privatizadas, vamos a ver, mas o mais certo é sim, aumentar pensões, ui, como assim? não falou, SNS nos privados para ricos e no público para pobres e remediados que deixarem de ser da classe média, segue dentro de momentos....

Estão a gozar com o pagode. Tudo o que Rui Rio promete será para 2025 e 2026

24.01.22 | Manuel_AR

Propostas PSD.png

Tudo o que Rui Rio promete em redução de impostos como o IRS é lá para 2025 e 2026, data das próximas eleições. Até lá o pagode que aguente. Não se pode dizer que está a mentir, mas… está a enrolar-nos com promessas que na altura poderá não poder cumprir face à evolução da economia internacional. Demagogia da melhor.

A experiência que nós temos tido com governos do PSD e CDS não têm resolvido os problemas que todos, cada um a seu modo, gostaríamos de ver resolvidos, antes pelo contrário. Com o PS também não, dirão alguns, piorou, dirão outros, talvez estejam certos, mas o que não podemos esquecer é que, se hoje vivemos melhor do que no passado também é certo e foi com a esquerda moderada que o conseguimos.

Esta campanha eleitoral tem sido muito pouco esclarecedora quanto ao que pretendem fazer se ganharem as eleições e os partidos com responsabilidades governativas, com exceção do PS que já é de todos conhecido o que pretende fazer. É o único que poderá oferecer algumas garantias de mudanças ajustadas, atempadas e progressivas.

O PSD com Rui Rio e as suas propostas vagas, por vezes ambíguas no sentido da sua fundamentação ideológica, irá seguir um modelo social neoliberal, modelo desacreditado depois da crise financeira internacional de 2008. Muitas organizações internacionais como a OCDE colocaram esse modelo em dúvida. Não sei se alguma vez Papa Francisco apelidou este sistema como “economia que mata”, mas isso é o que menos importa.

O projeto económico de Rui Rio baseia-se na redução de rendimentos das pessoas, quer por redução de salários, que por redução das funções sociais do estado; é um modelo estruturalmente baseado na austeridade para a generalidade da população; um modelo que beneficia os mais ricos e que agrava drasticamente as desigualdades sociais. Aliás o próprio Rui Rio não o escondeu e os seus apoiantes do partido já o afirmaram por palavras pouco entendíveis para a maioria das pessoas, é que o tão almejado crescimento só acontecerá anos depois de aplicado e se as condições internas e internacionais assim o permitirem. Para bom entendedor meia palavra basta.

Veja-se o que Rui Rio propõe com a baixa do IRS: redução em 400 milhões de euros em 2025 e 2024. Isto é, daqui a três a quatro anos numa lógica de proximidade de novas eleições. Mais, redução para 0,25% do limite inferior do intervalo da taxa do IMI, também a partir de 2024. Onde vai ele buscar o dinheiro se o crescimento da economia não estiver em correlação com o crescimento da receita necessária para reduzir os impostos, mesmo que a despesa diminua um pouco? Está a fazer troça do pagode!

E na saúde? No SNS Rui Rio ataca com a diferenciação, uma saúde para os pobrezinhos e outra a ser paga com os impostos de todos para os que podem pagar, veja-se: contratualização com o privado e social de consultas e acessos a médico assistente (não confundir com médico de família). Quem paga os impostos irá contribuir para os que podem pagar terem acesso aos privados de forma gratuita ou parcialmente pago; para Rui Rio o SNS deve assentar em três pilares: público, privado e social, mas o acesso ao privado, deduz-se, será pago com os impostos de todos para benefício de alguns que podem pagar.

Não basta ler o vago programa do PSD que Rui Rio apresenta, temos que ler nas entrelinhas as armadilhas que contém. O programa que Rui Rio apresenta é o mesmo que Montenegro ou Paulo Rangel apresentariam se ganhassem as eleições internas no partido e estivessem agora nesta corrida.    

Rui Rio tem fé, é uma crença que dando os maiores benefícios às empresas, redução de impostos, não fala em redução de salários, mas fala em aumentar se a economia crescer, assim, elas, as empresas, vão produzir mais e criar mais riqueza. É uma velha assunção liberal que com os acontecimentos da última crise internacional provou estar errada levando as entidades internacionais a alterar as medidas de combate à crise.

Não basta criar produtos é preciso rendimentos para que tais produtos sejam consumidos, a fuga de Rio diz ser nas exportações, esquecendo que haverá sempre lá para a Ásia que produz a custos mais baratos com mão de obra baratíssima. Isto numa lógica de que só o maior rendimento das pessoas pode originar maior consumo, maior procura de bens que necessariamente fomentam uma maior produção das empresas. Numa ótica de consumo interno é a procura que gera a oferta e não a oferta que gera a procura em que com fezada Rui Rio acredita com ajuda das exportações.

Para dinamizar a economia pouco significa injetar dinheiro nas empresas se não existir um aquecimento do consumo, este por seu lado pode gerar inflação que desvaloriza salários. E as medidas de austeridade complicam, mas fazem parte do breviário do modelo neoliberal. O que o modelo de Rui Rio a ser fosse implementado iria gerar uma redução do nível de vida das pessoas e agravadas desigualdades sociais.

Curem-se, mas é!

23.01.22 | Manuel_AR

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Não é apenas com debates nas televisões, na rádio e com as arruadas dos partidos que se faz campanha eleitoral, nas empresas de comunicação social também acontece de modo mais sofisticado. 

A SIC e o semanário Expresso entraram na campanha eleitoral e de tempo de antena com o PSD de Rui Rio. Basta estar atento e perceber as conotações que são feitas ao relatarem os factos relacionados coma campanha. A minha leitura é que alguns artigos são tendenciosos e projetam-se no favorecimento do PSD. Mas isto é a minha opinião, mas há outras que tem pontos de vista contrários nomeadamente os que são da fação daquela fação clubística.

Ontem dia 22/01 a SIC no noticiário das 20 horas numa das partes até parecia o canal do direito de antena do PSD. Foi uma tristeza a peça apresentada sobre a campanha eleitoral do PSD em comparação com a do PS e outros partidos. No caso do PS vimos apenas o plano de um sala vazia e durante o relato do reporter apenas a passagem de imagens fixas. Uma falta de isenção esta SIC.

A falsidade prolifera nos comentários e nas promessas que atravessam a comunicação social ávida do regresso de uma direita que imponha uma austeridade castradora de direitos a uns e distribuidora de privilégios a outros, ao mesmo tempo que acenam para todos com a bandeira demagógica ds baixa dos impostos para caçar votos, sem a certeza das promessas poderem ser cumpridas por impossibilidade de o fazerem quando o poder lhes cai nas mãos. E as escusas podem ser várias e fáceis de arranjar.    

Nesta campanha todos apostaram em associar-se implicitamente para a derrota de António Costa e do Partido Socialista, da extrema-direita à extrema-esquerda associados no desígnio para derrubar e enfraquecer o PS.

Que a motivação e o objetivo sejam as dos partidos da direita, nomeadamente do PSD, compreende-se porque a derrota de um pode conduzir à vitória de outro, mas dos outros partidos da esquerda não se justifica se não for a caça a uns votinhos que apenas obterão se vierem do PS. Se as direitas juntamente com o PSD ganharem estas eleições bem podem os seus adeptos agradecer ao BE e ao PCP-CDU. Por mais que afirme o contrário, Catarina Martins e o BE, e também o PCP, foram quem nos mergulhou nesta situação tão lesiva para todos portugueses que ela diz defender repetindo sempre a mesma cassete.

Ainda a propósito da campanha eleitoral, mas noutro sentido, o cinismo e a hipocrisia dos partidos estão a caminho da confirmação da triste evidência que é a de não cuidarem da salvaguarda da sobrevivência da democracia e da defesa do bem comum em termos de saúde pública perante esta nova realidade sanitária demonstrado nos comportamentos nas arruadas, tudo ao molho e fé no quer que seja.

É fácil preverem-se discursos futuros com narrativas eivadas de cinismo desculpando-se com o governo em transição se a coisa der ainda mais para o torto no que respeita a esta pandemia que está a propagar-se e que poderá vir a entrar numa fase sem controle.

Os líderes do CDS, do Chega e da IL deslocam-se pelo país mostrando-se sem máscara ou só a colocando quando as câmaras das televisões os captam e, mesmo assim, esquecem-se de as colocar. Não dão muito nas vistas porque a sua capacidade de atração nas arruadas não funciona tão bem nem se aproxima da dos apoiantes do PSD e PS que fazem autênticas aglomerações de irresponsabilidade sanitária.

Fazemos caricatura do líder de partidos como o ADN – Alternativa Democrática Nacional que se insurge contra as restrições e se nega a ser testado à covid-19 troçando dos cidadãos responsáveis quando estes que se protegem a si e aos outros e ao mesmo tempo os partidos ditos responsáveis zombam de nós todos quando os vemos  nas arruadas durantes a campanha para as legislativas como se nada estivesse a acontecer passando aos cidadãos uma imagem de irresponsabilidade transmitida pelos dirigentes partidários.

Durante esta campanha para as legislativas trata-se tudo menos do que realmente interessa aos portugueses e brandem argumentos para tudo desde que sirvam para cada um puxar a brasa à sua sardinha. Tudo lhes serve para ajudar ao seu querido partidinho de direita e de extrema-esquerda. Baseiam-se em pequenos casos e generalizam. A generalizações podem degenerar em mentiras. É como a tal coisa de irmos a uma janela, vermos uma andorinha, abrimos a janela e gritarmos para a rua: “OLHEM JÁ É PRIMAVERA, JÁ É PRIMAVERA”. Afinal estava um frio de rachar, como está hoje, e afinal ave não era mais do que um pardal. Curem-se, mas é!  

Mesmo que se confrontem com a realidade ao pé da porta o instinto clubista rejeita argumentando que demonstram essa mesma realidade. Isto é, buscam argumentos para distorcer a realidade que perpassa nos seus olhos.

Com o cheiro do poder tudo serve para defenderem o seu clube partidário cujo “treinador” antes renunciavam, mas que agora lhe tecem elogios correndo atrás dele. Vejam-se como os neoliberais “passistas“ como Montenegro, e outros que se agarram agora a quem antes queriam derrubar para darem uma ilusão de união. São estes que irão pressionar Rui Rio/PSD a modificar o seu programa inconsistente para um outro onde o neoliberalismo se imporá como no tempo de Passos Coelho.    

Há treinadores sobreviventes apesar das propostas que apresentam serem demagógicas e, na prática difíceis de concretizar, e eles sabem-no.

Ditos e escritos daqui e dali

20.01.22 | Manuel_AR

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Pelo que se escreve na imprensa, nas redes sociais e se diz nas televisões podemos ter uma visão aproximada do que se pensa ao decorrer desta campanha eleitoral. Assim, sintetizei algumas opiniões e comentários que circulam e que compus de forma coerente utilizando critérios de aproximação ou de afastamento de acordo com as minhas.

Os pontos que se seguem não são uma transcrição de citações, são as minhas opiniões expressas em coerência com os meus pontos de vista, suscetíveis, como é óbvio, de críticas.   

  1. Todos termos visto nos diferentes órgãos de a comunicação social reivindicações de organismos privados e públicos que passam pelos agricultores, comércio, indústria, saúde, justiça, etc. Acredito que estas reivindicações por mais aumentos, mais meios, mais pessoal e mais subsídios sejam justas e necessárias. Todavia, se pensarmos que ao satisfazer-se a justeza das exigências apontadas logo concluiríamos que se iria cair num descalabro financeiro do Estado com altos défices nas contas públicas e elevadas dívidas externas, conduzindo a situações idênticas ou piores às que nos trouxeram a troika. Face a isto, começo a pensar se não estarão todos desejosos que tal aconteça para justificarem uma subida ao poder da direita neoliberal que logo recorrerá, mais uma vez, a severas medidas de austeridade e outras idênticas para equilibrarem as finanças e agarrarem a oportunidade para culparem o partido do governo o causador desse descalabro. Vamos lá então ver se nos entendemos sobre o queremos para o país!

 

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  1. Começo pelo que tem sido mais comentado e criticado, a maioria estável pedida pelo Partido Socialista. Entenda-se por maioria estável uma maioria absoluta e, como consequência, António Costa ser primeiro-ministro. Com António Costa numa maioria absoluta é possível conviver sem receios. O mesmo já não se poderá dizer duma maioria de direita PSD e, ainda menos, se coligado com outros partidos como por exemplo o partido da extrema-direita Chega cuja hipótese não foi convictamente afastada por Rui Rio. Lembremo-nos dos Açores.
  2. Acordos parlamentares de esquerda do PS com o BE e PCP em princípio e no meu ponto de vista são soluções a afastar devido à perda de confiança consequente da irresponsabilidade pelo chumbo do Orçamento de Estado para 2022 alinhados com a direita. Assim, só uma maioria absoluta do PS poderá evitar pressões parlamentares que aqueles partidos farão para condicionar a governação, causando instabilidade.
  3. Há por aí quem pergunte se Rui Rio fizesse tudo o que está a prometer não poderá conduzir o país a uma nova crise. A resposta é afirmativa. Como ele próprio esclareceu em vários debates tudo o que promete é condicional justificado com uma possível aproximação de uma crise que se vislumbram, pelo que reconhece a possibilidade de adiamento das promessas que será inevitável, desconhecendo-se durante quanto tempo. Ora, como se avizinha uma crise económica e social devido a contextos exteriores o pretexto para o não cumprimento das promessas tem as portas entreabertas.
  4. Outra pergunta interessante que se coloca é a de saber quem é o grande inimigo do BE e do PCP que é preciso abater? É a direita? A resposta é imediata – Não, é o PS. Interessante a resposta até porque podemos fazer uma outra pergunta: Quem é que o BE e o PCP estão a ajudar nesta campanha eleitoral? A resposta é inequívoca: são a extrema-direita e a direita PSD, claro! A extrema-direita e o PSD agradecem a ajuda do BE e do PCP. Isto já foi visto no passado quando BE e PCP provocaram a queda do governo PS dando lugar à maioria de direita.
  5. A coordenadora do Bloco de Esquerda é uma atriz extraordinária acusou André Ventura do Chega. Ao que lhe diz respeito ele saberá porquê. No meu entender, e se bem me lembro, Catarina Martins passou da extrema-esquerda antissistema, revolucionária e contestatária a mostrar-se agora com uma faceta de política sedutora e calma que se quer afirmar como cooperante. Pelo meio vai acusando outros (leia-se PS) de que se não existe mais cooperação é porque esses outros não querem, diz ela. E porquê? - Perguntam vocês. Porque em primeiro lugar gostaria de submeter o PS à execução de políticas destrutivas, em segundo lugar para caçar aqui e ali uns votinhos de alguns indecisos e de descontentes com tudo e com todos. Não podemos afirmar com convicção que Catarina Martins é falsa. Faz parte do seu número de teatro a que a obriga a caça ou à dispersão de potenciais votos no PS, com o objetivo único de evitar uma maioria absoluta do PS.
  6. O BE e o PCP pretendem que a votação no PS seja a mais baixa possível, ainda que os votos vão para a direita, desta forma terão mais margem de manobra para, no contexto da Assembleia da República, pressionar o PS para impor políticas radicais. Sem uma maioria muito significativa do PS fica-se novamente na dependência das extremas-esquerdas do BE e do PCP com as inerentes dificuldades de governação pior do que a “geringonça”, ou, então, caminha-se para o país ficar na dependência da direita.
  7. Na campanha que a esquerda anda a fazer, não tenho a certeza se foi João Oliveira do PCP, andam por aí a dizer que se a direita ganha poderão vir campanhas de contestação socia e a instabilidade. Mas que raio de ponto de vista. Os portuguese não gostam que os ameacem e, quando assim é, vão mesmo para o outro lado. PCP e BE vejam se se acalmam. Estão muito agitados por debaixo dessa calma que aparentam.
  8. Há ainda os que falam e relembram com saudosismo o tempo de Salazar, (André Ventura recuperou a matriz do modelo do regime salazarista “Deus, Pátria, Família” ao qual acrescentou “Trabalho”). O regime de então utilizava todos os meios para neutralizar e difamar quem se lhe opunha. Atualmente a extrema-direita e a direita democrática utilizam a mesma estratégia da difamação.
  9. No caso de Ventura a suas narrativas populistas e demagógicas para baralhar a população são abissais. Então André Ventura não se tem afirmado contra a quantidade e qualidade de pessoas que recebem o RSI? Pois é! Mas a última dele foi negar agora o que afirmou poucos dias antes. Vejamos a resposta que deu ontem quando um jornalista lhe fez uma pergunta sobre o número de casos de “subsidiodependência no país”, à qual respondeu baralhando, para confundir, o que disse com o que não disse: “Como é que quer que eu tenha dados concretos sobre pessoas que recebem o RSI e que não devem? É você que os tem? As pessoas só veem e sabem que é assim. Sabemos quantas pessoas recebem RSI. Não sabemos, infelizmente, quantas pessoas o recebem indevidamente”.  Podemos deduzir que André Ventura passou do ser contra o RSI para o “fiscalizar a sério”. Isto é, quer saber das quarenta e tal mil pessoas que recebem RSI para quais são as “dezenas de milhar” (?) que o recebem indevidamente. Para saber quantas pessoas recebem aquele tipo de apoios, basta consultar AQUI. O problema de Ventura é o de saber quais os que o recebem e têm Porches à porta. Por outro lado, isso da fiscalização todos os partidos, da esquerda à direita a querem! Deixemos por agora o troca tintas.
  1. Voltando a António Costa. Em 20 de setembro de 2019 a revista alemã Der Spiegel escrevia sobre a “receita” do “confiável socialista” António Costa. Considerava assim como confiável o primeiro-ministro de Portugal. A autora, Helene Zuber, escrevia então: “Ele sabe como tirar um país da crise. O primeiro-ministro de esquerda, António Costa, salvou Portugal da falência. Enquanto isso, a economia está a crescer. Agora está prestes a ser reeleito. Qual é a sua receita para o sucesso? Quando António Costa conhece pessoas olha-as diretamente no rosto e sorri. Curioso, o primeiro-ministro português aproxima-se de colegas como Angela Merkel, aperta as mãos educadamente antes da entrevista ao vivo na televisão, ouve atentamente os cidadãos que se dirigem nas ruas ao seu chefe de governo. Parece estar sempre de bom humor, com o olhar levemente irónico dos olhos escuros por trás dos óculos sem aro. O simpático governante Costa, com seu governo de minoria socialista, tolerado pelos comunistas e pelo bloco de esquerda trotskista, resistiu por quatro anos - um feito que quase ninguém esperaria que ele fizesse. Dando-lhe o epíteto de "Geringonça", a oposição zombou da aliança quando assumiu o cargo há quatro anos. Costa tem um mandato bem-sucedido”.
  2. Quanto a Rui Rio Rui ele é um político popularucho que fala para o povo entender. Sem papas na língua diz o que pensa o que às vezes o prejudica. Daria um grande propagandista de feira com receitas para todas as maleitas. Nas entrevistas e nos debates mostra-se um exímio vendedor de um qualquer produto que alguém, se não pensasse, não hesitaria em comprar. Há, todavia, um problema. É que, depois do comprador abrir o embrulho e ao acabar de verificar que o produto verificaria que estava com defeito e que a devolução do material era impossível.
  3. Próximo de eleições a direita cata casinhos e tudo o que seja desfavorável que transformam e exageram para parecerem importantes. Esmiúça tudo para desviar o vazio apresentado nas suas propostas.
  4. O que Rui Rio diz disse no passado não têm muita relevância para o atual contexto. É uma incógnita o que se irá passar se ele ganhar as eleições e se uma potencial crise se confirmar. O que ele disse em 2017, quando candidato à liderança do PSD, ao responder a uma pergunta sobre a mudança de linha de rumo do partido, caso fosse eleito, assegurou que não iria haver mudança de estratégia e deu o exemplo da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, com quem teve divergências mas que, no seu lugar, seguiria a mesma linha, e que faria "igual" ou faria “pior” do que a governante.
  5. Então dr. Rui Rio, ir para o Governo e encontrar contas certinhas era tão bom não era?

Comentadores comentados e indecisões dos eleitores

15.01.22 | Manuel_AR

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Os comentários que se seguem aos debates é suposto serem feitos por jornalistas credenciados e cada um com a sua orientação ideológica. A meu ver tenho constatado que a isenção e a independência, sobretudo na SIC, não são os pontos fortes dos intervenientes nos paneis de comentário.

Sou dos que considero que a comunicação social deve ter um papel relevante na critica e no escrutínio público do poder e, ao mesmo tempo, ter a liberdade de expressão e de opinião que devem ser estimuladas dentro dos limites da civilidade, da educação, da tolerância e de respeito pelo caráter de cada um.

Naquele canal televisivo os comentadores Ricardo Costa, José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão nos seus comentários tentam fazer passar para os telespetadores uma perceção de distanciamento ideológico, mas, para quem esteja atento aos pormenores, notará que incluem cirurgicamente pequenas "alterações”, provavelmente intencionais, ao significado ou às circunstâncias de um facto que possa sugerir algo em desabono do governo socialista e de António Costa.

Com a proximidade das eleições notam-se mais estas pequenas campanhas detratoras por via de jornalistas e comentadores. São opiniões, dirão. Certo. Mas também nos comentários sobre acontecimentos da política que se relacionem com a justiça e com a economia tiram da cartola algo do passado que introduzem no confuso emaranhado das lógicas em que se embrenham fazendo campanha e oposição partidária ao abrigo de fazer jornalismo. Não admira, têm que estar sintonizados com a “voz dos donos”. É normal.

Os jornalistas também são eleitores e terão as suas simpatias ideológicas e partidárias e alguns não as escondem, pelo que tentam fazer comentários positivos aos políticos do seu círculo ideológico-partidário e negativos para outros candidatos concorrentes colocando-os nos pratos de uma balança. Comentar desfavoravelmente a prestação de um interveniente político num debate que seja da simpatia do comentador pode favorecer o seu preferido em prejuízo do adversário.

Dou um exemplo como hipótese: quem estiver a comentar um debate entre, por exemplo, a líder do BE Catarina Martins e o líder do PSD Rui Rio poderá emitir uma opinião em que a prestação do BE foi mais bem conseguida do que a do PSD evidenciando os argumentos do BE ao fazer críticas ao PS. Assim, ao concordar com a crítica feita pelo BE ao PS potencialmente posso estar a condicionar pela negativa potenciais eleitores do PS que irão para o BE já que é pouco provável que haja eleitores do BE que irão votar PSD mesmo considerando a critica feita ao PS. Mas, pelo contrário, é mais provável que estes mesmos possam votar no PSD.

Como é possível em debates como os que temos visto entrar com pormenores que podem ser tecnicamente relevantes, mas que só contribuem para ruído e compressão da mensagem. Quanto a avaliações, tenham paciência! Catem também as falhas de pormenor nas narrativas de Rui Rio.

A obtenção de mais votos e, consequentemente, de deputados é, em quaisquer eleições, o grande objetivo dos partidos. Para as eleições que se irão realizar em 30 de janeiro há um outro objetivo que se apresenta: o do BE e do PCP é retirar votos ao PS para evitar que este tenha uma maioria absoluta.  Para a direita, no caso do PSD, o objetivo é o de conseguir mais votos alguns retirados ao PS.

Para os liberais de direita e para os extremistas de direita o objetivo é arrecadar mais votos, logo conseguir mais deputados, venham eles donde vierem, para que possam exercer pressão sobre o PSD para negociações pós-eleitorais. Para os partidos à esquerda do PS, chamados de extrema-esquerda, o objetivo é a obtenção de números de votos para pressionarem o PS a uma nova negociação.

Por entre estas competições para a obtenção de votos há também obsessões. A de Rui Rio, de Catarina Martins, marioneta do ideológico trotskista Francisco Louçã, do troca-tintas de André Ventura do Chega é o reconhecimento, mas que não dizem, de que António Costa é um político inteligente e competente que receiam e, por isso, jogam tudo para afastá-lo. É a pessoa de António Costa que é o político, o primeiro-ministro, o secretário-geral do PS e o defensor da democracia e do socialismo liberal constitucional que pretendem afastar.

O BE espera que, com o afastamento de António Costa, possa surgir um novo líder do PS como Pedro Nuno dos Santos que ceda ao BE e ao PCP e constitua uma nova geringonça caso a direita ganhe sem maioria, ou o PS perca as eleições. Só uma maioria absoluta do PS poderá ter a capacidade para afastar essa possibilidade.

O que todos temem por motivos diferentes, mas sobretudo o PCP e o BE, é que o PS liderado por António Costa possa conquistar uma maioria absoluta de deputados nas próximas eleições, que lhes tiraria a possibilidade de limitar e bloquear decisões fundamentais e a continuação de uma governabilidade estável do país para quatro anos.

No campo meramente de competição, para Rui Rio, António Costa é uma obstrução na engrenagem que o poderá elevar até ao poder. Está a ficar mais claro que para Rui Rio chegar ao poder precisa dos votos que possam vir de quem votou anteriormente PS e das franjas da direita que saiam das eleições para poder contar com uma maioria parlamentar, não negando em absoluto a possibilidade de também contar com os deputados do Chega.

No momento em que escrevo uma das últimas sondagens dá uma maioria de esquerda com algumas possíveis nuances. Segundo esta sondagem feita para o jornal Público, RTP e Antena 1 o PS conseguirá obter um mínimo de 104 deputados e um máximo de 113, neste caso a três lugares da maioria absoluta no Parlamento e podendo fazer negociações parlamentares com o PAN e o Livre, como defende Rui Tavares. Mesmo no cenário dos 104 deputados continua a existir uma maioria de esquerda com o BE, CDU, Livre (elege um deputado em qualquer dos cenários) e o PAN. Assim, a direita cresce, mas não ganha. O PSD em caso algum consegue uma maioria de direita para governar – nem no cenário mais otimista, nem mesmo com quatro deputados do PAN. Se assim acontecer Rui Rio vai confrontar-se, mais uma vez, com a oposição dentro do partido.

Mais do que uma maioria do PS é mais de temer uma maioria absoluta do PSD. Rui Rio apesar de se dizer do centro facilmente irá infletir para a direita por pressão da ala mais à direita do partido. Só PS ao conseguir uma maioria confortável nas eleições se pode libertar-se do jugo do PCP e, sobretudo, do BE ao mesmo tempo que poderá também influenciar Rui Rio a manter um rumo diferente. Note-se que para o caso duma revisão constitucional serão necessários dois terços de votos dos deputados.

O que Rui Rio propõe é uma espécie de continuação do modelo social que o governo de Coelho/Portas estabeleceu de 2011 a 2015, mas numa versão mais light.

Pode ser uma versão menos radical, mas, do mesmo modo, pelo que tem vindo a reclamar de modo mais ou menos astucioso é um modelo baseado na redução de impostos às empresas, de salários, do Estado Social, da tendência para a privatização da Saúde, da Educação, Segurança Social, etc., e tudo o mais que a fação mais neoliberal do PSD irá impor a Rui Rio que irá originar o agravamento das condições económicas, financeiras e sociais que se conhecem até que, segundo o próprio, haja crescimento económico. Podemos até concordar com alguns pontos mas o modelo que apresenta pode ser ajustado à realidade portuguesa e de com uma progressão e ritmo adequados seguindo uma outra via.

Tudo isto apesar de, em termos pessoais, apreciar a atitude de Rui Rio como político franco, aberto, por vezes realista, mas outras vezes demagogo e cheio de condicionais “ses”, que capta simpatias, que pretende ser do centro e não de direita, mas lá vai piscando o olho à direita e ao votantes do centro-esquerda verdadeiro partido social-democrata que é o PS em termos de comparação europeia como o Grupo do Partido Popular Europeu a que pertence o PSD e Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Sociais Democratas Parlamento Europeu a que pertence o PS.

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