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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

A direita destrambelhada e as tetas da vaca

30.06.21 | Manuel_AR

Teta da vaca-2.png

As direitas acusam o PS de estar a e a apoderar-se e a ocupar as estruturas do Estado. Mas qual é o objetivo dos partidos senão o da conquista do poder e o controle absoluto das estruturas estatais, utilizando todos os meios que a democracia lhes possibilita, para alimentar clientelas partidária?  É o jogo de sais tu para ir para lá eu. Quando a teta da vaca é só uma todos querem a sua mamada.

A covid-19 veio causar no povo uma inércia no pensamento político restringido a protestos pela falta de liberdade, de sociabilização e de diversão pelos confinamentos e restrições imposta pelo Governo por motivo de preservação de saúde pública que muitos veem como atentados às liberdades individuais e à intervenção coletiva.

Da esquerda à direita, cada um à sua maneira, por motivos diversos, têm clamado, com mais ou menos vigo,r contra o que alguns chamam atentado às liberdades. Pretendem incutir na sociedade a perceção de que a pandemia pode servir como tentativa de limitação das liberdades democráticas, insinuando até, que, à boleia da pandemia, o governo está a querer minar a democracia à semelhança de outros países, como tem perpassado pelas redes sociais o que não é  mais do que um dos disparates que se divulgam através daqueles canais vulgarmente conotados com as direita radicais.

Há um exemplo que ajuda a caraterizar muito bem o ponto de vista de alguns partidos da direita que manifestamente se mostram contra as restrições impostas devido à Covid-19 que são evidência demagógica e demonstrativa do seu desprezo pela saúde pública. Um dos exemplos é veiculado pela IL – Iniciativa Liberal num cartaz colocado em Lisboa na Alameda Afonso Henriques, (esteve lá meses e foi retirado à cerca de uma semana), na altura em que a pandemia se encontrava no seu ponto alto e a expandir-se, onde se podia ler “Libertem a Infância” e “Abram os parques infantis”.

Declarações e casos como este mostram o valor que essa agente dá à saúde colocando a população em perigo em nome de uma “liberdade” egoisticamente individual desdenhando da saúde pública e do cumprimento dos requisitos científicos e legislativos aplicáveis e pertinentemente adequados em caso de emergência pública.

Cartaz Iniciativa Liberal.png

Se a IL estivesse no poder saberíamos com que contar, teríamos a mesma política sanitária que Bolsonaro tem praticado no Brasil.

Na ótica das alianças partidos da direita que se juntem, ou façam aliança com o CHEGA de Ventura e quejandos, mostram a sofreguidão do poder e enquadram-se perfeitamente naquele provérbio popular que diz “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem tu és”.

O PSD e o CDS enquanto não decidirem deixar de fazer oposição com casos e casinhos, sem rumo e sem um projeto coerente e que sejam uma alternativa credível ao governo do PS, não abandonarem soluções que passem por alianças com a extrema-direita não se livram da fama sem obterem disso qualquer proveito.

Acordos e compromissos com a extrema-direita além de serem vulneráveis à crítica têm de mostrar que é vantajoso para ambos para não ser entendido como capitulação pela direita e centro-direita, refiro-me, claro está, à tendência que Rui Rio tem mostrado em relação ao partido CHEGA seja diretamente, seja por aproximação a candidatos que se encontram entre um e outro, coisa bastante estranha. Veja-se o caso da candidata à Câmara da Amadora Suzana Garcia pelo PSD que  aceitou o convite depois de ter andado hesitante entre os convites do CHEGA e de Rui Rio.

As direitas andam destrambelhadas, cindem-se, criam novos partidos e movimentos, militantes de partidos do centro desligam-se e criam partidos de extrema-direita, veja-se o caso de André Ventura, obra de Passos Coelho por ocasião das eleições autárquicas de 2017 em que o CDS-PP deixa cair André Ventura e o PSD lhe mantém o apoio.

As afirmações feitas por André Ventura sobre a comunidade cigana levantaram à data muita polémica que levou o dirigente do CDS, Francisco Mendes da Silva, a não ficar calado disparando na altura uma feroz crítica nas redes sociais: “Não há praticamente nada que André Ventura diga que eu não considere profundamente errado, ligeiro, fruto da ignorância e de um populismo que tanto pode ser gratuito, telegénico ou eleitoralista. Já o vi falar de tudo e mais alguma coisa, em muitos casos de assuntos que conheço técnica e/ou factualmente. Nunca desilude na impreparação e no gosto em ser o porta-estandarte das mais variadas e assustadoras turbas. Se perder, tudo bem: que nem mais um dia o meu partido fique associado a tão lamentável personagem.”, enquanto o PSD de Passos Coelho fazia orelhas moucas. Ventura foi um derrame da fervura do caldo de cultura neoliberal e de direita mais radical criada no PSD de Passos Coelho.

Em maio decorreu uma reunião/convenção de “amigos”, o Movimento Europa e Liberdade (MEL), o mesmo que é dizer convenção das direitas, que conseguiu juntar, pela primeira vez, os quatro líderes partidários do espaço não socialista, PSD, CDS, IL e CHEGA onde tentaram mostrar que há pontes de diálogo entre os vários partidos. Defendendo Rui Rio que "o PSD não é um partido de direita", reiterando o posicionamento "ao centro" que tem defendido e acrescentando que se a convenção do MEL fosse "um congresso das direitas" provavelmente "era barrado à entrada".

Nesse encontro o líder do Chega, André Ventura, foi aplaudido à entrada na sala e sentou-se junto a Passos Coelho, que o aplaudiu no final. O significado deste ato poderá ter vários sentidos. No seu discurso quando subiu ao palco disse que “Rui Rio não tem conseguido fazer o seu papel de oposição à direita e que não há possibilidade nenhuma de governo à direita sem o CHEGA”. Não se percebe que haja pontes com partidos de extrema-direita xenófoba e racista como o CHEGA.

Não é um congresso das direitas democráticas, mas elas lá estavam. Se revirmos os programas escritos, mas não publicitados de alguns dos partidos da MEL como o IL e o CHEGA podemos confirmar a sua posição no leque ideológico. O Iniciativa Liberal defende a liberalização total da economia propondo, por exemplo, no caso da educação e da saúde dois sistemas paralelos: um para os pobres, sem condições, e outro para quem possa pagar a expensas próprias as despesas de saúde ou pagar os prémios de seguro exorbitantes pedidos pelas companhias de seguros que se agravam à medida do envelhecimento dos segurados.

O programa do IL é demagógico, ambíguo e inexequível. Quando fosse aplicado, se o fosse, os que nele votaram já estariam todos mortos. Seriam votos em vão, tal a impossibilidade a curto prazo no nosso país. O programa da IL é apenas um programa de manobra de distração e para apresentar quando do pedido de legalização do partido.

Para o mundo do trabalho na visão da IL há dois patamares de indivíduos: aqueles a que chamam empreendedores e os outros, os que ficariam submetidos às regras da oferta e procura como qualquer mercadoria. Para a IL Portugal seria um país dividido entre os ricos e os pobres. Os primeiros, os que criavam riqueza os segundo os que lhe proporcionariam a riqueza entre os quais muitos ficariam para trás.

Para a IL acabar-se-ia com o imposto progressivo e o que cada um pagaria seria os mesmos em termos percentuais fossem ricos ou pobres.

No capítulo do emprego do dito programa a contradição e a ambiguidade são patentes, basta ler o ponto introdutório:

“No mercado de trabalho, insiste-se num combate à “precariedade” muitas vezes em detrimento da criação de emprego, e consequente aumento da liberdade de escolha de ocupação. Quantos de nós, presos a um sistema criado para toda a vida – quer do lado do emprego, quer do lado das obrigações – não temos capacidade para ser livres e arriscar fazer mais, construir algo diferente. O que nos retira a mobilidade social, e a esperança de construir um futuro melhor.”.

“Estamos, num certo sentido, agrilhoados para a vida a um emprego e a pagar as contas com que o Estado está a contar.”

Pergunta-se desde quando é que alguém, no sistema liberal atual, fica agrilhoado a um emprego para toda a vida? Podemos concluir que o verdadeiro significado é a liberalização total dos contratos de trabalhos com articulações que possibilitem aos “empreendedores” quaisquer despedimentos incondicionais, ou seja a liberalização total do mercado de trabalho.

Mas há mais no local das promessas a que dão o título de “queremos” sem se perceber como serão concretizadas:

            Queremos:

“Aumentar a liberdade contratual, mantendo standards de salários… Defender um seguro mínimo universal de desemprego em substituição do atual sistema de SS – Segurança Social; baixar os encargos sociais para emprego de longa duração, tornando-o competitivo.”. Seguro mínimo universal a ser pago por quem? Pelo trabalhador, claro está!

Não se percebe o que se entende por “standards” de salários nem outros pontos do programa da IL. Seria exaustivo estar aqui a enumerar e a comentar o dito programa. Para saber mais basta consultá-lo com espírito crítico para se perceberem as armadilhas da aplicação.

As direitas acusam o PS de estar a querer dominar e a apoderar-se das estruturas do Estado, mas qual é o objetivo dos partidos, senão a conquista do poder e o controle das estruturas estatais e o controle absoluto utilizando todos os meios que a democracia lhes possibilita. É o jogo do, sais tu para ir para lá eu. Quando a teta da vaca é só uma todos querem a sua mamada.

Nota Final: A imagem reproduzida no início, podendo ter uma conotação anti partidos e antidemocrática, não foi esse o sentido que o autor lhe pretendeu dar.

O candidato das pessoas e o candidato das bicicletas

28.06.21 | Manuel_AR

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Todos conhecemos a casa que ganhou fama e tornou-se um ponto de encontro, por excelência, em Lisboa, ali ao pé do Rossio frequentada por indivíduos de todas as classes sociais e faixas etárias que se reúnem na Ginjinha Sem Rival para um copito e dois dedos de conversa. Pode parecer paradoxal, mas é, na verdade, um reflexo de quem não precisa de 'provar' que a sua ginja é mesmo boa.

O candidato para Lisboa das pessoas, para as pessoas e dos “Novos Tempos” escolhido por Rui Rio parece querer ser uma espécie de “Ginja Sem Rival”. Não duvido da competência de Carlos Moedas, isto porque tenho acompanhado a sua carreira através dos órgãos de comunicação e, sobretudo enquanto esteve na Europa desde 1 de novembro de 2014, data em que tomou posse na Comissão Juncker como Comissário da União Europeia para a Investigação, Ciência e Inovação.

Mas há um senão no meu reconhecimento das suas competências que depende também do ponto de vista de cada um. O meu, por exemplo, refere-se ao tempo em que fez parte do Governo de Passos Coelho (PSD/CDS) como Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, conferiu-lhe algo de negativo ao integrar a equipa governativa PSD/CDS como representante do partido nos encontros com a delegação da UE-FMI-BCE (troika) no âmbito da negociação do programa de ajustamento económico e financeiro, tendo ajudado a negociar o Orçamento do Estado de 2011.

Moedas surge como uma tábua de salvação para o PSD e para Rui Rio na tentativa de evitarem ou equilibrarem dum tropeção que anteveem nas próximas legislativas. Todos os comentadores políticos afirmam que as próximas eleições autárquicas serão um teste a todos os partidos, mas, mais necessário ao PSD para tentar minimizar as quedas e reanimar as hostes dando-lhes algum ânimo para as eleições legislativas.

O candidato escolhido pelo PSD foi Carlos Moedas, como se costuma dizer, do mal o menos, porque a escolha poderia ser delirantemente perigosa se caísse na candidata do PSD para a Amadora, Suzana Garcia, que aceitou depois de ter andado hesitante entre os convites do CHEGA e de Rui Rio. Suzana Garcia é uma senhora que ficou conhecida por comentar na TVI, onde colecionou um léxico brilhante utilizado num discurso racista e xenófobo como o de chamar “gentalha” aos cabo-verdianos, por exemplo. Poderão dizer que foi retirado do contexto, mas que foi dito lá isso foi. É uma senhora que foi educada assim em colégios de freiras na África do Sul durante o apartheid, segundo ela própria disse numa entrevista a um podcast.

Quanto mais próximo da extrema-direita estiver o PSD tanto melhor, até ao momento em que os eleitores do PSD pensem: ora, é indiferente, desta vez voto CHEGA.

Se Moedas estará à altura só o saberemos mais próximo das eleições. Por enquanto a sua campanha está centrada sobre promessas não cumpridas de Fernando Medina mostrada de forma caricatural, no entanto resta-nos saber se virá a ser bem-sucedida com reflexos em potencias de votos.

Pelo menos Carlos Moedas não poupa críticas. Segundo ele a câmara de Medina não tem visão, nem execução e não tem “a participação das pessoas que nunca teve”, defendeu no início do mês o cabeça de lista da coligação de direita que junta PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança à Câmara de Lisboa. Moedas aposta nas pessoas e em assembleias de cidadãos. “Quero criar uma assembleia de cidadãos para Lisboa, uma assembleia que seja diferente, que não vai substituir o que temos, mas que vai complementar, com pessoas diferentes” prometeu ele.

Numa pergunta de retórica continua ainda Moedas, “Alguém ouviu as pessoas que todas as manhãs se levantam na Almirante Reis e que vêm à rua completamente bloqueada com uma ciclovia que cria poluição? As ciclovias não são para a poluição, são para retirar a poluição, são para descarbonizar a cidade”.

Analisemos com raciocínio liberto de partidarismo o equívoco das assembleias de cidadãos propostas por Moedas. As assembleias de cidadãos, propostas pelo candidato do PSD, parecem ser numa adaptação pela direita das assembleias populares onde se juntam comissões de moradores, comissões de trabalhadores e outras estruturas de base que tomarão a seu cargo iniciativas locais, com fiscalização tendente a uma progressiva tomada de poder pelos organismos populares como no tempo da “Aliança Povo – MFA (Movimento das Forças Armadas) agora ao modo da direita. Ou será apenas mais um grupo de diversão sem efeitos práticos nas decisões?

Mas Moedas vai ainda mais longe quando promete que "Não podemos voltar a ser surpreendidos. A cidade de Lisboa precisa de ter ao dispor dos lisboetas um plano de contingência sobre futuras pandemias que dê alguma previsibilidade, segurança e confiança social e económica" e, para isso apresenta Pedro Simas, aquele que “representa o que de melhor há na ciência aliado à proximidade com as pessoas". "É este vínculo entre os especialistas e a sociedade civil que nos permitirá dar resposta aos anseios das pessoas", acrescenta o candidato do PSD à Câmara de Lisboa.  E, para corroborar, o virologista Pedro Simas adianta que vai reunir "um conjunto de especialistas na área da saúde pública" para apresentar "em breve um plano de contingência que traga a previsibilidade necessária para quem vive, trabalha ou visita Lisboa". Será uma façanha já que parece ser algo que ninguém ainda conseguiu em alguma parte da Europa e do Mundo, nem a OMS, antecipar uma epidemia e preparar um plano de contingência sem que a mesma se tenha evidenciado e sem que haja medidas para a sua propagação.

Lisboa-Eleições Medina (3).png

Quanto a Medina o caso é mais obras. Mostrar as obras que fez para “encher o olho” que, afinal, é o que interessa, é o que o povo vê, mesmo que elas lhe venham a servir de pouco ou nada. Mudar a cidade com coloridas ciclovias pintadas a verde confere um “look” ecológico, dá nas vistas e também é mudar a cidade.

Nem os idosos foram esquecidos (à parte as bicicletas, as trotinetas e té skates andarem nos passeios que os colocam em risco) no que à calçada portuguesa se refere foi substituída por placas que lhes evitam os tropeções e as quedas. Mas quantos aos embates das bicicletas e das trotinetas que se lhes apresentam pela retaguarda, isso, depois, logo se vê. Assim como a atenção redobrada do peão ao atravessar as vias destinadas aos automóveis e agora também às bicicletas e às trotinetas, para já não falar dos skates.

Atenção peões se não tiverem atenção e se não apanharem numa passagem de peões com um automóvel vão ser cilindrados por uma bicicleta ou uma trotineta a alta velocidade que os pode conduzir ao hospital ou lugar ainda pior. Ou ainda, pode ser cilindrado por uma bicicleta nos passeios, (mesmo havendo ciclovias), que se aproximam silenciosamente que nem dá tempo para se afastar. Enfim, os passeios deixaram de ser espaço para circulação de peões e passaram a ter que ser compartilhados com bicicletas, trotinetas e outros que tais. A Lisboa de Medina, ao contrário da de Moedas, deixou de ser para as pessoas e passou a ser para as bicicletas trotinetas e quem não saiba, ou não possa, andar de bicicletas o melhor é não sair de casa mesmo que seja para passear porque elas andam para aí à solta e em roda livre.

Assim, talvez Moedas tenha razão ao falar tantas vezes nas pessoas.

Medina coloriu Lisboa e encolheu faixas de rodagem provocando engarrafamentos de ponta em toda a hora mesmo de não ponta. Pois andem de bicicleta, pode propõe o autarca com a ajuda de outdoors colocados por todo o lado. “Sempre que possam vão de bicicleta”, inclusivamente para levar os filhos à escola.

Por sua vez Moedas em grandes cartazes assobia uma frase pomposa “Lisboa pode ser muito mais do que imagina”. Cada um de nós imagina Lisboa à sua maneira. Como é que Carlos Moedas a imagina, como cada um de nós a imagina não sabemos, só ele saberá!

Se Fernando Medina, no que se refere ao aspeto ambiental e paisagístico da cidade, fez melhorias temos que lhe dar conceder esse valor.

A estupidez que os pariu

23.06.21 | Manuel_AR

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Quem não tem cão caça com gato. Embora o cão seja o ajudante do caçador, quem não o tem, porque um cão de caça é caro e custa a manter, recorre ao gato para o mesmo efeito. A caça é que não vai deixar de se fazer. Transferindo este ditado popular para a política os caçadores são os partidos, como o PSD, por exemplo, conduzido por Rui Rio e os outros à sua direita como as iniciativas e partidos extremistas que surgiram das últimas eleições. Estão neste role a Iniciativa Liberal e o Chega. Porque não têm ideias, nem um projeto, nem uma visão para o país nem para a cidade de Lisboa enredam-se em questões menores e casuais para fazer oposição. Sem alternativas e projetos credíveis dedicam-se à calhandrice política pegando em casos que em nada contribuem para a melhoria do país e das pessoas. É a caça ao poder para substituir umas clientelas por outras. O que muda é o partido.

A tábua de salvação de Rui Rio e do PSD para subir na sua credibilidade é o ato eleitoral para as autarquias que se aproxima a passos largos. Ou o PSD alcança bons resultados, especialmente em Lisboa, nem que, se não obtiver maioria, tenha de fazer umas alianças com as direitas CDS+PPM+MPT+ALIANÇA, mesmo chegando-se às mais radicais como o CHEGA. Uma miscelânea de direita, muito pior que a geringonça.

Rui Rio e o PSD necessitam de mostrar serviço nem que seja através de fazer oposição do vale tudo, ainda que Rio tenha que retirar do seu léxico a frase “a bem do país”, isto é, como já em tempo afirmou "eu opto pelo interesse nacional e não pelo interesse tático do partido". Segundo Rui Rio, as próximas eleições autárquicas são "absolutamente decisivas", porque "o que determina em primeira linha a força de um partido na sociedade não é número de deputados, é o número de autarcas".

Nesta sequência avança com Carlos Moedas para a autarquia de Lisboa. O chavão “Novos Tempos” na candidatura de Carlos Moedas faz todo o sentido porque nos recorda, não apenas os velhos tempos em que foi ministro de Passos Coelho, mas também a pretensão de iludir os eleitores com o jargão ”novos tempos” para os conduzir ao pensamento dos “velhos tempos”.

Carlos Moedas integrou o XIX Governo Constitucional e fez parte do Executivo durante a maior parte do seu período de vigência. Foi considerado o braço-direito do primeiro-ministro Passos Coelho, facto que o colocou em destaque nas relações entre o governo português e os responsáveis da troika que acompanhavam os progressos do programa de assistência financeira do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia em Portugal.

 Recordemos que Sampaio da Nóvoa, nas eleições presidenciais de 2016, disse que queria vencer as eleições em nome de um “tempo novo” que teria começado no país. Carlos Moedas transformou aquele slogan em “novos tempos” numa espécie de anástrofe ou inversão.  

Carlos Moedas na apresentação da sua candidatura disse que a sua maneira de fazer política seria diferente, mas, rapidamente passou por uma metamorfose transformando-se numa espécie de André Ventura com um populismo em versão light.  

Se eu quiser votar em Moedas, desconheço qual o seu projeto objetivo para a cidade de Lisboa. A sua oposição a Medina baseia-se em aproveitamentos de oportunidades que lhe vão caindo nos braços baseadas em tricas que nada têm a ver com o projeto lisboeta nem com o que critica ficando-se sem saber o que está mal, o que faria melhor, ou o que alteraria na cidade de Lisboa. Anda ao sabor da corrente e das marés que, ora sobem, ora descem. Anda a surfar nas ondas do oceano escuro das suas propostas e alternativa equilibrando-se com críticas descabidas e desproporcionadas dirigidas para olhos menos atentos que apreciam este tipo de discurso.

Considero Carlos Moedas uma pessoas inteligente, mas, a inteligência não é incompatível com incompetência e com impreparação para certas áreas e para determinadas funções. A experiência tem o seu peso em áreas muito específicas. É por isso que muitos autarcas falham por serem apenas nomeações políticas. Carlos Moedas é o caso. Não enxerga o que é ser presidente de uma câmara como a de Lisboa.

Faltar-lhe-á a força política suficiente para se libertar do figurino do passado que o prende às medidas para além da troika de Passos Coelho pensando que é possível redesenhá-lo numa autarquia como Lisboa, com roupas mais atuais, daí os “tempos novos” o equivalente aos amanhãs que brilham e às auroras resplandecentes. Tudo quanto possa fazer em Lisboa terá o peso do neoliberalismo “passadista” de Passos que pretende aplicar à gestão da cidade, daí a sua miopia política que não o deixará enxergar mais longe com os seus raciocínios eleitoralistas de vistas curtas, à medida dos acontecimentos ocasionais que lhe vão parar ás mãos não raras vezes por proporcionadas pelos próprios adversários políticos.

Ao fazer oposição o seu pensamento é quadrado, tudo é preto ou branco, sem matizes. Daí a conferência de imprensa sobre o caso da informação às embaixadas pela Câmara de Lisboa onde faz associações que qualquer um considera serem estupidez de principiante. Tem-se mostrado um candidato obtuso e com argumentos descabidos dos propósitos que não acrescentaram valor a uma candidatura para uma autarquia como a de Lisboa. Mostrou existir uma relação entre uma tolice, isto é, um fraco nível intelectual e a maldade entendidos como o desprezo de outrem.

Carlos Moedas passou a entrar em delírio quando, sobre o caso das informações sobre os promotores das manifestações que foram comunicadas pela Câmara de Lisboa às embaixadas ao acusar Fernando Medina de ser “cúmplice” do Presidente russo Vladimir Putin. É um tipo de ataque que se insere nas margens cinzentas da política método que também está a ser acolhida em opiniões com máscara de respeitáveis, estilo que Moedas passou a perfilhar. Deixou de ser o Carlos Moedas de opiniões por vezes aceites por serem consensuais e com prestígio intelectual. Passou a entrar no jogo eleitoral da pobreza populista que é seguida pela extrema-direita.

Como é possível sem se ser doente, demente, senil, “maluquinho”, lunático, sem se ter as faculdades mentais diminuídas, se não se for próximo da direita radical, acusar alguém na sua essência democrática como tendo relações políticas perversas com Putin. Os que, assim, sem mais, fazem acusações deste tipo são os que, em suma, se colocam ao lado dos que defendem a essência corrupta da democracia e contra o absoluto do sistema corrupto.

A campanha para as eleições autárquicas ainda vai no início, mas o candidato Carlos Moedas já entrou em delírio.

Artigo de José Pacheco Pereira: O argumento soviético da loucura

22.06.21 | Manuel_AR

Insiro aqui uma opinião de Pacheco Pereira publicada no jornal Público e que me pareceu interessante e com atualidade. 

OPINIÃO

O argumento soviético da loucura

(Pacheco Pereira, in  jornal Público, 19/06/2021)

Revista de imprensa: destaques do PÚBLICO | Jornais do dia | PÚBLICO

A dissidência era considerada uma doença mental no período de Brejnev e este argumento soviético é hoje muito usado no mundo do ataque pessoal da direita radical.

Os mecanismos do radicalismo hoje em curso à direita do espectro político são bem visíveis em textos de articulistas, nas páginas das redes sociais e nesse espelho das cabeças que são os comentários em caixas de comentários sem moderação ou pouco moderadas, seja no Observador, no Sol, e mesmo no PÚBLICO. Aliás, a prática de uma mesma publicação ser moderada no corpo principal e permitir tudo nas páginas do seu Facebook favorece a degradação da opinião, com o falso argumento da sua democratização.

Embora seja fácil perceber que uma multiplicidade de nomes falsos e pseudónimos pertencem à mesma pessoa, para se criar a ilusão da quantidade, não é irrelevante conhecer esta forma ficcional de vox populi, intencional e pretendendo obter objectivos políticos. Do mesmo modo, é possível perceber outros mecanismos deliberados, como seja enviar opiniões pejorativas ou no início ou numa fase já avançada dos comentários, de modo a que estes sejam ou os primeiros ou os últimos e, de algum modo, condicionarem a leitura do conjunto. Há gente que faz isto como quem respira, verdadeiros militantes das caixas de comentários, e há profissionais de agências de comunicação ou grupos organizados nos partidos políticos, semelhantes aos que existem nos programas de rádio, os fóruns em directo de opiniões, a actuarem escondidos.

Muitos dos mecanismos deste tipo não são exclusivos da direita radical, existem também à esquerda, mas a maré tribal que está a subir é a da direita radical, associada ao populismo antidemocrático, exacerbado pelo sentimento de impotência face à situação política actual e às sondagens. Os temas e o modo de os apresentar e discutir são tão semelhantes entre si, do Observador ao Diabo, que representam um elenco que pode ser identificado e discutido.


Foto

Samizdat, uma publicação dos loucos dissidentes DR

Noutros artigos voltarei a esta questão, com os retratos do “argumentário”, quase todo associado a ataques pessoais, que desde o início do século XX foi identificado e estudado como um modus operandi do jornalismo de ataque populista radical. Hoje fico-me por aquilo que é o uso do argumento soviético do período de Brejnev para usar a interpretação psicológica, psicanalítica e psiquiátrica para explicar a dissidência. A dissidência era considerada uma doença mental, e vários opositores ao regime soviético como Vladimir Bukovski, Leonid Pliushch e Grigorenko foram perseguidos como doentes. A ideia apresentada de forma simplista era esta: como é possível, sem padecer de uma qualquer doença mental, pôr em causa um regime perfeito de sociabilidade política como o socialismo soviético, fonte de felicidade e bem-estar? Como era possível, sem diminuição das faculdades mentais, estar “contra o povo”?

Este argumento soviético é hoje muito usado no mundo do ataque pessoal da direita radical. Pode parecer estranho pela aparente oposição política, mas não é: há uma similitude na vontade de destruir o outro e os mecanismos para o fazer são idênticos. Este tipo de ataques muito comuns nas margens cinzentas da política está cada vez mais a emigrar para as zonas “respeitáveis” da opinião. Como é possível sem se ser doente, demente, senil, “maluquinho”, lunático, sem se ter as faculdades mentais diminuídas, pôr em causa o discurso da direita radical sobre o “ditador” Costa, sobre o “socialismo autoritário” que nos rege, como não é possível ver a essência corrupta da democracia, descrita como o “sistema”, como é possível não se aceitarem as teses “científicas” sobre a realidade, como, em suma, se pode discordar sobre o mundo do Mal que nos governa sem se ser ou servil ou doente ou as duas coisas?

Não se trata de debater ou discutir, mas de considerar que o outro não pode nunca ser ouvido ou ser um interlocutor, porque está diminuído nas suas faculdades mentais, como se vê pelas suas posições...
Os termos que usei e que repito – demente, senil, “maluquinho”, lunático, sem as faculdades todas – foram todos usados por cá nos dias de hoje, e são uma espécie de upgrade da redução das posições políticas a traços e comportamentos psicológicos, seja a inveja, seja o ressentimento, os dois mais comuns, que são centrais nos ataques pessoais. É um estilo cada vez mais vulgar, que acompanha a crescente incapacidade de aceitar posições numa conversação democrática, ou sequer admitir que ela possa existir porque isso é aceitar o “sistema”. O melhor exemplo são os republicanos pró-Trump, e os seus imitadores nacionais.

Se retirarmos o psicologismo, e a sua forma superior no argumento da dissidência ou da discordância como doença mental, não sobra quase nada. Espreme-se e sai vazio, o que significa que não se trata de debater ou discutir, mas de considerar que o outro não pode nunca ser ouvido ou ser um interlocutor, porque está diminuído nas suas faculdades mentais, como se vê pelas suas posições...

 

O alcance da lógica de o Reino Unido retirar Portugal da lista “verde”

04.06.21 | Manuel_AR

In Editorial do Jornal Público 03/06/2021

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Quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros aponta para uma medida “cuja lógica não se alcança”, não parece considerar a “lógica” das multidões desregradas que, no Porto, fizeram tábua rasa da situação de calamidade

Não serão essas imagens de baderna e irresponsabilidade as principais causas da decisão, certo. O Reino Unido prepara-se para o desconfinamento geral no dia 21, vive numa situação de incerteza no controlo da pandemia e não quer correr riscos. Em segundo lugar, depois de se pôr fora da União Europeia, o país deixou de se sentir com especiais deveres de solidariedade com os seus Estados-membros. Finalmente, sendo emissor de turistas e não receptor, o Reino Unido fica com uma tarefa fácil para restringir a lista “verde” dos destinos para onde os seus nacionais podem viajar.

Sobra, no entanto, a questão da “lógica”, o tal cerne da questão que o MNE não consegue alcançar. Aí há uma mistura de factos com invenções, que tanto podem servir para justificar a transferência de Portugal da lista verde para a âmbar como para a tornar hipócrita e delirante. Ninguém sabe onde Londres foi buscar a variante nepalesa que supostamente grassa em Portugal, e aí entramos no domínio da hipocrisia. Mas o mesmo não acontece com os outros argumentos: Portugal está hoje numa situação pior do que há três semanas – como refere o comunicado britânico, a taxa de positividade de Portugal “quase duplicou desde a última revisão”. E a imagem de controlo e segurança do país também se degradou por culpa própria.

É aqui que vale a pena questionar a declaração do MNE sobre as supostas “regras claras para a segurança dos que aqui residem ou nos visitam”. Um país que se abre a finais de futebol e acolhe sem controlar uma horda de adeptos nem exibe “regras claras” nem inspira confiança. Se o aumento de casos é um preço a pagar para salvar a economia, a decisão de acolher a final do futebol, enquanto a França ou a Alemanha impunham quarentenas aos britânicos, não só não ajudou essa estratégia como a pode comprometer. Essa exibição de negligência e descontrolo há-de ter pesado na decisão de Londres. 

Turismo sobrevivência e subserviência face aos Reino Unido

02.06.21 | Manuel_AR

Ingleses nos champions Porto (2).png

 

A subserviência perante o que é estrangeiro, sobretudo a Inglaterra, parece ser o nosso fado desde séculos. Alianças, tratados, acordos e outros que tais raramente no favoreceram dando-nos em troca migalhas quais pedintes europeus.

Quando há algo que nos desagrada que provenha da Inglaterra lá estamos nós a curtir as mágoas que nos causam as decisões vindas da grande ilha europeia. Ainda em janeiro deste ano, no auge da segunda vaga da pandemia, o Reino Unido   proibiu a entrada de pessoas e bens não essenciais oriundos de um conjunto de países do hemisfério Sul devido à nova estirpe de coronovírus detetada no Brasil. Portugal surge incluído neste grupo devido à "forte ligação" com o Brasil, o que levou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, a considerar "absurda" e "sem lógica" a decisão do Reino Unido suspender os voos com Portugal, medida "súbita e inesperada" cujos fundamentos disse desconhecer.

Nesta declaração está claro a questão do turismo que ansiosamente o nosso Governo espera como pão para a boca. A nossa dependência do turismo inglês é crónica. Anos e anos a nossa economia vive na dependência do turismo. Anos e anos em que os governos, de direita e de centro-esquerda que se alternaram no poder não reformaram a economia para diversificar a nossa dependência externa, nomeadamente de Inglaterra e no século XXI chamada Reino Unido.

Há séculos, pelo menos desde o início do século XVIII que os tratados com a Inglaterra nos são desfavoráveis mesmo em circunstância favoráveis Portugal e a Inglaterra eram aliados na guerra da Sucessão de Espanha; mesmo quando o comércio entre ambos atingira um nível mais elevado a Inglaterra olhava para Portugal como um útil comprador para os seus têxteis. Portugal fica a olhar porque a sua política industrial na época foi um fracasso, “pisca o olho” à nossa aliada e vê nos mercados ingleses de vinho a forma de desenvolveras exportações e surge o tratado de Methuen. E, pasme-se, como este tratado veio com vantagens para a nossa aliada mais antiga. O conjunto de medidas acordadas entre ingleses e portugueses limitava gravemente a economia já que vista que não podiam diversificar a sua agricultura e estabelecer acordos comerciais com outras nações, ao passo que o consumo em grande escala do tecido inglês tornava Portugal uma das nações mais endividadas da época. Para minorar as dívidas acumuladas e a falta de dinamismo económico, Portugal aumentou a cobrança sobre o ouro extraído no Brasil. Posteriormente constatou-se que os ingleses compravam menos vinhos do que os portugueses adquiriam os tecidos britânicos. Além disso, Portugal devia dinheiro aos ingleses e tornou-se cada vez mais dependente da Inglaterra.

Pode perguntar-se o que tem isto a ver com o turismo? A nossa dependência do Reino Unido com efeitos no turismo sem contrapartidas. as receitas de turismo do Reino Unido em Portugal até outubro de 2019, antes da pandemia, de acordo com dados do Banco de Portugal, subiram 7,8% para 2.931 milhões de euros. O turismo é razão da nossa subserviência face aos Reino Unido e também da nossa sobrevivência.

No editorial do jornal Público de 30 de maio Manuel Carvalho escrevia com mostras de indignação e sobre a falta de respeito mostrado para com os portugueses pelos órgão de poder intervenientes: “Os britânicos voltaram a gozar de privilégios no Porto que se julgavam extintos há séculos. Como outrora, tiveram por estes dias direito a leis exclusivas e a estatutos de excepção. Puderam fazer o que os indígenas não podem, como reunir-se aos magotes com cerveja na mão, assistir a um jogo de futebol ao vivo, deambular em hordas pela rua e, aqui e a ali, dar largas ao mau feitio estimulado pelo álcool. Tinham prometido que nada disto aconteceria, que eles viriam e iriam numa bolha de segurança, que teriam os movimentos condicionados por “fanzones”, que haveria a garantia de que todos tinham feito testes e seriam acompanhados. Era mentira.”.

E mais adiante acrescenta: “Os jovens que jogaram a final do campeonato de râguebi acreditaram que a recusa da DGS da presença de 500 espectadores se baseava na aplicação de um critério universal, como manda o Estado de direito. Os jovens que noite sim, noite não são convidados pela polícia a desamparar os miradouros, também. Os donos dos restaurantes que correm com os clientes que se atrasam na sobremesa à hora do fecho, também. Os adeptos do futebol que sonharam com uma última jornada com duas ou três mil pessoas nos estádios, também. Quem se sujeita ao cumprimento da lei não pode aceitar que o Estado o trate como um pária no seu próprio país.”

E termina: “Mas há um equilíbrio obrigatório entre os eventuais ganhos de imagem lá fora e o insulto à dignidade dos portugueses cá dentro. Um país decente não ajusta nem suspende as regras em vigor. Nem para os adeptos do Sporting, como aconteceu no final do campeonato nacional, nem para estrangeiros.”

Parece termos voltado aos idos anos 80 quando íamos para o Algarve fugindo do calor abrasador de agosto em Lisboa para nos refrescarmos nas águas tépidas da costa algarvia.  Lá tínhamos que pagar a carestia dos cafés e dos restaurantes, baratíssimos para os ingleses veraneantes que tomavam conta do Algarve e que pensavam ser deles, e nós, na nossa terra éramos, uns pobretanas mal recebidos naqueles espaços. Nada tenho contra os ingleses nem tão pouco sentimentos xenófobos, mas a discriminação é irritante.

João Miguel Tavares num artigo de opinião caracterizou melhor do que eu o sentimento da altura “Tristemente, ocupávamos mesas sem conseguir consumir com um entusiasmo comparável ao dos britânicos – e sem deixar comparáveis gratificações. Havia histórias míticas sobre jantares bem regados que acabavam com gorjetas que valiam um mês de salário. Nenhum português pós-FMI podia competir com isso. Triste consequência: éramos maltratados pelos nossos próprios compatriotas, que nos atendiam em último, nos serviam em último, e nos traziam a conta em primeiro.”.