Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

Pescadores de votos

31.03.21 | Manuel_AR

Pescadores de votos.png

Sempre que eleições se aproximam a competição entre partidos pela obtenção de votos torna-se mais competitiva, por vezes caricata especialmente nos partidos de direita, alterando estratégias de acordo com os seus interesses e consoante as circunstâncias para a captação de potenciais eleitores.

O alvo do ataque operacional é o partido do Governo que resultam, felizmente nem sempre, nas chamadas coligações negativas ou anti natura ideológica verificadas entre partidos que nada têm em comum nos princípios que defendem e que, em circunstâncias de acalmia política ou de maioria parlamentar, seriam irrelevantes.

O mais caricato é vermos partidos que se afirmam serem liberais de direita ou de extrema-direita que, acusam os Governos do Partido Socialista de serem despesistas e de colocarem em causa as contas públicas, (défice e despesa excessivas), juntarem-se a partidos adeptos da despesa sem fim e defensores do “ser tudo mais público do que privado”.

Estranha-se que Rui Rio que lidera a direita PSD, não obstante enfatizar, como mais do que uma vez afirmou, que sempre colocará o “interesse nacional acima do partidário” (maio de 2020), estar ao lado dos radicais de esquerda, formando uma espécie de geringonça ocasional. As suas palavras tornam-se demagógicas que passam para além da incoerência.

A questão prende-se com a promulgação contra a vontade do Governo de três diplomas impostos pela Assembleia da República votada a favor por todos os partidos, com exceção do PS, que aumentam os apoios sociais aos pais em teletrabalho com filhos em casa, aos trabalhadores independentes e aos profissionais de saúde. Estas leis ao serem promulgadas violariam a norma-travão da Constituição que impede que o Parlamento aumente a despesa pública ou reduzir receitas pode não proibir afinal coisa nenhuma.

Todavia, quando há pessoas que precisam de ser apoiadas não há dúvidas de que o Governo socialista tem mostrado a tentação de fechar os cordões á bolsa cofres e gastar com a pandemia o menos possível, tal como a direita o faria mesmo em tempo normal. Mas há uma norma constitucional que foi atropelada. Será que é em nome dos interesses nacionais como em tempo defendeu Rui Rio?  A questão de saber se os interesses nacionais estarão alguma vez acima dos partidários e da pesca ao voto coloca-se agora de facto.

Há eleições autárquicas em setembro deste ano e apesar das legislativas ainda estarem longe, setembro/outubro de 2023, todos os partidos estão a apostar nas primeiras para uma espécie de “pole position”, com melhor e mais vantajosa posição para as segundas.

No caso do PSD as eleições autárquicas serão o grande teste para Rui Rio e daí a sua conveniência em que o partido se posicione à esquerda identicamente o CDS para sair do pântano eleitoral onde o Chega o colocou. Isto é, a estratégia passa pelo alinhar com as reivindicações sociais de âmbito social do BE e do PCP.

A direita e a esquerda juntam-se na pesca ao voto, recordam-me o poema Barca Bela de Almeida Garret:

Pescador da barca bela,

Onde vais pescar com ela.

Que é tão bela,

Oh pescador?

 

Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Oh pescador!

 

Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela...

Mas cautela,

Oh pescador!

 

Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela,

Só de vê-la,

Oh pescador.

 

Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela

Foge dela

Oh pescador!

Inimigos da verdade ou os mestres do embuste

27.03.21 | Manuel_AR

Inimigos da verdade (1).png

Covid, vacinas, estão diariamente na comunicação social. Outras notícias para além das relacionadas com a covid parecem ser acessórias para os cidadãos que estão confinados, centrados nas suas preocupações que a pandemia trouxe às suas vidas e que ainda lhes vai trazer no futuro.

Movimentos pela verdade, negacionistas, ocupam as redes sociais em catadupa. Uma notícia que assomou nos últimos dias na comunicação social e nas redes foi a do juiz Rui Pedro Fonseca e Castro. Este juiz esteve também entre os organizadores do protesto negacionista do fim-de-semana do dia 20/03 e que foi suspenso do Conselho Superior da Magistratura (CSM) por “contestar o estado de emergência e de incentivar publicamente ao incumprimento das regras anticovid-19”e por ter “suspendido um julgamento de um caso urgente de violência doméstica porque o procurador e o funcionário judicial recusaram tirar as máscaras na sala de audiência”.

O CSM considerou que a conduta imputada ao juiz “é suficientemente indiciada, mostra-se prejudicial e incompatível com o prestígio e a dignidade da função judicial”, instaurando-lhe, por isso, um processo disciplinar.

Também em fevereiro de 2021 a anestesiologista Maria Margarida de Oliveira, cofundadora do movimento médicos pela verdade que que em entrevistas e nas redes sociais se manifestou contra o uso de máscaras e chegou a receitar estratégias para enganar os testes à covid-19 e dicas para manipular os resultados dos testes PCR, foram consideradas um risco para a saúde pública e, que por isso, foi suspensa por seis meses pela Ordem dos Médicos.

A negação do conhecimento e desenvolvimento científico em todas as áreas que possam ter implicações na sociedade tem como missão o embrutecimento lento, mas progressivo por meio da negação da ciência de modo a tornar-se uma mais-valia para os que pretendem a implementação de autoritarismos mais ou menos violentos, ou seja, políticas e práticas fascistas. O deficiente sistema educativo ou a sua falta em algumas áreas conduz à ignorância. É uma das estratégias dos fascistas que têm como objetivos negar realidades e a levar as pessoas a acreditarem em teorias estapafúrdias.

As narrativas negacionistas e os movimentos pela verdade (ou pela mentira, digo eu), é mais uma questão semântica, usam novas formas circulação da informação para influenciar a formação de crenças em alguns setores das populações. Apresentam-se contra o sistema e apoiam-se muitas vezes nos valores mais conservadores da sociedade e, segundo alguns especialistas, estão diretamente relacionadas ao crescimento da extrema-direita em vários países.

Esta tese também é defendida por Pacheco Pereira no jornal Público de hoje quando escreve sobre a “verdade” “nome absurdo mas revelador da pretensão destes movimentos de que são detentores de algum conhecimento especial que está a ser escondido pelo poder político e pelos cientistas, que estão a usar a pandemia como pretexto para terem mais poder e para limitar as liberdades. Estão a tentar criar uma “ditadura” em nome de interesses ocultos para o vulgo, mas bem conhecidos dos “verdadeiros”, seja a conspiração judeo-maçónica, o grupo de Bilderberg, os demónios vivos de George Soros e de Bill Gates, os que estão a encher os ares de sinais 5G, ou alienígenas maléficos. Como diz um cartaz empunhado por um senhor “verdadeiro”: “Os mafiosos da farsa covid grupo Bilderberg com a loucura da nova ordem mundial seguidos pelos lacaios políticos mundiais da maçonaria e do Opus Dei. Acordem.”

Estes grupelhos, que mais parecem seitas, negam a ciência e a história que não estejam de acordo com a sua vontade e a seu bel-prazer. Negam a eficácia das vacinas, negam as mudanças climáticas e outras evidências científicas como negam a gravidade da pandemia covid-19. O historiador francês Pierre Vidal chama aos negacionistas assassinos de memórias por aproximação aos que pretendem negar factos históricos ou ainda reescrever a história, como alguns grupos como a extrema-direita e os nazis  através de escritos destinados “a um público especializado: herdeiros ou sobreviventes dos nazis ou nacionalistas de extrema direita que, na década de 1930, eram aliados dos nazis. O "revisionismo" pode aí, de acordo com o público e de acordo com os autores, assumir a forma de uma negação radical: os nazistas não mataram nenhum judeu…”.

 Até aos dias de hoje as fake news, (notícias falsas) têm tido um papel relevante para a difusão de teorias negacionistas nomeadamente, através das redes sociais como o Facebook e o Twitter, com novas formas de circulação da informação que passaram a influenciar a formação de crenças nas pessoas. As redes sociais dão a ilusão da existência duma parcial democratização pelo acesso, por parte da população, à informação e pela produção de conteúdos por meio da internet e das redes sociais, como é o exemplo deste post que acabo de colocar na rede. Há, contudo, uma falta de regulamentação que faz com que uma pessoa possa defender qualquer ideia estapafúrdia e disseminar fake news, que ganha considerável repercussão por se apoiar exatamente na reprodução de valores conservadores, ou não.

O livro “Merchants of doubt: how a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming” 2010, “Mercadores da Dúvida” de Naomi Oreskes e Erik Conway, que podem ver aqui no site do livro, revela as táticas de poucos e reputados cientistas que, com apoio de empresários, lóbis e políticos, para semear dúvidas e desprezar ou evitar medidas regulamentares que teriam, segundo eles na qualidade de vida. Arquitetaram um “mercado da dúvida”, fundamentalista com o objetivo de evitar qualquer regulação governamental sobre assuntos de interesses políticos e económicos obscuros. O livro mostra e auxilia a entender as campanhas difamatórias contra a ciência e os cientistas.

Os autores mostram as estratégias promovidas por parte da indústria, dos media e de alguns cientistas para negar, mitigar ou dissolver o consenso científico em torno de resultados danosos à indústria devido à relação de causalidade entre o tabaco e o cancro do pulmão ou a contribuição das indústrias de combustíveis fósseis para as mudanças climáticas.

Os chamados mercadores da dúvida são cientistas que utilizam as suas credenciais científicas para desvanecerem as diferenças entre as controvérsias científicas e as disputas de opinião na comunicação social. O primeiro capítulo daquele trabalho mostra o caso da indústria do tabaco que foi a inventora e a mais hábil praticante da estratégia de promover a dúvida quanto aos resultados da ciência. Segundo os autores nos anos 1950 estudos científicos tornaram evidente a ligação entre o fumo e o cancro. Em 1953, a American Tobacco, Benson & Hedges, Philip Morris e U.S. Tobacco contrataram uma firma de relações públicas para defender seu produto e montaram uma comissão para fornecer argumentos que desafiassem a crescente evidência científica de que fumar prejudicava a saúde. 

Estes cientistas mal-intencionados ganharam espaço na comunicação social, disseminando dúvidas e inventando debates sobre temas cientificamente consolidados. Programas de financiamento de pesquisa de empresas com somas inimagináveis, até mesmo nos dias atuais, também foram usados para estimular pesquisas que corroborassem dúvidas, incertezas e o ceticismo, promovendo uma luta velada da ciência contra a ciência. Mais recentemente temos as condutas de Trump e de Bolsonaro que têm sido amplamente divulgadas sobre temas idênticos.

Não há provas, por enquanto, de que em Portugal os negacionistas sejam financiados como o são noutros países onde há a certeza de que altos financiamentos marcam o desenvolvimento dos negacionismos.  É o caso de David Koch que, segundo The Guardian, em agosto de 2019, «foi um dos principais financiadores dos negacionistas da mudança climática, apoiando cientistas para saquear ainda mais a Terra que estava a destruir. A revelação num livro de Christopher Leonard mostra que Koch desempenhou um grande papel no financiamento da negação da mudança climática. À medida que avançamos para uma catástrofe climática que parece cada vez mais provável de acontecer nos próximos 11 anos.»  

No que se refere à covid-19, seguindo o caminho comum a outros negacionismos, os negacionistas da pandemia passaram a desqualificar e a agredir os cientistas e o discurso científico, sem terem argumentos válidos e de facto sobre as dúvidas que levantam, apresentado uma narrativa que se encaixa em valores compartilhados por determinados grupos, na sua maioria apadrinhados por algumas áreas da extrema-direita.

Num artigo de opinião no jornal Público de Maria João Marques escreveu que “As máscaras – que comprovadamente contrariam o contágio de vírus respiratórios, como se viu com a inexistência de gripe neste inverno que passou – não funcionam e são elementos de destruição populacional em massa”. Ora esta afirmação pode ser comprovada por dados publicados pela Gripnet / Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, como mostra o gráfico da época de vigilância da síndrome gripal de 2020/21 da semana 49 de 2020 à semana 20 de 2021.  Podemos verificar a coincidência do uso de máscara com a diminuição da síndrome gripal desta época, o que contraria a tese dos negacionistas e os de “qualquer coisa” pela verdade.

Gripe evolução.png

Negacionistas e outros “qualquer coisa” pela verdade, dizendo-se pela verdade, são os próprios inimigos da verdade.  Promovidos pelas extremas-direitas, autocráticos, fascistas e, em menor número, algumas extremas-esquerdas, tentam por todos os meios desacreditar a democracia. Usam todos os meios que ela lhes possibilita para a destruir desenvolvendo processos de desestabilização, instabilidade, seja porque meios forem, que lhes permita novamente captar o poder e tomar conta das decisões políticas para relegarem todos os direitos das Constituições democráticas conquistadas pelos povos.

O ressurgir de novos líderes populistas será uma primeira fase para o culminar das ditaduras. Os líderes populistas por serem antissistema, contra a corrupção, defensores da segurança que está em risco por todos os que são diferentes consideram-se heróis modernos e os interpretes da nação, e por isso, promovem nas populações, por meio das suas narrativas, necessidades de uma autoridade vertical que ponha cobro seja lá ao que for.

Ao acreditarem nas suas próprias mentiras e propaganda projetam em outros as suas próprias ações, isto é, a disseminação de mentiras, sendo os governos os mestres da mentira. Os negacionistas de criar inimigos e defini-los como corporizações vivas de inverdade que os ajuda a assumi-los como únicos detentores da verdade.

Enfim são os mestres do embuste.

 

Inconsciência da "manife" dos idiotas

23.03.21 | Manuel_AR

Play - Pão para MalucosManuel Cardoso "Pão para Malucos"que passa na Antena 3 com o título "Os 3000 chico-espartanos" publicado em 22 Mar 2021

Os covidiotas que se manifestam contra as restrições devidas à covid-19 e contra as vacinas têm sido alvo de chacota e o mais grave é que colocam-se a eles, e aos outros, em risco. A inconsciência chega ao ponto da tontice.

Centenas manifestam-se em Lisboa contra o confinamento (sem máscara)

Imagem País ao Minuto

Segundo o jornal online Notícias ao Minuto e de acordo com informação, avançada pela TomarTv,  um dos organizadores  da Manifestação Mundial pela Liberdade, que se realizou no passado sábado, em Lisboa, está infetado com o SARS-CoV-2. Testou positivo à Covid-19 na segunda-feira, menos de 48 horas após a manifestação. 

Ainda sobre a manifestação e segundo a TomarTV  a "atriz da famosa série Inspetor Max está a ser arrasada nas redes sociais, muitos são os internautas que acusam a atriz de dar um mau exemplo, estando sem máscara numa manifestação contra o confinamento onde o distanciamento social não foi cumprido".

Sandra Canelas na Mnifcovid.png

Imagem TomarTV

Entretanto a atriz Sandra Celas reagiu nas suas redes sociais, defendendo-se das críticas que recebeu, afirmando que “conhece muito bem a lei” e que “na rua ninguém é obrigado a andar de máscara” (!!??). No meio de um aglomerado de covidiotas pergunto: isto é para rir já ou esperar para depois?

Sobre a dita manifestação vale a pena ouvir o podcast de Manuel Cardoso "Pão para Malucos"que passa na Antena 3 com o título "Os 3000 chico-espartanos" publicado em 22 Mar 2021 e que pode escutar clicando na imagem.

 

 

 

 

 

O segundo lugar da ciência na corrido ao lucro e a política na vacina da Astrazeneca

18.03.21 | Manuel_AR

Covid-vacina.png

Começa a haver um cansaço e falta de paciência para ouvir António Costa e alguns membros do Governo. Tenho a sensação de que andam às voltas perdendo-se em pormenores perdendo a capacidade de síntese, objetividade e assertividade face às decisões a tomar, o que me leva pela primeira vez a desconfiar de que o que dizem e fazem é sem convicção gerindo as intervenções numa atitude propagandística. A comunicação tardia ao arrasto de outros países sobre a suspensão da vacina da Astrazeneca foi paradigmático.  

Em 7 de fevereiro, a África do Sul suspendeu os planos para o lançamento de 1 milhão de doses da vacina AstraZeneca. Um pequeno ensaio não conseguiu demonstrar que protegia os sul-africanos contra uma nova variante que se tornou predominante no país. Enquanto isso, a AstraZeneca da Oxford disse que estava a trabalhar numa nova versão da vacina à medida para aquela variante.

A Dinamarca, Islândia e Noruega suspenderam o uso da vacina em 11 de março por causa de preocupações sobre um possível aumento do risco de coágulos sanguíneos. A Alemanha, França, Itália e vários outros países seguiram-se logo depois suspendendo a administração da vacina devido às preocupações sobre coágulos sanguíneos nas pessoas que tomaram a vacina, no meio do que o regulador médico da União Europeia insistiu que seus benefícios superavam o risco de efeitos colaterais. Contra corrente em 13 de março o Brasil aprovou totalmente a vacina.

Ouvir o nosso primeiro-ministro dizer que a dita vacina é segura mesmo para os maiores de 65 anos e que até ele já a tomou em nada me tranquiliza. Estou-me nas tintas para que ele tenha tomado aquela vacina ou outra qualquer, o que me interessa é que não se transforme a população numa espécie de cobaia em que meia dúzia de mortes são pequeno efeitos colaterais, caso as suspeitas de morte ou outras patologias se confirmem como resultado da dita vacina.  

Gostaria de perceber porque será que tantas vozes se elevam a defender a vacina Astrazeneca, tentando fazer comparações com as contraindicações de outros medicamentos desde há muitos testados e implantados no mercado. Buscam-se estatísticas de incidências que nada têm a ver com as duma vacina que nem meia dúzia de meses tem de administração. Note-se que a empresa AstraZeneca Portugal surgiu em abril de 1999, a partir da fusão da empresa sueca Astra AB com o Zeneca Group PLC do Reino Unido e está concentrada em três áreas terapêuticas: Cardiovascular, Renal e Metabólica, Doenças Respiratórias e Oncologia.

As vacinas normalmente exigem anos de pesquisa e testes antes de chegar à fase clínica, mas em 2020 os cientistas entraram numa corrida para produzir vacinas contra o coronavírus seguras e eficazes em tempo recorde. Em 8 de dezembro, pesquisadores da Universidade de Oxford e da empresa sueco-britânica AstraZeneca publicaram o primeiro artigo científico sobre um ensaio clínico de Fase 3 de uma vacina contra o coronavírus. O ensaio demonstrou que a vacina pode proteger as pessoas da Covid-19, mas deixou muitas questões sem solução sobre os resultados, inclusivamente na administração a maiores de 65 anos. Passadas semanas já não haveria problema e dizem ter havido evidências (!!?) de que não havia contraindicações.

Apareceram algumas vozes nas televisões a “esclarecer”, em abono da vacina da Astrazeneca, alegando que todos os medicamentos têm contraindicações e apontam que, no caso desta vacina, os casos são muito raros em função das administrações efetuadas. A OMS faz coro com essas vozes. A DGS diz que não há problema, mas para os que a tomaram estarem atentos e em casos anómalos para consular um médico. Outros ainda gritam por meias palavras que não importam meia dúzia de vidas que sejam vítimas em comparação com os benefícios que pode trazer, como se fosse esta a única vacina que apareceu no mundo. Há mais do que a da Astrazeneca! Porquê a insistência nesta da Astrazeneca/Oxford?

Neste contexto fica-se com perplexidade ao ler o editorial de Manuel Carvalho no Público quando se refere às “escassas mortes que ecoaram na imprensa” criticando a atitude dos vários países que resolveram parar com a vacina da Astrazeneca até esclarecimento cabal dos casos que vieram a público, presumivelmente causados por aquela vacina. E continua: “Mesmo sabendo que a suspensão das vacinas pode revelar um saudável desejo de proteger algumas pessoas, os governos puseram de lado essa questão magna da política democrática que tem que ver com o interesse geral. Numa linguagem gélida, que a vida tantas vezes exige, concentraram-se nas escassas mortes que ecoaram na imprensa e esqueceram centenas de vidas que a vacina poderia salvar nas próximas semanas.”, e acrescenta Manuel Carvalho “Ao parar por reflexo um processo crucial para o futuro próximo, a vacinação, com base em suspeitas não comprovadas nem reconhecidas pela ciência, a Europa mostrou a flacidez do costume sempre que é preciso coragem, confiança e determinação. A menos que a ciência conteste o que sabemos hoje, não agiu para o seu bem, nem a favor da vacinação”.  Mas o que deu a esta gente? Alguém me explica?

Não se percebe então a preocupação das autoridades de saúde e do Governo em relação ao número de caso e de mortes causados pela covid-19 tomando em conta os valores atingidos. Se não, vejamos: em Portugal, segundo fonte da Johns Hopkins University e até 14 de março, o número de casos por milhão de habitantes era de 53,6 o que corresponde a 0,00530 por 100 habitantes. O número de mortes foi de 1,47 por milhão de habitantes o que corresponde a 0,000147 por 100 habitantes. Ora estes valores verificados na população em relação à covid-19 ainda estão abaixo daqueles que alguns cientistas referem sobre a baixa probabilidade de contraindicações da vacina poderem acontecer. Porquê então preocupação em relação aos números da pandemia? (Ironia). Se por um lado é devido à difusão do contágio, por outro, se se morrer devido a contraindicações da vacina já não há problema, são efeitos colaterais. Deve ser este o ponto de vista dos responsáveis.  

O regulador de medicamentos da UE disse que permanece “firmemente convencido” de que os benefícios da vacina Oxford / AstraZeneca Covid superam os riscos, mas os casos isolados de coágulos sanguíneos “são uma preocupação séria e precisam de avaliação científica séria e detalhada”. Emer Cook sugeriu em 16 de março que era possível que os riscos fossem maiores para algumas categorias de pacientes. “O que estamos entendendo é que eles podem estar associados a algumas subpopulações”. Contudo alguns especialistas também disseram que casos raros de trombose cerebral ser altamente incomum em pessoas mais jovens podem indicar uma relação causal com a injeção.

A corrida pela procura de uma vacina contra a covid-19 transformou-se numa competição para ver quem chegava primeiro ao potencial mercado que se previa ser muito lucrativo. Encontramo-nos numa economia capitalista e o meio científico e empresarial no mundo das farmacêuticas têm todo o “gosto” em entrar nesta competição. A maioria dos cientistas e investidores nos países desenvolvidos não se importa com o que está a trabalhar desde que em tal haja a possibilidade de se fazerem novas descobertas para aumentar os lucros através de um mercado promissor e lucrativo.

A estes acrescenta-se também a da competição política pelo desenvolvimento e distribuição da vacina.  A vacina da Astrazeneca foi desenvolvida em laboratório pela Oxford University do Reino Unido. A rapidez com que aquela vacina foi produzida e testada e aplicada no U.K. levam-me a encarar outro ponto de vista: será que não estará Boris Johnson a pretender provar à U.E. que passa bem sem ela após o Brexit e daí a corrida para cortar a meta da produção e vacinação da maior parte da sua população, ao mesmo tempo que pode colocá-la no mercado numa espécie de louca corrida para provar que o barco dele navega muito melhor do que os dos seus competidores mais diretos?

 

Será um caso de estudo?

Será um caso de estudo que mereça uma investigação para doutoramento? O mais provável é não.

12.03.21 | Manuel_AR
 
Pode ser uma imagem de 1 pessoa
 
Case study.😊 very british.
 
Ele era um menino prodígio.
Os outros meninos brincavam com bolas e pistolas de plástico e o paulinho já só se interessava por in-fólios.😳
Adolescente, já perorava sobre politica, na sala da mamã, toda babada, com as tias à volta, a bater palminhas...
"Este menino vai longe", diziam...
No colégio de São João de Brito, dos jesuítas, e na católica, nunca se destacou como aluno...
Mas publicava umas croniquetas no "Tempo", do patusco Nuno Rocha...
Escrevia: "o Cavaco merecia um estalo"
E o menino Paulinho, era capaz de lho dar... 😉
Uma fera.😁
Aos 15 aninhos,inscreveu-se na JSD. Não lhe deram cavaco. 🙂 Desligou-se...
O talentoso Miguel Esteves Cardoso, bem financiado, fundou o jornal Independente, para se divertir e dar, como deu, azo à sua imaginação, após inalar pó branco(foi ele que confessou).
O paulinho era só drunfos.
A fonte é ainda o insuspeito MEC.
Foi buscar o Paulinho, que disse do Cavaco e dos seus ministros o que Maomé não disse do toucinho...
Com verdades,meias verdades e algumas mentiras, o Paulinho ganhou a ribalta. Deu nas vistas. Fez-se gente.
O único que o enganou foi o Marcelo.
Lembram-se do célebre episódio da vichychoise, 😊 e do que o Paulinho disse do Marcelo, em direto, no programa do Herman?
(Deus deu-lhe a inteligência e o diabo a alma)lembram-se?
Na universidade moderna, fez um centro de sondagens (com o Santana Lopes) foi só trapalhadas e aldrabices.
Exigiu um jaguar, porque era very british.🙂
Estampava-se e fugia.
Entretanto o Manuel Monteiro resolveu disputar o moribundo CDS.Ganhou ao Basílio Horta.
Foi buscar o Paulinho ao Independente.Pô-lo como número dois.
O menino prodígio chegou a líder político.
Não tardou a morder a mão que o projetara. A criatura devorou o criador.
Oiçam o que o Monteiro, disse do Paulinho nas tvs.
Alcandorou-se a líder, num agupamento de famintos de poder, boys à procura de jobs e de lobysmo.
Não sem antes ser apertado e vexado, pela saudosa Maria José Nogueira Pinto, a quem um apoiante do menino prodígio agrediu no congresso de Óbidos😉
Obteve uns escassos 8%. Foi ministro.
Da Defesa, ( as anedotas circulavam) dos Negócios Estrangeiros.
Vice Primeiro Ministro.
Os rumores de corrupção acompanham-no há anos.
Ora emergem ora submergem...
Como os Submarinos.
A Embaixadora Ana Gomes nunca lhe deu tréguas.Nem com os submersíveis, nem com os sempre murmurados episódios da Caterine Devenue...
Mas ele é peixe de águas profundas.
Jácintoleitecapelorego. Foi um dos episódios mais marcantes e com nome apropriado. 🙂
O menino prodígio é irrevogável.
A palavra que dá, vale como as promessas que faz. Nada.
Cada vez que deixa de ser ministro, sai de chefe do CDS.
Assim que lhe cheirar a possibilidade de voltar ao poder, o menino volta ao caldas. E às feiras.
Fê-lo com o Ribeiro e Castro.
Não o fez com a Cristas, porque o seu inegável faro, não lhe deu sinal de poder...
Só o Nuno Melo percebeu.
Mexeu os cordelinhos há pouco, na penumbra, manobrando as suas marionetas, como gosta, mas o rapaz Chicão, do Zacatraz, estragou-lhe os planos...
Amuou.
Mexe-se bem no mundo dos holofotes, dos mercedes negros e reluzentes, dos guarda costas, do palácio das Laranjeiras, das misteriosas e sucessivas viagens que fazia ao estrangeiro, pagas pelo erário publico, sem se perceber ao que ia...
Do governo saiu para administração e consultoria das grandes empresas de negócios.
Está como peixinho na água.
Fora dessas mordomias e privilégios a política não lhe interessa.
Só lhe interessa o espectáculo.
A TVI, comprada pelo barqueiro do douro, deu-lhe uma nova visibilidade, debita banalidades e aldrabices de feira, como se tivesse descoberto a vacina.
Está obcecado por Belém.
Daqui a 5 anos.
Vichyssoise?
É um narcisista fixado no seu umbigo.Tudo aquilo é teatralidade.
Puericultura disfarçada de sinceridade.
Merecia um estudo.
O menino prodígio é um case study.
Só dá alegrias à mamã. Que lhe escolhe as camisas, as gravatas e os lencinhos, segundo confessou.
Emergirá? Emerge!

Nós, sempre os maiores, mas sempre até ver

12.03.21 | Manuel_AR

Vários países suspenderam a vacina da Astrazeneca, mas a União Europeia que tem vindo a meter água neste aspeto diz que não há problema e que  "os benefícios da utilização da vacina contra a COVID-19 da AstraZeneca mantêm-se superiores"  ao risco  (mais morte, menos morte, para eles é o menos, digo eu). Portugal, como sempre, o maior exemplo, está também a borrifar-se para todos e continua também em frente. É como de costume, fazem porcaria e depois vêm as desculpas esfarrapadas, as justificações incongruentes... 

O artigo de ontem, 11 de março 2021, no jornal Público que transcrevo abaixo, mas que também podem ler diretamente aqui é elucidativo. 

Vários países suspenderam vacina da AstraZeneca para investigar casos de coágulos sanguíneos

Agência Europeia do Medicamento, alertada por casos na Áustria, que incluem um óbito, diz não ter detectado nada de errado no lote de vacinas enviado para 17 países, no qual não se inclui Portugal, e que se mantém o benefício da toma da vacina.

Foto
A formação de coágulos sanguíneos não está listada entre os efeitos adversos desta vacina LUSA/LUONG THAI LINH

Dinamarca, Noruega, Estónia, Lituânia, Letónia e Luxemburgo suspenderam temporariamente a administração da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca, depois de terem surgido casos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas na Dinamarca, para estudar o que se passou. A Dinamarca recebeu o mesmo lote de vacinas que a Áustria, onde também foram registados dois casos de formação de coágulos sanguíneos, um dos quais resultou em morte.

No entanto, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) analisou o lote em causa, que foi enviado para 17 países (Portugal não) e disse, em comunicado, “não existir actualmente qualquer indicação que a vacinação tenha causado estas condições, que não estão listadas como efeitos secundários desta vacina”.

“Os resultados preliminares sugerem não existir uma relação causal entre a administração desta vacina e estes eventos. Neste sentido, os benefícios da utilização da vacina contra a COVID-19 da AstraZeneca mantêm-se superiores ao risco, não havendo qualquer alteração às recomendações sobre a sua utilização”, diz por sua vez o Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento numa curta nota no seu site, onde remete para uma actualização da nota da EMA, que sublinha os benefícios de tomar a vacina continuam a ultrapassar os eventuais riscos.

O lote ABV5300 contém um milhão de doses e foi enviado para a Áustria, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Estónia, França, Grécia, Islândia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polónia, Espanha e Suécia, diz o comunicado da EMA. A Noruega anunciou a suspensão, segundo a Reuters, apesar de não ter recebido este lote.

“Embora um defeito que afecte a sua qualidade seja considerado improvável nesta fase, isso está a ser investigado” pelo Comité de Avaliação de Risco e Farmacovigilância da EMA. “Estão a ser investigados os casos relatados bem como outros eventos tromboembólicos, e outras condições relacionadas, que foram relatadas após a vacinação”, diz a EMA.

Segundo a agência reguladora europeia, o número de alertas por formação de coágulos sanguíneos em pessoas que tomaram a vacina da AstraZeneca não é mais elevado do que o verificado na população em geral, em condições normais: 22 casos entre as três milhões de pessoas que tomaram esta vacina até 9 de Março.

A Dinamarca não revelou quantos casos de formação de coágulos sanguíneos foram reportados, mas a Áustria deixou de usar este lote de doses da AstraZeneca enquanto está a investigar uma morte devido a problemas de coagulação e um caso de doença por embolismo pulmonar após a vacinação, relata a agência Reuters. A morte terá sido de uma enfermeira de 49 anos que sucumbiu a “sérios problemas de coagulação” poucos dias depois de ter recebido a vacina diz a agência Lusa.

Quatro outros países europeus, Estónia, Lituânia, Letónia e Luxemburgo, suspenderam também a vacinação com doses do mesmo lote, avança a EMA.

Na Dinamarca, a administração da vacina da AstraZeneca foi suspensa durante 14 dias. “É muito importante frisar que não desistimos de usar a vacina da AstraZeneca, fizemos uma pausa”, disse o director da Autoridade de Saúde dinamarquesa, Soren Brostrom, numa declaração citada pela Reuters.

A AstraZeneca garante que todos os lotes da sua vacina são submetidos a um rigoroso controlo de qualidade e “que não foram detectados efeitos adversos graves associados com a vacina”. Garantiu ainda que está em contacto com as autoridades austríacas e a colaborar com a investigação.

Modelos de desenvolvimento há muitos, chapéus também há muitos

10.03.21 | Manuel_AR

Embora concordando, em parte, com o que escreve Rui Tavares no jornal Público parece-me ser um atribuito da esquerda querer sempre tudo para já. Neste caso estou com os que dizem que muito, depressa e bem não há quem! E quando se pretende transformar o país lá aparecem as manifestações contra.

 

OPINIÃO

(Rui Tavares, in jornal Público, 10/03/2021)

Rui Tavares.png

E uma missão para transformar o país, porque não há?

Portugal precisa de um grande debate nacional sobre o seu modelo de desenvolvimento futuro, e precisa de várias reformas transformadoras: pelo menos no ensino, na regionalização e na administração pública, incluindo justiça.

Marcelo Rebelo de Sousa apresentou cinco missões ao país para o seu segundo mandato e eu desejo-lhe toda a sorte do mundo. Nenhuma das missões de Marcelo é insensata ou incorreta, bem pelo contrário: manter o regime democrático e com ele fazer frente “às mais graves pandemias” (incluindo, presumivelmente, a pandemia do nacional-populismo); desconfinar com sensatez; reconstruir as vidas das pessoas com crescimento, mas sobretudo com coesão, que são a terceira e quarta missão; e, finalmente, assumir que Portugal “não é uma ilha no universo” e aprofundar a nossa ação no plano da lusofonia, europeu e mundial.

Concordo com tudo, e aplaudo a passagem em que Marcelo Rebelo de Sousa apresentou a sua visão de uma democracia feita de “inclusão, tolerância, respeito por todos os portugueses”, em que ninguém seja “sacrificado ao mito do português puro”.

Infelizmente, não chega. Se as nossas missões forem só estas, corremos o risco de falhar redondamente, tal é o tamanho dos desafios que temos pela frente e o peso dos problemas que trazemos de trás. Nesta década vamos ter não só as consequências da pandemia, mas uma economia global em plena transformação e com divergências acentuadas entre a Ásia e o Ocidente, e agora também entre os EUA e a UE, se não for aprovada uma segunda bazuca. Mas teremos também a expansão da inteligência artificial, do teletrabalho, da hiperconectividade em 5G, da impressão 3D, tudo a necessitar de mais incorporação de conhecimento e tecnologia e de mais capacidade de requalificar a força de trabalho. E teremos ainda o aprofundar da crise ecológica e os seus impactos no território nacional, na vida das pessoas, na agricultura e na biodiversidade. Desafios não faltam, e a maior parte deles — como no passado a entrada na China na Organização Mundial do Comércio, o alargamento a leste e a entrada no euro, que conjuntamente nos puseram a patinar durante as duas primeiras décadas do século — nem sequer entram no debate público em Portugal. Com que recursos financiar as universidades do futuro? Com que impostos combater o predomínio dos combustíveis fósseis? Como garantir que funciona o elevador chamado Estado social?

O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, tal como a prática governativa de António Costa, está feito de boas intenções e sentimentos no sítio certo: é de facto preciso reconstruir a vida das pessoas, e nas suas belas palavras isto “é tudo ou quase tudo: emprego, rendimentos de empresas, mas também saúde mental, laços sociais, vivências e sonhos”. Mas se é verdade que isto “é muito mais do que recuperar ou regressar a 2019”, por que não existe um diagnóstico acerca dos padecimentos do Portugal de 2019 que já então tornavam difícil que superássemos sem mais os desafios da nova década?

A verdade é esta: Portugal não chega lá com esta indefinição em torno do seu modelo de desenvolvimento, nem com metas que eram adequadas ao nosso passado recente mas que estão profundamente desajustadas do grau de exigência que temos de ter para o futuro. Não é preciso só manter, reconstruir, recuperar; é preciso entender que um Portugal que joga para o empate — apenas convergir com a média da União Europeia, sem querer tornar-se numa sociedade de vanguarda em termos económicos, ambientais e sociais — acabará a perder e, na posição periférica que temos, tornar-se insustentável.

Passam governos e doutrinas políticas e continua a não haver uma resposta satisfatória ao problema do que queremos ser na Europa e no mundo neste século XXI. A doutrina de Passos Coelho e Paulo Portas era, no seu “ir além da troika”, a de que Portugal teria de se tornar competitivo cortando nos custos do trabalho, ou seja, embaratecendo-se. A doutrina da saída do euro, que tantos defenderam há uns anos, era a mesma, apenas por outra via: desvalorizar o “novo escudo” e ser competitivo, embaratecendo-se. Ambas se esqueceram de um detalhe: as pessoas emigram. E se cortamos os salários aos portugueses, ou lhes damos um salário em moeda fraca, as pessoas — num contexto de liberdade de circulação na União Europeia — vão ganhar mais lá fora com a formação que lhes demos cá dentro.

Perante a rejeição dupla destes caminhos (da desvalorização da austeridade a da desvalorização da saída do euro) a estratégia de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa tem sido navegar à vista. Não chega.

Portugal precisa de um grande debate nacional sobre o seu modelo de desenvolvimento futuro, e precisa de várias reformas transformadoras: pelo menos no ensino, na regionalização e na administração pública, incluindo justiça. E precisa de o fazer agora, que o 25 de Abril se aproxima do meio século. Mas, caramba, como a falta de ambição da nossa elite política é aflitiva.

 

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

 

Historiador; fundador do Livre