BOM e FELIZ ANO NOVO porque tudo vai correr bem
BOAS ENTRADAS E UM BOM ANO DE 2021
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BOAS ENTRADAS E UM BOM ANO DE 2021
Este tempo de covid-19 obrigou a alterações profundas nos métodos e processos de trabalhar, de ensinar e de aprender. Teletrabalho, telescola, aprendizagem online, ensino a distância e outros são conceitos que passaram a fazer parte da gíria dos mais diversos setores de atividade. Empresas e escolas depararam-se com problemas consequentes duma resolução rápida e não prevista da alteração de métodos de trabalho e de relações sociais.
O caso da educação parece ser o mais sensível e que levantou mais duvidas. Muitos consideram, e bem, que a escola são aulas presenciais e onde a socialização é enriquecida com a interação com pares e professores. Se, por um lado, esta atitude é a mais aceite em termos pedagógicos, sobretudo no que se refere a crianças que se encontram nos primeiros anos de aprendizagem, diria até ao 9º ano, em alguns casos até ao 12º., por outro lado, tem-se verificado um sentimento negativo que grande parte dos encarregados de educação, professores e alunos têm pelo ensino/aprendizagem online e a distância. O que se colocou com mais evidência foi a questão das aulas presenciais como fator imprescindível para as aprendizagens. É o fator negativo da falta de presença, ou melhor da presença social durante a aprendizagem, tema que tratarei mais adiante.
A internet fornece-nos milhares de pontos de vista, opiniões e artigos sobre as vantagens e desvantagens do ensino online, a maior parte deles escritos por quem nunca frequentou o ensino a distância e nem sequer viveu nem sabe, na prática, o que é nem como funciona essa modalidade de ensino/aprendizagem.
Os professores que utilizem e dominem as estratégias do ensino online serão cada vez mais solicitados, quando necessário, para substituir aulas presenciais, enriquecer as aprendizagens dos seus alunos, participar num módulo ou parte de um curso da sua área de especialidade quando se encontrem distantes do local físico onde dão aulas.
Num futuro mais ou menos próximo deverão ser-lhes disponibilizadas para as suas aulas tecnologias como vídeos, apresentações e câmaras para visualizar e interagir com os alunos através videochats. Os professores irão que ter flexibilidade para se adaptarem a situações muito diferenciadas e terem sensibilidade para escolher as melhores soluções possíveis para cada momento. Apesar de algumas melhorias nos currículos dos cursos das licenciaturas de professores incluindo unidades curriculares de utilização de tecnologias o que acontece é que as licenciaturas do nosso sistema de ensino e de formação de professores estão muito direcionadas para o ensino presencial, não estando a proporcionar as necessárias competências para o ensino online numa situação de emergência como a que se viveu ainda há pouco tempo. A consequências foram as falhas e erros apontados e a rejeição por muitos da modalidade de ensino online a distância aquando do confinamento total que obrigou ao fecho das escolas e à aplicação desta modalidade em tempo record para responder à situação imediata.
A educação não se faz apenas no sentido do ensino, mas sim na simultaneidade ensino/aprendizagem para que a aprendizagem seja estimulada. Muitos professores e encarregados de educação têm uma perceção de práticas de ensino que são representações dum passado ainda recente em que um aluno deve ser um poço de receção numa ótica do magister dixit. Preocupam-se com o tempo que os seus alunos e educandos estão frente a um computador aplicados ao estudo e à aprendizagem, mas não se preocupam com as horas que os seus educandos estão online em “outras espécies de aprendizagens” captando e assimilando subconscientemente informação que lhes vai corrompendo a personalidade, a noção de verdade e de rigor científico.
Para muitos alunos, sobretudo os adolescentes, a verdade, deixou de ser a que professores e encarregados de educação lhes conferem, passou a ser a das redes sociais que frequentam, as pessoas e “amigos” com quem interagem horas a fio nas redes e por telemóvel.
Não é raro que muitos encarregados de educação, a maior parte das vezes os pais, face a questões que os seus educandos lhes coloquem recebam respostas como “vai procurar na net” ou “vai ver ao Google”. Causa-lhes impressão a presença dos seus filhos em casa porque, muitas vezes têm que os “aturar” presencialmente, o que é para eles um incómodo, porque pensam que, para isso, é que serve a escola. Claro que os pais têm os seus trabalhos e não podem tomar contas dos filhos, mas isso leva-nos a outros problemas que não cabem neste espaço. Para muitos pais a escola deve ser o local onde deixam as crianças e os jovens adolescentes em idade escolar e onde os vão recolher quanto mais tarde melhor. Há justificações profissionais dos pais, é certo, mas isso é outra conversa.
Há, ainda, uma evidência, não é de somenos importância, que é a impossibilidade imediata de milhares de alunos não possuírem tecnologias, devido a problemas financeiros e económicos dos seus encarregados de educação que não têm a capacidade de investir em tecnologias compatíveis o que gera situações de graves desigualdades sociais comparativamente a outras que têm ao seu dispor mais do que o necessário.
Devido ao confinamento começaram a proliferar na comunicação social artigos sobre as consequências do isolamento e da falta de interações social vindos de psicólogos, pediatras, psiquiatras e até de quem, até ao momento, nunca se tenha interessado e preocupado com isso. Tiveram a oportunidade para debater o que afeta psicologicamente crianças, adolescentes e adultos devido ao teletrabalho e ao ensino a distância online. Não nego a boa intensão e a cientificidade de todos esses especialistas, mas o que acontece é haver uma intenção destrutiva e oposicionista de cariz político extremamente conservador contra quanto saia fora das suas representações, desculpem-me estar a proferir juízos de intenção, mas é o que me fica da leitura de alguns desses artigos.
As críticas feitas ao ambiente online como sendo um espaço inadequado para ensinar e aprender vêm de encarregados de educação e de muitos professores, cansados e em stress atingidos pela exaustão e por vezes pelo burnout, e também da parte de muitos alunos que, por estarem dependentes das aulas presenciais, ficam por isso dececionados com essas novas estratégias de ensino/aprendizagem. Dizem alguns sobre a experiência que viveram, que sentem a nostalgia do espaço seguro da sala de aula, que garante a aprendizagem plena, enquanto que o ensino online é um espaço precário, incompleto, provisório.
A desmotivação dos alunos no ensino presencial também tem sido objeto de discussão. Será também difícil manter a motivação no espaço virtual de salas de aula se os alunos não forem envolvidos afetivamente nos processos de participação que lhes inspire interesse e confiança. Os professores que nas suas disciplinas insistam e se limitem à transmissão de informação e de conteúdos, mesmo que bem produzidos, e não ajudem e motivem os alunos a criar o seu próprio conhecimento, incorrem no risco de os desmotivar fazendo com que a aprendizagem não passe da teoria esquecendo o binómio teoria/prática. Há, contudo, uma vantagem do ensino presencial desde que os alunos estejam atentos e motivados: obtém-se rapidamente o retorno na resolução dos problemas que acontece com a procura do diálogo e de novas estratégias pedagógicas. No online os alunos estão à distância e apenas acessíveis por e-mail que é um meio frio, ou então pelo smartphone, se não houver acesso a videoconferência a dispersão pode ser ainda maior.
O problema não está na aprendizagem através de plataformas online. O que está a revelar a experiência neste período de pandemia é que a maior parte dos professores das escolas, mergulhados que têm estado na atividade presencial, ensina através do online de forma inadequada, muito baseada nos conteúdos programáticos dependentes do professor, deixando para segundo plano o envolvimento, a participação e a criatividade dos alunos. Dar aulas não presenciais é muito mais trabalhosa que aumenta quando se pretende manter uma interação produtiva com os alunos.
O problema não está no online, está na falta de autonomia que, no ensino presencial, não foi estimulada na formação dos alunos, está na insuficiência no domínio das competências básicas (saber pesquisar, analisar, avaliar...) e está também na gestão paternalística das aulas e da forma de ensinar: tudo é dado pronto, como ementa fechada, prato feito, com pouca autonomia, participação e envolvimento dos alunos.
Mário Santos, Investigador em Inteligência Emocional e Professor na Universidade da Madeira escreveu no jornal Económico que “Temos de ter a noção de que somos seres sociais e de que necessitamos de viver em sociedade para nos encontrarmos em perfeito equilíbrio, motor, cognitivo e emocional e por isso temo que a invasão das novas tecnologias acelerada com o aparecimento do novo coronavírus seja um motor de destruição social e que nos pode destruir como sociedade e ficarmos cada vez mais robotizados nas nossas atividades, relações, expressões e colaboração interpessoal.”
Perfilho em parte este ponto de vista que devido ao atual contexto condicionado pela covid-19 faz todo o sentido, mas isso não pode ser tomado como uma fatalidade. A sociedade vai-se adaptando à evolução. Quando até ao final dos anos 70 dominavam os grandes computadores e quando nos finais da década de 70 apareceram os primeiros computadores pessoais a penetrar em ambiente de trabalho vários pensamentos de receio quanto ao futuro que as máquinas trariam à sociedade seguiam uma linha de preocupação acerca da vida em sociedade e das relações de trabalho. Entretanto, muita coisa mudou e adaptou sem alterações catastróficas. Durante a primeira década do século XXI com a tecnologia das redes sociais verificou-se que as interações sociais se tornaram mais ativas, não apenas em rede, mas também ao nível presencial que as mesmas estimularam através da potenciação de encontros.
No que se refere às faixas etária mais baixas ao nível do pré-escolar a opção por um dos elementos da dicotomia educação em ambiente presencial/educação em ambiente online poderá ser mais problemática. Noutros casos o problema parece ser menos da tecnologia utilizada e mais das metodologias pedagógico-didáticas utilizadas porque não foram devidamente testadas para grupos de grande espetro.
As tecnologias digitais associadas às telecomunicações para aprendizagem sempre com a interação como o professor podem potencializar e estruturar novas sociabilidades e, por consequência, novas aprendizagens. As que existem são apenas circunstanciais e limitadas apenas a algumas escolas onde parece estar a ser praticado como forma complementar ao ensino presencial.
Educação online pode definir-se como um conjunto de ações de ensino-aprendizagem desenvolvidos por meios como a internet onde podem coexistir a videoconferência e teleconferência e abrange cursos totalmente virtuais e exclusivamente online sem qualquer presença física e cursos semi-presenciais (blended learning ou b-learning) em que parte é presencial com atividades complementares fora da sala de aula com apoio da internet.
A educação online utiliza-se em situações onde o presencial não possa ser opção por motivos, por exemplo, em situação de pandemia e confinamento como aquele que vivemos, numa situação em que se deva atingir um grande número de alunos em pouco tempo, ou então por opção quando a vida profissional não deixa espaço para frequentar aulas presenciais.
No ensino/aprendizagem em rede ou a distância todos os participantes são potencialmente emissores, recetores e produtores de informações, quer sobre as matérias programáticas quer sobre problemas conexos, por vezes até pessoais, e também sobre aspetos cognitivos e dificuldades pessoais. Nestas circunstâncias encontramo-nos num contexto de ecologia da informação por estarem incluídas escolhas de caminhos e participações num denso conjunto de inter-relações entre elementos participantes, práticas, valores, hábitos, crenças e tecnologias. Na ecologia da informação o foco não é a tecnologia em si, mas sim a atividade realizada por meio da tecnologia. Há uma interdependência entre recursos tecnológicos e atividades, cada um ajustando-se e adaptando-se em relação ao outro.
A metáfora ecológica foi utilizada por (Nardi e Vicki, Information ecologies, MIT Press, 1999) que sugere várias propriedades-chave de muitos ambientes nos quais a tecnologia é usada. Uma ecologia da informação é um sistema complexo de partes e relações. Como qualquer sistema ecológico, exibe diversidade, interação e experimenta uma evolução contínua.
As escolas são ambientes intrinsecamente ricos em informações com múltiplos fluxos convergentes e sobrepostos de informações de entrada e saída. As informações são representadas num grande número de formatos, incluindo padrões de aprendizagem, currículos, planos de aula, listas de alunos, planos educacionais individuais, políticas e procedimentos, livros didáticos, recursos online e programações de aulas todos eles relacionados entre si.
A utilização das tecnologias da informação no ensino a distância online insere-se num contexto ecológico da informação o que significa atuar num ambiente virtual, dialogar, trocar informações e experiências, tomar decisões e produzir conhecimento. Nesta perspetiva cada um que se envolva encontra-se em ligação com todos os participantes e recursos existentes que fazem parte de uma rede de interdependência constituindo uma unidade dinâmica que se desenvolve de forma relacional e pluralista.
A potencialidade da ecologia de informação em contexto educativo reside no papel ativo dos seus participantes professores e alunos que têm acesso a informações e recursos para desenvolver atividades colaborativas, dialogar com o outro e estabelecer inter-relações. Os intervenientes tanto podem inserir novas informações como buscar as informações que lhes são adequadas. Por outro lado, cada aluno pode estar em ligação interagindo com outros sobre as temáticas que estão a ser trabalhadas. Exemplo pode ser tudo o que o professor envia ou coloca numa plataforma e os exercícios e trabalhos que lá são colocados por cada um dos alunos para avaliação pelo professor cujo resultado receberá pelo mesmo meio.
Muito se tem falado da socialização, cuja importância é inegável, assim como da necessidade que as pessoas têm de comunicar, sejam elas crianças, adolescentes ou adultos. Em situações de aprendizagem e aquisição de conhecimento Piaget investigou que o conhecimento é construído nas interações que se geram entre o sujeito e o meio que são dependentes um do outro por assimilação que é a incorporação de elementos do objeto conhecido às estruturas existentes e por acomodação que é a transformação dos elementos assimilados modificando os seus (os do sujeito) esquemas prévios ou criando novos esquemas ou estruturas de pensamento gerando novos significados. Penso que esta tese construtivista do conhecimento não retira validade à aprendizagem online desde que interativa, antes poderá reforçar a presencial.
Os professores pela dificuldade do novo processo que lhes foi imposta pelos condicionamentos gerados pelas circunstâncias que a pandemia lhes impôs não conseguiram encontrar num curto espaço de tempo uma metodologia adequada para os seus cursos online. A maior parte, senão todos, reproduziram condições de sala de aula convencional transferindo para o virtual as conceções pedagógicas das aulas presenciais. Colocam-se no papel de professores centralizadores que, a partir textos e atividades que organizam a matéria, reforçam o papel principal do professor.
A aprendizagem online leve colocar-se numa posição mais participativa do processo educacional estimulando a pesquisa e a interação entre pequenos grupos. Em muitas escolas já foram criadas plataformas de aprendizagem que facilitam a colocação de textos, a organização de atividades em ambiente virtual para professores e alunos sem a necessidade de muitos conhecimentos prévios de tecnologias mais sofisticadas. Estas plataformas possibilitam a combinação entre aulas de vídeo, teleconferência pela internet e atividades individuais ou em pequenos grupos antes e depois das aulas sendo parte online e parte offline.
Na fase inicial de autoaprendizagem mesmo que orientada pelo professor pode existir o perigo de dispersão em situação de procura informação ao fazer navegação aleatória executada sem a consciência do que se pesquisa e sem uma tomada de decisão sobre os caminhos a seguir derivados da arquitetura de hipertexto dos motores de busca. A navegação para selecionar informações significativas de acordo com o objetivo pretendido necessita de treino.
A aprendizagem em situação presencial tem vantagens e é imprescindível porque a nossa cultura educacional assim o impõe por motivos que se prendem com a socialização das crianças em situação escolar, mas que exigem, cada vez mais, a familiaridade com as tecnologias como fator de sobrevivência no futuro. Vê-se atualmente o que se passa devido à pandemia com as dificuldades que muitos trabalhadores sentem para se adaptarem ao teletrabalho.
A criança desenvolve-se em contexto social, são as interações e as relações com as pessoas e com os sistemas sociais que têm um papel crucial para suas aquisições e para a construção de funções psicológicas cada vez mais sofisticadas. O mundo em que vivemos é um mundo de pessoas, coisas, lugares, ações que têm significados construídos historicamente e cuja apropriação se dá no contato social. Neste sentido, pode dizer-se que é aí que o indivíduo se constrói.
Segundo Hohmann e Weikart “As crianças procuram de forma ativa os seus pares, construindo brincadeiras lado a lado, falando (ou vocalizando), observando e interagindo com os mesmos de forma lúdica, sendo que todas estas interações vão ficando mais complexas à medida que as crianças se vão desenvolvendo cognitivamente”. Podemos acrescentar também os adultos com quem interage. Consultar (Hohmann e Weikart. Educar a criança. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 2011).
O ensino/aprendizagem online mediada pela internet pressupõe que são alunos com idades superioras ao pré-escolar, diria mesmo, acima do 2º ciclo, pelo que exige uma dimensão social que, devido à sua própria natureza, deve ter uma correspondência ideal de modo a ter em conta a perceção do outro no ambiente virtual de aprendizagem que se designa por presença social, tal como se verificam as interações sociais em ambiente real.
Presença social é um termo da psicologia que relaciona a perceção do indivíduo com o modo como ele se sente na interação com os outros. Nas aulas a distância online e noutras interações, como a que se realiza através das redes sociais e dos meio assíncronos como o e-mail, uma das formas de facilitar a presença social pode ser através de estratégias, tais como os emoticons ou emojis, que os intervenientes utilizam para comunicar emoções e estabelecer uma ligação interpessoal.
Em aprendizagem online a perceção que os sujeitos têm sobre o grau de proximidade estabelecida entre os vários participantes (neste caso o professor e os alunos), reflete-se na dinâmica da relação entre as pessoas em presença virtual. Nesta perspetiva, tal perceção é influenciada tanto pelos meios tecnológicos como a videoconferência, teleconferência, troca de mensagens escritas entre dois ou mais utilizadores de uma rede de computadores em tempo real (chats) que promovem a interação como pelas características pessoais de cada um dos sujeitos.
Assim, presença social é então a capacidade de os participantes numa comunidade de aprendizagem online se projetarem social e emocionalmente, como pessoas reais, isto é, o grau como um sujeito é percebido como real numa comunicação online.
Alguns estudos como os de Richardson e Zittle (Examining Social Presence in online Courses in Relation to Students' Perceived Learning and Satisfaction, 2003) observaram que a perceção de presença social está relacionada com a satisfação sentida pelos alunos em cursos online. Se experimentam uma fraca ligação entre si ou com o professor sentem-se isolados e céticos em relação à aprendizagem proporcionada e, consequentemente, revelam insatisfação. Os alunos que mostram elevados níveis de presença social, apresentam maior aprendizagem e sentem-se mais satisfeitos. Por outro lado, também demonstraram que há uma relação entre o sucesso ou fracasso individual com a amplitude com que os alunos ultrapassam o sentimento de se sentirem preteridos para se sentirem incluídos.
Inquéritos efetuados a alunos, alguns anos antes da solução apressadamente criada para remediar os efeitos do confinamento dos alunos devido à covid-9 mostraram, através de questionários e entrevistas realizadas a alunos que tinham participado neste tipo de ensino (muito antes da covid), que um dos aspetos mais importantes é o comportamento do professor ou tutor. A maior parte dos alunos referiu interação regular, a proximidade emocional, o feedback imediato e construtivo, assim como o incentivo do professor para o empenho na construção de conhecimento, como aspetos que influenciam a satisfação com o curso.
Outros pontos mencionados pelos alunos que afetam a satisfação com a aprendizagem online foram falta de tempo para completar as tarefas propostas, os relacionamentos difíceis com colegas e pouca experiência com as tecnologias da informação e comunicação. Ora, depois da experiência do confinamento forçado pela pandemia o descontentamento os alunos, pelo que se tem constado, insere-se neste último ponto.
Tudo isto nos conduz ao tema que abordei, há algum tempo, durante a fase preparatória e exploratória para doutoramento em ensino/aprendizagem online cujo problemática se relaciona com a questão da presença social a que poderão aceder a uma versão resumida aqui: Presença Social Virtual-versão publicada 2020.pdf
A propósito da celeuma fugaz no início desta semana causada por João Costa ao afirmar que o retrocesso no desempenho dos alunos do 4.º ano a Matemática é uma “má notícia, claramente”, e que responsabiliza o anterior ministro da Educação, Nuno Crato pelos maus resultados recordei-me de um artigo que publiquei no blog “zoomsocial.blogs.sapo.pt” em 16 de fevereiro de 2014 que resolvi agora recuperar e que abaixo transcrevo.
O texto que escrevi relacionou-se com um artigo de opinião do dr. Guilherme Valente publicado no jornal Expresso da época (já não está disponível) e tem a ver com conceções pedagógicas de ensino do dr. Nuno Crato.
Aqui segue o referido texto:
Concursos televisivos, ignorância e os bodes expiatórios do costume
No Jornal Expresso de 01 de fevereiro de 2014 foi publicado um artigo de opinião do editor da Gradiva Publicações, Dr. Guilherme Valente, denominado "A formação de professores e a capital do Camboja" onde criticava as conceções educativas adotadas em Portugal e punha em causa as escolas superiores de educação. Isto, porque ficou escandalizado com a ignorância de muitos dos concorrentes, e com razão, do concurso "Quem quer ser milionário" que tem passado na RTP1. Não resisti a comentar um artigo de 555 palavras com cerca de 4000, pois o assunto é de tal modo complexo que não nos podemos limitar a dar umas dicas mais ou menos ideológicas conforme o que achamos ou devemos achar sem quaisquer fundamentos credíveis.
Tenho que dar razão ao autor do artigo e fico atónito com a manifestação da ignorância revelada por parte de alguns concorrentes, por mim já constatada, nas respostas que dão no referido concurso.
As respostas ou melhor comentários dos concorrentes exemplificados no artigo não me espantam. Através de uma análise mais cuidada pode verificar-se que são uma fuga e uma forma de tentar fazer humor, embora triste, com a própria e manifesta ignorância. Inferir que tudo isto é uma consequência dos modelos construtivistas, sim, porque há vários, e das escolas superiores de educação a quem cabe a responsabilidade da formação de professores parece mais uma espécie de vendeta despida de qualquer racionalidade. Talvez haja quem prefira que sejam advogados, engenheiros e outros sem qualquer formação pedagógica e didática a dar aulas a crianças.
Ao relacionar a causa das respostas e afirmações disparatadas dados por concorrentes de concursos televisivos com determinado modelo educativo põe, do meu ponto de vista, em causa a credibilidade do autor no que respeita à educação. Aliás, desconheço quaisquer investigações científicas efetuadas e publicadas pelo autor do comentário sobre temas educativos e reconhecidos nacional e internacionalmente.
Do meu ponto de vista, o que é grave, é a imputação e responsabilização da ignorância dos concorrentes a um concurso televisivo atribuídos à “inspiração dos gurus que geraram” e que alguns "impuseram por cegueira", que conduziram devido à recorrência a uma espécie de "perturbação sináptica e memética que perdurará".
O tema educação no que respeita aos modelos e conceções pedagógicos e educativos adequados para a nossa população escolar não tem sido objeto de debate público a não ser em círculos especializados. Nestes últimos três anos o que se tem visto são, por um lado, as sucessivas tentativas de reduzir os recursos à escola pública e, por outro, o retirar verbas dos nossos impostos para os atribuir às escolas privadas, mesmo àquelas onde existe oferta pública mais do que suficiente. Todavia nada sabemos sobre propostas educativas concretas do atual ministro sobre um projeto educativo para o país. Destrói-se o que existe e pronto!
Tornar a escola pública obsoleta e à míngua de meios é o objetivo que vai ao encontro do que alguns chamam destruição da escola pública. Medidas que vão agravar ainda mais o problema que dizem existir.
Há uma revolução em curso, no sentido negativo, apoiada por iluminados e defensores de uma escola idêntica à dos 41 anos da ditadura no que se refere a programas e conceções de ensino-aprendizagem.
Fala-se da alteração dos programas e dos currículos, da exigência, dos exames como condição última da aprendizagem e da qualidade e tecem-se críticas, não fundamentadas, às escolas superiores de educação. Fala-se de mais do ensino e muito pouco de aprendizagem. O ensino tomado como mera transmissão de conhecimentos é o fim em vista. Nada se esclarece claramente sobre qual deve ser o projeto em quem deve assentar o nosso sistema educativo.
Conheci um diretor de uma escola superior que chegava a afirmar que as ciências da educação não passavam de uma moda sem interesse e que, aos futuros professores, cabia apenas a missão de ensinar a ler, a escrever e a contar. Parece ser este, felizmente apenas para muito poucos, o ponto de vista dos tempos que correm.
Como licenciado em filosofia seria suposto o Dr. Guilherme Valente ter um espírito aberto, embora crítico, não imbuído de um hermetismo científico obsoleto. Podemos aceitar, ou não, certas teorias, modelos ou conceções educativas e, com todo o direito, proferir críticas fundamentadas e colocá-las à discussão para as validar à luz de metodologias apropriadas, que não propriamente programas de entretenimento televisivo que em nada validam ou invalidam teorias e investigações científicas. Não vem agora a propósito mas o exemplo do PISA poderia invalidar a tese do Dr. Guilherme Valente.
Tendo tirado, como julgo, uma pós-graduação na Universidade Aberta, o Dr. Guilherme Valente deveria saber que o modelo construtivista é o adotado por aquela universidade. Assim, posso ser levado a concluir que o artigo nada mais é do que uma publicidade barata a uma qualquer das edições da Gradiva Publicações.
Afinal acabo por não compreender, e o defeito é sem dúvida meu, quais são as propostas e conceções educativas que apresenta em substituição das tais “conceções educativas construtivistas impostas na escola há mais de 30 anos”. Depreende-se do texto publicado vislumbrar duma visão ideológica tolhida por um conservadorismo retrógrado e passadista que não se adequa a uma escola dita de massas como e de ensino obrigatório que não existia no passado.
A comparação com as experiências de Summerhill que em nada têm a ver com as conceções educativas e didáticas atualmente praticadas é uma representação falsa e demagógica da realidade. Fiquei a saber, ignorância minha, que a experiência restrita de Summerhill era praticada em Portugal durante a ditadura e que continuou a sê-lo após o seu derrube porque segundo afirma o autor “Começa a revelar-se agora o que estas conceções educativas podem produzir quando impostas durante tanto tempo à totalidade das escolas de um país inteiro. Quarenta anos de ditadura com outros tantos de ‘eduquês` em cima”.
Será que o modelo educativo passadista que nos era imposto e na base do qual estudámos, baseado apenas na memorização sem reflexão, na aceitação sem discussão, na absorção de ideias entorpecidas que nos transmitiam numa ótica de magister dixit para serem debitando de seguida numa folha de papel de exame também não eram os mais adequado às aprendizagens?
Se as conceções educativas do passado não servem, e as praticadas no presente também não, não se compreende onde se pretende chegar. Se os quarenta e um anos de ditadura e os mais de trinta do tal “eduquês” a que o autor se refere não serviram, nem servem, e ambos são nocivos resta saber então qual é o modelo ou conceção a adotar.
O argumento da excelência sem uma base para a sua criação e surgindo do nada serve para tudo. Cabe perguntar onde está a excelência dos políticos e dos técnicos que falam sobre os temas da educação mas que nada propõem ou adiantam mas que apenas destroem. Pode estar neles a salvação da educação.
O que está em crise na educação é a autoridade democrática e a dignidade do professor que têm sido postos em causa pelos sucessivos governos, e ainda mais por este, que levaram os jovens a não os respeitar devido às políticas dos sucessivos pelouros educativos e que o atual piora.
Quaisquer que sejam as conceções educativas, pedagógicas e didáticas, se nada for feito neste sentido bem podem continuar a chover críticas ao sistema. Não basta alterar programas e substituir palavras como competência e objetivo por metas para que algo resulte. A questão essencial é muito mais profunda. Porém, em contraposição há um claro movimento na educação que pretende repensar o papel da autoridade do professor mudando algumas regras nas formas da relação educativa.
O autor afirma ainda que as conceções educativas praticadas não informaram nem ensinaram a pensar. Ora essa! Então não é o que propõe o modelo construtivistas que, ao contrário da absorção acrítica de conhecimentos, pretende que o aluno aprenda a pensar com base na resolução de problemas? Mais uma vez, devo estar com problemas de compreensão porque achava que não é a mera transmissão de conhecimentos e a memorização mecânica que ensinam a pensar.
Ensinar não é apenas transmitir conhecimento como alguns pretendem. O modelo que perfilham é o de que bem analisado é que os alunos sejam apenas um reservatório acrítico dos conhecimentos transmitidos pelos professores que serão debitados em exame típicos não aferido às respetivas idades mentais e cronológicas e que negam à partida os patamares de aprendizagem que diferem entre indivíduos. Como se todos fossem iguais e aprendessem ao mesmo ritmo. Tal qual entra o porco numa fábrica e sai o chouriço. Aí muitos acabrão por ficar no caminho e pelo abandono do estudo
Quanto às escolas superiores de educação acho que informaram mal o Dr. Valente porque revela total desconhecimento do que se passa nestas escolas superiores quando escreve que são as “conceções educativas, cultivadas nos cursos de formação de docentes, que esses novos professores transportam para o básico e o secundário, cujos alunos, por sua vez assim formatados, entram e se profissionalizam depois naqueles mesmos cursos”. A minha compreensão ou talvez ignorância estão presentes mais uma vez. Pensava eu que o construtivismo e a aprendizagem baseada na resolução de problemas não formatava os alunos, bem pelo contrário, estimulavam à reflexão e à compreensão. Estava na escuridão e agora fez-se luz ao ler o artigo.
Talvez as propostas não explícitas do Dr. Valente sejam as conceções centradas no ensino e não na aprendizagem que defendem em geral a centralidade do papel do professor e a ênfase na transmissão dos conhecimentos.
Este artigo coloca questões sem resposta, uma delas é modo como o construtivismo coloca em causa a abstração e as ciências puras pergunto? O exemplo do princípio de Arquimedes que o autor evoca não servirá com certeza os seus intuitos e pode ser facilmente desmontado já que, da forma como o coloca, somos levados a pensar que é numa ótica do conhecer e papaguear e não na compreensão dos seus fundamentos, traduzidos em fórmulas matemáticas aplicadas à física. O construtivismo neste caso pode ser mais eficaz e um complemento à memorização. Quando se mostrar a um aluno que ao colocar determinado objeto num recipiente com um líquido ele flutua e, de seguida, lhe perguntarmos porquê ele poderá colocar várias hipóteses e construir uma teoria sobre o que acabou de observar. As hipóteses serão então comprovadas ou não posteriormente com a ajuda do professor que ajudará à abstração e generalização através da representação e demonstração matemática do fenómeno.
Isto não é mais do que a metodologia das ciências. Será que o aluno, nestas circunstâncias não utilizará as necessárias ferramentas cognitivas que já possui e não memoriza de modo mais fácil e duradouro?
No meu modesto entendimento o currículo e as estratégias pedagógicas e didáticas que melhor preparam os alunos para serem trabalhadores produtivos e cidadão do futuro não é a de "enchê-los" com teorias e factos do presente que rapidamente ficarão desatualizados, mas as que irão mostrar-lhes como aprender autonomamente para se atualizarem e de como utilizarem a informação que adquirirem. Para tal os alunos precisam de:
Há estudos que demonstram que os alunos se esforçam mais por compreender e recordar quando conseguem ver relações entre a matéria que estudam e as próprias vivências. Que professor já não se confrontou com a pergunta de alunos que o questionam sobre a necessidade de estudar um assunto ou que utilidade terá para eles. A pergunta recorrente mesmo em universidades é para que é que isto serve? Esta resposta pode ser-lhes fornecida pela aprendizagem baseada em problemas. Claro que tentar responder à questão com tudo o que é prático pode ser falacioso porque rejeita à partida tudo quanto seja do domínio da teorização e abstração. É necessário o bom senso para não cair no facilitismos, mas isso depende de técnicas e competências a adquirir pelo professor durante a sua formação.
Princípios ideológicos estão visivelmente patentes nas atitudes anti construtivismo. Compreende-se, porque muitos dos que se lhe opõem foram educados, tal como eu, no antigo regime de ditadura tempo em que pensar e refletir sobre o mundo era coisa a evitar. Nas universidades os alunos não podiam sair fora do que o professor dizia nas aulas e nas famigeradas sebentas sem o que seria certa a reprovação.
Se alinharmos por uma lógica de que o modelo que enxameou o ensino há mais de trinta anos não contribuiu para a qualidade e a excelência e trouxe consequências nefastas, podemos então demonstrá-lo através das competências de alguns dos atuais jovens governantes, assessores e outros, que aprendendo segundo o tal modelo construtivista que agora rejeitam, estaremos então de acordo, porque os resultados têm estado á vista.
O que está em causa é, afinal, a menorização da escola pública. Não tenho nada contra as escolas privadas pois foi nelas que fiz o meu percurso educativo no tempo em que os dinheiros do Estado não eram desperdiçados em benesses para as clientelas do ensino privado fossem elas laicas ou religiosas. O esclarecimento cabal para esta distribuição de erário público nunca nos foi explicado.
Penso que os defensores do regime neoliberal deveriam considerar as escolas privadas como qualquer outra empresa e sujeitarem-se à concorrência e às leis da oferta e da procura, deixando o Estado de lhes prestar assistência financeira competindo com as suas congéneres da oferta pública. Excluindo claro está em zonas onde não existe este tipo de oferta. O princípio não é o de melhor Estado, menos Estado, para poupar o erário público?
Um dos argumentos que é apresentados é que sai mais barato subsidiar o privado do que manter escolas públicas. Algo está errado, ou fazem mal as contas ou o ministério da educação é composto por uma série de incompetentes que não sabem como fazer a rentabilização das escolas que lhe pertencem.
Não vale a pena continuar quando a cegueira evidenciada tem como pano de fundo apenas questões ideológicas.
Mas quem sou eu para comentar um comentador com tal craveira intelectual?
O que vou escrever não foi movido pela inveja porque nada tenho a invejar a Cristina Ferreira, não sou da profissão, nem que o fosse, não pertenço ao seu grupo de amizades, não a conheço pessoalmente o que dela sei é somente e apenas pelos programas que ela protagoniza e o que a comunicação social vai dizendo sobre o que se passa nos bastidores dos canais onde trabalhou ou trabalha.
Pacheco Pereira pessoa que considero ser séria como escritor e que também admiro pelo seu estilo de comentário de opinião escreveu no jornal Público um artigo em defesa de Cristina Ferreira. Em epígrafe escreve “O ódio dos covardes que anda por aí” e “Sim, este elogio da denúncia de Cristina Ferreira é para vosso escarmento, vosso opróbrio, vosso desluzimento, vossa vergonha e, se tiverem de ir ao dicionário para perceber algumas palavras, ao menos ganha-se alguma coisa.”
Concordo com Pacheco Pereira unicamente enquanto elogio da denúncia que Cristina Ferreira faz no seu livro do esterco de comentários por alguma gente que se movimenta pelas redes sociais. Devemos, todavia, separar algumas águas quando se trata de pessoas a que se resolveu chamar figuras públicas, que, por princípio, têm mais visibilidade através dos canais televisivos porque a carência de protagonismo que é o seu alimento poderá conduzi-las aos mais variados e falsos altruísmos que, apesar de tudo não deixam de ser altruísmos quando praticados.
Pacheco Pereira elogia Cristina pelo seu livro porque também se indigna, com plena razão e direito, com os discursos de ódio, grosseria, de ameaças, de violência que passam impunemente pela rede sociais
O título deste meu texto “Oportunismo com oportunidade” vem mesmo a propósito e vem a propósito da publicação do livro “Pra Cima de Puta” da autoria de Cristina Ferreira, (tê-lo-á escrito?), editado em novembro de 2020 pela Contraponto Editores. A esta publicação seguiu-se, quase de imediato, a petição contra o cyberbullying para levar à Assembleia da República o que ao mesmo tempo veio servir de marketing para a promoção do livro e, sobretudo, da sua autora. Parece-me ser uma motivação exclusivamente pessoal, mas que pretende transvasar para a generalidade. Enfim, coincidências! O título do livro é sugestivo e pode levar muita gente não apenas as que frequentam as redes sociais a comprá-lo, e é isso que interessa.
As audiências dos programas por ela geridos, e alguns também apresentados, estão em baixa, pelo que todo este movimento marketing à volta de Cristina possa vir a exercer uma espécie de alavancagem para os seus programas televisivos na TVI que tem vindo a ter maus resultados devido à sua interferência e que, por isso, encontra-se fragilizada segundo consta nos bastidores da estação televisiva.
Os seus sorrisos para as câmaras e a aparente simpatia, que seduzem muitos espectadores, não são mais do que mera representação porque, dizem, ao vivo e em trabalho de bastidores é do piorio gritando e insultando os seus colaboradores.
O livro, ao transcrever comentários a ela dirigidos e por ela transcritos para o seu livro poderá ser uma forma de Cristina Ferreira se vitimizar perante o público. Transformar ameaças e crises numa boa oportunidade de negócio é atributo de empreendedorismo e praticado em algumas empresas, e Cristina é uma empresa. É isso que Cristina Ferreira tenta fazer.
As ameaças que advêm da utilização imprópria das redes sociais não é de hoje, embora se tenha agravado, vem desde o seu lançamento. Ameaças, ciberbullying, notícias falsas, difamação, falsidades, maledicências, maldade, machismo, mulheres que rebaixam mulheres e outros impropérios idênticos, para tal a imaginação não falta têm sido várias vezes denunciados e objeto de debate. Esta situação tem vindo a gravar-se e o exemplo é encorajado por alguns altos responsáveis de alguns países bem conhecidos de muitos.
Não é de hoje que as redes sociais têm sido utilizadas para fazer ataques pessoais em que as emoções, boas ou más, extravasam o limite do possível. O tema ciberbullying não é novo e tem sido debatido internacionalmente, nomeadamente na União Europeia cujo Parlamento tem abordado. Tentar resolver ou mitigar o problema dos conteúdos nocivos ou ilegais online e, ao mesmo tempo, proteger a liberdade de expressão é uma das questões fundamentais que os eurodeputados querem abordar assim como a da proteção dos utilizadores contra aquele tipo de conteúdos.
A legislação sobre a informação que circula pelas redes sociais vai apresentar até final do ano uma nova legislação (‘Digital Services Act’ – Lei de Serviços Digitais) para regulamentar melhor os gigantes tecnológicos, em termos de gestão de dados, desinformação e discurso do ódio, em particular.
A Comissão Europeia está a trabalhar numa legislação para garantir que os conteúdos ilegais sejam retirados com as salvaguardas necessárias para proteger a liberdade de expressão porque o ódio não conhece fronteiras. A União Europeia tem, desde 2016, um código de conduta contra o discurso do ódio, de base voluntária, que foi assinado pelos grupos e redes sociais Facebook, Microsoft, Twitter, Youtube, Instagram, Snapchat, Dailymotion, Jeuxvideo.com e Tiktok.
Na Internet e nas redes sociais há gente infame ou que sofre de alguma psicose que difama e se alimenta destilando ódio, agredindo com facilidade e sem pudor pessoas que consideraram tomar como alvo, quer sejam políticos, quer sejam outros que se expões publicamente e Cristina Ferreira é uma dessas muitas pessoas que se expõe assumida e publicamente nas redes sociais.
Fico perplexo quando famílias e muita outra gente que, mesmo não sendo figuras públicas, se expõem através de imagens em família estimulando até os filhos a promoverem-se através de fotografia nas redes sociais. Assusta-me perceber que isso acontece sem qualquer controlo e autocrítica e que depois de serem alvos lamentam-se e julgam-se agredidos.
Não sei se o que mais preocupa Cristina se será sentir-se “Pra cima de Puta” ou se é sentir que está abaixo de puta nas redes sociais. Não percebo a metáfora, mas eis que descobri uma interpretação. Ao escrever aqui abaixo de puta, pensei que teria sido original, mas não fui porque há quem já utilizasse o termo no mesmo contexto que passo a citar e que também podem ler aqui:
“I. Que Cristina Ferreira use a expressão como título de um livro seu, eis uma escolha inevitavelmente curiosa, tendo em conta que a autora quer evitar qualquer arbitrariedade metaforizante, esclarecendo que se trata de uma "provocação", no sentido em que o seu objetivo primordial é uma "chamada de atenção". Atenção para quê? Para uma "análise sociológica" das "agressões" nas "redes sociais" — a começar por aquelas a que ela tem sido sujeita, incluindo a classificação "pra cima de puta".
III. Somos todos pavlovianos, eis a questão. Por um lado, Cristina Ferreira é uma personalidade pública do espaço televisivo, em grande parte apoiada nas chamadas redes sociais, o que ajudará a explicar o seu natural interesse pela sociologia. Identidade, sistema moral e estratégia empresarial, tudo nela existe arquitetado e exponenciado através de tais circuitos. Por outro lado, pressente agora que a utopia "social" que tão empenhadamente tem protagonizado pode ser uma ilusão cruel, convocando os seus seguidores "para percebermos que mulheres e homens atacam ferozmente".
Cristina é em grande parte apoiada nas chamadas redes sociais, mas desconhecem tudo quanto faz a não ser os risos e sorrisos para as câmaras, mas, do que tem vindo a público (consultar revista Sábado de 25 de novembro), é sintoma nítido de megalomania egocentrismo.
Pegar no que lhe chamam nas redes sociais, convencida, traidora, vergonhosa, manipuladora, exibicionista, gananciosa e tentar colocá-los como vantagem para si própria é o objetivo de Cristina para se vitimizar. A vitimização por vezes dá resultados face à queda das audiências.
Quem frequenta redes sociais como o Instagram pode confirmar que Cristina se expõe a tudo quanto sejam abutres do cyberbullyng e ela sabe disso porque não é nem parva, nem estúpida.
O discurso de ódio algumas vezes tem motivações induzidas por quem é o alvo movidas por comportamentos, atitudes, opções partidárias e ideológicas e que se revelam em ataques de todas as espécies que servem aos seus autores de escape que a liberdade de expressão das redes sociais proporciona.
O que me parece estranho é que Cristina Ferreira só agora tenha descoberto os ataques verbais de que tem sido alvo ache também agora que vem em auxílio de outros estão a ser alvos da mesma situação. Estranho é ainda que só ao fim alguns anos venha a insurgir-se contra as injurias, e muitas outras formas de ódio de que tem sido vítima através do cyberbullying e se atribua a si própria a grande defensora de todos e todas que dele têm sido vítimas quando o tema na sua generalidade tem sido abordado não raras vezes.
Há pelas redes sociais milhares de figura públicas, ou não, que são insultadas, enxovalhadas e vilipendiadas que não se queixam e que, com elevação moral não dão resposta a essas provocações que circula nas redes sociais, em vez de se focarem e darem valor a essa gente abjeta que se embrenha no anonimato. Todavia não são apenas insultos há também manifestações de indignação.
Há os que se põem a jeito e Cristina põe-se demais a jeito. O que dizer de quem publica vídeos e fotografias no seu Instagram fotografias com um seu protegido por ela relançado passeando-se num iate apresentando a ideia de alguma cumplicidade entre ambos para alimentar a imprensa. “Na montra do Instagram apresenta sorrisos e uma vida despreocupada financeiramente que contradiz o que se passa nos bastidores. Quem tem contacto com ela na estação descrevem a tensão que se vive na estação. Em público Cristina disfarça a desolação com as derrotas e não baixa a guarda… As fúrias são à porta fechada, fora dali…” Ler aqui.
A megalomania e declarações de “eu é que mando”, “eu é que escolhi” é uma necessidade de transmitir para se auto compensar revelam um egocentrismo patológico. Aquando da XXIV cerimónia dos Globos de Ouro da SIC recorde-se o seu discurso que recebeu críticas vindas de vários setores: "Cristina, a rainha da humildade"; "Presunção e água benta..."; "Que convencida e arrogante", foram alguns dos comentários ao discurso da apresentadora, que ganhou o prémio 'Personalidade do Ano' na área do Entretenimento.
Num fragmento do discurso que não está descontextualizado afirmava que "Eu dizia não quero, isto não faz sentido nenhum, estou lá a apresentar e depois vou lá receber o prémio... e depois percebi que quero. E quero, porque é justo", afirmou, como autoelogio e arrogância que lhe é habitual.
Ser figura pública e ambicionar por visibilidade e protagonismo para benefício próprio tem, e sempre teve os seus riscos, mesmo antes das redes sociais. Publicações como tabloides e revistas cor de rosa e outras lançavam para o público, amores, casamentos, escândalos e outros “tesourinhos” sobre vedetas ou personalidades mais conhecidas.
Portanto, não nos admiremos, Cristina Ferreira não é a vacina que vai salvar o “mundo” do discurso de ódios nas redes sociais.