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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

Quando matar o mensageiro

28.04.20 | Manuel_AR

Matar o mensageiro.png


Hoje resolvi recuperar um comentário que escrevi a um artigo de opinião de Raquel Varela para analisar uma crítica que um leitor do referido artigo me fez e que achei interessante sem pretender com isso levantar polémica.


Em 24 de março do corrente fiz um comentário a um artigo da Profª Raquel Varela que pode ver aqui. Foi uma crítica ao artigo e, consequentemente, à atitude da autora relativamente a algumas posições auto abonatórias da sua pessoa que, do meu ponto de vista, continha pinceladas de egocentrismo e autopromoção que me pareceram um pouco desajustado ao tema do artigo.


Pois bem, em relação à minha crítica ao conteúdo do texto da autora foi colocado um comentário que dizia o seguinte: Na falta de argumentos ataca-se o mensageiro, dejá vu!


Não reagi a este comentário na altura no local próprio, apesar de alguém ter reagido no meu lugar e em meu favor. Todavia, achei-o, interessante. Hoje penso que tal comentário não merece uma crítica, mas sim uma opinião sobre mensageiros e mensagens.


O tema pareceu-me ser interessante porque nas redes sociais há cometários colocados por radicais ineptos que por lá “transitam” atacando, quando não trucidando, quem coloca mensagens que, quando não lhes agradam, estes sim, que por falta de argumentos agridem os mensageiros com palavras ofensivas de verdadeiro bullyng.


A origem da morte dos mensageiros que levavam mensagens com más notícias são antigas.  Cerca do século IV antes de Cristo o rei da Pérsia Dario III quando foi derrotado por Alexandre o Grande, tivera sido antes avisado por Charidemos, um seu conselheiro para a guerra, de que poderia vir a cometer vários erros de estratégia de guerra e informou o rei do possível fracasso de suas estratégias. Dario III teria mandado matá-lo por lhe trazer más notícias e ter-lhe transmitido a verdade honestamente por isso mesmo tornou-se incómodo.


No século XIII, também Gengis Khan conquistou um enorme império e tinha um serviço de correio montado em que os mensageiros oficiais podiam percorrer até 200 quilómetros por dia. Ficou célebre a sua sistemática reação quando os mensageiros lhe traziam más notícias: a morte imediata dos mesmos.


Ora bem, face à crítica que me foi feita ao comentário que escrevi sobre o artigo de Raquel Varela parece-me que, eu, ao ser redator da mensagem crítica à atitude da autora enquanto comentadora de política, e simultaneamente o mensageiro, então, segundo o autor que me fez a crítica, eu, como mensageiro, também deveria ser “morto” por quem recebeu mal a minha crítica.


Como se percebe não se tratou dum mensageiro da mensagem de raquel Varela, porque o mensageiro foi ela mesmo, a autora da mensagem. Talvez daí a confusão do meu crítico que não se apercebeu que ambos, mensageiros e mensagem se confundem, são a mesma pessoa. Não estou a matar o mensageiro, a Raquel Varela, mas sim a contestar a sua mensagem.


Por outro lado, é consensual que um autor, quando escreve a criticar ou sustentar uma realidade está pessoalmente envolvido na mensagem porque está também a espelhar-se através do que escreve ficando, por isso, sujeito a críticas de quem acompanhe os seus pontos de vista.


Ao escrever uma mensagem com opiniões que, para o referido adepto do artigo de Raquel Varela foram supostamente más, matei a mensageira que também redigiu a mensagem. A autora da mensagem é também a mensageira, são unas. Está a aqui a simultaneidade que o autor do comentário não pensou.  Fui eu que redigi a mensagem de que ele não gostou, consequentemente também sou o mensageiro e, por isso, também deveria ser morto, em sentido figurado claro está. Ele também matou o mensageiro porque não gostou da mensagem.

Primeiras eleições após a Revolução do 25 de Abril de 1974: um documento histórico

25.04.20 | Manuel_AR

25 de abril-2020.png


A 25 de Abril de 1975 cerca de seis milhões de portugueses souberam pela primeira vez na sua existência o agrado de saber o que era o exercício democrático fundamental de ter o direito ao voto.


Hoje no dia da comemoração da Revolução do 25 de Abril de 1974 resolvi ir vasculhar os meus arquivos relacionados com esta data histórica e encontrei um recorte do artigo publicado da Revista Expresso com o título “A sondagem secreta”, cuja data por lapso não anotei.


Achei interessante saber-se, muito antes de haver marketing direcionado para a política houve no final de 1974, como é que se manifestava então a vontade popular através de uma sondagem de opinião efetuada por uma instituição ligada ao grupo CUF, o CEAD, que, entretanto, desapareceu, perdendo-se o estudo com a desvario das nacionalizações.


A sondagem era inédita porque, pela primeira vez, incidia sobre as preferências partidárias dos portugueses e de quais era os preferidos para Presidente da República.


Esta sondagem procurava entrever a incógnita que eram as eleições por sufrágio universal direto e secreto para a Assembleia Constituinte. As eleições livres era um dos sérios compromissos do MFA – Movimento das Forças Armadas que tinha derrubado o regime de ditadura que vigorou em Portugal durante 41 anos.   


No seu início e em finais de 1974 a revolução seguia caminhos incertos e sempre para a esquerda. Em dezembro de 1974 o poder político assentava cada vez mais nos militares onde despontavam claras divergências e o Governo Provisório que perdeu, entretanto, poderes era apoiado por quatro partidos PS, PPD (atual PSD), PCP e MDP dos quais se desconhecia a respetiva expressão eleitoral.


A sondagem apontava para uma nítida vitória dos partidos moderados, o PS e o PPD ficando-se o PCP e o MDP seu aliado com posições minoritárias e atribuía á direita, extrema-direita e á extrema-esquerda valores insignificantes. Outra conclusão antecipada foi quanto à abstenção que era quase residual.


O questionário continha 33 perguntas sobre problemas nacionais urgentes e foram questionadas pessoal e diretamente cerca de setenta e sete mil pessoas selecionadas aleatoriamente residentes no continente em trabalho de campo que ocorreu em dezembro de 1974.


Aqui vão algumas das principais conclusões do inquérito de opinião:


 

 



Partidos



PS



PPD


atual PSD



PCP



MFA


Não era partido nem concorreu



MDP



ANP partido único da ditadura



CDS



% de intenções de voto



35,1%



27,0%



10,8%



5,4%



2,7%



2,7%



Sem significado estatístico



 


Acima da média encontravam-se partidos como o PS nos distritos da Guarda, Setúbal, Lisboa, Beja. O PPD sobressaía em Viseu, vila Real Braga e Porto. O PCP destacava-se em distritos como Beja, Setúbal e Évora. O CDS em Castelo Branco.


Menos de um quarto da população, 23%, participara em comícios ou sessões de esclarecimento.


 



Sem eleições a população não sabia que rumo seguir


 



SIM



NÃO



Indecisos



Se não se realizassem eleições o povo sentia-se enganado



49%



13%



-



Tencionavam ir votar



83%



5%



12%



 



 



Maior liberdade



Mudança de governo



Fim da guerra no Ultramar



Na sua opinião qual foi a mudança mais importante depois do 25 de Abril?



21%



10%



9%



 



Acha bem ou mal



Bem



Mal



Aumento dos salários



88%



3%



Libertação de presos políticos



85%



2%



Prisão dos agentes da PIDE



80%



3%



Dar independência aos povos de África



78%



4%



Os sindicatos ganharem força



64%



3%



Abertura de relações com os países comunistas (na altura)



62%



9%



 



 



 



Haver possibilidade de divórcio



57%



27%



Portugal pode tornar-se um país comunista



46%



21%



Problemas entre trabalhadores e patrões podem ser resolvidos sem greves



72%



2%



 



 



Mais



Menos



Empresas do Estado são mais eficientes



33%



14%



Acredito mais na iniciativa privada do que no Governo



10%



37%



 



O Governo fez bem em dar independência aos territórios ultramarinos



Bem



Mal



81%



4%



 



 



Europa



EUA



Rússia



Junto de que países Portugal podia obter maior auxílio?



25%



20%



13%



 



 



Sim



Não



Portugal devia manter-se no Ultramar se fosse possível acabar com a guerra



51%



23%



 



A quem deviam pertencer as terras



Aos seus proprietários



45%



Aos que nelas trabalham


(Maioria verificou-se nos distritos de Beja e Setúbal)



30%



Cooperativas agrícolas



7%



Ao Estado



5%



 


Resultados reais das eleições



Que partido gostaria que ganhasse



 



Em quem vai votar



Resultado real das eleições (1)



PS



44,2%



35,1%



37,9%



PPD (PSD)



32,7%



27%



26,4%



PCP



11,5%



10,8%



12,5%



MFA



5,6%



5,4%



Não era partido



MDP/CDE



1,9%



2,7%



4,1%



CDS



1,9%



-



7,6%



UN/ANP



-



2,7%



Partido entretanto extinto



FSP



Partidos formados após a sondagem



Partidos formados após a sondagem



1,2%



UDP



0,8%



MES



-



-



1%



PPM



-



-



0,6%



Nenhum



1,9%



13,5



Outros partidos



 


25 de abril-2020-2.png.jpg


Num país que na altura não tinha experiência de inquéritos com finalidades políticas houve uma percentagem muito elevada de pessoas que não emitiram opinião sobre vários assuntos, devido à falta de hábitos democráticos e segundo os autores afirmaram especialmente no Alentejo os entrevistadores tiveram de ir acompanhados pela GNR.


Foi significativo o facto de metade da população desconhecer quem fizera o 25 de Abril.


Como tudo mudou até aqui!!!


Vivemos em democracia e queremos continuar a viver, apesar de haver ainda por aí uns “jarrões” empedernidos que estão a fazer tudo para acabar com ela. Querem a democracia deles, isto é, nenhuma!….

Aos grandes causadores deixai-os morrer…

21.04.20 | Manuel_AR

Coronavirus-envelhecimento.png


Serem os idosos os mais vulneráveis não que dizer que sejam eles os principais transmissores da infeção para os outros. Pelo contrário, são os outros, os dos grupos etários mais baixos, quer sejam cuidadores, quer sejam familiares ou amigos que os contaminam nas suas casas, dentro e fora dos lares, nas casas de familiares e, pontualmente, noutros contextos que os contagiam. Parece querer-se criar nos mais velhos o estigma de causa e efeito da epidemia.


Notícias, informações, comentários, opiniões, contradições, conferências de imprensa, mesmo as da DGS, deixam no ar mensagens de ambiguidade aos auditores/recetores de apreensão e proporcionam interpretações erróneas e algo confusas.


Observa-se  no constante destaque sobre a incidência do Covid-19 relacionado com os idosos e os lares, parecendo sugerir que são eles os grandes causadores da propagação do vírus e também serem eles os que, em valor numérico e percentual são os mais contaminados quando haverá nas principais capitais portugueses hostels, pensões, alojamento locais e casas alugadas frequentados por imigrantes e outro tipo de pessoas que são potencias focos da epidemia.


Basta comparar os números oficiais dos infetados que tem vindo a aumentar diariamente independentemente do grupo etário; basta consultar os dados e os gráficos diários divulgados pela DGS e fazer as contas para saber os grupos mais infetados, para sabermos que a maioria dos infetados não são os idosos. Esses são de facto os mais vulneráveis, os que são contaminados, mas não são os difusores da doença apesar de serem os mais afetados pela mortalidade devido às suas inerentes fraquezas.


Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso do sábado passado um artigo de opinião, com alguma ironia, sobre o sentimento e o estigma que se pode estar a gerar contra e sobre os idosos ao escrever que “O que nos propõem é simples e convém que todos estejam cientes da proposta, para que cada um carregue consigo o fardo da escolha: os que não morreram da doença não querem agora morrer da cura. E morrer da cura é continuar a deixar a economia em coma induzido, sem a trazer de volta à vida. Devagar, por sectores, com vários cuidados recomendados e diversas precauções. E, ao mesmo tempo, libertando a população da prisão domiciliária onde estamos todos encerrados, mas por fases e segundo critérios etários: primeiro, adultos saudáveis, na força da idade laboral; depois, jovens; e, a seguir, crianças. Mais adiante “Porém, há uma excepção, e disso depende o êxito — ou a ousadia — de todo o plano: os velhos devem continuar encerrados, porque representam um perigo sanitário público e uma ameaça à sustentabilidade dos serviços de saúde. Devem, então, ser mantidos longe da vista, afastados de qualquer contacto com os outros, até que haja uma vacina e a sua distribuição seja universal — talvez no Verão do próximo ano, na melhor das hipóteses.” E continua, “Muitos deles, aliás, já cumpriram a sua função, deixando-se abater ao activo, vítimas do vírus ou de outras doenças que, por força do vírus, não foram tratadas ou eles próprios não quiseram tratar. Aqui, como em Espanha, um terço dos mortos da covid ocorreram em lares onde os velhos estavam acantonados e foram apanhados sem defesa, a coberto de uma ilusão de segurança que, de tão frágil, chega a parecer indiferença. Quando um utente infectado num lar é retirado dele, consegue recuperar cá fora e depois é devolvido ao lar onde permanece o foco de infecção, que outra palavra podemos usar que não indiferença?”. (Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 18/04/2020- Escreve segundo o antigo acordo ortográfico)


A ideia de uma espécie de “extermínio” dos idosos pelo isolamento a que muitos deles já estão sujeitos parece crescer impulsionado pelas mensagens veiculadas pelos órgãos de comunicação social e até por órgãos oficiais e oficiosos do Governo muitas vezes mascaradas de medidas de proteção para os salvaguardar da infeção.


Somos invadidos voluntária ou involuntariamente por informações de várias origens: informações provenientes dos nossos próprios sentidos, o que vemos à nossa volta; pela televisão e nos jornais; pelo que ouvimos no café da esquina ou através de outras pessoas que, por défice de esclarecimento, cada um interpreta segundo as suas conveniências, interesses ou posições ideológicas.


Parece estar, assim, a começar a ser produzido na consciência coletiva - criada pelos indivíduos em muitas das suas práticas influenciados pela sociedade em que estão inseridos - a ideia da inutilidade dos idosos (o que também transpareceu numa entrevista que o já senil Ramalho Eanes deu há algumas semanas a um canal de televisão, numa demonstração de altruísmo hipócrita).


Teme-se em todo o mundo uma espécie de incentivo para encarar os idosos como os grandes causadores da proliferação da epidemia e de que a sua fragilidade em relação à doença é um a causadora do mal epidémico. Pode ser uma nova versão, mais drástica, da conhecida frase da “peste grisalha” que o deputado Carlos Peixoto utilizou em 2013.


Alguns pensarão, (mas não o dizem), que a elevada taxa de mortalidade provocada pela epidemia nos idosos irá aliviar os contribuintes do peso dos tratamentos e pensões a pagar pelos Estados. Trata-se de uma espécie de genocídio gerontológico ou gerontocídio que passou a ser socialmente aceite, já que o agente executor, o Covid-19, é algo invisível e incontrolável o que, por isso, o torna tranquilizador das consciências de cada povo e, ao mesmo tempo, socialmente útil por aliviar os problemas sociais e económicos originados pelo envelhecimento das populações.


Como apontamento final, e á margem, podemos pensar que, no passado, o Führer da Alemanha nazi se tivesse uma oportunidade como esta, tê-la-ia ajudado para uma “solução parcial” na questão judaica que ficaria resolvida sem problemas de consciência que, de qualquer modo, nunca teve quando prescreveu a receita da solução final.


 


NOTA: Conforme se pode verificar pelo gráfico o total dos grupos etários superiores a 60 anos é inferior ao dos grupos etários entre os 20 e os 59 conforme se pode confirmar. Os cálculos foram efetuados a partir dos dados da DGS.


CARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA DOS CASOS CONFIRMADOS     


Totais agrupados em 21/04/2020 (Dados a partir da DGS)


            Grupo etário   Total de infetados


0-19       946


20-59     12652


> 59       6881


Coronavirus-gráfico-2.png


Fonte: Gráfico construído a partir de dados da DGS em 21/04/2020

Uma precisa interpretação geográfica do coronavírus

18.04.20 | Manuel_AR

Coronavirus-geografia.png


Esta semana foi publicado no jornal Público um artigo de João Ferrão que, embora de opinião, apresenta um cunho científico. Conheço o autor desde os meus tempos da faculdade quando frequentava o curso de Geografia Humana, variante de Planeamento Regional e Local.


João Ferrão, na altura assistente de Professor Jorge Gaspar, foi meu professor nas aulas práticas da cadeira de Geografia Humana do primeiro ano. Na altura era ele um jovem professor quando eu, na mesma altura mais entradote, frequentava as suas aulas com interesse e aplicação, apesar das minhas curtas permanências na faculdade a que me obrigava o meu trabalho como responsável pelo departamento de informática de uma empresa.


Para além de Jorge Gaspar, diretor do curso, João Ferrão foi um dos professores que mais me marcou positivamente pois foi um marco na minha vida universitária que me indicou e abriu pistas para o futuro no âmbito do interesse pela pesquiza geográfica. Doutorado pela Universidade de Lisboa em Geografia Humana e investigador do Instituto de Ciências Sociais com uma personalidade ímpar quer como pessoas quer como investigador levou-me a acompanhar por fora o seu percurso profissional e académico tendo algumas vezes assistido às suas intervenções públicas uma delas quando era Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades entre 2005 e 2009.


Dado o seu saber, não apenas no domínio da geografia humana e ordenamento do território, considerei o artigo publicado como uma peça com o interesse e a importância merecedor de divulgação e por isso incluo no meu blog de vulgares opiniões, uma peça que merece se lidas e analisada.


A geografia da covid-19: algumas precisões


(João Ferrão, in Público, 16/04/2020)


É, sem dúvida, importante divulgar informação regionalizada e apontar potenciais causas para os resultados diferenciados observados nas diversas regiões. Mas convém enquadrar estes resultados numa visão mais ampla, quer do ponto de vista conceptual, quer no que se refere ao conhecimento do território de Portugal continental.


Todos os dias, ao final da manhã, numa conferência de imprensa da responsabilidade do Ministério da Saúde, são apresentados e comentados os resultados apurados na meia-noite anterior sobre o avanço da covid-19 em Portugal. A informação disponibilizada inclui dados por áreas de intervenção das administrações regionais de saúde – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve –, o que é positivo porque permite perceber que a incidência desta pandemia, como a de qualquer outra doença infecciosa, não é geograficamente homogénea. Quando jornalistas questionam a diretora-geral da Saúde sobre as razões dessas diferenças regionais, é respondido, e bem, que apenas estudos aprofundados poderão dar uma resposta segura à pergunta colocada. Mas ainda assim são enunciados três fatores explicativos principais: estrutura etária, densidade demográfica e total de lares de idosos existentes.


É, sem dúvida, importante divulgar informação regionalizada e apontar potenciais causas para os resultados diferenciados observados nas diversas regiões. Mas convém enquadrar estes resultados numa visão mais ampla, quer do ponto de vista conceptual, quer no que se refere ao conhecimento do território de Portugal continental.


A primeira distinção a fazer é entre exposição, suscetibilidade e vulnerabilidade. Sendo a origem do coronavírus externa ao país, o conceito de exposição define-se, numa primeira fase, em função do grau de abertura de cada território ao exterior. Por exemplo, as áreas metropolitanas, as regiões exportadoras, as regiões com dinâmicas transfronteiriças mais intensas ou as áreas que mantêm uma circulação regular de pessoas com comunidades emigrantes (neste caso, da Europa) estão mais expostas à possibilidade de importação de vírus. Mas as características de cada um desses tipos de territórios são diferenciadas sob muitos pontos de vista, das características sociodemográficas e habitacionais das populações que aí residem à dotação de serviços de saúde. Assim, podemos imaginar duas áreas com idêntico grau de exposição a focos externos da pandemia mas que, tendo suscetibilidades diferenciadas, revelam níveis de vulnerabilidade distintos.


No sentido oposto, e apesar de as pessoas com mais de 70 anos corresponderem a um grupo de risco reconhecido pela OMS e confirmado pelos resultados de países onde a pandemia se fez sentir mais cedo e também em Portugal, uma região com uma estrutura demográfica muito envelhecida (portanto, potencialmente muito suscetível), mas pouco exposta ao exterior (internacional e mesmo nacional), pode revelar-se pouco vulnerável. Em suma, a vulnerabilidade de cada região – neste caso, medida através da incidência de casos de infeção e da sua gravidade – são o resultado do jogo de duas componentes – exposição e suscetibilidade – que pode variar ao longo do ciclo epidemiológico, sobretudo à medida que a exposição externa vai sendo mais controlada (encerramento seletivo de fronteiras, cancelamento de voos, etc.).


Esta última observação permite realçar uma outra distinção: numa segunda fase da pandemia, a exposição passa a definir-se sobretudo em função de focos internos através de dois tipos de difusão, uma por contiguidade física e outra por interação funcional. A primeira ocorre a partir da expansão em mancha de óleo dos focos preexistentes em direção a áreas e concelhos vizinhos, baseada em movimentos pendulares casa-trabalho, cadeias de abastecimento, enfim, todo o leque de interações físicas que famílias, empresas e outras entidades com uma localização relativa próxima mantêm entre si. É o que sucede, por exemplo, nas áreas metropolitanas ou nas áreas de industrialização rural dispersa. A segunda, difusão por interação funcional, envolve as cidades de média dimensão (em geral, capitais de distrito). Estas aglomerações urbanas, pelo tipo de serviços especializados que possuem (universidades e politécnicos, hospitais regionais, equipamentos públicos de nível supramunicipal, etc.) e pelos grupos sociais que aí residem (com maior mobilidade), mantêm uma relação significativa quer com as áreas mais expostas internacionalmente (e que estiveram na primeira linha da importação de casos infetados), quer com concelhos das áreas rurais.


À luz deste enquadramento, é agora mais fácil reinterpretar quer as diferenças regionais, quer a pertinência dos três fatores explicativos acima invocados: estrutura etária, densidade demográfica e total de lares de idosos existentes.


Os dados disponíveis, apesar de todas as dúvidas que suscitam no que se refere à sua efetiva cobertura e fiabilidade, permitem identificar quatro questões relevantes.


Em primeiro lugar, não são as regiões ou concelhos com uma estrutura demográfica mais envelhecida que revelam um maior número de infetados, tanto em valor absoluto como relativo. Pelo contrário, a haver uma relação generalizada (o que merece sempre a maior prudência) ela aponta para que seja nas áreas com uma estrutura etária mais jovem que, muitas vezes, se verifica uma maior incidência da covid-19. Ou seja, o grupo etário com mais de 70 anos é efetivamente um grupo de risco, mas uma área com uma população muito envelhecida não é necessariamente uma área de risco.


Em segundo lugar, a densidade populacional, por si só, não se associa de forma relevante com o grau de incidência da covid-19. Áreas com densidades demográficas muito distintas podem ter taxas de incidência relativamente semelhantes e superiores à média. Simetricamente, áreas com densidades idênticas podem revelar uma presença muito diversificada de habitantes infetados. De facto, sob a designação genérica “densidade demográfica” escondem-se dois aspetos distintos: grau de urbanização e tipo de povoamento. Claro que nas cidades, grandes e médias, a densidade demográfica é maior e, por isso e sobretudo pelo seu modo de funcionamento enquanto espaços de estudo, trabalho, consumo e lazer, a interação pessoal, direta e indireta, é mais intensa. A difusão comunitária, quer por transmissão direta, quer através do uso de superfícies comuns, tende, pois, a ser mais elevada do que a média. Mas o tipo de povoamento também é relevante. Em áreas de povoamento difuso e de pequena propriedade, onde se misturam num mesmo território funções residenciais e atividades agrícolas e industriais, os contactos sociais são igualmente densos. Pelo contrário, em áreas com povoamento concentrado, caracterizado por povoações relativamente isoladas e maioritariamente habitadas por idosos com fraca mobilidade, o potencial de difusão comunitária é muito menor. Ou seja, a densidade demográfica apenas possui poder explicativo nos casos extremos (cidades ou territórios com um elevado grau de despovoamento), pelo que, por si só, esconde mais do que esclarece.


Em terceiro lugar, a questão dos lares de idosos. A um nível micro, e correspondendo estes equipamentos a uma concentração de idosos, eles são, naturalmente, locais de risco. Mas os casos mais graves podem ocorrer em contextos territoriais muito distintos, e resultam de uma conjugação de fatores internos e externos a cada um dos lares. Parece difícil aceitar a hipótese – mas apenas estudos aprofundados o poderão confirmar ou infirmar – de que existe uma relação entre o total de lares de idosos e o grau de incidência de infetados e mortos ao nível regional.


Dizer que a região Norte tem valores mais elevados porque “por acaso” alguém veio infetado de uma feira no Piemonte, a região italiana com maior incidência da covid-19, é não entender que estes vários Nortes conciliam, ainda que em graus diferenciados, uma forte exposição externa e uma suscetibilidade local elevada


Finalmente, os mapas por concelho disponibilizados diariamente pela DGS, independentemente das limitações que poderão ter como atrás se salientou, aconselham alguma prudência quando se comparam dados de diferentes regiões. Sobretudo nas que têm uma configuração transversal ao país – as regiões Norte e Centro –, as diferenciações internas são tão significativas que dificilmente tem sentido falar das regiões como um todo. Deste ponto de vista, a região Norte é particularmente interessante, já que os resultados globalmente elevados apenas são compreensíveis se considerarmos que existem vários Nortes particularmente expostos e suscetíveis: a área metropolitana, com as suas franjas suburbanas mais pobres; as áreas de industrialização difusa, sobretudo do Vale do Ave; as cidades médias (Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Vila Real, Bragança); os concelhos junto à Galiza, o troço da fronteira luso-espanhola com uma dinâmica transfronteiriça mais intensa; e Trás-os-Montes, com uma forte relação com comunidades emigrantes de vários países europeus (desde o regresso de portugueses despedidos recentemente ao vaivém de trabalhadores da construção civil). Dizer que a região Norte tem valores mais elevados porque “por acaso” alguém veio infetado de uma feira no Piemonte, a região italiana com maior incidência da covid-19, é não entender que estes vários Nortes conciliam, ainda que em graus diferenciados, uma forte exposição externa e uma suscetibilidade local elevada, ou seja, um significativo potencial de vulnerabilidade em relação a esta ou a qualquer outra doença infecciosa. Os mapas por concelho diariamente disponibilizados pela DGS mostram ainda que, no caso da região Centro, o contraste entre os municípios do litoral e do interior é tão acentuado que os totais regionais têm um valor igualmente enganador.


Será, então, que não vale a pena dar atenção aos valores regionais e municipais diariamente divulgados pela DGS sobre a evolução da covid-19? Muito pelo contrário. Pelo que revelam e pelas dúvidas e questões que suscitam, esses dados abrem mais uma janela de observação para conhecermos e compreendermos melhor não só a pandemia, mas o próprio país na sua diversidade territorial. Dados fiáveis ao nível municipal e estudos aprofundados baseados em evidência empírica permitirão no futuro conhecer as várias geografias da exposição, suscetibilidade e vulnerabilidade a doenças infecciosas, replicando os avanços científicos alcançados na última década no domínio das alterações climáticas e seus impactos.


O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Que se morra então, PIM!

16.04.20 | Manuel_AR

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Sem economia morremos todos, sem pessoas morre a economia. A economia tem de funcionar sem desvalorizar a saúde pública. Pessoas aflitas, ansiosas, sem saúde e assustadas não reanimam a economia, afundam-na.


Por isso, é estranho que um diretor dum jornal online de tendência neoliberalista diga a seguinte frase: “Antes morrer livre do que viver escravo da Covid”. Não ouvi o que ele disse, nem me interessou, apenas me centrei no título como mote para o texto que hoje escrevo.


A frase fora de um contexto pode levar a várias interpretações. A minha é a de que ele não estará contra o distanciamento social, mas contra o confinamento e encerramento obrigatório das atividades e funções que fazem mover a economia. A decisão do confinamento obrigatório teve dois motivos bem explícitos: preservar dentro das limitações existentes a saúde pública e salvaguardar a população duma potencial catástrofe sanitária.


Na circunstância da pandemia Covid confrontam-se pontos de vista antagónicos, os que reverenciam Trump e Bolsonaro e os seus pontos de vista orientados para a política do laissez-faire aplicada à saúde pública com despreocupação, desvalorização e de não interferir na grave situação e que à vista do mundo são como ditadores de extrema-direita sustentados por regimes democráticos legitimado por eleições que os levaram a ocupar o poder, e os que como na Europa que, nem sempre em consonância, apoiam uma contenção e o confinamento como soluções minimizadoras, mas mais ou menos severas. Trump hoje mesmo invocou poder “total” para desautorizar governadores e agora ameaça suspender o Senado. Que dizem agora os adoradores de Trump?


Coloca-se para aqueles uma solução única: deixar que o vírus prolifere e se propague de forma irreversível para salvar a economia (talvez a dos grandes interesses) e que morram pessoas. Nesta solução encontrar-se-á possivelmente o autor da dita frase que opta por desejar para ele a morte, (será que, como ele, nós todos deveríamos dar o exemplo?). A economia acima de tudo e de todos, mesmo condenando a população à doença, à contaminação e até à morte. Podem ter a certeza de que, se tal acontecer, não serão apenas os idosos a ir, a coisa será bem mais grave.


A guerra das interpretações dos números oficiais e oficiosos surgem pela boca de muitos ditos líderes que, rodeados por interesseiros otimistas empedernido, tentam demonstrar à população de que tudo não passa de um exagero, muitas vezes forjados pelos seus adversários políticos e de comércio global. Outros chegam ainda ao ponto de considerar na estatística dos recuperados os que morreram do Covid-19 como o fez o presidente do Chile, Sebastian Piñera que revelou que o país está a contar as vítimas mortais provocadas pela covid-19 como "recuperados" porque “deixaram de poder contagiar a restante população”.


A pergunta que requer resposta é: estará a economia acima da vida?


A resposta ao autor da frase, pois então, será que MORRA O DANTAS, MORRA! PIM – alusão ao texto de Almada Negreiros no Manifesto Anti-Dantas.


Que seja então o autor da frase a morrer, como diz preferir, para salvar a economia como Jesus Cristo salvou a Humanidade com a sua morte.


Nota: O autor deste texto não deseja a morte de ninguém, nem tão-pouco a do dito diretor, trata-se apenas de uma ironia que veicula um significado contrário daquele que deriva da interpretação literal do enunciado.

Momentos de crise e a inflação de profetas

14.04.20 | Manuel_AR

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A limitação aos contactos sociais a que estamos sujeitos para proteção nossa e dos outros cria na maior parte das pessoas novos estados de ansiedade e emocionais. Até que se encontrem caminhos seguros devem ser dados apenas pequenos passos em direção à porta da liberdade. Até lá os canais de televisão e a imprensa têm-nos brindado com oráculos da desgraça que aparecem como cogumelos no espaço mediático com intervenções, entrevistas, divagações, propostas, palpites, comentários e opiniões das mais díspares e contraditórias.


Entre os que de modo imparcial e com base na ciência se pronunciam sobre a atual situação fazendo projeções com base no que a ciência conhece até ao momento, surge umas outras espécies que, de forma muitas vezes categórica, proferem sobre assuntos de que não são especialistas, mas apenas aprendizes de profetas da desgraça conforme as conveniências.


Acenam com ameaças terríveis que hão de chegar, por vezes contraditórias, pouco concisas e até redundantes que, embora possam parecer despejadas de intencionalidade, o objetivo parece ser o de influenciar, confundir e desorientar quem os escuta. Laçam para o ar medidas para responder às crise causada pelo novo coronavírus e consequente área socioeconómica, o que é  agravado pelo lixo de conselhos errados, perigosos e falsas e forjadas notícias difundidas por alienados (com objetivos obscuros) que não têm o mínimo pejo em troçar de populações desprevenidas, ansiosas e com fraca capacidade de avaliar e compreender as mensagens dos vários meios de comunicação social, ou seja, com fraca literacia mediática.


Na passada semana órgãos internacionais de comunicação social como New York Times, o El País ou o Der Spiegel dedicaram-nos artigos com elogios aos procedimentos no que respeita aos controle do COVID-19 mesmo que as coisas possam estar a correr bem, há que, para além de não aligeirar as  guardas, tentar descobrir maneiras de evitar a tempestade económica e social que se forma no horizonte. 

A derrota do Capitão América

10.04.20 | Manuel_AR

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Estive nos Estados Unidos da América, mais propriamente em Nova York, em 2003. Foram quinze dias inesquecíveis que me souberam a pouco. Era o tempo em que George W. Bush era Presidente do mais poderoso país do Mundo, aliás muito criticado, não por ser republicano, mas pela sua política disparatada e que, por isso, será lembrado. Muitos dos seus atos políticos serão difíceis de esquecer. O mesmo aconteceu com as suas frases, que eram motivo de risos e de constante perplexidade. Relembro uma das muitas frases malucas que Bush Júnior proferiu ao longo de sua carreira política tais como esta: "Os nossos inimigos são inovadores e engenhosos, mas nós também. Eles nunca param de pensar em como prejudicar nosso país e nosso povo. Nós também não" (Washington, 5 de agosto de 2004).


Podemos chamar-lhe trocadilho, lapso, ou quer que seja, mas em nada se comparam às contradições, mentiras, provocações malévolas, negacionismo do atual e pouco estadista presidente Donald Trump.


Peritos de saúde nos Estados Unidos têm ainda estado em desacordo com Donald Trump, que tem feito uma série de afirmações questionáveis, ou simplesmente falsas, a propósito do coronavírus. Disse que a taxa de mortalidade da gripe comum é “muito mais alta” do que 0,1% (depois de ter confirmado que era 0,1%, como dizem os especialistas); que “ninguém sabia o que era o Ébola antes de 2014” (o Ébola foi descoberto em 1976); desvalorizou o perigo e a progressão da doença, falando da possibilidade de uma vacina aparecer rapidamente (estima-se que leve um ano a ano e meio a estar pronta); mencionando os efeitos económicos do coronavírus, declarou: “Vai passar. Tenham calma.”


Segundo a BBC e dados do Censo, com valores referentes ao mês de março, mostram que mais de 27,5 milhões de americanos não têm acesso a seguros de saúde, o que terá feito com que muitos que apresentam sintomas ou requerem tratamento não recorram a hospitais por medo dos custos elevados. Mas para muitos que têm plano de saúde, o dinheiro com a coparticipação ou franquia têm de desembolsar uma quantidade de dinheiro que as seguradoras não cobrem e que em algumas ocasiões pode ser de milhares de dólares e também pode fazer com que muitos descartem a possibilidade de ir ao médico. Segundo dados da ONG Commonwealth Fund, mais de 44 milhões de pessoas encontram-se neste último grupo de "seguro insuficiente".


Com a conivência do partido Republicano Trump encara os EUA como se fosse o seu condomínio privado, um qualquer espaço de recreio infantil sujeito aos seus caprichos momentâneos e aleatórios dizendo tão rapidamente quanto desdiz. O que em uns dias seria uma verdade absoluta deixa de o ser na semana ou mês seguinte.  Uma postura ridícula de poder é notória quando mostra para as câmaras a sua assinatura que lembra uma peça publicitária de mau gosto.


Em 2003 tinham passado somente 3 anos dos atentados do 11 de setembro, trauma na altura ainda fresco, mas respirava-se naquela altura a agitada vida nova-iorquina, a cidade sem descanso. Hoje Nova Yorque está e a passar por uma catástrofe humana, social e económica nunca vistas, nem vividas desde a destruição das torres gémeas por grupos de criminosos terroristas. Hoje é o “terrorismo” da pandemia do novo coronavírus sobre a saúde pública americana que ataca selvaticamente a população de Nova Yorque e os EUA a que Trump assiste impávido e sereno dizendo trivialidades nas conferências de imprensa.


Trump, com manifesto desprezo pela vida humana - que não a dele, claro – inicialmente, e ainda continua a fazê-lo, desdramatizou, adiou, retardou ao extremo, não se sabe se propositadamente,  medidas para salvaguardar a saúde pública que se impunham como necessárias. Se não tivesse sido pressionado não tomaria quaisquer medidas para proteção da população. Para ele a economia e os lucros das grandes empresas que o têm mantido no poder valem mais do que a vida dos seus concidadãos americanos.


Nos EUA a questão do aumento do emprego e do desemprego relacionam-se com as empresas e a política. Quando uma presidência lhes é favorável, e porque sabem que liberalização dos despedimentos os protege, contratam pessoal facilmente e as estatísticas do desemprego diminuem, mostrando assim a virtude das políticas da administração que então se encontre na Casa Branca. Tem sido assim que, com Trump, o emprego nos EUA tem aumentado, mas agora em altura de crise o desemprego aumenta para níveis assustadores.  


Como é que Trump justifica agora aos americanos o que está a acontecer com o Covid-19? Muito simples, arranjam-se culpados para justificar a sua inépcia. Primeiro chamou-lhe o vírus chinês que era apenas uma pequena gripe, em março de 2020 Trump acusa UE de falhar na resposta ao Covid-19 e promover infeções nos EUA, agora acusa a OMS – Organização Mundial de Saúde de não ter o avisado e de ser pró-chinesa. Mas, então, a OMS não avisou há meses e quase diariamente o que estava a acontecer e assim como as previsões. Está a chamar indiretamente aos seus compatriotas e ao resto do mundo imbecis.  Ao que chegou o Partido Republicano que sustenta gente como esta, é coisa nunca vista, tanto quanto se conhece da história e da política dos EUA mesmo em anos maus.


Trump está a perder o respeito no palco mundial, ou melhor, já o perdeu, que o afasta cada vez mais das diversas realidades. Vive num mundo só dele e dos que ainda o continuam a apoiar. Por outro lado, os países da U.E. com as suas tricas internas devidas a egoísmos nacionalistas encobertos e à falta de solidariedade parecem não ter percebido que estão a ajudar Putin e Trump que aproveitam todas as oportunidades para a desmoronar, aliás como Trump parece ter feito durante o seu mandato. Não é novidade que Trump aconselhou o Reino Unido a sair da União Europeia. Emmanuel Macron, em maio de 2019, denunciou haver "uma convergência entre nacionalistas e interesses estrangeiros" para destruir a União Europeia, referindo-se a Steve Bannon, ex-estratega político de Donald Trump, e à Rússia. "Só podemos estar perturbados e não podemos ser ingénuos", disse Macron numa entrevista a 41 jornais regionais em que afirma, sem dar pormenores, que "russos e outros" estão a financiar partidos extremistas na Europa".

Os virulentos

08.04.20 | Manuel_AR

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A TVI24 lançou para o ar no dia 6 do corrente no noticiário das 14 horas uma peça com laivos de falso humor com um cheiro a denegrir partidos, Governo e Presidência da República. Numa altura em que todos devemos estar unidos, apesar de não unanimistas, e confiar nas instituições nacionais a peça da autoria de um tal Victor Moura Pinto tenta denegrir a imagem de tudo o que são instituições democráticas.


A peça cujo autor deve achar-se muito engraçadinho, mas que eu considero ser um falso humorista, achincalha, neste momento de aflição, aqueles em quem, pelo menos por agora, devemos confiar, mesmo que com algumas falhas ou enganos, para que possamos lutar juntos contra esta peste do século XXI que nos destrói e à economia. Duvido que o momento escolhido para a ida para o ar fosse o mais conveniente.


Não devemos ficar sorumbáticos, mas um pouco de contenção às motivações políticas e talvez até ideológicas do seu autor não pecaria por excesso. A peça tem, para além de comentários pouco convenientes para o momento, um fundo musical e a letra de um grupo qualquer que assenta sobre mentira e que, no contexto da peça, insinua e impulsiona ao descrédito pelas pessoas e pelas instituições.


A peça não só pela sua extensão, mas também pela seleção de muitas das imagens que foram rebuscadas de reportagens sobre outros temas não são representativas do atual momento e que, do meu ponto de vista, é detestável para não utilizar um vocábulo mais forte.


O Sr. Victor Moura Pinto até pode ser um grande jornalista e um grande professor, mas na tentativa de fazer humor com a descredibilização das instituições, não me parece nada pedagógico para o momento que se atravessa.


E, para terminar, não é nas televisões que estes engraçadinhos, proliferam também pelas redes sociais os mentirosos de gema, produtores de notícias, mas também os engraçadinhos virulentos.  

Os liberais e o Estado mínimo

07.04.20 | Manuel_AR

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Menos Estado melhor Estado, slogan neoliberal que ouvimos, não há muito tempo (2011-2105), dizer os que agora reclamam por mais Estado.


Momentos de crise como esta em que vivemos hoje evidenciam momentos que também são dados à reflexão e em que os governos são mais solicitados para darem soluções para a população e uma resposta efetiva que só pode ser dada pelo Estado se for forte e com capacidade de controle.


Não sou, nem por sombras, um radical de tudo estatizado e ainda menos da coletivização. As empresas criam postos de trabalho, mas têm de dar lucro que é motor para o investimento privado, mas sabemos que os grandes empresários e investidores importam-se em primeiro lugar com os seus lucros e o bem-estar das pessoas não é prioridade, por isso há que haver mecanismos de controle. O mesmo se passa com a saúde.


Hoje publico aqui um texto que retirei de outro blogue que acompanho e que me pareceu em alguns aspetos muito interessantes e atual, embora um pouco radical, apenas coloquei um título diferente para diferenciar do original que incluo abaixo.


E se houvesse menos Estado?


(Joaquim Vassalo Abreu, 04/04/2020)


Desde logo não teríamos o SNS que temos! A Saúde e o acesso aos cuidados médicos seriam assim tipo EUA: tem direito (proporcional) quem melhores seguros tem e quem não tem…pois…


Só que há aqui um pequeno pormenor que eu reputo de “pormaior”: Nenhum deles contempla Epidemias ou Pandemias!  Como ficaríamos então?


Do mesmo modo quando nos queriam impor que as nossas Reformas fossem pagas num sistema variável, uma parte indexada aos nossos descontos para a Segurança Social e outra a Fundos e coisas mais…. Como estariam elas agora, seus Liberais de pacotilha?


Nos incêndios: seriam todos os Bombeiros profissionais? Quem lhes pagaria? O Estado? O Estado que dizem que falhou? Mas com eles…, mas, com “menos estado”, quem se aventuraria a atear quinhentos fogos num só dia para depois virem dizer que o “Estado falhou”?


Agora, por exemplo: as Reformas indexadas a Fundos diversos, nesta época e noutras ocasiões de autêntico “crash”, como ficariam? 


E os subsídios de Desemprego ou Assistência Social, seriam à Americana?


E a Saúde perante esta Pandemia? À “la” Brasileira Bolsonariana?


“Menos Estado” sempre apregoaram apelando ao Estado quando mais necessitaram…é um clássico, grandes e eméritos “Liberais” de pacotilha…


Mas não me esqueço de 2015 quando Passos apregoava a recuperação económica, esquecendo dramaticamente a situação da Banca, cuja resolução enviou para debaixo do tapete (Novo Banco, Banif, Montepio, Caixa Geral de Depósitos), numa irresponsabilidade sem nome.


 Mas fazendo o que sempre outros fizeram é verdade, deixando sempre a responsabilidade para os vindouros, esses “filhos da mãe dos vindouros”, como arremessou furiosamente o ZÉ Mário no FMI, defendeu, em pleno debate com António Costa, um corte nas Pensões de 600 milhões nas Reformas…


Deviam corar de vergonha, mas isso é atributo que nunca possuíram esses “Liberais” de pacotilha!


Felizmente que, logo a seguir, veio alguém que tudo enfrentou, mas com Estado e absoluto sentido do mesmo, e que a tudo ocorreu e conseguiu equilibrar o que para eles, esses Liberais de pacotilha”, remédio não tinha! Coisa que o “menos estado” nunca faria! Mas endereçaria para os mesmos de sempre o seu ónus: os Contribuintes…Mas baixando salários e pensões, a sua única imaginativa solução!


Mas há que recordar para ser justo e honesto: Mas que faria agora o “Menos Estado” perante uma situação destas, a desta Pandemia, ainda por cima “democrática” pois não escolhe entre ricos e pobres, famosos e incógnitos, crentes ou não crentes, gordos e magros, magnatas ou refugiados, do sul ou do norte…? Que faria, afinal?


Cobraria milhares de EUROS por um teste como na sua sacrossanta América, onde nem os Seguros isso asseguram? Já sei: mandá-los-iam para o Público, o do “menos Estado” que, perante falta de receitas e dotações, seria depois apelidado de ineficaz…e de falhado! “Liberais de pacotilha, fariseus de “Trampa”.


Eu sugiro, finalmente, que os Marques Mendes, os Paulo Portas,  os José Júdice, os Gomes Ferreira e todos os que se apelidam “Liberais” nesta vida, esse enorme saco de gatos onde nenhum assume ser realmente gato e antes se acham onças, formem um governo…assumam responsabilidades…deem o peito às balas, passem da retórica à prática e façam em definitivo o exame final, aquele do qual, não tenham dúvidas, não sairão com outro título, agora já não de   “Liberais de pacotilha” , mas de “ Liberais da “Trampa”! Nada de mais justo…


Mas esqueçam e ao mesmo tempo recordem: “Esta vida “, como dizia Che Guevara, “não é para moles”! Mas é para Poetas, digo eu!


Pois como escreveu PABLO NERUDA: “Entretanto trepam os homens pelo sistema solar… Ficam pegadas de sapatos na Lua… Tudo se esforça por mudar, menos os velhos sistemas… A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranha medievais… Teias de aranha mais duras que os ferros das máquinas… No entanto, há gente que acredita numa mudança, que praticou a mudança, que fez triunfar a mudança, que fez florescer a mudança…. Caramba!… A Primavera é inexorável!


Sim, a Primavera é inexorável!

Botão da sabedoria

02.04.20 | Manuel_AR

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Oscar Wilde escreveu que um cínico é um homem que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada. Um cínico segundo os dicionários é alguém que age com sarcasmo. A ideologia trocou-se pelo cinismo e a desconfiança que alastraram especialmente sobre a política e os que na política se aproveitam de tudo, para si próprios. Veja-se o nível da corrupção que grassa em todo o mundo onde uns poucos aproveitam a política para “comer” à vontade o que quiserem. Há outros que anseiam por protagonismo e que, quando deixam de o ter por que já não têm a visibilidade num partido político, tendo-o feito talvez por motivos estratégicos, conseguem um “tacho” num qualquer canal de televisão que lhes dá a visibilidade e o protagonismo de que tanto necessitam para estimular o seu ego e também como estratégia para mais altas  e futuras  possíveis acometidas no mundo da política.


A propósito de cinismo recordei-me neste momento dos comentários do antigo líder do CDS, Paulo Portas, que arranjou um lugar cativo no jornal da 8 da TVI onde comenta tudo e mais alguma coisa, é uma espécie de homem


do Renascimento, qual Leonardo da Vinci, que tudo sabia e tudo conhecia. O Paulo Portas é tudo, é matemático, epidemiologista, especialista em saúde pública, estatístico, economista, cientista…, enfim, é um sábio homem que tudo sabe, tudo conhece e tudo crítica sempre com os olhos virados para o umbigo da sua visão ideológica. 


Mas, o que mais me impressiona é forma e a frequência com que olha para a câmara com aquele olhar e sorriso que nos faz percebê-lo como um trocista cínico como que a dizer que estou a rir-me para ti, mas estou a tramar-te. Ó dr. Paulo Portas, desculpe lá, mas é isto o que me parece. Apesar de não pertencer à sua banda ideológica nem partidária eu apreciava mais as anáforas que utilizava nos debates quando o senhor estava no Parlamento, mais do que aprecio ouvi-lo comentar todo o universo do saber na comunicação social.


Há ainda os tais das opiniões publicadas como a de João Miguel Tavares que exigem uma data ao fundo do túnel como se os governantes tivessem uma bola de cristal e antecipassem uma data para o fim da epidemia, mesmo que estimada. Uma data estimada, qualquer que fosse, teria duas consequências: uma, seria a possibilidade de a luz não se vislumbrar e adiar novamente a data do regresso dessa luz; quando novamente se vislumbrasse voltar a dizer nova data e assim sucessivamente. Se essa data fosse fixada e a pandemia não abrandasse iria decerto haver um agravamento e então a luz seria extinta, sabe-se lá até quando. Mas claro, isto de ser contra ou a favor das datas para se verem as luzes é uma forma de fazer oposição aos governos quando não pertençam à nossa área de preferência ideológica.