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O CDS deve estar a sofrer da síndrome de charme e não é de agora. Já em 2018 Assunção Cristas, ainda sem sonhar o que lhe iria acontecer, disse numa entrevista alto e bom som que “estava preparada para ser primeira-ministra”.
Ela procurava atrair a atenção dos eleitores mesmo quando sabia que o poder não estaria ao seu alcance, mas poderia tirar alguma vantagem. Uma espécie de prazer como é o ritual da conquista e por pensar ser desejada pelos portugueses para líder do governo do país.
Aliás, a líder centrista elogiou os atributos do candidato centrista durante as eleições para o Parlamento Europeu quando por entre sorrisos da assistência afirmou que o CDS “tem uma cara engraçada”, referindo-se a Nuno Melo, tentando contrapor a diferença com o candidato socialista. O termo sexy, enquanto sinónimo de encanto sedutor e pessoa sexualmente atraente e possuir também um caráter erótico que estimula o desejo sexual e excitante, parece que vai passar a fazer parte do ideário e do programa do CDS.
O novo líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, disse na sua intervenção no 28º congresso que “Seremos um partido que se tornará sexy” e que promete devolver a “identidade” ao partido. Será de presumir a identidade sexy?
Ter a arte da sedução e do encanto parece passar a fazer parte do envolvimento político do partido. Temos de ter cuidado senão arriscamo-nos a ser seduzido pelo sexy do CDS.
Voltar a “andar no terreno com uma identidade clara e um rosto visível” são os desejos do “Chicão”, como se o partido, nos últimos tempos, não tivesse um rosto visível quando esses rosto até afirmava que estava preparada para ser primeira-ministra.
A explicação para ser um partido sexy está ali, como nunca. Ele, o novo rosto do partido, diz assim ser por passar a utilizar estratégias de comunicação acutilantes, disruptivas e atuais. Este foi o momento mais sexy do partido. Será sexy também, mas não por defender os valores que não são nossos, disse. Esperem lá, se eu não defender, ao nível partidário, os valores dos outros serei sexy? Humm!
Estamos entendidos, quem quiser apanhar uma dose de erotismo partidário corra ao CDS.
O CDS precisa de construir pontes e não erguer muros, disse, Rodrigues dos Santos, pelo menos ficamos a saber que é suposto estar contra os muros de Trump. Mas é estranho, porque o novo líder do CDS, quando André Ventura sugeriu no Facebook que a deputada Joacine do Livre devia ser "devolvida" ao país de origem, Francisco Rodrigues dos Santos, recém-eleito líder do CDS, depois de uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, também comentou a relação entre a deputada do Livre e o partido com a frase: “no CDS não existem Joacines". O Livre, partido de esquerda, vê nestas afirmações da direita “contínuos ataques de caráter e referências de índole racista".
Será isto também o sexy a que Rodrigues dos Santos se refere?
As reações sucedem-se e, desta feita, também Adolfo Mesquita Nunes do CDS deixou o seguinte comentário nas redes sociais:
“André Ventura sugere deportar uma deputada à conta de uma proposta discutível e há quem, nos comentários ao meu post anterior, veja na sugestão dessa deportação a verdadeira direita e, o que é pior, nela veja a direita dos valores do CDS. Acham-se muito corajosos e chamam-me de cobarde, como agora é moda. Pois a esses, os da coragem na ponta da língua, só tenho a dizer o seguinte: não quero saber se acham que são de direita ou se acham que são cristãos ou se acham que tudo vale desde que seja para malhar na esquerda, porque cada um acha-se o que quiser, mas há uma coisa de que eu jamais prescindirei, que é do princípio da dignidade da pessoa, princípio estruturante da matriz judaico-cristã e a raiz da igualdade entre os Homens. Cobardes são os que prescindem de princípios estruturantes sempre que a esquerda os enerva, e só porque a esquerda os enerva".
Será que o novo líder centrista vai seguir de perto o Chega deixando a matriz de partido de direita e passar a adotar a da extrema-direita racista e xenófoba? A ver vamos.
A ser confirmado tudo quanto foi descrito e tornado público sobre o caso de ofensas e violência desnecessária sobre a cidadã de origem africana Cláudia Ramos, feitas em primeiro lugar pelo motorista da Vimeca depois pelo agente da PSP, acho que devem ser considerados casos de polícia por extravasarem o mero conflito ocasional. O que tem sido divulgado são um relato impressionante da brutalidade psicológica e física feitas por quem deveria ser garante da nossa segurança e que em vez do merecido respeito, alguns passam a desprezar.
Quando um funcionário de uma empresa seja de transportes ou outra qualquer que preste um serviço público e tenta evitar trapaceiros quando exige documentação a quem a deve apresentar, no caso a prova de ingresso no transporte, ou não permite a entrada em alguns locais que exigem determinada autorização podem acontecer situações de conflito.
O funcionário, também ele trabalhador e com responsabilidades de controle e vigilância, deve cumprir a função de que está incumbido. Se fecha os olhos a uns teria de os fechar a outros que eventualmente se aproveitariam da situação.
Há, todavia, limites no cumprimento da função atribuída que, ultrapassados, passam a ter de facto motivações racistas tais como as que têm vindo a público no caso da Cláudia Ramos e que foram descritas e referidas pelo jornal Público: “‘isso é na tua terra, vocês estão aqui a dar cabo do nosso país’. E começou a gritar nomes: ‘seus pretos, andam a estragar o nosso país, pensam que isso é só chegar e andar sem passe’.”
A pergunta que podemos fazer é onde está o ministro da Administração Interna que parece fazer orelhas moucas ao facto. Agir em circunstâncias como estas não é desautorizar as polícias é disciplinar e moderar comportamentos em que a reação é desajustada à causa. Recorde-se que Mário Cabrita disse, em junho de 2019, que “não há espaço para o racismo” e para a xenofobia na polícia, destacando que Portugal “defende uma Europa sem muros”. E acrescentava então que é “Uma polícia das liberdades, onde não há espaço para o racismo, não há espaço para quem tolera violência doméstica, não há espaço para xenofobia num país que se orgulha de ter meio milhão de cidadãos estrangeiros…”.
Face às mesmas causas, quando se trata de africanos os mirones que se encontram no local colocam-se do lado da atuação violenta da polícia, mas, quando são brancos, reclamam contra a violência da “bófia” termo não raras vezes utilizado.
Quando esteja envolvido um africano ou um afrodescendente e este não acata as regras que são para todos e o profissional tenta exercer a sua autoridade com insistência não há quem não o apelide logo de ter uma atitude racista, o que neste caso é evidente. Quando a polícia responde com à violência e agressividade causadas por africanos não é racismo é defender a ordem pública que muitos pretendem desestabilizar. Quando o mesmo comportamento vem de alguém que é branco, quer seja ofensa ou provocação de desacatos, já não há racismo e esse comportamento passa de imediato a ser apenas uma exigência para cumprimento das regras.
Defendo incondicionalmente as polícias, mas apenas e só quando no limite das suas funções e atuações para proteção dos cidadãos e não em comportamentos como os verificados como do caso em questão ou semelhantes a este que estejam em causa. Chamam-lhe “bófia” em tom depreciativo. Muitos gostariam que não existisse para que pudessem, assim, fazer tudo que lhes aprouvesse sem serem importunados.
Os polícias são gente como nós que reagem a provocações por vezes a quente, em circunstâncias que não deveriam, extravasando o seu poder em situações desnecessárias. Os agentes policiais são treinados para manterem contenção nas suas atuações e comportamentos tendo em conta as atividades policiais que lhes são legalmente atribuídas para um serviço prestado à comunidade, devem por isso, ter elevados níveis de consciência cívica tendo em conta os limites da eficácia da atuação policial no estrito cumprimento dos Direitos Humanos não vendo o cidadão apenas como objeto de atuação policial, mas sim, sujeito de Direitos, sejam eles negros ou de qualquer outra etnia ou cultura.
Os agentes policiais deverão estar aptos a tomar decisões de Autoridade, tendo por base critérios de legalidade dentro das regras e apelar ao cumprimento das regras de Deontologia Policial. Tudo isto são fundamentos, princípios e finalidades da PSP que nem sempre, são cumpridos na íntegra e, segundo o que frequentemente vem a público.
Ódios infundados e recalcados por diversos motivos são desferidos irracionalmente sobre cidadão indefesos por motivos fúteis quando a atitude deveria ser a de persuasão e a utilização meios não violentos.
Quando vêm a público notícias sobre violência praticada pela polícia os media não são parcos em divulgar a notícia e a publicar comentários e opiniões sobre o acontecimento em que a polícia interveio, e, quando estão africanos envolvidos tanto mais. Surge indignação apenas e porque são negros e, daí, a palavra racismo vem ao de cima. Mais raras são as notícias em que cidadãos brancos estão envolvidos.
Não será critério de equidade ter aberto apenas um dos olhos tendo o outro tapado com uma pala. Sem querer entrar em considerações de causas sociológicas sabemos que africanos ou afrodescendentes, sobretudo os mais jovens, quando em grupo são provocadores e agressivos. Há negros irritantes, assim como há brancos irritantes, há negros arruaceiros, assim como há brancos arruaceiros, há negros maus, assim como há brancos maus, há negros educados, assim como há brancos mal-educados. Isto não são clichés, são factos.
Quando, por exemplo, um agente da PSP tenta impedir ilegalidades e desacatos ou alertar para incumprimentos, caso seja um cidadão branco e a autoridade é exerce de violência para evitar o incumprimento da lei não há problema, mas se a pessoa em questão for negra lá vem o racismo á tona. É um facto que a violência policial é abusiva e por vezes até desnecessária como já tem sido várias vezes comprovado. Quando assim é, são casos pontuais causados por elementos da polícia. Não podemos tomar a parte pelo todo.
Não estivemos lá, não vimos, não fomos testemunha, lemos ou ouvimos o que nos dizem os media e permitimo-nos fazer comentários a favor ou contra a situação e adjetivar a intervenção policial com os adjetivos mais convenientes para acicatar emoções nos leitores, ouvintes ou telespetadores. E, então, aparecem comentários e opiniões uns em defesa da vítima de racismo, outros a favor da polícia, outros ainda contra a vítima de eventual ato racista. Encontram-se as mais amplas justificações para reprovar o comportamento de quem tenta evitar as ilegalidades sem querer saber das razões que o justificaram.
Quando acontecem ilegalidades, atos de violência, em que brancos estejam envolvidos ouvem-se os impropérios contra eles e contra as autoridades que não interveio atempadamente e surgem, então, as sentenças populares na opinião pública, as mais radicais que devem ser aplicadas contra o presumível infrator. Se na mesma circunstância está um negro envolvido o resultado é o mesmo, mas aos impropérios acrescentam-se outros de índole racista e as autoridades que intervêm para manter a ordem são apontados por outros como exercendo violência racista.
Se não vemos polícias nas ruas clamamos, se olhamos para ilegalidades e a polícia não atua clamamos. Clamamos também quando agem com dureza ao protegerem-nos de brigões e energúmenos que nos assaltam, nos atropelam, quando necessitamos de auxílio e não se vê um polícia na rua como dizem. Estas são as mesmas pessoas que se insurgem quando observam as técnicas de imobilização utilizadas para segurar um qualquer cidadão que provocou desacatos e desafia a autoridade.
Fora daqui do nosso Portugal a coisa muda pelo menos quando se trata de futebol: A polícia de Manchester anunciou em dezembro de 2019 a detenção de um adepto do Manchester City que terá feito um gesto racista dirigido a Fred, jogador do Manchester City, no dérbi desse sábado. A polícia anunciou então a «detenção do homem de 41 anos por suspeita de «alteração da ordem pública agressão racial agravada», que fica à guarda das autoridades para interrogatório.
Desconfianças havia, mas aqui no nosso país só timidamente se falava nos negócios de Isabel do Santos. Não há capital em Portugal para grandes investimentos, precisamos deles como de pão para a boca, assim, o fazer de conta que nada se passa é a melhor estratégia e a pergunta era: e se a coisa saísse furada? E saiu.
Agora todos falamos dos negócios e das atividades de Isabel dos Santos, das ilegalidades, dos desvios de capitais para paraísos fiscais, acusada de ser a mulher mais rica do continente africano. As televisões recuperam peças gravadas com imagens de Isabel acompanhada por anteriores ministros portugueses de anteriores governos. No parlamento a direita questiona governo sobre a proteção de empresas em que presumivelmente Isabel dos Santos terá participações dando a ideia de que, em caso de ilegalidades, o Governo deveria de entrevir para as proteger, o que aparentemente revelava alguns receios de quem alguém metido ao barulho pudesse ficar prejudicado. Santos Silva respondeu assim: “A melhor maneira de defender [as empresas, os trabalhadores e a economia portuguesa] é cumprindo a lei e sendo implacável no combate a práticas de corrupção, práticas cleptocráticas ou outras práticas indevidas”.
Não existe mal nenhum em ser rico, o mal está como essa riqueza foi obtida. Pode ter sido à custa de espoliar o povo de Angola. E foi. E, como sempre, quando tal acontece, o povo é que paga.
Como de costume os sujeitos denunciados apressam-se a dar entrevistas onde pretendem negar acusações e mostrar que há objetivos obscuros contra eles. Este caso também não fugiu à regra, Isabel dos Santos, numa entrevista à BBC, nega tudo dizendo que tudo baseia-se em “documentos e informações falsos” e que é coordenada pelo Estado de Angola, de quem acusa de fazer um “ataque político”. Se são documentos falsos então terá de provar que o são ou, então, onde foram obtidos e onde está a falsidade. Argumentou ainda que "as autoridades angolanas embarcaram numa caça às bruxas”.
Isabel vai mais longe e recorre ao argumento do racismo e colonialismo ao dizer segundo o jornal eletrónico ECO que “Hoje com tristeza continuo a ver o ‘racismo’ e ‘preconceito’ da Sic e Expresso, fazendo recordar a era ‘colónias’ em que nenhum africano pode valer o mesmo que um ‘Europeu'”, refere um tweet de Isabel dos Santos publicado escassos minutos antes da publicação desta reportagem no site do jornal Expresso. Caso curioso parece que a SIC e o Expresso são racistas. Algo de que algum africano não gosta ou pelo qual é criticado ou condenado por algo passou a ser racismo. Agora também é racismo denunciar possíveis ilegalidades, fraudes e cleptocracia desde que sejam africanos.
A teia, descoberta pela ICIJ - International Consortium Investigate Journalists iniciou um coro contra Isabel dos Santos a nível mundial e em Portugal. O tema do dia passou a ser o caso Isabel, motivo de comentários e opiniões. Eu, cá por mim, não comento e fico calado sobre o assunto, apesar de sempre me ter questionado sobre como, por obra de varinha mágica, tal pessoa passou a comprar e a ter participações em empresas e a gerar um enriquecimento que geraram valor de muito milhões.
Sem conhecimento de facto fico por aqui e limito-me apena a divulgar as informações que a ICIJ dá a conhecer, como esta que abaixo transcrevo.
Foi apenas 24 horas depois que publicámos o Luanda Leaks que o presidente da PwC – Pricewaterhouse Coopers, Bob Moritz, disse que estava "chocado e dececionado" porque a sua empresa aconselhou as empresas de propriedade da mulher mais rica da África, Isabel dos Santos.
A reação, que veio à margem do Fórum Económico Mundial em Davos, realça a forma como o Luanda Leaks se estende muito além das fronteiras de Angola.
O nosso repórter-chefe, Ben Hallman, partilha cinco razões pelas quais luanda Leaks é mais do que apenas uma investigação sobre Angola. Apesar do nome, a nossa exposição revela como a indústria offshore (lar de parte da riqueza de Santos) é um problema global. Ele também revela uma rede de contabilistas, advogados e outros especialistas dispostos a ajudar, a mover e a esconder a riqueza ilícita.
O presidente da PwC, Bob Moritz, não foi a única pessoa a responder a Luanda Leaks nos últimos dois dias. A administração do banco português Eurobic, na qual Isabel dos Santos detém uma participação de 42,5%, encerrou a sua relação comercial com a empresária e "pessoas intimamente relacionadas" a ela. Em Angola, o procurador-geral disse que iria usar "todos os meios possíveis" para levar dos Santos de volta ao país. Outros países estão agora debruçados sobre a nossa investigação.
Supondo que vocês tenham conhecimento das nossas histórias principais, destaca-se o trabalho da nossa equipe de pesquisa para revelar mais de 400 empresas ligadas com Santos e o seu marido – que podem baixar e explorar por vocês mesmos! Se os documentos são mais a sua coisa, então você pode ler cerca de 100 documentos do leak que foram publicados.
Deixem de ser cromos e otários. Vão, mas é ao teatro
(in afrutamaisacida.blogs.sapo.pt, 18/01/2020)
Ontem fomos ao teatro coisa que fazemos não tantas as vezes as desejadas. A peça “Casal da Treta” com José Pedro Gomes e Ana Bola está em exibição em Lisboa no Teatro Villaret até março.
O texto de Filipe Homem Fonseca, Mário Botequilha e Rui Cardoso Martins e encenação de Sónia Aragão, é inferior ao das peças anteriores como a Conversa da Treta e filho da Treta. Apoiada na suposta vida em comum do casal brinca com várias questões da atualidade como a “igualdade de género”, com as telenovelas, com "o bairro onde vivem” e com alguns traços de humor e crítica política passando por temas como fitness e sexo que fazem desprender gargalhadas.
Olhando para a assistência lamenta-se a exígua assistência da juventude que parece ter apostado em abandonar o teatro de qualidade nas suas diversas vertentes.
Os jovens parecem preferir a bandalheira dos espetáculos de “stand-up” onde o riso fácil é soltado pela ordinarice das asneiras sucessivas e descontextualizadas com base em anedotas soltas teatralizadas, sendo algumas apenas clichés e déjà vu.
Esses pseudoatores e pseudo-humoristas de stand-up que começaram a proliferar por aí, alguns deles promovidos por alguns canais televisivos que não primam pela qualidade cultural. Este tipo de espetáculo não é inovação em Portugal, já foi protagonizado em vários sketches desde 1961. Enchiam-se salas de teatro para ver, ouvir e rir a bandeiras despregadas sem o recurso à ordinarice desbragada.
Não eram anedotas tiradas daqui e dali e interpretadas a belo prazer do intérprete, eram textos escrito com princípio meio e fim.
Se pensam que sou militante dum puritanismo com moralismos empedernidos estão muito enganados(as). Sou pela qualidade e pelo apoio aos bons atores e não aos atores de esquina e de café de bairro que contam “anedotas porcas” para fazem rir os seus amigos lá do sítio. Não menciono aqui nomes para não me falhar algum e não pretendo ofender outros que terão com certeza qualidade e que saem do grupo a que me refiro.
O que lamento é que a juventude siga esses forjados atores/humoristas(?) enquanto atores credenciados procuram, por vezes, em desespero trabalho.
Meus meninos e meninas deixem de sustentar essa gente oportunista que se lançam pelo youtube e pensam que são os maiores do humorismo português lá por que lhes colocam likes e fazem visualizações aos milhares. Deixem de ser cromos utilizados por esses autointitulados humoristas e vão ao teatro verdadeiro.
Vejam só, até pipoqueiras nomeadamente a autodenominada “A Pipoca Mais Doce” em setembro, para aí mais ou menos, lançou-se novamente a fazer comédia Stand-up. Atritos houve na altura por causa desta treta porque foi notícia no meio que, devido ao nome que a dita pipoca resolveu dar ao nome do seu “show” a ideia parece “não ter sido na altura bem recebida por dezenas de internautas, que se mostraram desagradados com o nome que ela escolheu para o seu espetáculo - 'Sou Menina P'ra Isto'. A causar revolta está o facto de Ana Garcia Martins ter optado por um nome muito semelhante ao de uma recente websérie de Salvador Martinha - 'Sou Menino Para Ir'.
Enfim, é uma forma de ganhar a vida à custa da piada fácil e corriqueira que certo de tipo de público corre a pagar para que o seu(sua) ídolo viva bem. Há ainda as moderníssimas webséries, outra forma de ganhar a vida com apenas algum tempo e esforço. Há sempre quem pague para ver. Há gente para tudo!
P.S.: Não incluo nesta crítica os poucos e bons autores humoristas e intérpretes de stand-up de Portugal, felizmente também os há, dos quais me escuso de dizer os nomes para não causar ciumeira aos outros. Cada um que assente a carapuça que lhe sirva.
Imagem alterada a partir do original do jornal Público
Os candidatos à eleições internas no PSD dão voltas à cabeça para arranjarem argumentos convincentes para convencerem os militantes que vão votar. As voltas são tantas que saltam do partido para fora e centram-se no partido do Governo. Como nada têm agarram-se ao que está à sua volta. É o caso de Montenegro que dá a volta à praça e, numa atitude de recusa em aceitar uma realidade empiricamente verificável, acusa outros daquilo que foi feito pelo seu próprio partido quando nos últimos anos esteve no governo e ele, na altura, era líder parlamentar do PSD.
Essa atitude negacionista e de esquecimento intencional leva-o a declarações provocatórias como as que fez num encontro de militantes em Leiria: “Este é o Governo com maior insensibilidade social de que há memória”. Que insensibilidade? – Cortar salários e pensões, aumentar impostos, reduzir ou eliminar subsídios a classes mais desfavorecidas, empobrecimento das pessoas, aumento do desemprego, entre outras? Onde esteve a insensibilidade social?
Montenegro justifica com omissões e mentira descarada quando diz que o partido da austeridade e da “troika” é o PS. Quem pressionou a vinda da “troika” foi Passos Coelho. Compreende-se que tenha sido devido aos destemperos financeiros do tempo de Sócrates, mas será que a insensibilidade social a que Montenegro se refere e que atribui ao atual governo significa que se deveria voltar ao tempo dos desregramentos financeiros de Sócrates que levaram Passos ao poder?
Grave também foi Luís Montenegro ter afirmado querer o PSD um partido "à Cavaco". Apesar de ser frase ser mais para fazer campanha para atrair as hostes cavaquistas que ainda proliferam no partido a afirmação diz muito do que Montenegro pretende se algum dia chegar a primeiro-ministro.
Todas as passagens de ano nos entregamos ao ritual de tentar adivinhar o futuro. Desde 2003, muitos foram os anos para os quais se se previu que os EUA e o Irão iriam entrar em guerra. Logo a começar 2020, para o qual houve poucas previsões dessas, Donald Trump mandou assassinar Qasem Souleimany, general de uma milícia estatal iraniana usada para interferir na política de vários países vizinhos, e nunca estivemos tão perto da possibilidade de um conflito entre os EUA e o Irão como hoje.
Mas precisamente por tantas previsões em anos passados terem falhado, convém ser cauteloso nas previsões. Não sabemos se o Irão vai retaliar de forma a escalar o conflito ou se irá antes aproveitar politicamente a ocasião para se reforçar internamente e vitimizar externamente. O meu palpite — que não passa disso — é que um conflito direto em larga escala não interessa ao Irão nem aos EUA e que após um período de tensão ambos os países evitarão arriscar uma guerra declarada.
Em vez de fazer futurologia é mais útil pensarmos no que já sabemos do que se passou e, em particular, do que não se passou neste ataque. A última parte é mais fácil e também, em meu entender, mais relevante: o que não se passou foi qualquer comunicação entre a administração Trump e os seus teoricamente aliados europeus. Tanto quanto se sabe, nenhum outro governo da NATO o da União Europeia foi alertado para um ataque e tal magnitude geopolítica — nem sequer o governo do Reino Unido.
Podemos fazer todas as análises que quisermos à hipótese de a NATO estar ou não obsoleta. Mas há silêncios que falam muito mais do que as palavras, e este é um deles.
Em caso de retaliação iraniana sobre os EUA, os outros países da NATO incorreriam nas obrigações do famoso Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte que determina que um ataque a um aliado é um ataque a todos os países. Só que o grau de confiança mútua que é preciso ter para aceitar uma responsabilidade recíproca desse género implica, porém, acreditar na sensatez e previsibilidade das lideranças dos aliados. Ora, só um líder europeu que não estivesse bom da cabeça poria hoje as mãos no fogo por Trump. E se não confiam nele, quem pode estar disposto a pagar o preço do aventureirismo do presidente dos EUA?
Caso especialmente interessante é o do primeiro-ministro britânico. A passar férias numa estância do Caribe, Boris Johnson ainda não se pronunciou sobre o ataque norte-americano em solo iraquiano, o que permitiu aos seus ministros produzirem declarações desencontradas sobre o assunto, ora primeiro mais alinhados com outros governos europeus, ora evidenciando um total alinhamento com Trump a seguir. A menos de um mês do “Brexit”, o Reino Unido tem agora uma escolha complicada. Se opta por uma colagem a Donald Trump, pode ver-se envolvido como parte beligerante numa guerra sobre a qual não teve sequer direito a uma palavrinha. Se se distancia do presidente norte-americano, conhecido pelo seu espírito vingativo são postas em risco as possibilidades de um acordo comercial com os EUA que foram propagandeadas como sendo uma das poucas vantagens da saída da União Europeia.
Já por algumas vezes nesta coluna argumentei que a principal incógnita do “pós-Brexit” é saber de quem vai o Reino Unido tornar-se um país-satélite: se dos EUA ou da UE. Com uma crise iraniana no horizonte, somos capazes de vir a saber a resposta para esse enigma mais depressa do que antes pensávamos.
Mas a União Europeia não tem um dilema menor. A Europa e os EUA estão amarrados por laços históricos de um ciclo — o do pós-guerra — em larga medida encerrado. Mas se com George W. Bush já tinha ficado claro o desalinhamento de interesses e até de valores entre os dois lados do Atlântico, com Trump passamos a ter um presidente dos EUA que não hesita em arriscar um conflito em larga escala na Eurásia sem dedicar a cortesia de um aviso prévio aos europeus. A conclusão é clara: a Europa precisa de ter autonomia estratégica em relação aos EUA, e na Europa só através da UE existe a possibilidade de se acrescentar autonomia estratégica geopolítica às outras áreas em que a Europa já é uma espécie de “super-potência invisível”, como nas negociações comerciais ou na regulação da globalização. E para nos convencermos da urgência desse debate — e um debate muito difícil, reconheçamo-lo — não é sequer preciso que os EUA entrem em guerra declarada com o Irão.
Há talvez a possibilidade de Trump perder as eleições em novembro deste ano, e que com um democrata na Casa Branca o desalinhamento euro-americano se disfarce. Mas mesmo isso não é garantido. Joe Biden, que votou a favor da Guerra do Iraque, tem um historial intervencionista em política externa. A não ser que viéssemos a ter um Presidente Sanders ou uma Presidente Warren e, com eles, a hipótese de reforçar as Nações Unidas como plataforma multilateral de resolução de conflitos, a Europa ficaria sempre dependente das decisões de presidentes dos EUA que cada vez menos querem saber dos europeus. No caso de Trump, essas decisões parecem fundamentar-se em caprichos. A pergunta para os europeus é simples: quem no seu perfeito juízo quer morrer em nome de um capricho de Trump?