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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

Resistência à mudança no PSD

26.02.18 | Manuel_AR

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Verifica-se no interior do PSD uma tendência para opiniões mais ou menos radicalizadas quanto a orientações de política partidária, mas que deveriam ser mais de reflexão ideológica interna. A exaustão neoliberal de partidários da linha seguida por Passos Coelho não abandonou o aquartelamento derivados da síndrome da perda do poder. Isto agrava-se pelo facto da tendência para resistir à mudança de opinião derivada das mudanças de opinião sobre o que ser o partido deve ser no futuro, mas há várias camarilhas, isto é, grupos colocados em lugares de influência que os utilizaram, ou não, em seu benefício e no dos seus protegidos lesando interesses mais gerais criados durante os longos anos de governação neoliberal do PSD de Passos Coelho.


No interior do PSD está formalmente estabelecida a resistência ao novo líder do partido, cometida pela direita neoliberal infiltrada durante o mandato de Passos Coelho, contra o restabelecimento ideológico dos princípios da social democracia.


Ouvem-se por aí militantes de destaque do PSD em debates a tentarem depreciar os aspetos ideológicos do partido que, por inerência, estão presentes em todos os partidos consignados nos seus programas que são, ou deveriam ser, uma orientação para os seus eleitores. Não se percebe, portanto, porque aqueles senhores afirmam que as questões ideológicas do partido não estão presentes. Esta tomada de posição serve os intentos das alas mais neoliberais do partido para nos fazerem crer que são um partido pragmático onde a ideologia não está presente.


Com Passos Coelho o partido virou radicalmente à direita, agora, Rui Rio pretende virar-se contra a ortodoxia da oposição interna deixada pelo anterior líder e centrar o partido, isto é, colocá-lo no centro direita. O caso da bancada parlamentar do PSD é a outra parte oposicionista da oposição interna a Rui Rio conforme foi demonstrado pela a eleição atribulada dos votos em Fernando Negrão para líder da bancada.


Com Rui Rio as pressões internas irão manifestar-se ainda mais e no segredo dos corredores do partido para não se assumir o posicionamento ideológico da social-democracia que há muito perdeu, não havendo a certeza se alguma vez o tenha sido. Rio está a tentar retirar o partido do acantonamento neoliberal onde o colocaram a reboque da troica, ou melhor, aproveitando-a para os seus objetivos governativos cujos projetos e promessas pré-eleitorais vieram posteriormente a abandonar sempre a pretexto da intervenção externa. Os comentadores afetos ao PSD, quando atualmente pretendem referir-se ao governo da aliança PSD-CDS enquanto tal, em vez da utilização do nome do partido preferem mencionar apenas governo do tempo da troica. É o mesmo que ocultar o sol com a peneira.


Face à tentativa de Rui Rio pretender recentrar o partido para o retirar do seu acantonamento neoliberal o CDS reivindica agora que as ideias de Rui Rio são as mesmas do CDS chegando Assunção Cristas a afirmar que as prioridades de Rui Rio “já fazem parte do ADN do CDS”. O CDS quer mostrar uma viragem à esquerda e, ao mesmo tempo, mostrar que é de direita. No congresso que se vai realizar-se em março quer apresentar-se por um lado como um partido com preocupações sociais e, por outro, que é um partido de direita reformista para tentar captar os votos dos adeptos mais à direita e adeptos das políticas de Passos Coelho. O CDS,  depois de ter apoiando o discurso neoliberal e anti geracional de Passos, e de ter ultrapassado todas as linhas vermelhas quando esteve em coligação com o PSD, tem o descaramento de denominar o texto a apresentar ao congresso “Portugal: compromisso de gerações” e que pode ler no jornal Expresso. Segundo indica a moção, é livrar o CDS de “preconceitos” para se apresentar como um partido não de “quadros” e “ricos”, mas de todos, e até como a escolha mais fresca, “irreverente”.


Ao CDS pelo menos atrevimento e descaramento não lhe faltam. Para eles o que é hoje pode já não o ser amanhã.

Pedro e Rio a carga do passado e o trampolim para o futuro

19.02.18 | Manuel_AR

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A) O Pedro


O 37º Congresso do PSD abriu a porta com o já esperado discurso de Passos Coelho que, dito à laia dum mestre-escola do passado, foi enfadonho e não trouxe nada de novo. Foi uma volta e uma revolta com desabafos sobre o passado, foi a declaração da síndrome de perda de poder e a tentativa para capitalizar (para o seu ego) os sucessos do atual Governo com a demonstração de alguns laivos de usurpação descarada.


Mais uma vez Passos Coelho utilizou um apagador de giz para apagar o que foi gravado, pelo seu governo, com ferros em brasa na memória da maioria das pessoas. Mais uma vez, e como já nos habituou, omitiu, alterou, deturpou, misturou realidades diferentes, enfim, utilizou a demagogia para se autojustificar das políticas que conscientemente praticou e continuaria a praticar caso viesse a ser novamente governo.  A síndrome da perda de poder continua a fazer dele um político do passado, neoliberal, com uma ilusão doentia e persistente que também passou aos seus fiéis diletos, a de que poderia ter governado durante uma legislatura completa com uma minoria de direita da Assembleia da República.


Para demonstrar a sua tese do diabo apresentou uma lista de países com índices de crescimento muito superiores ao nosso para ignorante iludir. Uma comparação linear, sem sequer tomar em conta outros indicadores, com países de realidades políticas e sociais diferentes das nossas, com governos de direita cujas práticas democráticas levantam sérias dúvidas, alguns deles até com governos próximos da extrema direita. Terá sido uma projeção/ identificação com as políticas que Passos gostaria de ver implementadas no nosso país?  Por outro lado, são países que não estiveram sujeitos a intervenção financeira nem tiveram durante esses períodos governos que destruíram a economia em nome do que chamavam reformas estruturais.


Mas tanto se fala no PSD de reformas estruturais que se esquecem de que estiveram cerca de dez anos consecutivos no poder com Cavaco Silva mais cinco consecutivos com Passos Coelho que como já disse várias vezes, fez promessas que não cumpriu e mentiu ao prometê-las e omitiu sobre o que pensava fazer quando estivesse no governo, isto entre 2011 e 2015.


Enfim, um lamento do poder perdido e o anseio pela vinda do diabo que o ajudasse.


 


B) O Rio


Rui Rio no seu discurso de abertura foi mais coerente e forte do que o seu antecessor. Não agitou as águas do congresso com aplausos e é compreensível. Nas eleições diretas Rui Rio não obteve uma vitória retumbante, ganhou com escassa margem tendo obtido 54,3% dos votos relativamente a Santana que obteve 45,6%. A vantagem de apenas 8,7% dos votos não lhe irá dar margem de manobra suficiente para poder agradar à ala neoliberal apoiante de Passos Coelho que foi muito aplaudido.


O partido está radicalmente dividindo entre duas forças que se querem fazer ouvir uma com potencial matriz social-democrata e outra de direita neoliberal com saudosismos dum passado e que, como Passos Coelho ainda não se purificou do trauma das eleições ganhas, mas perdidas no Parlamento.


Tenho afirmado neste blogue que o PSD com Passos Coelho perdeu a sua identidade como partido social-democrata, embora saiba que não foi bem assim. O que se passou foi a radicalização do partido à direita que, por si mesmo, já era de direita. Aliás no Parlamento Europeu o PSD está inserido na família dos liberais e não dos sociais-democratas. Este conceito voltou a aparecer com Passos Coelho no último congresso quando surgiu o slogan “Social-democracia sempre!”. Volta agora a surgir com Rui Rio como uma espécie de libertação do passado neoliberal preconizado pelo anterior líder.


Não nos iludamos, o PSD continuará a ser um partido de direita que se radicalizou, basta ver o germe deixado por Passos Coelho que não deixarão que Rio faça uma ligeira inclinação mais para o centro. Nem tao pouco o discurso conciliador de Santana Lopes irá possibilitar isso. Está como afirmei infiltrado o vírus do “passismo”. O descontentamento dessa “pedra mental” que é Hugo Soares e a intervenção de Luís Montenegro, entre outros não manifestos, são disso a prova. Rui Rio ainda sem começar já tem a cabeça a prémio e sofre ameaças cuja origem está definida: os eis passista ressabiados. Disse Montenegro que, à semelhança do seu mentor dileto, também anseia pela chegada dos diabos, mas desta vez dos externos e dos internos e recomenda ao atual líder para “se afastar da intrigalhada”. Sabe do que fala, porque ela virá por certo, e sabe-se qual poderá ser a sua origem.


Rui Rio quis dar sinais de abertura para as duas correntes em “confronto”, porque é disso que se trata, e tenta, com o convite a Santana Lopes agradar aos “troianos” e co Elina Fraga para agradar aos “gregos”, mas a tentativa de unidade foi ensombrada e confronto esteve patente com Montenegro, muito aplaudido, sabemos porque ala, e por motivo contrário Elina Fraga apupada pela mesma ala. A surpresa polémica foi a escolha de Elina Fraga para uma das vice-presidências. A ex-bastonária dos advogados atacou o Governo PSD de Passos Coelho com um processo devido ao mapa judiciário, em 2014.


Nada mais a acrescentar na ocorrência que foi este congresso do PSD. Abertura de Rui Rio, para o interior e para o exterior do partido, radicalização da ala neoliberal, ameaças de candidaturas à atual liderança do partido caso esta não ganhe as eleições em 2019. Em conclusão: Rui Rio vai ter uma dura tarefa pela frente porque não vai ser fácil expurgar a ideologia, que os neoliberais dizem não existir. Foi muita a retórica, mas com pouco conteúdo objetivo, nem por parte dos seus aposentes e muito menos dos seus opositores que continuam na bancada parlamentar à espreita e cuja estratégia vai ser, mesmo com um novo líder de bancada, e até á eleições, mais do mesmo.

Igreja católica portuguesa regressa ao passado ou a Fraternidade S. Pio X

10.02.18 | Manuel_AR

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 OU


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Abordar qualquer problemática que envolva religiões e, neste caso a religião católica, num artigo de opinião é uma tarefa melindrosa porque entramos no campo das crenças e da fé mais ou menos profundas da religiosidade de cada um e por isso mesmo tenho adiado escrever sobre o tema.


A decisão que hoje tomei veio no seguimento da notícia de primeira página do jornal Público cujo título, não sendo estranho do que é a posição corrente dos clérigos católicos portugueses, apresenta alguma estranheza, “Igreja aconselha abstinência aos católicos recasados” tendo como fundo uma fotografia do Cardeal-patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente.


Os movimentos mais conservadores da Igreja portuguesa estão a organizar-se. É a igreja portuguesa antiPapa Francisco. O conservadorismo mais radical dentro da Igreja católica em Portugal está presente numa organização católica cristã que conhecida por Fraternidade São Pio X que pode ver aqui. Alguns destes radicais costumam reunir-se aos domingos num oratório para ouvir a missa com rituais antigos praticados antes da última reforma em meados do século XX quando a missa em latim foi substituída pelas línguas nacionais por uma das determinações do Concílio Vaticano II, aquela que foi sentida como uma grande mudança.


Nesta igreja que vai tendo cada vez mais adeptos impera o rito antigo, as mulheres cobrem a cabeça com véu, o padre está de costas para os fiéis e onde outras práticas rituais antigas voltam a ser praticadas. Isto é deixar de serem os fiéis os protagonistas da celebração, isto é um retorno ao individualismo da divindade enquanto tal. Os crentes desta fraternidade assunem-se comos sendo ultraconservadores. Há todo um extrato social que está a aderir a estas práticas. Aquela fraternidade está no ponto oposto ao do Papa. Para estes ditos católicos “está fora de causa a questão dos recasados poderem comungar.


Será que é neste contexto que D. Manuel Clemente se refere à abstinência dos recasados?


Hoje aquele clérigo superior da hierarquia da igreja católica portuguesa veio justificar-se dizendo que não era bem assim e recorre aos papas anteriores já disseram de certo modo criticando implicitamente o Papa Francisco.



  1. Manuel Clemente não está só porque párocos de igrejas localizadas em freguesias e predominantemente frequentadas por uma classe social alta e média alta politicamente conservadoras com evidente voto à direita mostrado nas leições concordam com a mesma perspetiva do cardeal-patriarca de Lisboa, nomeadamente o cónego Carlos Paes, pároco de São João de Deus, em Lisboa, a quem não choca que a Igreja (a portuguesa conservadora, é suposto) proponha a abstinência sexual aos casais recompostos, este pároco explica confundindo o acessório e casual com a prática permanente de modo a confundir os fiéis, o que já não admira, dizendo que “A continência faz parte da conjugalidade. E acontece também quando, por uma questão de doença ou deslocação ao estrangeiro por motivos laborais, um dos cônjuges se ausenta ou deixa de estar disponível para a sexualidade”. Pode ler estas declarações aqui.


Recorrem estas mentes sãs luminárias ao cruzamento falacioso das possibilidades abertas pelo Papa Francisco com os posicionamentos mais conservadores de João Paulo II e Bento XVI e claro, para Manuel Queirós da Costa, do secretariado diocesano da pastoral da família de Vila afirma que “Provavelmente essa proposta é um bocadinho irreal, mas efetivamente D. Manuel Clemente não disse mais do que disseram João Paulo II e Bento XVI”.


Todavia não é sobre a posição da igreja católica sobre sexo nem sobre abstinência, quer seja, consoante as circunstâncias, aconselhada, ou não, pela igreja católica portuguesa a que hoje me refiro. Prefiro abordar o tema de forma mais generalista no que se refere aos comportamentos, atitudes e tomadas de posição reveladoras do conservadorismo arreigado da igreja católica portuguesa.


O conceito de igreja pode ser tomado em sentido lato que é o conjunto do clero e fiéis católicos, ou, em sentido restrito, e é neste que me vou situar e que representa o "conjunto das autoridades religiosas que formam a hierarquia católica". Numa análise de pormenor a Igreja Católica ou Igreja Católica Apostólica Romana, é uma Igreja Cristã, que tem por objetivo pregar o Evangelho de Jesus Cristo.


Muito se tem escrito e dito sobre o Papa Francisco cujas tomadas de posição têm sido acatadas por uns e, por outros, discretamente silenciadas, deturpadas ou até omitidas. É sobre esta particularidade, no que à igreja católica portuguesa se refere, que nos podemos centrar. Mais uma vez clarifico que, no presente contexto, a igreja é tomada no seu sentido restrito, isto é, a sua hierarquia dirigente e não os seus fiéis que apesar de tudo os seguem, até com alguma perplexidade, face às suas tomadas de posição.


Do que percebe de declarações de clérigos de base ou da mais alta hierarquia da igreja portuguesa há um descontentamento velado e murmúrios discretos acerca das posições do Papa e da estratégia seguida para a “envangelização” da própria hierarquia.  Esses murmúrios mostram dissidências contra o Papa.


Os clérigos estão dececionados porque estão a ser postas em causa as suas prerrogativas e a tudo quanto seja o sentimento de poder face aos fiéis. Sentem-se expostos publicamente e interiormente comprometidos pelas críticas que a alguns tem vindo a ser dirigidas por aquele se acredita ser o representante de Cristo na Terra.


Num artigo escrito em agosto de 2017 no sítio Jesuítas Colômbia por Alberto Maggi também citado em setembro de 2017, Frei Bento Domingues num artigo de opinião publicado no jornal Público, afirma que “nunca pensaram que Bergoglio teria a intenção de reformar a Cúria romana, de eliminar os seus privilégios ou de que ele flagelaria as vaidades do clero. A sua simples presença, simples e espontânea, é uma constante acusação contra os pomposos prelados, os faraós anacrônicos cheios de si mesmos ...”. Mais adiante o mesmo autor afirma que os clérigos, os sacerdotes estavam,” acima do povo, e agora este Papa convida-os a descer e colocarem-se ao serviço dele. “.


Parte do clero português sente-se desapontado e deslocado devido a terem sido destinados para o estrito cumprimento da doutrina, indiferentes às pessoas, agora não sabem como comportar-se. A sua humanidade atrofiou-se no estrito cumprimento das normas da Igreja e os fiéis são seres passivos, a maior parte pelo menos, são despojados da consciência de si próprios e do mundo que os rodeia para se centrarem na consciência que os mentores da religião que professam lhes impõem em nome da divindade.   


Dececionados estão clérigos e a sua hierarquia, tradicionalistas e conservadores agarrados ao passado. Para estes o Papa é um traidor que está a trazer a ruína à igreja. Diria antes a ruína ao poder clerical.


Este conservadorismo da igreja portuguesa é atávico, com características do passado em ideias, costumes e métodos enraizados e com dificuldade de se adaptar à mudança. A instituição clerical da igreja ao longo do processo histórico soube sempre dominar e controlar, ou se caso disso, aliar-se a classes sociais, pertença dos mais ricos e poderosos que, piedosamente, em conluio com a clerical igreja, contribuíam com caridadezinha para satisfação do seu sentimento de cristandade e ganho do céu com a subserviência da outra maioria arrastada como rebanho.


A clerical igreja sempre serviu ao lado dos possuidores de riqueza e de poder não hesitando me induzir os fiéis com homilias retóricas através da criação de texto fortemente persuasivos de cariz aparentemente religioso, adulterando na sua pregação o evangelho ou, até, selecionando partes cuja interpretação possa ser ambígua, difundindo dissimuladamente certas ideias ou doutrinas de tendência político ideológica perfilhadas por certos meios e poderes. Acontece, nomeadamente, nos meios rurais onde, população menos atenta ou preparada, e frequentadora da igreja local é mais recetiva à palavra do evangelho, segundo o prior da freguesia. E, quando este não satisfaz, pela sua abertura de mente, as ideias induzidas pelo anterior pároco afloram e há manifestação na aldeia.


No dia 7 de fevereiro do ano corrente, no Salão Paul VI do Vaticano, na audiência geral, o Papa Francisco pediu aos sacerdotes que “não forçassem os fiéis com homilias longas, desfocadas e incompreensíveis”, advertindo também para o obstáculo do preconceito. Aconselhou, mas ao mesmo tempo criticando, as homilias longas e, sobre a preparação de uma homilia, pediu aos sacerdotes, aos diáconos, aos bispos para “prepararem com a oração, com o estudo da Palavra de Deus e fazendo uma síntese clara e breve: não deve ir além de dez minutos. Por favor!".


A igreja católica portuguesa ao longo dos tempos revelou primor e dedicação ao obscurantismo, opondo-se ao progresso pelo facto o considerar perigoso para a sua estabilidade, pensamento idêntico ao do salazarismo no aspeto social. A igreja não se opõe a uma nova visão da sociedade e do cristianismo proposto por este Papa, resiste-lhe com todas as suas forças. É tudo uma questão de privilégios que as hierarquias da igreja portuguesa veem com preocupação. No antigo regime o poder clerical da igreja portuguesa foi a grande aliada do poder, dito laico, antidemocrático então instituído este também aliado da igreja. Interessava que as classes sociais não dominantes fossem docilizadas, acomodados e conformados pela igreja e esta cumpriu bem a sua missão ao longo das décadas com algumas exceções ocorridas aqui e ali que contrariavam o processo oficial estimulando condutas rígida para disciplinar o comportamento religioso e político dos fiéis. Esta visão ainda está muito presente não apenas na igreja católica portuguesa, mas também na maioria dos seus fiéis.


Salvo raríssimas exceções a igreja católica aceita com olhar de desagrado quaisquer políticas de esquerda mesmo que estas sejam em benefício dos mais desfavorecidos. No passado sempre teve, e quer continuar a ter no presente e no futuro, a primazia de ser a protetora dos desvalidos e dos desamparados para mostrar à sociedade que pratica a caridade em nome de Cristo com laivos de alguma hipocrisia e apoio de extratos sociais altos a ela ligados. Lembremo-nos da Inquisição no século XIV quando a igreja católica conluiada com a nobreza fazia julgamentos sumários e condenava à fogueira inocentes na mesma medida em que que louvava o Senhor e dizia praticar o Bem de acordo com a moral e a ética cristãs.


Com palavreado subtil muitos vão criticando o Papa Francisco porque extrapola muito deixando de falar do Evangelho de Nosso Senhor, para falar sobre as coisas do mundo e só fala em pobreza e em desigualdade.  E as coisas do mundo não interessam nem convêm desde que à igreja não digam respeito.


Para estes conservadores arreigados a igreja e os seus pastores devem servir os costumes tradicionais e exercer o culto através das suas liturgias pregando o Evangelho, mas não o seguindo a não ser com os olhares da conveniência estatutária da igreja.


Sem olhar para dentro de si a Igreja não deve ter o mando de criticar e ou aconselhar outros. A “nova” moral cristã que advém dos pregamentos de Cristo se por um lado não pode intrometer-se em política, por outro não deve estar de acordo com ideologias em que o individualismo exacerbado são práticas corrente servindo-se dos princípios da Igreja cristã para fomentar a manutenção das desigualdades extremadas das sociedades em que é usual aliar a prática da caridade com outros interesses.


Há alguns meses o Papa Francisco alertou para a “dramática desigualdade” de rendimentos entre ricos e pobres, numa audiência aos participantes no congresso que evocou os 50 ano da encíclica ‘Populorum Progressio’, de Paulo VI. Esta mensagem nada tem a ver com ser contra os ricos, mas a Igreja portuguesa tem o dever de não estar do lado do dinheiro porque "O dinheiro deve servir e não governar", e a Igreja católica, juntamente com os mais ricos tem a obrigação de, não apenas de ajudar os mais necessitados, mas, mais ainda, respeitá-los, educa-los e, sobretudo, promovê-los socialmente.


Embora não concorde na íntegra com aquela posição, pois parece passar a mensagem de que os ricos são uma espécie de lepra da sociedade, o ponto de vista é parece ser mais o acesso ao poder pelo dinheiro e para o enriquecimento de alguns e, onde, há dinheiro por vezes a Igreja também lá está não expressamente envolvida. Pode ver aqui extratos da exortação apostólica do Papa Francisco "Evangelii Gaudium" (A Alegria do Evangelho).


Desde quando é que os princípios éticos, morais e sociais da doutrina cristã revelada, não se devem aplicar à vida quotidiana? 

Razões e não razões do Presidente

07.02.18 | Manuel_AR

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O Presidente da República tem razão quando pede que todas as boas notícias sobre o crescimento e o défice deixem de ser conjunturais e passem a ter um nível sustentável, o que pode ser entendido como um pedido ao Governo e, ao mesmo tempo, um aconselhamento. Para isso pede “tempo e trabalho” para se garantir que o crescimento e as contas públicas passem do conjuntural para o estrutural.


O Presidente da República tem razão quando diz serem necessários ir mais longe nos incentivos à iniciativa privada.


O Presidente da República tem razão quando salienta e faz lembrar que o Governo herdou em 2015 um “trilho aberto com inquestionável mérito” e tem “oportunidade única” para reformar o país", mas…


… O Presidente da República não tem razão quando omite o que estava previsto pelo anterior governo foi substituído em 2015. Promessas na campanha eleitoral da direita, então no poder, de um país melhor e as pessoas pior, esperando-se mais cortes, mais privatizações indiscriminadas, mais cortes na saúde, mais austeridade e tudo o que mais viesse.


O Presidente da República, com certeza não desconhece que, nas mesmas circunstâncias, num país com finanças exauridas e com endividamento extremo, qualquer outro governo teria feito melhor com outras políticas já que, as que foram adotadas não foram as mais saudáveis, nem para a economia, nem para as finanças. Sendo muito hábil na diplomacia interna sabe qual a oportunidade e o que dizer para agradar ao Governo e à oposição de direita fazendo a ambos ofertas de rebuçados verbalizados.


O Presidente da República tem razão quando elogia o Governo por ter mostrado que estavam enganados aqueles que, no início, o “condenaram ao fracasso”.


O Presidente tem razão quando diz que há que garantir que fenómenos de contestação inorgânica[i] não desestabilizam o ambiente social.


O Presidente da República tem razão quando lembra que “Portugal pode dispor de uma oportunidade única para se afirmar, virando definitivamente a página das crises endémicas, dos adiamentos, dos conjunturalismos, das soluções para o imediato se o contexto favorável na Europa e no mundo se mantiver “.


O Presidente da República está certo quando faz um aviso e implicitamente uma crítica aos partidos que têm dado apoio parlamentar ao governo para não prejudicarem o que sido conseguido.


O Presidente da República tenta agradar à oposição de direita ao mesmo tempo que atribui mérito ao atual Governo, evitando assim que a comunicação social pudesse aproveitar-se para insinuar confrontos de caráter institucional entre Presidência e Governo. Mas, por outro lado, a mesma comunicação social o que relevou como título foi que o Presidente elogiou o governo de Passos o que seria de esperar.


São comentários a algumas das declarações do Presidente da República proferidas na Banking Summit, uma conferência organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) e pela SIBS, em Lisboa. Falando para banqueiros e outros afins, faze todo o sentido a lógica adotada no seu discurso.


É bom não esquecermos, como já afirmei neste mesmo espaço na altura da campanha para as eleições presidenciais, que Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de moderado, é de direita e, como tal, tenderá a chegar a brasa à sua sardinha.  


Palavras dos Presidente da República:


“Aqui chegados, numa situação inversa àquela que no início muitos consideraram infalivelmente condenados ao fracasso”, Marcelo fala dos desafios para o futuro, desde os mais “simples aos mais complexos”:


Os mais simples: “manter o rumo financeiro percorrido, reforçar a sua interiorização pelos portugueses, continuar a reciclar a dívida pública, reduzindo-a, tirar proveito da possibilidade acrescida de investimento público, permitir a concretização de investimentos privados já projetados, manter e acentuar a abertura ao digital, ao turismo e às exportações e sua diversificação”.


Os mais complexos: garantir que fenómenos de contestação inorgânica não desestabilizam o ambiente social; ir mais longe nos incentivos à iniciativa privada, muito timidamente tratada no orçamento do Estado para 2018″


Em síntese: “Preparar para o futuro condições estruturais mais sólidas de competitividade e produtividade, para converter o conjuntural em sustentável, assegurando que o crescimento veio para ficar e de forma mais intensa, tudo evitando bolhas no consumo que possam fugir a uma sólida prevenção de desregramentos, depois, dificilmente controláveis”.


 


[i] Movimentos inorgânicos são movimentos de contestação e “indignação”, nos quais participam camadas e sectores variados que, apresentados como espontâneos e informais, se caracterizam essencialmente pela sua grande heterogeneidade social e política, por expressões, graus de consciência e organização muito diversos e por objetivos difusos, parcelares e mesmo contraditórios que se têm vindo a desenvolver em vários países, nomeadamente na Europa.


 


 


 

Regresso ao passado ou um paradigma socialista

05.02.18 | Manuel_AR

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Uma notícia da jornalista Sónia Sapage publicada no jornal Público de hoje vem confirmar o que ultimamente tenho vindo a prever. O grupo de sapa da ala neoliberal do PSD, devota de Passos Coelho e apoiante de Santana Lopes nas eleições diretas, estão  a levantar a voz com exigências a Rui Rio.  


Segundo aquele jornal Miguel Pinto Luz ex-líder do PSD-Lisboa e atual vice-presidente do Município de Cascais assinou uma longa carta, com quatro páginas A4, dirigida ao líder eleito do PSD. O atual vice-presidente de Carlos Carreiras na Câmara de Cascais traça as linhas vermelhas que Rio não pode ultrapassar: na descentralização, no orçamento, em questões europeias. E deixa sete perguntas a Rui Rio.


Ainda segundo o mesmo jornal aquele que esteve para ser candidato a líder do PSD para além de propostas e sugestões a Rui Rio, como por exemplo a da limitação dos mandatos dos deputados, deixa, sobretudo, sete perguntas à espera de uma resposta de Rui Rio e que são apresentadas abaixo e que podem confirmar aqui:



  1. O que pensa sobre a sustentabilidade do Estado social em Portugal? Como deve ser reformado?

  2. O PSD vai defender o aprofundamento da liberdade de escolha para as famílias, nomeadamente na educação e na saúde?

  3. Como garantir a sustentabilidade do sistema de pensões, respeitando os pensionistas sem penalizar as novas gerações?

  4. Qual a sua proposta para harmonizar o contexto laboral num país com milhares de trabalhadores com vínculos precários?

  5. Que medidas vai apresentar para reter o talento dos nossos jovens, produzidos pelas universidades?

  6. Qual o papel do Estado no apoio à Ciência e à Inovação?

  7. A atividade cultural deve merecer apoio público?


Uma análise atenta às perguntas mostra que podem ser uma espécie de armadilha para obrigar o atual líder a definir a posição ideológica orientadora do partido e não parecem ser de resposta fácil. Para quem quer o regresso do partido à social-democracia real que não esteja apenas num nome, mas que seja exercida na prática é mesmo uma armadilha.


As perguntas são uma forma de pressão sobre o líder eleito para o cumprimento dum programa neoliberal que possibilite uma reversão das medidas tomadas pelo Governo com o apoio da atual maioria parlamentar.


A primeira pergunta, sobre a questão da sustentabilidade e já mais do que conhecida e sobre as quais o Governo já fez algumas alterações. A pergunta é uma armadilha ao dizer de forma vaga “respeitando os pensionistas” sem mais. Sobre esta questão todos ficámos a saber no passado o que se pode esperar.


A segunda é mais do que evidente pretende o regresso à balbúrdia dos contribuintes voltarem a subsidiar os colégios do ensino privado através dos impostos e do qual apenas se aproveitam os que têm mais desafogo económico.


A pergunta três é demagógica e pretende mostrar hipocritamente que se interessa, como a esquerda, pelo problema quando durante os mandatos do governo PSD e CDS estes partidos nunca se pronunciaram nem tomaram qualquer medida objetiva para uma solução. Agora lembram-se!


A quarta pergunta é hilariante. Medidas para “reter o talento dos nossos jovens, produzidos pelas universidades”. A memória é fraca. Esquecem-se que milhares de jovens foram obrigados a sair país no governo do seu devoto e quase eis líder do partido. Ah! É verdade culpa da troica.


A quinta pergunta terá sido inspirada pela narrativa socialista e que consta do seu programa eleitoral. Ou terá sido mesmo plagiada?


A sexta pergunta sobre se a atividade cultural deve merecer apoio público, para além de ser ambígua parece ser tirada duma anedota.  Mas esta ala do partido o que pensa? Que seja ou não apoiado. Se ao responder disser sim eles dizem que não deve porque isso é socialização da cultura. Se ao responder disser não podem vir a dizer que sim pois que a cultura é importante para o país. Ou então pode ficar-se na chamada meias-tintas Estranho é que, quem passou a cultura para secretaria de estado venha agora pedir medidas sobre a cultura que a corrente que representam foi sempre residual.


O que se irá passar no PSD não interessa apenas aos seus militantes e aos seus eleitores crónicos, mas também a todos nós porque de armadilhas ficámos fartos durante os anos de governação PSD-CDS.  

Walking Deads da política

04.02.18 | Manuel_AR

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1. Depois dos discursos de revelações apocalípticas provindas do azedume duma perda, o PSD, ou melhor o seu quase eis líder Passo Coelho, lança-se numa nova cruzada que ainda faz eco em muitos dos que o apoiam e faz diatribes casuísticas de oposição ao Governo numa espécie de personagem do “Walking Death”. A última foi num encontro com autarcas na Guarda onde considerou ser "inquietante", numa alusão à falta de esclarecimentos do Governo sobre o caso de "irregularidades graves que ocorreram no âmbito da adoção de menores", referência a "casos de corrupção ao mais alto nível da sociedade" relacionado com adoções ilegais de crianças, (presumivelmente praticados por elementos da IURD), lamentando que o Estado "se refugie no andamento da Justiça”. Ora, a afirmação do quase eis líder do PSD vem de encontro às suspeições que publiquei num post, que podem ver aqui, sobre uma manifestação efetuada por um dito movimento cívico autodenominado Movimento Verdade, com senhoras vestida de preto, à moda dos óscares de Hollywood,  para "exigir respostas" sobre os casos de adoções ilegais que envolveram elementos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que está em investigação e que, como tal, não deverá haver lugar à intromissão do Estado como Passos defende. É legítimo fazer a ligação entre o dito movimento com as senhoras vestidas de preto sobre as quais afirmei na altura ser promovido pela direita aproveitando mais um caso para dar uma ajuda à oposição, ou à falta dela, através de populismo demagógico.


2. Os jovens de direita filiados na JSP em busca duma carreira política após as eleições no seu partido já se encontram muito ativos e estão a preparar programas à sua medida para não perderem o comboio com a eleição de Rui Rio. Defendem uma agenda focada na gestão dos fundos comunitários e no conhecimento como forma de reforçar a coesão territorial. Os jovens neoliberais também já falam na valorização do conhecimento. Terá sido inspirado no programa do PS?


Mas há uma palavra, essa sim, plagiada discurso de ano novo do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, reinventar. Dizem estes jovens que “Portugal precisa de se reinventar, garantindo a sustentabilidade dos territórios e das novas gerações. É aqui, na resolução dos problemas concretos que o PSD se deve apresentar com uma agenda capaz, um discurso claro e uma vontade férrea”. Palavras lindas, mas vazias de conteúdo para uma praxis “férrea”.


Falam também da “necessidade de reforçar a coesão territorial, um conceito que a JSD diz ainda estar em construção”. Pois é isso de estar em construção pode ser por tempo indeterminado, também já ouvimos isso do seu quase eis líder ao longo que quatro anos sobre cortes e tudo mais que não me apraz repetir. Mais uma tirada com referência ao “relatório europeu mais recente sobre a coesão que é citado onde reconhecem que "as disparidades regionais no PIB per capita permanecem pronunciadas, o que reflete a intensa concentração de crescimento em áreas metropolitanas." Que grande novidade! Esta foi mesmo reinventada. O tema das disparidades territoriais já estudava na faculdade em planeamento regional e local. Até hoje quantas vezes é que o PSD esteve no governo e alguma vez teve a vontade política para tratar este tema. Mas agora sim, é que vai ser.


Outro ponto parece ser também quase plagiado do programa do PS mudando as palavras quando abordam o tema mais uma vez, a área do conhecimento e da digitalização, fazem uma “agenda para a valorização económica destas matérias e a definição de planos de desenvolvimento regional que passem por aplicar estratégias da especialização inteligente”. Que frase bonita para apresentarem. É caso para se perguntar se foi apenas agora que descobriram esta necessidade do país depois de tantos anos. Caros “jotasdeanos”, disso já o PS falava no tempo de Sócrates, lembram-se?


3. Entretanto os apoiantes de Rui Rio começam a preparar-se para o congresso de fevereiro que irá confirmá-lo como presidente social-democrata e onde irão apresentar uma revisão estatutária para ir a votos apresentando uma proposta "séria, que pusesse o partido a olhar para si", dizem. Da proposta fazem parte medidas como a adoção do voto eletrónico, a obrigatoriedade de referendar coligações pós-eleitorais e a necessidade de o candidato a presidente do partido ir a votos com os nomes que pretende que façam parte da sua Comissão Política Nacional. A maior mudança pode mesmo vir a ser a das eleições diretas. O grupo sugere que aconteçam em simultâneo com o congresso, devolvendo ao PSD a mística dos grandes congressos.


Tudo isto parece ser promissor o que Rui Rio não pode esquecer é da oposição que os neoliberais do partido criados à volta de Passos Coelho estão preparados para uma oposição férrea após Santana ter perdido as eleições internas. Os fiéis seguidores da linha de Passos como Luís Montenegro autoexclui-se da futura direção de Rui Rio e assume divergências sobre a estratégia política. Outro da ala direita mais radical, membro da equipa de Santana Lopes, Carlos Carreiras, quer construir uma “proposta radicalmente alternativa ao socialismo”. Muitos outros estão a postos numa atitude conservadora e de oposição à inovação do partido e ao seu regresso a uma espécie de social democracia.

Uma opinião sobre corrupção e tratamento jornalístico

02.02.18 | Manuel_AR

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No post anterior teci algumas considerações exploratórias sobre eventuais movimentos que a direita faz por caminhos tortuosos traduzidos em fugas de informação, conluiada com uma espécie de jornalismo que por aí prolifera. São razões baseadas em suspeitas especulativas sobre a direita. Mas, tendo em consideração o aproveitamento de casos e casinhos que a direita tem utilizado com populismo oportunista há motivos subjetivos para tal.


A corrupção é um mal que está a destroçar o país e a colocar perante as pessoas desconfianças em tudo o que seja política e políticos e o modo como as instaurações de processos-crime são executadas na sequência de notícias publicadas. Daí a desconfiança também na justiça.


A chamada investigação jornalística sobre casos de corrupção anda à frente da investigação judiciária que pode ser explicado pelo acesso a fontes e ou denúncias que são efetuadas, não às polícias competentes, mas a certos jornais ou televisões, possivelmente com origem nos próprios órgãos judiciários caindo no âmbito do segredo de justiça que apesar disso passa diretamente para a opinião pública com a condenação publica e imediata de pessoas e instituições na praça pública muito antes até das investigações se iniciarem. O caso de jornalistas se encontrarem nos locais sabendo que a polícia irá aí aparecer não deixa dúvidas.


 A corrupção sempre existiu com a diferença de que, no tempo da ditadura, quando envolvidos altos cargos públicos ou empresariais era desconhecida do público porque as notícias eram de imediato silenciada pela comissão de censura. É natural, portanto, que, em democracia, surjam mais casos noticiados. No entanto informar é uma coisa, outra é os órgãos de comunicação social ao anteciparem à justiça procedam, através de títulos ou noticias insidiosas, à “perseguição” jornalística de cidadãos com objetivos meramente sensacionalistas.


As notícias vindas a público nas últimas duas décadas sobre diversos tipos de corrupção na maior parte estão associadas aos dois partidos de alternância no poder já que desconheço presença relevante na comunicação social de corrupção em que tenham intervindo elementos direta, ou indiretamente, ligados a partidos à esquerda do PS.


Têm sido o PS, e o PSD e CDS, estes sós ou em conjunto os mais abrangidos por problemas relacionados com corrupção. Contudo, a ênfase dessas notícias sensacionalistas é mais relevante quando se trata de elementos com ligações diretas ou indiretas ao PS estão envolvidos, numa espécie de continuo ad nauseiam.


Outra situação verifica-se quando a imprensa sensacionalista lança para a rua títulos de primeira página sobre determinado cidadão relacionados com possíveis casos de corrupção e o ministério público considere não serem matéria objeto de crime e arquive o processo, essa mesma imprensa, presumo que intencionalmente, omite o facto e não a mesma relevância de primeira página. Um dos exemplos é o recente caso do Correio da Manhã cuja primeira página de hoje omite o arquivamento do processo a que Mário Centeno esteve sujeito.


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Como é possível proceder à instauração de um processo-crime apenas pela publicação numa primeira página ou noticiário de um qualquer órgão jornalístico impresso ou audiovisual. Lança-se uma notícia e o ministério público corre para buscas em certos locais (onde antecipadamente já se encontram jornalistas), sem validar a notícia e os seus fundamentos. Como é possível que tudo isto passe impunemente e a quem poderá interessar? Se não é assim, é o que transparece a quem está de fora e cuja informação é conseguida apenas pelo que jornais e canais de televisão nos fornecem para consumir.


Quando se trata de corrupção em que intervenham elementos ligados a partidos de direita as notícias divulgadas não são repetidas, nem com a mesma ênfase, nem com a mesma proporção em tempo e em repetições sucessivas dos atos presumivelmente praticados; vão-se diluindo ao longo dos dias até ao esquecimento. Isto é, para a comunicação social deixam de ser notícia e raramente voltam à arena jornalística a não ser episodicamente.


Podem representar-se estas premissas através dum diagrama interpretativo e subjetivo de noticias na imprensa e nas televisões sem se ter qualquer intuito quantitativo.


Repare-se que as cores a azul mais escuro na interseção com o círculo da comunicação social são diferentes em função da presença temporal da notícia. A dimensão dos círculos laterais que o intercepta representam a extensão e repetição das notícias.   


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Uma conclusão possível, mas enganosa, é a de que a corrupção à direita é menos relevante e menos frequente que à esquerda. É precisamente esta conclusão que os produtores e fornecedores de notícias sobre corrupção e partidos nos querem fazer acreditar.


Agra mesmo o jornal Público noticia 20h26M que:


OPERAÇÃO LEX


Aberto inquérito à violação do segredo de justiça


Joana Marques Vidal considera “grave” nova violação do segredo de justiça e pede uma reflexão profunda de todos os intervenientes processuais. Jornalistas incluídos.


Acho que isto não vai dar em nada, há poderes que estão bem protejiods. A ver vamos.


Notas finais: É apenas uma opinião que necessitaria de estudo mas aturado para ser tomada como hipótese.


Sobre cunhas e corrupção o jornal Público publicou um artigo em 2011 que pode consultar aqui ou um artigo sobre o mesmo tema aqui.