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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

O espelho da direita

10.03.17 | Manuel_AR

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Parece-me que a direita continua desvairada pela perda do seu ente querido, o poder. A ela vai-se associando uma extrema-direita que aos poucos vai fazendo ouvir-se através de estratégias de propaganda política da falsidade e calúnias de modo a criar crispações artificiais para fazer constar que a esquerda que apoia o governo está a pôr em causa e a tentar limitar as liberdades pretendendo controlar isto e mais aquilo com a popularmente chamada conversa da treta!


Neste mesmo local já escrevi que durantes os anos conturbados do pós 25 de abril era comum controlar as reuniões gerais de alunos e assembleias dos sindicatos através de propostas de cariz radical apresentadas por grupos ocultos que se intitulavam de esquerda para as manipularem de modo a fazerem aprovar e votar propostas que eram de seguida utilizadas politicamente pela extrema-direita fazendo-as reverter para os seus desígnios.


Eu explico com um exemplo. Convoca-se uma reunião geral para debater um tema que se sabe à partida provoca controvérsia. De seguida, certos elementos convocam uma reunião geral de alunos para discutir a validade do tal evento. Alguns infiltrados da extrema-direita “mascarados de esquerda” fazem aprovar proposta de boicote ao evento que se irá realizar e, no final, é aprovada uma proposta radical contra o evento. De seguida a organização do evento vem a público divulgar que foi impedida a sua realização por radicai de esquerda que querem limitar a liberdade de expressão e de reunião e com o objetivo de criar instabilidade.  Teorias da conspiração? Olhe que não, olhe que não!... Nos meus tempos da universidade em assembleias gerais e em reuniões sindicais como independente de qualquer partido ou organização, assisti a isso mais do que uma vez.


É uma forma para se fazer constar para a opinião pública a ideia, falsa, de que as liberdades estão a ser postas em causa pela esquerda. Aliás, já tenho ouvido comentadores(as) políticos ainda de forma muito cautelosa lançar para o ar algumas insinuações.


Aproximam-se as eleições e nada está a correr bem para direita, assim, há que lançar mão a tudo, mesmo a baixa política, arte em que é eximia. É pena que não tenha nada na mão para nos apresentar de concreto. E não tem porque não consegue ou então teria defender o contrário do que defendeu no passado recente.


 


Para terminar uma nota à margem:


Ontem no programa da TVI24 “Prova da Nove” aquela sumidade que é Paulo Rangel e que, dentro do PSD, não sabemos onde se posiciona, se é na ala mais à direita, ou na ala à esquerda ou no centro. Quando falava sobre o banco de Portugal e sobre o evento que teria a presença de Jaime Nogueira Pinto, que foi adiado, fez-me lembrar aqueles palhaços que gesticulam muito, mostram expressões faciais de calma forçada e que olham fixamente para a câmara fazendo divertir as crianças.


Paulo Rangel é um ator da charada política, fala, agita-se, gesticula, deturpa, é um mestre do ilusionismo político. Tenta convencer os outros, e principalmente a ele próprio, que tudo quanto diz são verdades absolutas. Quando fraqueja nos argumentos utiliza a baixa demagogia que sabe pode ser eficaz para mentes menos conhecedoras do jogo onde se lançam as cartas. Enfim! Assim vai o PSD e a direita neste país!


 

Os boicotes à liberdade de expressão são contrários à racionalidade

08.03.17 | Manuel_AR

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Quem lê os meus “posts” sabe qual a minha posição sobre uma direita ambígua na oposição que vem perdendo dia a dia a credibilidade. Pronunciar-se contra a direita ou contra a esquerda é um direito que assiste a qualquer cidadão. Outra coisa são as tentativas de boicote a iniciativas que a democracia e as suas instituições possibilitam, venham elas da direita, da esquerda ou da chamada extrema esquerda.


Não me identifico com os pontos de vista de Jaime Nogueira Pinto com quem politicamente discordo por ser um conservador de direita que revela, por vezes, algum saudosismo do passado, assim como não me identifico com os de Paulo Portas, de Catarina Martins, de Jerónimo de Sousa ou de quaisquer outros que defendem as suas ideias em ambiente de democracia.


Não encontro justificação para o que se passou na FCSH, nem é legítimo que se proceda a manobras intimidatórias e atentatórias da liberdade de expressão dentro duma universidade, ou qualquer outra instituição democrática, para evitar que se debatam temas que estão na ordem do dia e aos quais não se podem fechar os olhos como se pudessem tapar o sol com uma peneira.


Debater não significa doutrinar e, por isso mesmo, se esgrimem argumentos consoante diversas correntes de opinião. Pode haver quem prefira o unanimismo de opiniões, mas esses coabitam mal com a democracia. É assim!


A juventude é por vezes dada a impulsividades e radicalismos mais emocionais do que racionais e, só assim se compreende as atitudes que terão sido interpretadas como o exagero da ameaça de boicote que conduziram a receios e a precauções, provavelmente infundados, por parte dos responsáveis da universidade. Não é admissível em democracia. Também não faltaram alguns, como uma tal organização denominada Nova Portugalidade, responsável pelo evento, a falar em pressões e boicotes que terá havido segundo o seu representante


Quem andou pelas universidades após o 25 de abril bem sabe como é possível manipular uma assembleia de estudantes de modo a obter efeito contrário ao pretendido e, posteriormente, se poder “virar o feitiço contra o feiticeiro”. E não digo mais nada.


 

Trumpistas, aproveitamento pela extrema-direita e os sinais de populismos

07.03.17 | Manuel_AR


 O sufixo “ista” é o formador de adjetivos e substantivos que participa na derivação de adjetivos a partir de nomes e exprime a noção de adepto de algo.


Neste sentido estão incluídos todos os que são fervorosos apoiantes do presidente Trump dos EUA. Em Portugal, aos poucos, vão por aí surgindo vários, uns mais tímidos, outros mais assumidos. Identifico pelo menos três que se têm evidenciado pelos seus pontos de vista: Nuno Rogeiro, António Ribeiro Ferreira, que foi em tempo diretor do jornal i, e, ainda, o mais subtil, como sempre, Paulo Portas, e outros aparecerão ainda.


Começo por Ribeiro Ferreira que alinha incondicional e explicitamente com as políticas de Trump. Aliás é bem evidente a sua concordância com o discurso e as mensagens enganadoras de Donald Trump quando faz um ataque cerrado a órgãos de comunicação dos EUA. Ferreira é um jornalista de fação, fação da extrema-direita. Ler os artigos dele, de conteúdo fascizante, é como estivéssemos a ler o jornal “O Diabo” e a sensação de termos regressado a um tempo passado, e que pode muito bem voltar a vir no futuro, se a democracia não lhe fizer frente pelos meios que tem ao seu dispor. Ribeiro Ferreira coloca em epígrafe “A América está com Trump” e inicia a sua enganadora narrativa começando por comparar o que se passa em Portugal com o que se está a passar com Trump nos EUA.


Cito uma pequena passagem da verborreia deste “jornalista” que é significativa para avaliar a sua isenção. Diz então que (os negritos foram salientados por mim):


Nesta imensa campanha suja destacam-se, naturalmente, a CNN – Clinton News Network, a BBC – British Broadcasting Clinton, o “New York Lies” e o “Washington Dumb”, entre outros grandes meios de comunicação social. Como mentem tanto, alguns andam mesmo de mão estendida a pedir socorro a outros desgraçados que olham para o presente e futuro dos EUA com muito medo.


E têm razão. Com Trump na Casa Branca acabaram-se os tempos do laxismo, da desordem, da balbúrdia, da promiscuidade dos poderes instalados em Washington e dos milhões e milhões de imigrantes ilegais que não só tiram o emprego a cidadãos legais que pagam impostos como lhes baixam os salários. A guerra que Trump declarou a uma certa imprensa é uma guerra da verdade contra a mentira, da coragem contra a cobardia, da frontalidade contra a venalidade e a corrupção.


Triste, lamentável mesmo, é a forma como a imprensa portuguesa segue como carneirada os mentirosos do outro lado do Atlântico. São os Ecos de Aljustrel, do grande Eça de Queirós, cujo diretor, a espumar de fúria quando Bismarck invadiu a França, ameaçou com veemência: “Deixem estar que amanhã já dou cabo dele nos Ecos”.


Mentirosos, ranhosos sem qualificação que se masturbam com gracinhas, polémicas e gritinhos de indignação. Agora que segue em frente, imparável no cumprimento do seu programa eleitoral, o presidente dos EUA marcou pontos com o seu notável discurso no Capitólio, aplaudido de pé pelos republicanos e ouvido pelos ridículos democratas vestidos de branco.”.


E termina com “Olhem com muita atenção o que se está a passar na Holanda, na França e na Alemanha. Não se fiem em sondagens feitas pelo sistema sobre o sistema. Não se fiem em sondagens que apenas visam salvar o sistema da vontade popular, dos cidadãos que estão fartos da corrupção, do centrão político politicamente correto, cobarde e de cócoras perante os bárbaros muçulmanos que lhes infernizam a vida em muitas cidades europeias, das brutais cargas de impostos que servem para pagar Estados sociais que beneficiam quem não trabalha e não deixa trabalhar, que dá privilégios a gente que despreza tantas e tantas vezes a história e a cultura de quem os recebeu e alimenta a pão-de-ló. “…Podem berrar contra os populismos as vezes que quiserem. Podem rasgar as vestes todas pelo sistema. O voto popular, nos EUA e na Europa, está a mostrar que o sistema e os seus capangas vão nus.”


O seu tipo de jornalismo de opinião faz-me lembrar o tempo das prosas do “Diário da Manhã”, jornal fundado a 4 de Abril de 1931, órgão oficial da União Nacional, sob direção de Domingos Garcia Pulido, integrante do círculo íntimo de Salazar.


Não é apenas pró Trump, Ribeiro Ferreira destila ódio e ressabiamento por todos os poros, por tudo quanto venha da democracia, talvez devido a algo que terá perdido no passado, o fim da ditadura. Um sujeito perigoso que se intitula de jornalista.


Isto é, para aquele dito jornalista, a verdade dele e de Trump é única, uníssona, indiscutível e se segundo ele não se pode acreditar em nada a não ser acreditar em tudo o que eles dizem. Para este adepto da política de Trump tudo quanto não seja pensamento único é mentira. Ferreira não consegue distinguir a realidade da sua reacionária fantasia.


É de indivíduos como este que nos devemos defender porque são uma ameaça à democracia.


 


Há outros, mais subtis, como Paulo Portas, cuja esperteza torna perigosas as suas intervenções e comentários, devido ao seu pensamento muito arrumado, claro e convincente para os mais desprevenidos. Não defendendo claramente Trump apoia a sua política por comparação. Sem a ele se referir compara a Europa com os Estados Unidos da América. Ataca Obama, não o atacando, mas comparando sem o desvalorizar com o ideário de Trump. Define a política de Trump sem, no entanto, tomar partido, com a ideia central de que a Europa alimenta “receita para o desastre


Transcrevo uma pequena amostra da intervenção de Portas que pode ler e ouvir aqui:


 Paulo Portas aconselha os europeus a habituarem-se à ideia de que Donald Trump vai mesmo liderar a maior potência do mundo como fazia nas suas empresas: "permanentemente ao ataque" e a achar que "para vencer deve muitas vezes levar as tensões até situações limite", mas também recuando se estiver perante um impasse”.


 O que Paulo Portas acha disso?


 “Vai mudar frequentemente de opinião e não vai ser por isso penalizado pelo eleitorado. Ninguém espera a coerência num bilionário, mas eficiência. E se achar que deve mudar de opinião para ser mais eficiente, vai fazê-lo", resume o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.


O que Paulo Portas acha disso?


Portas considera que "entre o fanatismo da CNN e o fanatismo da Fox News haverá um lugar razoável" para o entendimento de Trump, apontando três palavras essenciais para compreender a sua acção: nativismo, protecionismo e isolacionismo. E o que há de novo, segundo ele, é que o novo presidente dos EUA é "o primeiro a ter estas prioridades ao mesmo tempo, a agir e discursar como se não tivesse outras e a fazê-lo em globalização". "Agora não me venham dizer que, na substância, estes conceitos políticos foram inventados agora".


O que Paulo Portas acha disso?


Quanto ao isolacionismo, Portas sublinhou que a retórica de Obama apenas foi multilateral para se distinguir dos antecessores Clinton e de Bush, que eram expansionistas. "Mas o que fez Obama se não tirar os EUA de todos os teatros de guerra? Obama já estava do lado do isolacionismo. De modo estridente, o presidente Trump continua esse caminho".


Parece que Paulo Portas apoia Trump!


Paulo Portas “antecipa que um cenário de maior crescimento económico nos primeiros anos do mandato, impulsionado por "uma revisão do IRC que fará Ronald Reagan parecer um social-democrata", pelos planos de desregulação do mercado e pelo programa de investimento em infraestruturas. 


Portas confessou estar "bastante preocupado com o estado da Europa que, face aos EUA, cresce metade, tem o dobro do desemprego, investe metade em pesquisa e desenvolvimento e tem cem vezes menos disponibilidade de "venture capital" (capital de risco). "Mas acham que os americanos é que estão errados. Esta fixação no erro é desastrosa. A Europa não tem crianças, é contra os imigrantes, é a favor dos direitos adquiridos sem saber como os pagar. Isto é uma receita para o desastre", dramatizou.


Paulo Portas volta a ser eurocético depois de criticar os partidos à esquerda do PS. Compara Europa e EUA para apoiar as políticas de Trump sem o declarar explicitamente.


Espantosamente questionou "por que é que europeus e americanos olham para a Rússia com os mesmos olhos com que olhavam para a União Soviética?". Portas alinha assim com a política de Trump no que respeita à política de Putin.


Podemos estar a assistir em Portugal aos primeiros sinais de populismos da extrema-direita.

Agora somos todos contra

06.03.17 | Manuel_AR

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Aqui está ele de novo, José Miguel Tavares, que diz ser um liberal e de direita, dependendo dos dias. Não sei se ser liberal ou ser de direita é necessariamente a mesma coisa. Tenho que aprofundar isso, tenho muitas dúvidas, tantas quanto o seu parceiro de direita Paulo Núncio.


Quem ler o artigo de João Miguel Tavares e não for liberal nem de direita (?) (a minha dúvida persiste), fica absolutamente pasmado, mas, ao mesmo tempo agradado, com grande parte do que defende, parece até um liberal socialista a falar (esta é outra dúvida que tenho. Não sei se este conceito existe). Até não concorda com os seus amigos de direita que dizem achar que há muito populismo e demagogia nesta coisa dos offshores.


Vai ainda mais longe parecendo um “esquerdalho”, desculpem-me esta terminologia que não pretende ser ofensiva, mas que, para facilidade de expressão, resolvi utilizar para designar todos os que não pertencem ao grupo dos eleitos das verdades absolutas do capitalismo quando falam entre si, (já agora mais um parêntesis para que fique claro que não sou anticapitalista, nem contra a iniciativa privada).


José Miguel Tavares fala sobre offshores dizendo em abstrato ser contra, contudo sem referência clara ao caso concreto que está na ordem do dia e se passou quando os neoliberais estiveram no poder e, talvez por isso, seja contra, em abstrato.


Acha provável que haja fugas ao fisco nas 14484 transferências e infere que “pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade”, cita um socialista para defender a sua tese e até aponta as razões de António Costa neste caso. Tavares manifesta-se contra os muito ricos que, segundo a bíblia neoliberal, que é a dele, é necessário que sejam ainda mais ricos para que os pobres o sejam menos, (desculpem-se mais este parêntesis, mas não tenho nada contra os ricos tenho é contra a patranhada desta teoria para confundir quem os ouve). Quem acompanhe o que tem escrito defendendo quase incondicionalmente a causa dos liberais fica agora pasmado porque, ao ler o seu artigo, só um insensível não estará de acordo com ele e, por isso, nada me impede de colocar em dúvida a sua sinceridade.  Vejamos então o que João Tavares escreve:


Ainda que não tenham existido fugas ao fisco ou falcatruas nas tais 14.484 transferências – o que parece altamente improvável, a avaliar pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade –, o simples não-tratamento de 10 mil milhões de euros é uma vergonha exactamente pelas razões apontadas por António Costa: a única forma de manter a moralidade do regime em tempos de vacas magras é ter, pelo menos, a mesma exigência com fortes e fracos. E a única forma de manter a salubridade do capitalismo é não permitir as desigualdades chocantes que as offshores promovem. Acho muito bem que, consoante o talento e os méritos de cada um, haja quem seja mais rico e menos rico. Só que as offshores promovem uma desigualdade inaceitável – são um privilégio só ao alcance de milionários. Como dizia António Lobo Xavier, com alguma graça, não há guichês para offshores. Não há um sítio onde a gente possa ir bater à porta e colocar 1000 euros nas ilhas Caimão, só para experimentar. Ora, se apenas os muito ricos podem pagar menos impostos, isso só pode ser classificado de uma forma: absolutamente escandaloso. E a quem parecer que isto é simples demagogia e populismo, só tenho uma coisa a dizer: quero mais.


Com ele todo o grupinho de comentadores transforma-se, neste caso, em grande oposicionista aos offshores e avança com pedidos de investigação a fundo sobre o caso; viram-se contra Paulo Núncio quando, na semana anterior, o defendiam. Veja-se o caso de Assunção Cristas ao corrigir o tiro de enaltecimento a Paulo Núncio ao dizer que o país lhe deve muito, pede agora para se investigar tudo sobre o caso. Marques Mendes o político tarólogo de direita de serviço na SIC, vem dizer que há mais dúvidas do que certezas no caso dos offshores e que pode haver matéria criminal.  Segundo o jornal i, “acho que pode ser um caso de polícia", afirmou hoje Luís Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. E, pasme-se, no seu álbum fotográfico o PSD e o CDS estão mal na fotografia! Quem diria! Desconfiando que isto possa dar para o torto, ratos, ratinhos e ratões afastam-se e correm para a rua mostrando que não são os primeiros a fugir quando o barco de está a fundar, refugiam-se publicamente no investigue-se e esclareça-se tudo a fundo.


É que, na voragem iniludível de agarrar novamente o poder, a direita quer fazer esquecer o que fez e disse no passado.


 

Lavadores

03.03.17 | Manuel_AR

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Lavador é uma palavra pouco utilizada em política. As investigações judiciárias utilizam uma palavra cuja raiz é a mesma mas aplicada quando se trata de lavagem de dinheiro.


Aqui prefiro utilizar o termo lavador quando se trata do comentário e da atualidade política. O significado de lavador é dado como aquele ou aquilo que lava. É, portando, o adequado para me fazer compreender.


Sempre que algo corre mal para a direita, (também pode ser para a esquerda), surgem os lavadores da imagem política. A direita tem andado verde de raiva, agora parece ter passado a vermelho de vergonha.


A direita sempre que pode gosta de fazer de dama virgem e ofendida. Refiro-me à intervenção



 

A mania da importância que nunca teve

02.03.17 | Manuel_AR

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Vale a bem apena divulgar transcrever este texto de Miguel Sousa Tavares publicado no jornal Expresso no passado sábado.  Apesar e não apreciar muito os artigos de opinião dele, talvez porque não me agrade a forma como ele brande argumentos contra tudo e contra todos, mas no meio de tudo alguns com alguma razão.


Há quem goste apenas de ler o que esteja de acordo com o que pensa e que lhe agrade. Quando não lhes agrada o que leem ou que esteja em desacordo com o seu pensamento e alinhamento politico ou partidário reagem mal e, não sabendo como argumentar, muitos há que estropiam a linguagem corrente com impropérios desajustados aos autores dos comentários. É o que mais se vê por aí no mundo das redes sociais.


Todavia não é este o caso de Miguel Sousa Tavares quando comenta sobre o livro dessa personagem sinistra que é, e foi, Cavaco Silva. Não utiliza impropérios, vai ao cerne da questão sobre o que ele sabe e nós não sobre Cavaco Silva. Assim, vale a pena ler o que Sousa Tavares diz sobre a adulteração feita por Cavaco. Apesar de já ter circulando por várias redes sociais e blogs vale pena a repetição.


«(...) Bem pode Cavaco Silva desfilar o rol de grandes do mundo que conheceu em vinte anos no topo da política portuguesa: nenhum desses grandes o recordará nem que seja num pé de página de memórias e a nossa história não guardará dele mais do que o registo de uma grandiloquente decepção.


Nos seus dez anos como primeiro-ministro, Cavaco Silva teve o que nunca ninguém tinha tido antes dele e não voltou nem voltará a ter depois dele: uma maioria, tempo, paz social, esperança e dinheiro sem fim, vindo da Europa. Fosse ele, porventura, um homem dotado de visão e de coragem e conhecedor da nossa história e dos nossos males ancestrais, teria aproveitado as circunstâncias para inverter de vez o funesto paradigma em que vivemos há décadas ou séculos. Em lugar disso, aproveitou o dinheiro e os ventos favoráveis para engrossar o Estado, fazer demasiadas obras públicas inúteis e cimentar a clientela empresarial que sempre viveu da obra ou do favor público. Ele lançou as raízes do défice e da dívida pública, que, depois, tal como as obras (de Sócrates), passou a execrar. Cinco anos volvidos, regressaria para outros dez de Presidência. Por razões que já nem adianta esmiuçar, acabaria por sair de Belém com uma taxa de rejeição recorde e com 80% dos portugueses fartos dele e do seu pequeno mundo. Muita da popularidade de Marcelo deve-se ao facto de os portugueses o verem em tudo como o oposto de Cavaco Silva.


Tive um breve mas arrepiante flashback deste pequeno mundo quando, na semana passada, Cavaco Silva lançou o seu livro de ajuste de contas. Pelas citações e declarações que li e ouvi, parece-me que a única coisa boa do livro é o título — (mas até esse li que não era original). No restante, Cavaco entretém-se a contar os seus “factos rigorosos” para“ informação dos portugueses”, e registados com base num método que diz ter inventado quando era estudante e que se presume não ser o do gravador oculto. A finalidade da história das suas quintas-feiras é atacar um homem já debaixo de todos os fogos — o que confirma a lendária coragem intelectual de Cavaco, tal como no seu discurso de vitória quando foi reeleito, atacando com uma raiva e um despeito indignos de um Presidente da República os seus adversários que já não se podiam defender. Parece que agora, com um absoluto desplante e tomando-nos a todos por idiotas, Cavaco Silva ensaia uma indecorosa falsificação dos tais “factos rigorosos”: a história de como ele e a filha ganharam 150% em dois anos com acções do BPN que não estavam cotadas em bolsa (jamais desmentida e bem documentada), não passou, afinal, de uma “calúnia”, vinda da candidatura de Manuel Alegre; e a célebre “conspiração das escutas” de Sócrates a Belém, engendrada entre o assessor de imprensa de Cavaco e um jornalista do “Público”, foi, pasme-se, ao contrário: foi o Governo que montou uma operação para fazer crer… que o Governo escutava Belém!


Ele (Cavaco Silva) que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá


Mas não foi isso o que verdadeiramente me arrepiou nas notícias e imagens do lançamento do livro do Professor. Outra coisa eu não esperava dele nem do seu livro. O que me impressionou e arrepiou foi uma visão que diz tudo sobre quem foi e quem é este homem. Após mais de vinte anos na vida política e nos mais altos postos dela, tendo fatalmente conhecido não só vários grandes do mundo mas também toda uma geração de portugueses da política, da cultura, do empresariado, das universidades, etc., quem é que Cavaco Silva tinha a escutá-lo no seu lançamento? A sua corte de sempre, tirando os que estão a contas com a Justiça. Os mesmos de sempre — Leonor Beleza e o que resta da sua facção fiel no PSD. Mais ninguém. Nem um socialista, nem um comunista, nem um escritor, um actor, um arquitecto, um músico reconhecido. Nada poderia ilustrar melhor o que foi e é o pequeno mundo de Cavaco Silva. Ele que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá.»


Miguel Sousa Tavares: "Sem sombra de grandeza". Texto publicado no Expresso de 25 de fevereiro de 2017.


 P.S.: Miguel Sousa Tavares não utiliza o atual acordo ortográfico pelo que mantive o texto original.

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