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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

O ónus da culpa

27.04.16 | Manuel_AR

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Comentar o discurso de Paula Teixeira da Cruz na Assembleia da República quando das comemorações do 25 de abril é dar importância à doença que avassala o PSD dito social-democrata. Uma espécie de azia com que se confronta, no dizer de Correia de Campos “azia prolongada, desconfortável” que “chega a ser dolorosa.”. E acrescenta: “Esperava-se que Bruxelas recusasse o Orçamento. Em vão. Esperava-se que o spread da dívida soberana castigasse a esquerda intrusa, a querer ombrear com os bem comportados. Em vão. Esperava-se que as agências de rating viessem repor a ordem natural de não deixar governar a esquerda. Em vão”.


Paula Teixeira da Cruz e o PSD encerraram-se no casulo que teceram com as suas políticas sem ainda conseguiram que a crisálida emergisse sob a forma de borboleta para ver a luz do dia. Preferem “curtir” o seu passado recente com o orgulho neoliberal com que brindaram Portugal.


O discurso não é mais do que o retorno das ameaças amedrontadoras já bem conhecidas e repetidas pela direita (PSD) de que nos podem levar novamente à catástrofe. Conhecemos bem as políticas e os discursos que conduziram à divisão dos portugueses. Entretanto Passos Coelho vai dizendo por aí que as previsões do PE - Plano de Estabilidade são pouco ambiciosas e irrealistas e, ao mesmo tempo, dizem outros, serem excessivamente otimistas. Concordo se o termo ambição para Passos Coelho, forem cortes, sacrifícios, mais austeridade. Como tornaria Passos Coelho o PE - Plano de Estabilidade e o PNR – Plano Nacional de Reformas mais ambiciosos? Curioso é que alguns comentadores de economia das televisões, tomando-se ares de credibilidade, alinham pelo diapasão da oposição do PSD de Passos, o mesmo é dizer que, em vez de comentaristas isentos, mais parecem deputados da oposição.


Mas voltemos ao discurso da tragédia e do “odor do salazarismo bafiento” com que Teixeira da Cruz rotula os partidos que apoiam o Governo acusando-os de traidores à pátria por se atreveram a reagir às posições sobre matérias financeiras em relação à Europa, feitas internamente, diga-se, tivessem que ser silenciadas.


Se bem me lembro, e quem esteve atento à comunicação social quando se estava a discutir o Orçamento de Estado para 2016 para apresentar em Bruxelas recordar-se-á também e pode avaliar quem de facto poderá ser considerado em termos valorativos, mesmo que em sentido figurado, ser traidor à pátria quando um deputado europeu do PSD (Paulo Rangel) em Bruxelas fez questão de “chamar a atenção” da Comissão Europeia para o facto de “todo o esforço que a população portuguesa fez nos últimos quatro anos, com resultados tão prometedores e tão inspiradores”, estar agora “comprometido” devido ao “acordo de forças da extrema-esquerda com o PS, que põe em causa o equilíbrio que até agora tem sido seguido em Portugal”. Deixo a cada um tirar as ilações que bem entender.


O discurso é uma espécie de catarse do ónus da culpa do PSD feito pela “psicanalista” Paula Teixeira da Cruz, isto é, faz uma terapêutica psicanalítica do partido tendo em vista o desaparecimento de sintomas pela exteriorização verbal e emocional de traumatismos governativos recalcados enquanto o PSD esteve, juntamente com o CDS, no Governo.


A senhora deputada quis contemplar o atual Governo e os partidos que o apoiam com os mesmos argumentos que, com razão, lhe foram dirigidos ao Governo da altura. Foi um discurso com a emoção à flor da pele, virado para o passado, com laivos traumáticos pela perda do poder que queriam manter à imagem e semelhança do anterior. Fazem acusações que sabem lhes couberam quando o PSD foi Governo querendo agora imputar a outros. O trauma do PSD e de Paula Teixeira da Cruz manifestam-se numa espécie de cegueira ensaiada para ocultar o ónus duma culpa que acarretam.  

O grande educador e defensor da liberdade de expressão

23.04.16 | Manuel_AR

Defensor.pngO editorial do jornal Público na edição de 22 de abril, intitulado “Cala-te Sócrates” refere-se às intervenções que José Sócrates, também ele ex-primeiro-ministro, produzindo opiniões sobre a atualidade política portuguesa.   


Passos Coelho que deve achar que o patriotismo apenas se revela pelo uso de PIN na lapela, continua a comporta-se não como deputado da oposição mas como um primeiro-ministro que foi colocado no exílio. Este também ex-primeiro-ministro veio, com a sua postura e palavreado de mestre-escola, solicitamente em defesa de José Sócrates insurgindo-se, vejam só, contra o editorial do referido jornal por estar a colocar em causa a liberdade de expressão dum cidadão. Passos, ou não leu o editorial, compreende-se no meio de tanto evento não terá tempo, ou então, sopraram-lhe ao ouvido um resumo desvirtuado do sentido.   


Ao falar em liberdade de expressão Passos esqueceu-se que aproximadamente em março de 2014 quando da chegada de Miguel Relvas à reunião do Conselho Nacional do PSD, num hotel de Lisboa, o fotojornalista da Global Imagens (DN/JN/O Jogo), Paulo Spranger, tentava captar imagens do ex-ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, quando foi surpreendido por um pontapé desferido pelo assessor de imprensa social-democrata, Zeca Mendonça. Não houve insulto. Provocação. Um fotojornalista tentava tirar uma fotografia do momento. As imagens foram captadas pela CMTV.


O editorial do jornal Público é uma opinião, como tantas outras que se expressam de modo favorável ou desfavorável sobre a atualidade política. O editorial utilizou uma conhecida e divulgada expressão com que o rei de Espanha se dirigiu a Chávez, em junho de 2014, na altura Presidente da Venezuela, que não deixava Zapatero falar. O rei, então, surpreendeu-o, dizendo: – Por que não te calas? Terá sido isto limite à liberdade se expressão?


O autor do editorial expressa através duma opinião a intervenção que José Sócrates fez sobre António Costa e Rebelo de Sousa que também não passa de opinião e pontos de vista pessoal, como o fez dar a entender. De certo modo reconheço que Sócrates poderá ter razão em emitir os seus pontos de vista pessoais, mas não é por isso e por acaso que Passos Coelho se coloca contra aquele jornal de referência em nome da liberdade de expressão.


José Sócrates prestou-lhe um serviço com as declarações que fez ao juntar-se ao pensamento oposicionista sem critério nos corredores do PSD. Teríamos a mesma atitude do ex-primeiro-ministro “exilado” Passos Coelho se o mesmo jornal tivesse escrito mandar calar Sócrates caso este tivesse dito algo sobre ele que não lhe agradasse?


Porque não te calas Passos?


Já agora um conselho, valia mais que envidasse esforços para que os deputados do PSD no Parlamento Europeu defendessem os interesses de Portugal em vez de se juntarem às críticas que lhe são feitas. Isso é que é patriotismo senhor deputado Passos Coelho, não é o PIN na lapela.

Quando o réu quer virar juiz

22.04.16 | Manuel_AR

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A direita, especialmente o PSD de Passos Coelho, tenta desvincular-se da política que adotou enquanto esteve à frente do Governo. O PSD tenta agora na comissão de inquérito ao BANIF mostrar que nada teve a ver com isso,  desculpabilizar-se e apagar parte do seu mandato. Na Assembleia da República o PSD aproveita a comissão de inquérito e a visibilidade televisiva para atacar e responsabilizar o Governo em funções. A sua pedra no sapato é o ministro das finanças Mário Centeno porque, se este conseguir mostrar durante o mandato deste Governo que há outros caminhos para atingir os mesmos objetivos, mostrará o fracasso do Governo anterior e a política da severa austeridade que apoiou, (apenas para alguns), imposta pela UE e pelo seu defensor incondicional que é o ministro das finanças alemão.


Podemos questionar, se, quem não resolveu o problema do BANIF por incompetência, desleixo, ou talvez premeditadamente para precaver uma eventual perda de eleições tem moral política para acusar seja quem for pela situação criada no naquele banco. Poderemos perguntar ainda se já estão esquecidos dos estrondosos problemas que enredaram o Governo de que faziam parte?


O Governo anterior passou o problema para o senhor que se segue que, a custo, o resolveu enquanto elementos do PSD que estão na comissão de inquérito constroem artifícios irrelevantes fazendo-os parecer mais importantes do que na realidade são.


O PSD  ainda está no rescaldo da incapacidade de Passos Coelho, aliada a um certo ressentimento por não ter conseguido constituir Governo. Diria até uma certa ira para com o atual que, até ver, mostra estar a governar. Passos Coelho, por seu lado, mantém o registo de primeiro-ministro mas sendo ex-primeiro-ministro que algumas e desvairadas cabeças do PSD aconselham a manter como estratégia de modo a não fazer parecer exatamente aquilo que é, um ex-primeiro-ministro como tantos outros o já foram.


O PSD quer mostrar que não tem estratégia entrou num estado de aparente catalepsia esperando sentado. Isto é, está numa espécie de comprometimento e numa oposição inerte talvez porque nada tenha para apresentar de novo e que não seja ideologicamente neoliberal. O PSD estar a favor é comprometer as suas políticas passadas, abster-se é o mesmo que dizer que não concorda e estar contra é o mesmo que estar contra medidas que a maioria da população, bem ou mal, aceita.  


 

Panfletos na revolução do 25 de Abril

19.04.16 | Manuel_AR

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Estamos a caminho de mais um ano de celebrações da Revolução do 25 de Abril que este ano comemora os seus 42 anos. Para os mais jovens que já nasceram, felizmente para eles, em democracia talvez esta data nada lhes diga porque sempre viveram num contexto de liberdade em que por vezes o  “conflito” e o “confronto” são salutarmente democráticos.


Muitos proclamam por aí em à roda de mesas de cafés e restaurantes “os partidos não se entendem!”. Ainda bem, porque se assim não fosse cairíamos num unanimismo de ideias e de opiniões que poderiam conduzir num sentido de aplicação políticas lesivas de todos. E mesmo assim é o que se vê.


Em alguns países da União Europeia partidos de direita atraíram para a sua esfera governativa outros partidos de centro esquerda e centro direita. Em alguns desses mesmos países o seu desenvolvimento permite-lhes governar sem lesar a sua população mantendo um nível de vida global aceitável por todos, o que não tem acontecido em Portugal. 


Hoje vou recuar ao tempo da “guerra” panfletária do início dos conturbados anos da revolução apresentando alguns panfletos partidários da época que pode ser consultados aqui.


A maior parte é da autoria do PCP porque, na altura, era este partido que se autointitulava de vanguarda e monopolizando todas as lutas que desencadeava e, daí, a sua produção exaustiva de material panfletário, muito dele demagógico e provocador de contestações várias.  


Ao longo de todos estes anos a democracia foi sendo progressivamente utilizada e apoderada por grupos de famílias e de interesses, alguns, talvez a maioria, marcadamente de direita. O conceito político de direita não deveria ter uma conotação negativa mas, neste caso, posso aplicá-lo como tal, visto se aproveitaram da democracia para próprio benefício. A constatação desse aproveitamento tem vindo ao de cima pelo menos ao longo dos últimos dez anos.


O PPD – Partido Popular Democrata que posteriormente passou a ser PPD-PSD Partido Social-Democrata era um partido cujos princípios programáticos correspondiam à própria designação. Com Passos Coelho e seus apoiantes o partido descaracterizou-se e da sua genética inicial passou a ser explicitamente de direita, embora o pretexto arranjado para abandono daqueles princípios tenha sido a intervenção do ajustamento. Alguns dos seus mais fiéis e históricos dirigentes acoplaram-se ao novo modelo instigado pelo seu recente líder que apenas se mantém para poder captar votos mais pelo “look” do que por qualquer outra razão.


Foi com eles que se fincou a tentativa para desvalorizar a data histórica do 25 de abril nomeadamente com o objetivo de a fazer esquecer na população mais jovem. Essa tentativa incidiu também noutras datas marcantes da nossa história. Tentativa de minimizar os valores históricos, coadjuvada por muitos adeptos dessa nova filosofia desvalorizadora como por exemplo o economista e “insigne” comentador Camilo Lourenço que chegou a insinuar um dia que a disciplina de história não teria interesse ser aprendida e que deveria de acabar nos currículos. Se não foi isto foi aproximado.


Com uma democracia não menos estável do que as de outros países não se vislumbraram ao longo destas décadas investimentos saudáveis, salvo casos particulares mesmo quando governos do centro e do centro-direita se encontravam no poder. Os investimentos privados de capital nacional, efetuados após a revolução, foram provenientes alguns dos que já existiam que não abandonaram Portugal e outros constituídos de novo criaram postos de trabalho, aos quais devemos fazer a devida justiça. Podemos citar dois exemplos como Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos, dois dos mais ricos de Portugal cujas fortunas foram amealhadas já no pós-25 de Abril em alturas até com alguma instabilidade política. Estes dois exemplos são sinónimos não apenas de duas grandes fortunas mas também das duas maiores companhias nacionais, mau grado aos que levam o capital para outros países onde pagam menos impostos. Não é, portanto, por culpa da Constituição da República, como alguns setores da direita nos querem fazer crer, que não se investe em Portugal.


Quando a direita está no poder tem feito tudo para anunciar que as reformas são condição necessária sem a qual não há investimento, nem captação de capital nacional e estrangeiro que gere criação de riqueza, (resta saber a quem está destinada a maior parcela do bolo), e criação de postos de trabalho. O que se tem visto é que o investimento privado em áreas produtivas para a tal criação de riqueza tem sido diminuto.


Durante os últimos vinte ou trinta anos tudo a economia centrou-se no consumo para onde bancos e empresas estiveram sempre orientados, descurando o estímulo à poupança, vista não como forma radical de congelação e repouso de todas as formas de rendimento que impossibilitam o consumo e a consequente paragem a produção. Se assim fosse haveria ainda mais desemprego e menos rendimento para ser aplicado em bens de consumo fazendo com que o sistema produtivo deixasse pura e simplesmente de existir.


Todos os partidos da esquerda moderada e do centro não têm conseguido, nem feito para que isso aconteça, especialmente o último Governo do partido dito social-democrata, cuja reforma do Estado passava só e apenas pelo aumento dos impostos, cortar nas reformas e nos salários da função pública. Eram os bombos da festa de Passos Coelho.


Em quarenta e um anos muito se fez num país que nada tinha a não ser uma classe média que lá se ia mantendo mas que de política não convinha nem falar. Mas há que contemplar muita dessa classe média, intelectuais, clérigos seculares e não seculares que ajudaram e participaram ativamente para que hoje fosse possível a todos poderem exprimir-se livremente apesar de, como em tudo, haver excessos.


Se os mais novos pudessem regredir numa espécie de viagem no tempo até essa altura e comparassem Portugal de então com o atual veriam uma diferença abissal, não apenas ao nível das infraestruturas mas também ao nível social.

O ideólogo, a mobilidade social, e a sociedade sem classes

13.04.16 | Manuel_AR

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Para quem escreve Paulo Rangel do PSD? Para quem, do povo, menos iletrado, o leia e não percebe patavina. É um discurso hermético apenas para alguns eleitos a quem provavelmente se dirige.


A sua retórica é a de alguém que procura exibir um conhecimento intelectual levando leitores a desistir da sua maçadora prosa. Eu, cá por mim, não me considerando, de todo, um desses eleitos e iluminados a quem os seus textos parecem dirigir-se lá vou tentando fazer um esforço para o ler e compreender.  


O último artigo desse supremo intelectual e ideólogo da política neoliberal por onde enveredou o PSD é um caso paradigmático do que acabo dizer. Na amálgama de conceitos sócio-político-filosófico-partidários o leitor desprevenido, e, como escrevi em parágrafo anterior, sem a formação adequada perde-se pelos diversos e complexos conceitos da política do partidarismo e da sociologia sem tirar conclusão plausível, mantendo-se em explicações e argumentos já cansativos que volvem sempre ao passado onde não se vislumbra qualquer projeto para o futuro, ainda que o seu líder tenha utilizado no último congresso o chavão “Social-democracia sempre”.


Paulo Rangel, desde qualificar o PSD como partido que não é de massas mas um “partido de eleitores” de “abertura” e de “adaptabilidade” do seu “leque ideológico” lá vai dizendo que os “eleitores e militantes não são atraídos por um programa” e devem ser os “produtores de um programa que os atrai”. Se bem se percebe aos eleitores e simpatizantes do PSD não interessa uma ideologia, um programa, um projeto, são eles que o irão construir ao votar no desconhecido.   


Mas vejamos esta complexa e ambígua frase que caracteriza o seu discurso: “Os eleitores e militantes não são o propriamente atraídos por um programa; eles foram e são – e, questão decisiva no futuro, devem novamente ser - os produtores de um programa que os atrai. Dito de um modo mais apelativo: no PSD, os simpatizantes e os militantes não veem um programa, eles revêem-se no programa - porque o programa é pela própria elasticidade genética ou constitucional (constitutiva) do partido, de algum modo, um reflexo ou uma refracção da afinidade sociológica da sua composição.”


Tudo isto para dizer que simpatizantes e militantes revêm-se no programa do PSD. Eles não veem um programa, reveem-se nele – diz ele. Fantástico!


Atenção, isto não fica assim, porque vai deambular para a sociologia eleitoral caracterizando a base de apoio do partido afirmando que, ao contrário do que escreveu anteriormente, não se pode “enganosamente” caracterizar o partido “como um partido de classe” (classe média, de feição pequena e médio burguesa ou de pequena e média propriedade rural e de uma boa parte das profissões liberais ou com formação universitária…) e que, se assim fosse, agora recorrendo a Marx, afasta o PSD desse cálice. Nada disso porque, a ser assim, o PSD seria uma instituição encarregada de politicamente zelar e velar por esse agregado de interesses e valores.


Basta olhar para as estatísticas eleitorais ao longo dos anos e para trabalhos estatísticos no âmbito da geografia eleitoral como por exemplo “Comportamento eleitoral e o voto através de indicadores regionais nas eleições de outubro de 2015: Uma análise geográfica do voto” que mostra que é precisamente nas regiões onde esses eleitores, de feição pequena e médio burguesa ou de pequena e média propriedade rural e camponeses de parcos recurso como ele diz, se concentra em maior massa o eleitorado do PSD.


Mas lá vai argumentando Rangel que, “Sem nunca desdenhar da pertinência duma análise social e até da categoria “marxiana” da classe social – análise, em todo o caso, sempre parcelar, relativa e redutora – não é esse o traço que aqui se pretende realçar. Por mais dialética que se reclame, uma análise de classe seria, hoje e irremediavelmente, uma análise estática, conservadora, imobilizadora.”. Essa categoria “marxiana” (neologismo inventado pelo super intelecto ideólogo do partido) não é mais do que um contrassenso.


Rangel vê em Marx o imobilismo? Se assim for, então qual a finalidade ideológica da contínua luta de classes que Marx preconizava senão a de potenciar, através da luta permanente, (do meu ponto de vista, hoje em dia, essa apologia da luta de classes é destrutiva e injustificada da forma como partido mas radicais a propõem), em que uma classe ascende a outra sem olhar a meios para tingir os fins, em direção a uma sociedade sem classes, essa sim conduzindo ao imobilismo? Sem que Rangel se aperceba o imobilismo talvez esteja mesmo no PSD com Passos Coelho na liderança. Mais ainda, esse tal eleitorado do PSD tem-se mostrado ao longo do tempo com uma instabilidade eleitoral conjuntural.


Poderíamos continuar por este caminho, mas o título do artigo de opinião de Paulo Rangel publicado no jornal Público de 12 do corrente diz tudo: “Mobilidade social: um desígnio para o PSD pós-troika (2)” que pode resumir-se, segundo as suas próprias e demagógicas palavras proclamadas no último congresso do PSD, a que “o partido deve fazer da mobilidade social a sua “grande bandeira para os próximos anos” e considerou que está na hora de Portugal deixar de ser “o país dos doutores” e “virar a página na estratificação social e na estrutura elitista e aristocrática da sociedade portuguesa”.


Não tenho a certeza se Rangel, licenciado em Direito pela Universidade Católica, sabe o significado do conceito sociológico de mobilidade social, algo complexo que, lançado para o ar, pode levar à confusão. Mobilidade social entendendo-a como sendo movimento de indivíduos entre diferentes posições sociais. Este mesmo conceito divide-se ainda em mobilidade vertical e mobilidade horizontal. A qual delas se refere Rangel? Será à mobilidade vertical definida como movimento ascendente ou descendente na hierarquia de posição num sistema de estratificação social? Ou refere-se à mobilidade horizontal que é o movimento físico de indivíduos ou grupos entre regiões.


Estranhamente, e se bem percebi, Rangel, com esta frase, mais parece um esquerdista radical da altura do 25 de Abril. Tece uma viragem populista do partido que nos últimos anos ficou virado para si mesmo, que foi, e é elitista, afirma agora que tem que se combater a estratificação social e a estrutura elitista e aristocrática da sociedade portuguesa, e fora com o doutorismo. Paulo Rangel mais parece um revolucionário marxista ressuscitado que defende levar Portugal no sentido da sociedade sem classe. Aonde chega o desplanto!


Afinal, quem és tu PSD?


 

Bofetadas joaninas

07.04.16 | Manuel_AR

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A polémica instalada com o ministro da cultura João Soares é da sua exclusiva responsabilidade e, sobretudo, inadmissível por parte dum ministro de Estado e tanto mais da cultura.


A atitude de João Soares é mais apropriada a um qualquer arruaceiro ainda que seja uma questão de “palavreado” sem concretização física. Refiro-me, claro está, à oferta das bofetadas por João Soares aos autores de um dos artigos de opinião.


João Soares ultrapassou os limites da decência democrática. Um ministro não deve, nem pode, comentar comentadores ou articulistas de opinião e, muito menos da forma que o fez e através duma rede social como o Facebook. Será que ingenuamente pensava que todos iriam colocar um “like” no seu “post”?


Ele próprio já foi comentador e participou em “frente a frente” em canais de televisão onde adotava uma postura aparentemente democrática. Passando a estar no Governo até parece que os genes da descendência Soares dele se afastaram.


João Soares mostrou não ter o caráter de elevação e o nível político que se exige a um ministro. Parece não compreender que os bons velhos tempos em que esteve à frente da Câmara de Lisboa já não são os mesmos e o escrutínio dos media é mais inflexível. É o tempo de outra postura política que não se conforma com agressividades verbais idênticas à da Primeira República devidas a divergências internas entre os mesmos republicanos, maçons e carbonários que originaram a revolução de 5 de Outubro.


Em alguns debates televisivos João Soares para defender os seus argumentos dizia, “eu não sou maniqueísta”, parece que afinal passou a apostar no princípio dos opostos inconciliáveis - um do bem, outro do mal. Claro que vê-se a ele próprio como o bem.


João Soares em tempo convictamente apoiante António José Seguro tem tomado atitudes, no mínimo já são duas, que colocam em cheque o primeiro-ministro António Costa pela sua escolha. Ele mais parece um menino birrento cujas vontadinhas devem ser satisfeitas e que se dá mal com todos. Ditadorezinhos de tendência como João Soares demonstram fraqueza de espírito político.  


 

Abandono da social-democracia pelo PSD já!

06.04.16 | Manuel_AR

Hoje resolvi incluir aqui um e-mail que escrevi a João Miguel Tavares sobre o artigo de opinião que escreveu no jornal Públicohttps://www.publico.pt/politica/noticia/o-tempo-corre-a-favor-de-passos-1728040 relativo ao passado Congresso do PSD que tem a ver, segundo ele, com a a ultrapassada social-democracia. Posso colocar a questão das seguintes formas: social-democracia eis a questão ou, abandono da social-democracia pelo PSD já!


Boa tarde Caro  João Miguel Tavares,


Duvido que o tempo corra a favor de Passos, mas não é por isso que lhe vou fazer perder o seu.


 


Li com muita atenção o artigo de opinião publicado no jornal Público de 5 do corrente. Raramente os leio e quando o faço também raramente concordo consigo, digo isto percepcionando que isso também não lhe faz diferença alguma.


Independentemente da concordância ou não com os seus pontos de vista eles apresentam, não raras vezes, um explícito cariz de facciosismo. Não tome isto como ofensa é apenas um ponto de vista político e não pessoal.


Mas voltemos ao seu artigo. Face ao argumentário apresentado não seria despiciendo que apresentasse sugestões nos seus artigos para que o PSD – Partido Social Democrata abandonasse esta designação e fosse substituída por uma outra em que as palavras social, democracia e social-democracia deixassem de vigorar no programa já que afirma explicitamente: “Só que essa definição de social-democracia vai invariavelmente desembocar num modelo de sociedade estatista, alumiado pela eterna lamparina de São Bento, que se mostra esgotado há 20 ano. São aqueles que gostavam que o PSD fosse um bocadinho mais parecido com o PS.”. Será que deveremos concluir que, quem como eu, atribui a Passos Coelho o epíteto de liberal ou neoliberal têm razão? Senão, que outra designação se poderia atribuir ao partido que ele lidera?


Algo não bate certo. Tendo em conta as críticas que faz no seu artigo a quem não concorda com o atual líder do partido por defenderem, como diz, a ultrapassada social-democracia, como explicar então a frase “Social-democracia sempre” como slogan do congresso que Passos Coelho aceitou e recuperou? A honestidade de propor a mudança da sigla e denominação do partido evitaria confundir potenciais eleitores de estarem a ser enganados, como eu o fui em 2012, por uma sigla partidária a que está mais ou menos associada a uma ideologia política.


Claro que poderá sempre dizer-se que essas siglas e atributos são apenas chavões utilizados pelos partidos mas que propriamente não os define. Todavia, quem vota tem o direito de ser esclarecido sobre o partido em que pretende votar. É uma escolha que se traduz num programa de qualquer partido que apresente quer orientações de direita, quer de esquerda, quer de assim-assim. Se não houver orientações para opções de escolha a democracia não será mais do que palavreado para enganar. Então fora com a social-democracia do Partido Social Democrata.


 


Com os meus melhores cumprimentos,


 


Manuel Rodrigues

36º Congresso do PSD: Social-democracia sempre - dirá ele.

01.04.16 | Manuel_AR

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Inicia-se hoje o 36º Congresso do Partido Social-Democrata onde se cantará aos quatro ventos o retorno à social-democracia com o slogan “social-democracia sempre”, que deverá ser apregoado por Passos Coelho que mostrou durante quatro anos que o seu slogan preferido foi ser um liberal sempre. Ou será neoliberal? Vamos lá ver se percebi: durante estes quatro últimos anos não foi social-democrata? Eu respondo. Não. Não foi. Passos nunca mostrou sê-lo e terá as suas razões porque o PSD sempre pertenceu na União Europeia à família dos partidos de direita, o PPE (Partido Popular Europeu) onde também está incluído o CDS-PP que ultimamente parece ser mais social-democrata do que o seu coligado do ex-Governo. Assim sendo como hoje é o dia das mentiras hoje é o dia preferido pelo líder eleito.


O cabotinismo que foi a eleição de Passos Coelho para liderar o PSD, em que voram apenas 46% dos potenciais eleitores, está a prejudicar o partido.Neste espaço escrevi várias vezes que o PSD com Passos Coelho tinha abandonado a sua matriz social-democrata que eventualmente terá sido, mas não na sua essência mas que le radicalizou.


O atual líder do partido, depois de se ter mostrado um liberal convicto, estando do lado das direitas europeias com posições contrárias às do grupo PSE, família dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus, afirma querer ser um social-democrata. Desfaçatez gritante! Se há um retorno é porque houve um afastamento ideológico do qual Passos Coelho não é o único responsável mas muitos outros que desejavam o poder o levaram para essa linha e que, agora, acham que soube a pouco.


Nos comentários semanais da TVI24 Manuela Ferreira Leite tem afirmado várias vezes que acha mal que digam que o seu partido é de direita quando não o é, porque sempre foi social-democrata. Bem, sobre isto já emiti a minha opinião anteriormente. Ela poderá ter razão relativa porque o principal causador do seu mau estar foi Passos Coelho. Pode ele arranjar os argumentos que entender da fama já ninguém o livra.    


As intervenções de Passos Coelho assim como as dos seus fiéis seguidores durante os seus quatro anos e meio de poder quase absoluto contribuíram para crispações sociais que já não se verificavam desde os anos logo após o 25 de abril. Apoucaram os portugueses, provocaram a degradação das condições de coesão social, incentivaram e agudizaram conflitos entre gerações, não é por acaso que um estudo efetuado pelo jornal Público mostra que um aumento considerável deste tipo de violência, provocaram conflitos entre trabalhadores de diferentes setores e funções, colocaram o Serviço Nacional de Saúde num estado caótico em que ainda hoje se encontra, fizeram com que o estado de direito constitucional, assim como o estado social, fossem desconsiderados.


Quando em fevereiro de 2016 Pedro Passos Coelho se recandidatou a líder do partido “surpreendeu a direção do PSD ao divulgar um vídeo no Facebook a anunciar o ‘slogan’ “Social-democracia, sempre” com o qual pretende descolar-se da imagem liberal. Escrevia na altura o Diário de Notícias: “Social-democracia sempre? Tem dias...”. Este diário acrescentava ainda: “Há mais de 40 anos que o PSD mantém uma relação conturbada com o ideário social-democrático. Passos Coelho quer reabilitá-lo”. É uma desfaçatez que um liberal cujo discurso mostrou sempre qual era a sua convicção queira, agora, fazer inversão de marcha. Será mais uma falsidade com a origem de marca como tantas outras.


O PSD sempre foi um partido de direita, embora tivesse momentos com algumas pinceladas do ideário social-democrata nas quais Passos Coelho lançou o diluente final, querendo agora reabilitar o partido mas, especialmente, reabilitar-se. Talvez já venha tarde.


Os que falam e comentam em prol do PSD de Passos Coelho, já em decomposição, tecem rosários de ladainhas monótonas rezados à pressa para comunicação social passar em horários nobres. São os filhos extra matrimónio do PSD que viram em Passos Coelho o seu legítimo pai que o congresso irá ligar à máquina do “look” da sobrevivência mas que cerebralmente já está em degradação. Nada de novo tem para nos mostrar senão o mesmo regresso ao passado recente, voltando depois a dar o dito por não dito como sempre nos foi habituando. Passos Coelho é um “cadáver” político adiado.


Não podemos esquecer-nos que ele quis restabelecer como única via, em parte conseguida com a ajuda do CDS-PP, a “sociedade providência”, termo que Boaventura Sousa Santos utilizou em tempo em alguns dos seus trabalhos, com uma articulação formal e de providência tipo mercantil, donde o Estado se retira mas contribui com uma quota-parte dos impostos pagos por todos. No fundo alguém rebe para ser providencial. É o que agora se passou a designar por economia social.