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A Propósito de Quase Tudo: opiniões, factos, política, sociedade, comunicação

Aqui vocês, podem encontrar de tudo um pouco: sociedade, ambiente, comunicação, crítica, crónicas, opinião, política e até gastronomia, com apoio de fontes fidedignas.

Onde até o canto dos pássaros é conservador

29.11.15 | Manuel_AR

Encontro-me no interior norte, Beira-Alta, rodeado por vegetação e pequenos terrenos cultivados para subsistência para uns e passa tempo para outros. Os pássaros cantam e a vida decorre no seu dia-a-dia como se Passos Coelho e o seu Governo nunca tivessem existido. Viseu é um distrito politicamente conservador e, tradicionalmente, votante no PSD desde a revolução do 25 de abril. Receios arcaicos que lhes foram incutidos pela ameaça da perda das suas pequenas courelas, caso certos partidos ganhassem as eleições. Nas últimas eleições de 4 de outubro a coligação de direita PáF do PSD e do CDS ganhou aqui no distrito com 51,05% contra 29,65% do PS. O BE conseguiu apesar de tudo 6,7% BE dos votos, mais do que o PCP-PEV que conseguiu apenas 3,5%.


Foi apenas após a demissão do Governo de Santana Lopes, e pela primeira vez, que o Partido Socialista, com José Sócrates, conseguiu penetrar no distrito e ganhar aqui as eleições. Embora tenha havido algumas mudanças nas mentalidades especialmente em Viseu, grande centro urbano da região, a fidelidade ao PSD mantem-se embora haja vozes discordantes sobre a forma como este PSD de Passos Coelho governou que não é o mesmo em que tradicionalmente votavam. A campanha negra contra José Sócrates (independentemente de haver acusação formada ou não) durante toda a legislatura de Passos Coelho levada ao extremo por órgãos da comunicação social afetos ao seu governo deu os seus frutos aqui para estes lados.


No “campo” os populares com a sua ingénua forma de ver a política votam muitas das vezes em pessoas que acham muito simpáticos, porque falam muito bem e prometem muito. Nas eleições autárquicas o processo refina-se pois que “os influentes” da vila, da aldeia e do lugar dominam e controlam com a sua influência as populações.


Hoje em dia, nesta beira profunda, o modo de vida em nada se compara ao que foi antes do 25 de abril de 1974 que trouxe às terras do interior desenvolvimento e qualidade de vida próxima da das grandes cidades, graças às televisões e à influência de “modas” difundidas por familiares emigrantes. Permanecem contudo hábitos e costumes do modo de vida rural muito conservador e voltado para o passado que à religião católica também ela muito conservadora ajuda a manter. A democracia para esta gente limita-se a votar nos calendários e sempre naqueles que lhes prometem um “status quo” tranquilizador para as suas vidas e que fazem apelos ao passado.      


Fora dos centros urbanos do distrito não se compram jornais porque não lhes chegam às mãos e, mesmo que assim fosse, não pagariam para os comprar, e depois há o café da proximidade onde leem o jornal regional. Os recursos financeiros são escassos e, quando os têm, poupam para a compra dum “carrito” em segunda mão, o resto é investido nas courelas e em equipamento para o cultivo sazonal. O que colhem é para consumo próprio e para distribuir pela família que, de tempo em tempo, vem à terra. O excedente que não consomem é, a maior parte das vezes, oferecido e o resto desperdiçado. Falam sobre política, mas daquela que lhes chega pelos quatro canais da televisão e seus comentadores.


Sobre a política que lhes chega a reflexão que fazem “ao seu jeito” nem sempre é acrítica mas de senso comum repetindo chavões que ouvem nas televisões na maior parte das vezes veiculados pela propaganda da direita. É uma região de pequenos proprietários com parcelas de terra dispersas e onde o sentimento de posse da está muito arreigado e plena de receios ancestrais cultivados pelo antigo regime. A palavra socialismo é conotada com algo que lhes retira o que têm e não com o que possam, num futuro próximo possam vir a usufruir em termos sociais. Para muita gente que vive por estas bandas o conceito de Estado Social é ainda sinónimo de estado socialista que tudo tira.


É gente com filhos e netos que deixaram o campo e foram para a cidade, capital do distrito, ou para as grandes capitais tirar um curso superior para obtenção de um canudo que lhes traga promoção social que, grande parte das vezes, não terminam. No caso contrário a maior parte das vezes, de nada lhes vale por falta de ofertas emprego, ficando alguns por balcões do comércio porque não querem seguir a profissão dos pais. Por sua vez estes procuraram dar aos filhos uma forma de vida que não fosse cavar a hortas para cultivar batatas, couves e cebolas para consumo interno.


Nestes locais interiores o acesso aos cuidados de saúde sempre foi no passado um problema e continua a sê-lo e cada vez pior, resultado da governação de Passos Coelho. Para quem não tem transporte próprio a deslocação à cidade para tratar de qualquer assunto e assistência médica significa a perda de um dia completo devido à escassez de transportes públicos. A “carreira” passa às sete horas da manhã e depois só lá para o fim da tarde regressa. É o problema que sempre se segue às privatizações tão valorizadas pela direita que perdeu o poder. Há transportes se rentável caso contrários acaba-se com esses percursos se não forem subsidiados. Isto é, justificava-se a privatização para tornar os transportes mais eficazes e rentáveis, depois subsidiam-se os privados para manterem certas carreiras. Dinheiro que sai dos contribuintes na mesma. Onde está o ganho?


É o dia-a-dia das pessoas do interior norte que se vai queixando mas que continua a colocar o seu voto na direita que nada lhes deu após o 25 de abril e que, passados 40 anos, lhes foi tirando o pouco que conquistaram…

Mas que grande lata

26.11.15 | Manuel_AR

Falta de vergonha.png


 


Na gíria popular quando alguém faz algo de atrevido que não agradou diz-se "que tem uma grande lata", "é preciso ter muita lata para…". Este termo utilizado no português informal tem o significado de ausência de vergonha, atrevimento, descaramento. 


Ao  Governo dos doze dias, agora cessante, não lhe faltou lata para o que fez na sua reta final. Após a campanha pré eleitoral e eleitoral passou à fase da campanha pós eleitoral. Como quem diz: afinal nós até seríamos um Governo de direita com propostas de esquerda só que não nos deixaram nem nos deram maioria absoluta.


O ex-secretário de estado da saúde Leal da Costa a quem atribuí na altura, em alguns "posts", a alcunha de carniceiro e agora ministro da saúde com duas semanas de mandato veio nestes últimos dias de estertor e num frenesim publicar portarias. Qual será a intenção? Para além de mera propaganda cria dificuldades ao próximo governo. Vejamos então:


As taxas moderadoras que o Governo PSD-CDS aumentou descaradamente para os 10,30 euros foram extintas, agora esta taxa nas urgências nos serviços de atendimento permanente (SAP) passam para os anteriores 5 euros.


Mas há mais. A nova rede de Urgência e Emergência também foi aprovada à pressa na passada semana quando esteve há vários anos para ser redefinido. Em 2012 tinha sido objeto dum relatório que, por vários motivos tinha ficado na gaveta. Para ler mais…


 ***


A ministra da Educação Margarida Mano, ministra das três semanas, decidiu revogar a prova obrigatória para todos os professores contratados com menos de cinco anos de serviço. Uma decisão que acontece três dias antes de o Parlamento aprovar a revogação da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), através das propostas do Bloco de Esquerda e do PCP, e numa altura em que o Presidente da República já decidiu indigitar António Costa como primeiro-ministro. Mais propaganda pós eleitoral.


Que bom seria este Governo se continuasse em funções! Passos Coelho no seu Governo anterior pura e simplesmente desconsiderou quaisquer propostas vindas da oposição, agora está a aproveitar tudo. Teve a sua oportunidade quando devia, agora soa a remendo dos rasgões que causou.


***


A maioria parlamentar do PSD e CDS e o cessante Governo, num desvairo de ganhador minoritário das eleições e impregnados fazem "reloads" e regressam ao passado da história remota da democracia portuguesa comemorando o 25 de novembro que fez parte da revolução democrática que a direita, nessa altura, deseja como um milagre para regresso ao passado que, se não fosse o Partido Socialista ter travado ambas as fações teria de certo acontecido. A direita nessa altura apostava num retrocesso a um passado que tinha terminado. Não nos podemos esquecer que foi no Governo em que Paulo Portas era vice primeiro-ministro que puseram fim a feriados tão importantes da nossa história, senão mais do que o 25 de novembro como são do 1º de dezembro e do 5 de outubro.


***


A direita, pelo menos uma parte da direita ainda não se compenetrou do facto de ter perdido a maioria absoluta no Parlamento e de que a repetição até à exaustão do argumento da ilegitimidade política já não conduz a nada. A direita não se pode esquecer que foi um pedido do Presidente da República Cavaco Silva que exigiu "uma maioria estável e duradoura no Parlamento", palavras dele mesmo. Que o tipo de maioria não lhe agrade isso é outra coisa.


A direita e os argumentos da golpada e da ilegitimidade política estão a tornar-se tão batidos que, já ninguém a escuta. Recorde-se que isto resultou de um pedido do Presidente da República que exigiu, repito, uma “maioria estável e duradoura no Parlamento.


A indignação e a perceção divinatória de ameaças catastróficas irão reforçar o Governo e atirar a coligação PSD/CDS para fora do centro político, local da área partidária a que, nos últimos quatro anos e meio, deixou de pertencer.


***


Na passada sexta-feira foi publicado no Diário da República um despacho no sentido do encerramento total das urgências no Hospital dos Covões, Agora o atual Ministério da Saúde das três semanas voltou atrás e com a desculpa de inexatidão foi publicada em 23 se novembro uma retificação a esse despacho, onde se refere expressamente que “a existência de um polo da Urgência do CHUC no Hospital dos Covões fica dependente, quanto ao horário e tipologia, de orientação da ARS Centro”. Força…, Força…, companheiros da coligação!

O último estado de alma

25.11.15 | Manuel_AR

Cavaco e Costa.png


Cavaco Silva não "indigitou" António Costa como primeiro-ministro para formar Governo, "indicou", forma subtil, mas soez, proveniente de quem se diz acima dos partidos. Foi a forma de Cavaco mostrar o seu desagrado com a decisão que tomou mas a que, na prática, foi obrigado. Ficará para a história da democracia portuguesa como figura politicamente sinistra.


Nos dicionários de português as palavras indigitar e indicar surgem como sinónimos mas ao nível institucional não tem qualquer valor a não ser como indicador do "estado de alma" de um Presidente de alguns que sempre se exprimiu em política por estados de alma e que ficará com eles na solidão nos seus últimos dias de mandato que já não o é de facto.


Também curioso foi o facto de pivôs da informação televisiva, como José Alberto de Carvalho da TVI, tenham utilizado e dado ênfase à palavra "indicado" ao referir-se à indigitação de António Costa, seguindo a linha de Cavaco Silva, quando este acorda com motivos aparentes do "sei lá o quê" lhe invadiu a alma, sem nada o conseguir animar...


Há o mínimo decoro nas relações institucionais que ele ajudou a degradar dando contributos ativos para a instabilidade política.


A direita enfurece-se, mas não sabemos o que pretendia. Ganhou a eleições, é certo, mas por minoria. Será que esperava manter-se assim pelo tempo duma legislatura? Que tempo de vida esperava ter enquanto Governo? Será que apenas desejaria criar instabilidade governativa, política e social que não servia a ninguém, para depois provocar eleições antecipadas que eventualmente lhe trouxessem nova maioria absoluta? Falam em radicais de esquerda quando foram eles, na prática, radicais de direita.


Aguarda-se agora que o PSD mude e volte ao que era dantes. Quanto ao CDS-PP quem és e onde estás que não te vejo?…

Votos de sucesso

24.11.15 | Manuel_AR

Votos de sucesso.png


 


Embora contrariado, o Presidente da República Cavaco Silva, finalmente, indigitou António Costa como primeiro-ministro do novo Governo de Portugal.


A responsabilidade é enorme. Ninguém lhe vai perdoar se falhar e voltar a défices excessivos que eventualmente possam dar lugar a novos resgates. Os partidos que se comprometeram dar apoio parlamentar ao governo PS não podem falhar. A direita que perdeu votos vai andar por aí atenta a tudo e tudo sirva para fazer oposição, por mais sórdida que seja. Aliás, como já tem vido a ser seu hábito.


Logo que a decisão do Presidente da República foi conhecida alguns partidos, nomeadamente o BE através de Catarina Martins perfilou-se frente às câmeras das televisões falando como se o seu partido fosse o principal e único protagonista das mudanças que constam do programa de Governo do Partido Socialista, esquecendo-se que houve outros parceiros na negociação. Nesse aspeto o PCP foi mais comedido. Esperemos que isto não sirva para começar a gerar conflitos tendo como base a propaganda partidária, que a oposição de direita irá aproveitar em pleno. Não é estratégico os partidos que assinaram o acordo iniciarem uma competição onde cada um pretende chamar a brasa à sua sardinha, o que apenas servirá para dar argumentos e razão à direita.


Das centrais sindicais e dos sindicatos nelas filiados espera-se uma contenção reivindicativa responsável.


Ao presidente da CGTP, Arménio Carlos, pede-se uma outra atitude e contenção verbal e parar com a contínua guerra aberta respeitando os outros dirigentes quer da UGT quer das associações patronais, da mesma forma que o respeitam a ele. Refiro-me, neste caso, ao presidente da CIP.


Arménio Carlos, quando fala, parece estar sempre em guerra aberta com todo e qualquer representante das confederações patronais quando em negociação ou em debates. Não negoceia, exige, reivindica, vendo apenas e só um lado da questão, esquecendo-se que existe uma economia para crescer e gerar postos de trabalho. Torna-se por vezes inconveniente, o que pode conduzir a ruturas que, nem agora, nem num futuro próximo, interessam a qualquer das partes, nem aos portugueses. Gerar conflitos apenas ajuda a direita. Não é o momento de vanguardismos de esquerda, mas de calma e consensos. Se assim não for quem ganha sempre é a direita. E, nas próximas eleições, se a direita volta a ganhar, as vítimas serão sempre os mesmos, os que afinal pretendem defender!


Pensem nisto.


 


 

A fila

23.11.15 | Manuel_AR

 


Fila para Belem.png


 


Resolvi reler alguma da imprensa da passada semana e rever algumas das notícias dos canais de televisão sobre as audições pelo Presidente da República Cavaco Silva fez a personalidades, instituições, formações, sindicatos, economistas, eu sei lá, um corrupio sem fim para tomar uma posterior decisão sobre quem irá indigitar para formar um governo para o país.


Os "especialistas" em economia e finanças que acorreram ao Palácio de Belém eram senhores do pensamento único que Cavaco Silva queria ouvir.


Até um antigo ministro de José Sócrates decidiu ouvir. Um deles que, enquanto se manteve no Governo daquele ex-primeiro-ministro, não previu antecipadamente o que veio depois a acontecer e deixou que tudo chegasse até às últimas consequências, desculpando-se já no final com a resistência do então primeiro-ministro. Manteve-se no lugar até às consequências que ele poderia prever vindo depois a desculpabilizar-se e a tentar distanciar-se da insolvência que também ajudou a construir. Se tudo estava, há muito, a ser mal conduzido na política financeira com que não concordava então porque não pediu ele a demissão e abandou o cargo em devido tempo.


Mas, voltando ao Presidente da República, à parte os partidos e os Secretários Gerais das centrais sindicais, de todos os outros que foram ouvidos Cavaco Silva sabia que lhe dariam as respostas que ele queria ouvir. É a tal visão de pensamento único a que, em "posts" anteriores, me tenho referido. Foi uma fila de personalidades, únicos detentores da verdade e circunscritos ao pensamento cavaquista, isto é, a uma espécie de "união nacional" e defensor dum "nacional-neoliberalismo" no falso pressuposto de que não há alternativa. Sou pela iniciativa privada que é o motor fundamental da economia mas sem os fundamentalismos do neoliberalismo que se quer impor a todo o custo e à custa de alguns.


Resta perguntar porque será que Cavaco Silva não convocou o Conselho de Estado onde poderia ouvir várias sensibilidades.


***


Apenas uma nota final para recordar a quem esteja esquecido que neoliberalismo é um sistema económico e ideológico que defende uma intervenção mínima do estado na economia, limitação do protecionismo, privatização de empresas estatais. apenas os ativos, ficando a maior parte das vezes os passivos na posse do Estado. O mercado autorregula-se com total liberdade. Argumentam a favor de quanto menor a participação do Estado na economia melhor para todos na via de um Bem-Estar Social para todos (?) ao mesmo tempo que elimina subsídios. Esse tipo de pensamento pode ser representado pela privatização de tudo, deixando à revelia o mercado num sistema do salve-se quem puder. Tivemos a experiência neoliberal de Thatcher nos anos 80 e, mais recentemente com George W. Bush nos EUA que abriu caminho para a crise financeira internacional com a falência do  Lehman Brothers. Dizia ele então: "Eu acredito muito na livre iniciativa, por isso o meu instinto natural é se opor a intervenção do governo. Eu acredito que as empresas que tomam más decisões devem sair do mercado. Em circunstâncias normais, eu teria seguido esse curso. Mas estas não são circunstâncias normais" e confessava: O mercado não está funcionando corretamente. Houve uma perda generalizada de confiança, e grandes setores do sistema financeiro da América estão em risco."


O discurso tinha por objetivo de explicar aos americanos o porquê de o governo enterrar 700 mil milhões de dólares numa semana para socorrer bancos à beira da falência. Será que não podemos tirar ilações? 

Parcialidade de um presidente

17.11.15 | Manuel_AR

Parcialidade.png


 


Uma breve referência ao que se passou em Paris. Foi um exemplo lamentável do terror praticado contra a democracia e as culturas europeias que causou indignação mundial. Que mais se pode esperar de quem não respeita a sua própria cultura e regressa a um estado de barbárie? Esperemos que estes atos de extrema violência não sirvam de pretexto para que alguns ditadorzecos que por aís andam comecem a gritar aos quatro ventos, agitando os papões da segurança, dando oportunidade para porem em causa a liberdade democrática.


*


*   *


Vamos então voltar à nossa República começando pela expressão "ter dois pesos e duas medidas" segundo os Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas – Português, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2006, «diz-se de pessoa que não usa de imparcialidade, isenção, equidade em seus juízos, atos, decisões», isto é, julgar de forma parcial duas situações iguais. Aquela expressão aplica-se na íntegra ao atual Presidente da República que tem demonstrado a sua aplicabilidade na prática corrente da sua política.


É o exemplar perfeito da falta de carácter político. Revanchista, tendência para ditador que, infelizmente para ele, não pode exercer como acha que deveria. Utiliza o poder que lhe foi concedido pelos eleitores para impor a sua vontade e do seu partido.


Nas suas intervenções proclamava a instabilidade governativa como prejudicial a Portugal sugerindo esse facto como prejudicial caso a coligação de direita não ganhasse maioria absoluta que agora parece ter deixado de ter qualquer importância. Num regresso ao passado relembra agora que ele, quando primeiro-ministro, e que no tempo de José Sócrates, que agora já serve de exemplo, também houve governos de gestão.


Ainda hoje numa missão de propaganda do ex-governo que protegeu voltou a elogiá-lo e regressou mais uma vez ao passado. Este Presidente não é mais do que uma pouca-vergonha para Portugal. Uma mancha na história da nossa democracia.


Os mercados, os credores já não são relevantes. Provavelmente, Cavaco Silva estaria interessado em que reconhecessem que havia instabilidade governativa para poder justificar as decisões políticas mal-amanhadas que viesse a tomar. Parece que os tais mercados não até hoje não o demonstram porque Lisboa dispara 2,5%. A melhor sessão desde as eleições. Isto também foi devido ao anterior Governo ou ao de gestão de Passos Coelho?


 Onde estão agora os superiores interesses da nação? O que diz e o que faz são antagónicos. "Agrei sempre…, mas sempre de acordo com os interesses superiores de Portugal...", proclama. Mas será? A prática não o confirma.


Cavaco Silva, enquanto Presidente, diz que não é político. Mas que afirmação mais disparatada. Não terá a função de Presidente da República, um dos órgãos de soberania, uma função também política. É um político até de mais agravado pelo seu partidarismo porque age como um Presidente partidário.  

O que nunca aconteceu não pode acontecer e a teoria do geocentrismo

13.11.15 | Manuel_AR

Órbita da política.png


 


O não facto é a direita querer governar nas atuais condições parlamentares mantendo as mesmas propostas de governação.


Se os últimos quatro anos não tivessem tido o prejuízo que a coligação de direita neoliberal causou ao país o milagre de entendimento ao nível parlamentar à esquerda do PS dificilmente teria acontecido.


Para a direita o que nunca aconteceu jamais poderá acontecer. Na altura em que o geocentrismo foi posto em causa por Galileu que defendia o heliocentrismo logo foi declarado suspeito de heresia, o que lhe valeu julgamento pelo tribunal a que chamavam na altura Santa Inquisição. Foi condenado a prisão perpétua porque ter provado que a teoria tradicional estava errada e que devia ser alterada. Disse então  "… e no entanto ela move-se!”. Para os conservadores tradicionais da época segundo a tradição deveria continuar a ser a terra, o ponto em torno da qual todos os astros se moviam.


É este o pensamento da direita portuguesa a mais retrógrada da União Europeia. E repito, para esta direita o que nunca aconteceu não pode acontecer, nem vir a acontecer.


O lamentável é que algumas cabeças pensantes deste país enevoadas com a defesa do indefensável pensam desta forma e querem que o país todo pense da mesma forma. O que dão a entender é que o neoliberalismo devia ser o sistema dominante e predominante e o caminho para o uni-partidarismo.


O Presidente Cavaco Silva é a prova de que mudam-se os tempos mudam-se as vontades (leia-se neste caso os interesses) porque em 1999 apoiou a moção de rejeição ao programa de Governo de António Guterres que, pela segunda vez, tinha ganhos as eleições sem maioria absoluta e disse então: “Quem no PSD não entende que é assim que o partido pode regressar às vitórias das duas uma: ou tem pouca visão de futuro ou já absorveu a linguagem da pretensa responsabilidade que o PS quer impor à oposição”.


A estratégia da coligação de direita era atrair o Partido Socialista para o seu lado de modo a validar a sua continuidade no poder e manter e até agravar as políticas seguidas. O PS seria o partido dos tontinhos que se aliavam à direita e ao seu programa a troca de uns lugares nas cadeiras do governo. A direita seria o centro da política e o PS o seu satélite.


Para convencer rebuscam argumentos dizendo que a vontade dos portugueses, demonstrada nas urnas, foi de apoio a um acordo do PS com a direita coligada. Deixem-se de torneios e expliquem como perderam 819148 votos entre 2011 e 2015 e para onde foram, como e porquê a esquerda no seu todo ganhou 448140 votos.


Em 2009 o PSD mais o CDS tiveram em conjunto 2246443 votos e quantos obtiveram em 2015? Resposta: 19993921 votos.


A coligação de direita neoliberal ganhou as eleições é o facto. Outro facto é que os portugueses validaram como negativa a política em que anteriormente tinha votado (2011). O não facto é a direita querer governar nas atuais condições parlamentares mantendo as mesmas propostas de governação.

Reféns do PSD ou a loucura de um ex-primeiro-ministro

12.11.15 | Manuel_AR

Invocar o medo.png

Há uma coisa que sabemos, o CDS-PP está dependente de Passos Coelho e refém do PSD.

O assustado e perplexo Nuno Melo, conservador de ultra direita, adepto duma democracia de partido único no governo, para sempre, quando abre a boca ou escreve não acrescenta nada de novo. Já conhecemos muito bem o seu discurso. Ao criticar a solução de Governo PS, por via do apoio apenas ao nível parlamentar dado pelo PCP, BE e PEV veio agora dizer que "Quem manda hoje no PS é o comité central do PCP".

 

Nuno Melo devia estar calado porque quem manda no seu partido, o CDS-PP, é Passos Coelho que o mantém refém do PSD através dum acordo que, se foi escrito, não se sabe o que dele consta porque nem foi divulgado. O CDS aceitou um acordo (?) apenas para se manter no poder.

 

Todos nos recordamos de em julho de 2013 Paulo Portas ter revogado o irrevogável e ter ultrapassado as linhas vermelhas que dizia não querer ultrapassar. Com que moral vêm agora estes senhores dar lições e tecer comentários, a maior parte das vezes sem fundamento.

 

Tudo o que está em causa é o medo da perda do poder já consumado neste momento. Resta-lhes andar por aí fazendo comícios, dizem de esclarecimento, à porta fechada prestando-se aos mais disparates ditos como o fez hoje o líder da coligação neoliberal Passos Coelho quando se declarou "inteiramente disponível" para apoiar "uma revisão constitucional extraordinária para dissolver a Assembleia e para que seja o povo português a decidir". Passos Coelho falava no encerramento das jornadas "Portugal: Caminhos do futuro", com militantes do PSD e do CDS-PP e, pela primeira vez desde o escrutínio de 4 de outubro, pediu eleições antecipadas.Revisão constitucional.pngRevisão da Constituição da República agora com quem e com que maioria de quatro quintos que seria necessária para uma revisão extraordinária. Nem dois terços, quanto mais! Será que a perda de poder o endoidou?

O reflexo das imagens e a distorção da política

12.11.15 | Manuel_AR

 


Reflexos.png


 


O jornal i publicou um artigo de opinião de Carlos Carreiras, conhecido militante do PSD, intitulado "La grande bouffe" onde escreveu: "A esquerda está esfomeada. Quer poder. Quer tomar conta do aparelho de Estado. Como os homens do filme, vai comer até não poder mais". É o que ele acha.


Todos podem, eu incluído, dizer os disparates mais disparatados, desculpem a redundância propositada.


Olhemos para o espelho por onde a coligação de direita está a ver os outros e olhemos para o seu reflexo. As principais propriedades de um espelho plano são a simetria entre os pontos objeto e a imagem, e que a maior parte da reflexão que acontece é regular. Algumas superfícies apresentam retro reflexão. A estrutura destas superfícies é tal que a luz volta na direção de onde veio.


Façamos então a releitura a partir do reflexo do espelho por onde Carlos Carreira se mira. A direita está empanturrada. Mas quer manter o poder. Quer continuar a tomar conta do aparelho do Estado. Como os homens do filme comeu até não poder mais. Quer ainda mais. O que sucedeu é que, como os homens do filme, morreram com tanto comer.   


À falta de melhor a direita neoliberal agarra-se agora à que sempre foi a sua tábua de salvação: O Presidente da República Cavaco Silva. Vêm nele o porto de abrigo que elimine qualquer solução por mais estável que seja. Não tem em conta os superiores interesses de Portugal como tantas vezes tem afirmado. Vê os interesses do seu partido em primeiro lugar e a sua revanche não tem limites pelo que dele tudo se espera.  


Cavaco Silva tem um desrespeito por Portugal e pelo povo ao colocar prioritariamente o passeio à Madeira, como se isso fosse inadiável, preferindo adiar Portugal. Coisa nunca vista em nenhum Presidente da República responsável.


É o Presidente do pensamento único, virado para o passado do partido único. Coloca em primeiro lugar a sua imagem e a coligação que apoia, apesar de estar pelas ruas da amargura, e Portugal em segundo.


Não se pode queixar da falta de tempo porque foi ele que decidiu marcar a data para as eleições. Ou será que ele o fez propositadamente, sabendo ele, e já o disse, previu todas as hipóteses? Se assim for agiu premeditadamente. Nos julgamentos os crimes premeditados acarretam penas agravadas. Neste caso quem vai sofrer a pena vai ser Portugal, vamos ser todos, devido à visão estrábica, egoísta, passadista e autofágica da política.

A ira da perda do poder

11.11.15 | Manuel_AR

Fúria da direita.pngO PSD partido da social-democracia em Portugal morreu a partir de 2011. Embora se intitule de centro o PSD, com Passos Coelho, passou a ser um partido da direita radical, perdeu a sua identidade própria, deixou de representar aquela parte significativa da população que contribuiu naquele ano para que obtivesse 38,66% dos votos que lhe deu 108 deputados (ver quadro abaixo).


O PSD na altura conseguiu mais deputados do que o Partido Socialista do que o conjunto dos partidos à sua esquerda, 108 contra 98. A coligação feita com o CDS-PP que não teria sido necessária para haver uma maioria confortável do PSD foi um trunfo dado ao CDS-PP poder fazer parte do Governo. Foi o entendimento à direita coisa que a esquerda nunca tinha conseguido. Agora conseguiu e a direita radical espanta-se, manifesta perplexidade, indigna-se e admira-se e insurge-se.


A ira que move a direita deve-se a não conseguir o que desejava: que o Partido Socialista os ajudasse a governar passando-lhe uma espécie de cheque em branco para continuar a fazer regressar Portugal ao que era há 30 anos atrás. Queria ajuda do PS para manter os sacrifícios que tanto dizem ter custado aos portugueses. É a política do medo a arma desta direita sem classe, sem personalidade, que à primeira perda do poder se descontrola, ofende e ameaça.    


O PSD capturado pelos neoliberais já nada tem a ver com o partido que foi. O CDS-PP confrontado com a hipótese da perda do poder e de voltar ao que sempre foi, um partidinho de direita cuja única força lhe era dada por Paulo Portas. Sem argumentos difamam, insultam, agridem, manifestam e demonstram, muitas vezes através das redes sociais. Foi nisto o que passou a ser o PSD com Passos Coelho. Sem Passos Coelho talvez o PSD volte a ser um partido do centro e da social-democracia.


Comparem-se os resultados dos dois últimos atos eleitorais e verificar-se-á as perdas e ganhos dos respetivos partidos. Basta fazer as contas.


À direita não basta reivindicar a vitória que, em si mesmo, é um facto inquestionável. A questão que se coloca é que estabilidade governabilidade consistente poderia oferecer a Portugal um governo de direita com a configuração parlamentar como a que se apresenta hoje.


Paulo Portas ameaçou ontem na Assembleia da República o PS de lhe ser negada ajuda se, "aflito e não conseguir gerir a demagogia explosiva do Bloco de Esquerda e os compromissos de Bruxelas, não venha depois pedir socorro". Podemos perguntar quem, para se manter no poder, precisava de ajuda para governar e até ofereceu lugares no Governo ao Partido Socialista depois de o ter posto de parte durante quatro anos?  


 



 


2011


 


 



 


2015


 


 



Partidos



Nº de votos



%



Deputados



Nº de votos



%



Deputados



PPD/PSD



2159181



38,66



108



 



 



 



PS



1566347



28,05



74



1747685



32,31



85



CDS-PP



653888



11,71



24



 



 



 



PCP-PEV



441147



7,9



16



445980



8,25



17



B.E.



288923



5,17



8



550892



10,19



19



Coligação PSD+CDS-PP



 



 



 



1993921



36,86



104



PPD/PSD+CDS-PP



2813069



50,37



132



 



 



 



PS+PCP-PEV+BE



2296417



41,12



98



2744557



50,75



121



 


 


 


 


 

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