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Bem podem o ministro da saúde, Paulo Macedo, chamar tolices aos estudos sobre a saúde em Portugal recentemente divulgados pelo INE, e Passos Coelho dizer que as estatísticas publicadas pelo mesmo instituto têm que ser justificadas, apenas porque os números não lhes agradam, que a realidade não se altera. Caiem no costumeiro ridículo de quererem que a realidade não seja a que pretendem.
A bola da tolice está do lado deles por julgarem que os portugueses são tolos. Foram-no sim, quando, levados ao engano, votaram numa gente sem escrúpulos sociais que se esconderam sobe a capa da “troika” para fazer mais do que o memorado previa.
Muitos dos que por aí peroram nos órgãos de comunicação social tentam salvaguardar a imagem de Paulo Macedo, louvando a sua competência e relevando o facto de ter feito um bom trabalho em governos anteriores ao reorganizar as finanças enquanto Diretor Geral dos Impostos entre 2004 e 2007. É a prova do ditado popular “cria fama e deita-te a dormir”.
Cá para mim nada de confusões. Paulo Macedo, com a sua voz calma, tenta convencer os “tolos” dos portugueses que o escutam, (julga ele que o são), lançando para o ar ideias falsas sobre melhoria, reorganização e eficiência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos hospitais. Para ele há mais camas nos hospitais, há consultas mas rápidas, há mais intervenções cirúrgicas, há mais de tudo…
Claro que Paulo Macedo e quem como ele fala não tem necessidade de recorrer ao Serviço Nacional de Saúde porque têm as suas medicinas privadas. Mas, mesmo que tivessem que recorrer a um hospital público de urgência, porque são figuras públicas teriam de imediato prioridade mesmo que tivessem que parar tudo o que houvesse em mãos.
Aqueles mesmos senhores quando se referem ao SNS falam como se alguma vez o tivessem utilizado. Seria bom que fizessem uma apreciação nos locais sem avisos e preparações prévias. O que vemos nas televisões sobre visitas do ministro ou dos secretários de estado a hospitais e centros clínicos não são mais do que fachada. Todos sabemos como isso funciona em termos de propaganda. O gabinete do senhor ministro ou do secretário de estado, ou seja lá de quem for, quando toma uma decisão dessas, o departamento de comunicação do ministério previne antecipadamente essa ou essas instituições ou unidades hospitalares da respetiva visita. O que acontece depois já é conhecido. É preparada uma encenação de pessoas e de ambientes, do género teatro para ministro ou secretário de estado ver e para televisões captarem imagens. Mas a realidade com que os utentes se confrontam diariamente é bem diferente.
A qualidade da assistência pública de saúde recuou cerca de vinte anos senão mais. A finalidade está bem clara, isto é, degradar o SNS para que utentes que, apesar de pagarem impostos elevados, mas não pertençam a outros subsistemas de saúde e não possam ter seguros de saúde, fiquem sujeitos a um serviço público de saúde sem condições que se vai progressivamente degradando, obrigando-os a pagamentos em serviços privados por vezes incomportáveis. A organização do SNS está a ser feita de forma a possibilitar a transferência de verbas do setor público para o setor privado da saúde.
O que está subjacente é que no acesso aos serviços de saúde haja um serviço público de saúde de primeira, para os que podem pagar, e outro, de segunda, com serviços públicos de saúde sem condições, a ser utilizados pelos mais carenciados e pelo grupo que referi anteriormente.
É bom recordar que o ministro Paulo Macedo entre 2003 e 2004, integrou a Comissão Diretiva da Seguros e Pensões e que entre 2001 e 2004 foi administrador da Médis, Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde. Para bom entendedor meia palavra basta.
Durante a anterior campanha eleitoral para as legislativas de 2010 quando o então primeiro-ministro José Sócrates disputava as eleições com Passos Coelho alertava para o facto ao dizer que estava em curso a criação de “dois sistemas de saúde, um para pobres e outro para ricos”. A confirmação tem estado à vista.
Durante o fim de semana da Páscoa foi um alívio não ter que apanhar sistematicamente com o primeiro-ministro Passos Coelho a entrar em casa pela porta dos canais televisivos de informação dos noticiários dos canais generalistas. Se entrou foi discretamente porque não o vi e ainda bem.
Não tenho nada contra os canais de televisão que têm o dever de informar o que anda por aí a fazer o primeiro-ministro. Aliás ele vai fazendo todos os possíveis por aparecer na sua campanha eleitoral, digo, pré-eleitoral.
Passos, durante as suas digressões pelo país, vai parando aqui e ali para umas inauguraçõezitas e uma ou outra reunião com estes, ou com aqueles. Faz-me lembrar um mestre-escola, antiquado professor do ensino primário com as suas preleções dum magister dixit, do tipo que não admite discussão. Enfim, talvez consiga uns votitos a mais que lhe deem jeito.
Até a história de Portugal lhe serve para o efeito. Depois de ter eliminado o feriado do primeiro de dezembro, comemoração da restauração da independência e da nossa soberania em 1640 que nos manteve, durante quarenta anos, sob domínio espanhol, o primeiro-ministro Passos Coelho, numa intervenção na localidade de Fronteira, piscando o olho ao voto das forças armadas, recordou a Batalha de Atoleiros em 1384 em que o exército português, comandado por Nuno Ávares Pereira, venceu as forças castelhanas. Se isto não é para rir o que será então?
Fala sobre tudo e vende a "sua banha da cobra", panaceia para todas as graves maleitas que atormentam o país. Tece elogios ao melhor dos mundos possíveis que é Portugal que ele ajudou a destruir, mas diz ter criado e melhorado, ao fim de quatro anos com uma maioria atabalhoada que governa por navegação à vista, fazendo tudo em cima dos joelhos das sumidades políticas, sem quaisquer avaliações de impactos. Sai mal? Tudo bem. Depois corrige-se. Esquecem-se que governam para as PESSOAS.
Passos Coelho defende até à saciedade elementos do seu governo com responsabilidades políticas que têm cometido erros graves que, em qualquer outro país não do terciro mundo, causariam demissões. Por cá, demitem-se ou obriga-se secretamente a demitir quem não tem responsabilidades políticas e, no limite, coloca-se-lhe uma ação em tribunal ou um processo disciplinar. Para cúmulo da hipocrisia fingem ter determinados princípios, ideias, opiniões ou sentimentos mas passam a seguir diligentemente a regra da omissão da responsabilidade política que eles próprios criaram.
Mas não ficamos por aqui. Começaram a lançar mais uma regra: colocar em causa a credibilidade das estatísticas do INE -Instituto Nacional de Estatística quando não lhes agradam os valores divulgados.
Quem iniciou esse estigma foi o próprio Pedro Passos Coelho confrontado pela oposição com os números de desemprego. Ele e um dos seus acólitos deputado, em pleno Parlamento, levantaram dúvidas sobre a divulgada revisão em alta da taxa de desemprego. O tal deputado chegou mesmo a dizer que "é preciso que o INE explique de forma muito clara como é que chega aos resultados e por que é que as estimativas para a taxa de desemprego têm variações tão significativas.". O que entretanto já foi mais do que esclarecido. O desemprego está mesmo a subir.
Mas há mais. Na passada terça-feira foi a vez do ministro da saúde, Paulo Macedo, colocar em causa um estudo do INE publicado no Dia Mundial da Saúde publicado na passada segunda-feira, aponta entre outras situações, para a diminuição do número de camas de internamento nos hospitais públicos e o aumento do crescimento dos hospitais privados. Paulo Macedo reagiu considerando que é uma "tolice" a comparação. Basta lermos o estudo para questionarmos qual será a competência de Macedo em análise e tratamento de dados estatísticos para criticar a credibilidade do INE. Ele e o seu primeiro estão em consonância. Não lhe agradam os números? Temos pena!
É notória a preocupação dos órgãos de comunicação social, em especial os televisivos, quer em debates sobre política, quer no âmbito comentarista, sobre as candidaturas à Presidência da República que o Partido Socialista irá ou não apoiar e, muito pouca vontade, em saber qual será o candidato a apoiar pela direita.
As eleições presidenciais são lá para 2016, antes serão as eleições legislativas pelo que é sobre estas que se devem centrar as atenções, o resto virá por acréscimo em devido tempo. Todavia o tempo e o espaço dos órgãos de comunicação social é sobrecarregado pelas presidenciais.
A preocupação é acima de tudo com o candidato à Presidência da República a apoiar pelo Partido Socialista que, a cada dia que passa, transforma-se em agitação, numa pressão para que o PS diga quem vai ser o seu candidato.
Para alguns comentadores, analistas políticos e "fazedores" de opinião não interessa quem vai ser o candidato dos partidos do Governo ou quem irão apoiar para Presidente da República, o seu alvo de interesse é apenas o Partido Socialista. Especulam e induzem a quem os ouve representações mentais falsas sobre potenciais candidatos à esquerda ou ao centro, alegando desconhecer o que eles pensam, quem são, ou até acusando-os de populismo. Por outro lado, promovem os potenciais candidatos da direita que ainda não se posicionaram ou mostraram claramente abertura para o cargo, fazendo deles, desde logo, os mais bem colocados e consensuais entre os eleitores.
Estão mais preocupados interessados em quem será o candidato apoiado pelo Partido Socialista do que pelos próprios candidatos. São parcos em comentar os "dotes para presidenciais" de candidatos como Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso (?) que entretanto desaparecem de cena para concorrer ao cargo, pelo menos até ver.
Passos Coelho no Congresso do PSD caracterizou o perfil que não deve ter um chefe de Estado: "protagonista catalisador de contrapoderes, catavento de opiniões erráticas, popularidade fácil, complicar ou bloquear, protagonista político.". O perfil traçado por Cavaco Silva é para esquecer nem merece gastar tempo.
A direita parece não ter candidatos, mas, ao contrário de Passos Coelho, parece apostar em Marcelo Rebelo de Sousa como potencial vencedor das eleições presidenciais. É conhecido e um protagonista conhecido e mediático. A ser verdade deixa muito a desejar o que pensam da cultura política dos portugueses, passando-lhes um atestado de ignorância política porque são levados apenas pelo mediatismo daqueles em que vão votar.
Na expectativa do Partido de Socialista poder vir a ganhar as eleições legislativas querem a todo custo que seja eleito um Presidente da República que lhes seja tão favorável quanto Cavaco Silva.
Começa a perceber-se que, qualquer que seja o candidato à Presidência da República que venha a ser apoiado pelo Partido Socialista, será sempre arrasado por comentadores e jornalistas que apoiam a direita. Até há quem, sob a capa da isenção, emite opiniões que desembocam na apreciação favorável dos potenciais candidatos apoiados ou a apoiar pela direita. Começou um pré-campanha de propaganda a Marcelo Rebelo de Sousa para ver se pega.
Marcelo Rebelo de Sousa colhe muitas simpatias, dizem. Claro, vale a publicidade que lhe tem sido concedida enquanto comentador político ao longo de anos. Passou a ser uma vedeta mediática. Mostra ser simpático, afável e, por isso, apesar dos seus comentários políticos do tipo cata-vento não deixa de ser um grande apoiante das políticas seguidas pelo PSD. A técnica do cata-vento tem a ver com uma espécie de autopromoção no sentido de mostrar ser isento nas suas opiniões.
Se Marcelo se candidatar e tomar lugar em Belém será pata todos os efeitos políticos uma espécie de Cavaco, apesar de menos carrancudo e com uma atitude comunicacional diferente. Será um Cavaco menos rancoroso, mais simpático, menos cara fechada, mas um Cavaco que, como ele, não hesitaria em manter ao limite o mandato do primeiro-ministro mesmo com prejuízo do país.
Tentar relevar as presidenciais não é mais do que uma tentativa de manobra de distração sobre as reais discussões que devem existir sobre a péssima governação que nos atormenta há mais de três anos. Recorde-se que o XIX Governo Constitucional liderado pelo neoliberal Passos Coelho tomou posse em 21 de junho de 2011 e o seu mandato, de acordo com a Constituição da República, é de quatro anos seria nesse mês que deveria terminar a 4.ª sessão legislativa, da XII legislatura que se iniciou em 5.09.2014 mas o Presidente da República resolveu adiar as eleições para setembro ou outubro.
O desaparecimento do vulto incontornável do cinema português Manoel de Oliveira trouxe-me à memória recordações do tempo em que despertei para o gosto pela sétima arte. A minha adolescência foi marcada por idas frequentes ao cinema. Na altura, quando a televisão se iniciava em Portugal e as telenovelas com o seu mundo irrealista não tinham ainda chegado mente os cinemas de bairro eram locais de encontro e divertimento. Recordo o Cinema Lis que posteriormente se passou a designar Roxy, o Cinema Imperial que mais tarde passou a chamar-se Pathé Cinema localizado na Rua Francisco Sanches nº 157, edifício que ainda hoje existe, embora abandonado e quase em ruínas.
Naqueles cinemas, ditos de reposição, passei horas a fios a ver bons e maus filmes. Via quase tudo o que aparecia por lá.
Mais tarde, já próximo dos meus 18 ou 19 anos dois amigos que frequentavam comigo o Colégio Clenardo na Rua do Salitre, já próximo do Largo do Rato e que já não existe, partilhavam comigo o mesmo gosto pela sétima arte.
Nessa altura existia ali próximo uma lojinha de venda de produtos em segunda mão, cuja montra fazia esquina daquela rua com o largo, onde parávamos a contemplar uma máquina de filmar de 8 mm e um tripé. Ao contrário dos dias de hoje não tínhamos acesso fácil ao dinheiro por parte dos pais. Aquela máquina que parecia olhar para nós espevitava-nos os sonhos que iam desde a constituição de um cineclube até à realização de pequenas metragens em película de amador.
Era o tempo em que os cineclubes eram locais de reflexão cultural e política, esta apenas entre linhas porque o regime do Estado Novo, diria que mais velho e a cair de podre, não o permitia com as linhas todas. Revistas com a Filme editada entre finais dos anos 50 e finais de 60, a revista Plateia, esta mais popular e com conteúdos mais ligeiros, e, claro, sempre que as finanças o permitiam, os Cahiers du Cinéma, revista publicada desde os anos 50 que devorava sempre que podia.
Muito antes já Manoel de Oliveira tinha realizado para além de Aniki Bóbó (1942) e Douro Faina Fluvial (curta metragem 1931) que passavam em cineclubes para além de outras dezenas de filmes, documentários e curtas metragens.
Outro filme A Divina Comédia de 1991
Party de 1996
A maior parte dos jovens da minha idade sonhavam ser atores galãs de filmes, eu gostava de estar por detrás das câmaras como realizador, coisa que nunca consegui.
Só muito mais tarde no final dos anos 90 tive a oportunidade de lecionar no curso de audiovisuais numa escola profissional onde os contactos e o trabalho de equipa com colegas profissionais de cinema e de televisão abriram-me horizontes do mundo deste mundo que nunca vim a concretizar a não ser como espetador interessado e atento. Alguns dos meus alunos de então enveredaram por uma carreira na área do documentário. Recordo especialmente dois porque de outros não mais tive notícias. O Kiluange Liberdade e o Tiago Pereira.
Tiago Pereira O Povo que ainda Canta
Kiluange Liberdade
Kiluange Liberdade A Minha Banda e Eu - Documentário - Semba e Kizomba
Entretanto naquela altura estávamos nos anos 60, Maio de 68 e as contestações estudantis em França estavam no seu auge e foram pretexto para Godart realizar um documentário sobre a revolta estudantil de Paris. Decorreram seis anos e o 25 de abril de 1974 trouxe a Portugal a democracia.
Ao tempo era em França que tudo acontecia e o cinema europeu, especialmente o cinema francês, estava na moda e os realizadores da Nova Vaga François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer e Claude Chabrol, entre outros, eram os mais representativos.
Ma Nuit Chez Maud realizado em 1961 por Éric Rohmer foi para mim surpreendente porque transformava as imagem em palavras. O importante era o discurso e não apenas as imagens.
Muito antes já Manoel de Oliveira tinha realizado para além de Aniki Bóbó (1942) e Douro Faina Fluvial (curta metragem 1931) para além de grandes metragens para além de dezenas de filmes, documentários e curtas-metragens.
A Divina Comédia de 1991 noutro filme
Party (1996)
Vi poucos filmes de Manoel de Oliveira em salas de cinema e alguns poucos dos que passaram na televisão. Sobre os seus filmes tenho ouvido comentários, frequentemente de jovens, e até adultos, habituadas ao cinema americano com sequências e planos cada vez mais rápidos, dizer que os filmes de Manoel de Oliveira são "chatos", muito lentos e sem ação. Comparam o incomparável, os filmes de Manoel de Oliveira são arte cinematográfica, tem estética que lhe é dado pelos enquadramentos e planos muito longos que são autênticos quadros que conduzem o espectador à contemplação da ação.
Não foi por acaso que lhe foram atribuídos vários prémios.